Portugal 2015. Em cada rosto... desigualdade
Em entrevista à Renascença, o director do Observatório das Desigualdades sustenta que a austeridade aumentou as desigualdades, estando as restrições no acesso aos serviços públicos a agravar o problema.
14-01-2015 7:22 por Ricardo Vieira
O director do Observatório das Desigualdades, António Firmino da Costa, alerta, em entrevista à Renascença, que Portugal está a perder a batalha contra as desigualdades, sendo uma agravante do problema a “dificultação” do acesso aos serviços públicos.
"As pessoas, que já estão a ver diminuir os seus rendimentos e oportunidades devido ao desemprego e ao corte de salários, vêem isso ser agravado pela diminuição de oportunidades de acesso a serviços públicos”, afirma António Firmino da Costa. Garantir a maior universalidade possível no acesso à educação ou à saúde, por exemplo, é, assim, fundamental para não acentuar assimetrias sociais, sustenta o sociólogo.
Outra medida para inverter o ciclo de desigualdades, defende o director do Observatório das Desigualdades, passa por mudar o foco de uma política fiscal "superconcentrada" nos rendimentos dos trabalhadores e taxar mais as transacções financeiras e os rendimentos de capitais.
"Como grande parte dos rendimentos do trabalho é de pessoas que têm vencimentos relativamente modestos, isso vai implicar um agravamento de desigualdades entre os detentores de propriedades e de fontes mobiliárias ou imobiliárias de rendimentos, que não são rendimentos do trabalho", aponta o especialista.
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera que as desigualdades não se agravaram com a crise, tendo, até, havido melhorias, mas o presidente do Observatório que estuda o problema tem uma opinião contrária.
Austeridade agravou desigualdades
As medidas da "troika" - ou seja, numa palavra, a austeridade - inverteram a recuperação das últimas duas décadas em matéria de desigualdades e agravaram o fosso entre o pequeno e restrito grupo dos muito ricos e a restante população, defende António Firmino da Costa.
"A partir do desencadeamento das políticas de austeridade, as desigualdades económicas e sociais têm sofrido um agravamento muito considerável", sublinha.
"Boa parte da população" ficou sem perspectivas de subir na vida e uma fatia "significativa" da classe média "perdeu condições de vida" nos últimos anos, argumenta. Há também maior dificuldade de acesso dos mais pobres a "condições de vida elementares".
Ao mesmo tempo, destaca António Firmino da Costa,
"há uma concentração de rendimentos, riqueza e recursos numa franja bastante pequena no topo da estrutura social" que prosperou no meio da crise.
O combate às desigualdades é considerado o maior desafio para 2015, pelo Fórum Económico Mundial. Em Portugal, o director do observatório aponta algumas das principais desigualdades: a diferença de rendimentos que condiciona o acesso a recursos e oportunidades, as desigualdades educativas, de emprego e as desigualdades de género que ainda subsistem.
O Observatório da Crise organiza, esta quarta-feira, o colóquio Desigualdades em Debate 2015, no auditório do ISCTE, em Lisboa. Em debate vão estar temas como "Classes sociais e desigualdades: Polarização? Recomposição?", "Agravamento das desigualdades no século XXI: O debate Piketty" e "Políticas de Igualdade e Desigualdade".
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