ESTRUTURA DA INFANTARIA DO FUTURO.
O Ten-Cel Detlef Rausch, Diretor do Desenvolvimento Futuro da Infantaria, Escola de Infantaria alemã, delineia como as lições do Afeganistão estão moldando as futuras capacidade e estrutura de forças da Alemanha.
SoldierMod - Winter/Spring 2011.
A missão da Escola de Infantaria compreende o desenvolvimento e formulação dos fundamentos de infantaria, nas áreas de planejamento conceitual, doutrina de treinamento e oganização, tanto como aquisição e utilização de material de defesa. Ela é também encarregada com a coordenação do desenvolvimento futuro dos três ramos de infantaria - infantaria ligeira, infantaria de montanha e infantaria aeroterrestre e os campos comuns de operações de infantaria e combate aproximado desmontado. O Exército alemão de hoje, compreende dez formações de infantaria com diferentes equipamentos e sistemas de armas, mas que, no geral, compreendem três, quase idênticas, companhias. Quando se desdobram forças de infantaria para a área de operações, oitos batalhões de infantaria blindada também podem ser convocados. No Bundesheer (Exército Federal alemão), a infantaria blindada é enquadrada pela Escola da Arma Blindada.
A Alemanha desdobrou infantaria no além-mar, pela primeira vez, em 1993, na Somália (UNOSOM II) com subseqüentes desdobramento para outros teatros, incluindo o Congo e a a antiga Iugoslávia. De 2001 até o presente dia, a Alemanha também contribuiu com tropas para a ISAF. Por todo este período, a estrutura de forças do Exército alemão experimentou um total de cinco diferentes fases de transformação, com todas presenciando reduções. Isto, no entanto, está mudando com as lições aprendidas nas atuais operações.
Operações da ISAF.
O tenente-coronel Rausch, Diretor de Desenvolvimento Futuro da Infantaria, disse,
"A missão da ISAF em toda sua extensão tem mantido elevadas exigências de capacitação e intensidade operacionais. O componente de infantaria tem aumentado toda vez em que um novo contingente é desdobrado."
O Exército fornece o núcleo de mais de vinte unidades germânicas no Afeganistão. Entre elas estão dois batalhões de treinamento e proteção, incluindo quatro companhias de manobra, duas companhias de reconhecimento, duas companhias de engenharia e cinco companhias de comando e de apoio logísticio. Os batalhões de treinamento e proteção estão estacionados em Mazar-i-Sharif e Kunduz e compreendem diferentes pequenos elementos de apoio ao combate. A composição e organização dos batalhões operacionais no Afeganistão ainda varia consideravelmente da estrutura básica do batalhão de infantaria na Alemanha, embora os dois estejam convergindo num passo crescente.
Os principais elementos conduzindo operações em cooperação próxima com as forças do Exército nacional afegão são dois batalhões de treinamento e proteção compreendendo duas companhias de infantaria e elementos de apoio.
O Ten-Cel Rausch disse,
"Com a designação de capacidades aumentadas, especialmente no que concerne à companhia de reconhecimento e inteligência, estamos inaugurando um novo campo no comando e controle e nas funções do posto de comando. Nós mostramos que a estrutura básica da infantaria alemã, aos níveis de pelotão e companhia são tanto sustentáveis como eficacazes em operações. Entretanto, o tamanho do quartel-general da Força-Tarefa é consideravelmente maior do que o estabelecimento de tempo de paz."
As principais diferenças ao nível do pelotão e companhia estão no equipamento veicular. A VBTP "Fuchs", explicou o Ten-Cel Rausch, provou ser muito eficaz, admitidamente com equipamento específico, otimizado para as operações no Afeganistão. A Viatura de Combate de Fuzileiros "Marder" é a viatura-padrão da infantaria blindada e também tem sido muito bem sucedida no teatro. O "Dingo" e o "Eagle" são aquisições específicas para desdobramento. As lições aprendidas das operações, levaram à decisão de manter uma mescla de viaturas no Afeganistão que compreende o "Dingo", a VBTP "Fuchs", o "Eagle" e o "Marder".
Para as unidades de infantaria nas operações de combate da ISAF, os engajamentos tem tornado-se a regra e não a exceção, e são tipicamente travados com oponentes de valor-GC até companhia. Na parte ocidental da área de operações, as tropas alemãs, tipicamente, tem conduzido operações de longo alcance, enquanto na área de Kunduz, elas tem um raio mais limitado. A Alemanha perdeu quarenta e cinco soldados durante a campanha da ISAF.
O Ten-Cel Rausch disse,
"Na maioria dos casos, o oponente dispara primeiro. A documentação sobre as munições, do nosso lado, é bem rica, e a eficácia de nossos armamentos, em especial, nos alcances excedendo 200 m, e contra alvos desenfiados não satisfez nossas expectativas. O nível de proteção de ambos, nossas viaturas e nosso equipamento, entretanto, é bom. O armamento do "Marder" provou-se eficaz e outras viaturas, em breve, serão dotadas de lança-granadas automáticos e metralhadoras pesadas."
O oponente, tipicamente, mantém a iniciativa, fazendo utilização eficaz de cobertura, misturando-se com a população nativa para evitar ser engajado por fogo de morteiro, artilharia ou aéreo. O Taliban varia seus métodos entre fogo de tocaieiro em alcances de 800 - 1.500 m; salvas de AK-47 em alcances ultrapassando 300 m e abrindo fogo em alcances muito curtos, entre zero e 20 m.
O Ten-Cel Rausch disse que o atual método do inimigo é, tipicamente, engajar uma força amistosa com armas leves de longo alcance, mesmo em distâncias ultrapasssando 300 m, o que exige a capacidade, ao nível do grupo de combate, para engajar alvos selecionados em alcances acima de 600 m. Ele comentou,
"Relatórios do teatro, dizem que a eficácia no alvo dos cartuchos padrão 5,56 mm, em alcances ultrapassando 300 m, é insuficiente. As tropas no teatro utilizam a metralhadora MG 3 de 7,62 mm, para engajar alvos inimigos em alcances maiores do que 300 m. E mais ainda, alguns atiradores de precisão selecionados, ao nível do GC, estão sendo dotados com fuzis G3 de 7,62 mm, com miras telescópicas, para o engajamento de alvos individuais. A médio prazo, a infantaria germânica precisará de armamentos para substituir a MG 3 e o fuzil G3."
Em acréscimo, aperfeiçoamentos no adestramento de pontaria na Escola de Infantaria tem sido promovidos, para otimizar a capacidade do soldado em conduzir combates pelo fogo de resposta rápida, em alcance aproximado e manter a capacidade para engajar, precisamente, alvos em alcances maiores. O Ten-Cel Rausch disse,
"Nós acreditamos que, por meio da implementação de novo adestramento de pontaria [em setembro], estamos no caminho certo. Além das armas de grande calibre montadas, os armamentos antitanque tais como o Panzerfaust 3 e o Bunkerfaust, também tem se mostrado eficazes contra alvos desenfiados no Afeganistão. A partir de 2012, nós teremos opções adicionais, principalmente a munição de arrebentamento aéreo de 40 mm para o Lança-Granadas Automático."
Todo espectro.
Em acréscimo ao combate desmontado contra um adversário assimétrico em terreno urbano, a infantaria alemã terá de manter sua capacitação para conduzir operações aeromóveis. Sua possibilidade de transporte aéreo permanecerá, tanto quanto sua possibilidade para operar em terreno difícil e sob condições climáticas extremas.
"E mais, há duas importantes tendências no que concerne ao desenvolvimento," comentou o Ten-Cel Rausch.
"Primeiramente, a proteção passiva e ativa de nossos soldados e viaturas, principalmente contra ataques de IED e fogo de tocaieiros; e segundo, a capacidade de apoio de fogo direto e indireto, em alcances entre 600 m ao nível do GC e 8.000 m ao nível do batalhão ou regimento."
Para o Exército alemão, as lições identificadas no teatro, demonstram que o perfil de capacitação da força terrestre em geral e da infantaria em particular, precisam ser de amplo leque. Disse o Ten-Cel Rausch,
"o futuro perfil de capacitação das forças de infantaria e demais forças empregadas, segue um método em três passos, de cima para baixo. As habilidades básicas do soldado de todas as armas, são habilidades não específicas para a infantaria, mas aplicáveis a todas as armas e serviços. Segundo, as capacitações básicas da infantaria, compreendendo as capacidades e habilidades definidas como obrigatórios para a eficácia de todos os batalhões de infantaria, em todo o espectro de intensidade que são de suma importância. O objetivo global é que a infantaria alemã esteja em plena posse de todas as opções ofensivas. Em acréscimo, algumas formações como a infantaria de montanha e a a infantaria aeroterrestre são especializadas, porém tais especializações são construídas sobre capacidades básicas e o resultado é que uma grande parcela do perfil de capacitação nos batalhões, é idêntica."
O futuro.
O Ten-Cel Rausch disse,
"A partir de 2015, a infantaria, presumivelmente, será composta por forças cujas capacidades e equipamentos diferirão, significantemente, destas de hoje em dia. Entretanto, apesar de todos os aperfeiçoamentos em liderança e armamento, sempre o soldado individual, o cabo, o sargento ou o oficial, permanecerão como o centro de gravidade - aqueles que tem de tomar as decisões. Por outro lado, os desafios para nossos líderes estão, firmemente, aumentando; força física, robustez psicológica, capacidade intelectual e sensibilidade política. Elas terão de ser satisfeitas em qualquer operação por sobre o total espectro de atividades militares. E mais ainda, os níveis de tomada de decisão tem de ser desenvolvidos desde o escalão divisão, no quadro de uma operação pesada, sob liderança da OTAN, descendo até os líderes de comboios, patrulhas, postos de observação e postos de controle. Esta tendência tem conseqüências significativas sobre o adestramento de nossos líderes ao nível do GC e do pelotão, na Alemanha."
__________________________________
O
tenente-coronel Rausch em palestra no Simpósio de Infantaria da Rheinmetall 2010.