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O ex-ministro Roberto Amaral selou uma parceria com os ucranianos para lançar foguetes e quer fazer parte do PAC
GUSTAVO GANTOIS
"Fizemos três lançamentos em 30 anos, que não deram certo. É hora de superar o passado"
Roberto Amaral, ex-ministro da ciência e tecnologia
A réplica do foguete Cyclone 4 é uma espécie de mestre de cerimônias do escritório da Alcântara Cyclone Space, em Brasília. Imponente, a peça pesa cerca de 50 quilos e prima pelos detalhes. No entanto, para o desprazer do diretorgeral brasileiro da empresa binacional, Roberto Amaral, não passa disso. "Fomos superados pelas Coreias, pelo Irã, pelo Japão", enumera o ex-ministro da Ciência e Tecnologia. "Em 30 anos de programa espacial, fizemos apenas três lançamentos.
E que não deram certo." Ciente dos problemas que emperram a parceria com a Ucrânia, Amaral reuniu-se com a ministra Dilma Rousseff e pediu a inclusão do projeto de lançamento do Cyclone no PAC. "A única forma que vemos para que tenha andamento um projeto essencial para o Brasil é incluí-lo nesse programa." Amaral tem números para sustentar o que diz.
No momento, o projeto precisa de US$ 237,5 milhões - a contrapartida ucraniana é no mesmo valor. Mas, em comparação ao retorno que o Cyclone pode dar ao Brasil, o custo é ínfimo. Estima-se, hoje, que o mercado mundial de foguetes movimente US$ 48 bilhões ao ano e o Brasil poderia alcançar 10% disso. A grande dificuldade da Alcântara Cyclone Space é a letargia burocrática.
Desde que o projeto teve início, em 1997, lá se vão 12 anos de atraso por problemas da alçada de órgãos governamentais. Até mesmo um conflito com quilombolas já constou da pauta de empecilhos. "Os ucranianos estão assustadíssimos com esse atraso", diz Amaral. "Outro dia eles estiveram aqui e explicamos que havia um problema com o Incra. Para eles é inconcebível o governo travar o próprio governo." Pelas contas iniciais da empresa, que foi formalmente criada em 2003, a infraestrutura teria de estar pronta no início do ano que vem para que o lançamento do foguete de qualificação fosse feito no segundo semestre.
Ainda por essa planilha, o primeiro lançamento comercial seria realizado em 2011, quando o porto que receberá os componentes vindos da Ucrânia ficaria pronto. Aí reside outro problema. Sem a interferência do governo, o projeto para o porto está na estaca zero. Para se ter uma ideia, as peças desembarcarão no porto de Itaqui, em São Luís, e de lá percorrerão 51 quilômetros pela MA-106, que será recuperada pela Alcântara Cyclone Space ao custo de R$ 30 milhões. Mesmo sem uma base construída, Brasil e Ucrânia já negociam contratos com empresas que querem lançar satélites. O de qualificação ficará a cargo de uma universidade japonesa.
A canadense Iridium já manifestou interesse em usar a base de Alcântara (MA), assim como um projeto ítalo-argentino batizado SSGAT. Esse, por sinal, é o mercado de maior rentabilidade. Utilizado por empresas de telecomunicações, esses satélites tiveram uma queda no número de lançamentos de cinco anos para cá. Estima-se, contudo, que este mercado voltará a crescer até o a metade da próxima década, quando Alcântara deveria estar funcionando a pleno vapor - isso, claro, se o governo deslanchar a empreitada.
E nisso o projeto brasileiro não se compara a nenhum outro em andamento. "A localização de Alcântara permite que nossos foguetes sejam lançados a um custo 30% menor que o dos concorrentes", explica Carlos Ganem, presidente da Agência Espacial Brasileira. "É um negócio extremamente compensador. " Em um mercado em que os principais players são Estados Unidos, União Europeia e Rússia, destacar-se por custos menores sempre é uma vantagem. Cabe ao governo acordar.
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