O Sistema AEGIS: o escudo impenetrável:
Inegavelmente, este sistema é a “estrela do show” das F-100, seu grande diferencial competitivo e o responsável pela sua merecida fama. O sistema AEGIS (palavra grega para “escudo” ou “proteção”) é um sistema americano de armas construído ao redor do radar AN/SPY-1D, do sistema de controle de fogo MK99, um sistema de controle de armas (weapon control system – WCS), uma célula de comando e os sistemas do Standard Missile – 2 (SM-2). Esses sistemas funcionam integrados entre si e aos outros sistemas do navio. Por meio deles é que são controlados o canhão do navio, os mísseis Harpoon e os mísseis de lançamento vertical, cujo tipo e finalidade podem variar de acordo com a missão.
O sistema AEGIS foi desenvolvido para defender todo um Grupo Tarefa naval de Navios Aeródromos e não apenas o navio que o carrega. As quatro antenas fixas respondem ao mais grave problema dos radares de antenas rotatívas, o de ficar cego para todas as direções menos para aquela a qual ela apontava, pelo tempo de uma rotação. Isso é mortal na era dos mísseis antinavio supersônicos, como os que os soviéticos estavam a desenvolver nos anos 1960 e 1970. Para contornar esse problema, a extinta corporação RCA desenvolveu um sistema de antenas de radares fixos com feixes guiados eletronicamente, o que permitia emitir suas ondas constantemente e simultaneamente em um raio de 360 graus ao redor do navio. O radar SPY-1A, o coração do AEGIS, foi instalado inicialmente nos grandes cruzadores americanos da classe Ticonderoga. Em seguida, a versão mais moderna SPY-1D debutou na classe de destróieres americanos Arleigh Burke. Para exportação, o sistema “D” foi vendido também aos japoneses para uso nos seus destróieres da classe Kongo e Atago e para os sulcoreanos para emprego no destróier KDX-III, além, naturalmente, da classe Álvaro de Bazán. A sua variante mais recente é a compacta e mais leve “SPY-1F” (para uso em “fragatas”) que a própria Navantia instalou nos destróieres da classe Fridjof Nansen destinados à Noruega.
Atualmente, o sistema AEGIS é um produto da empresa Lockheed Martin fabricado já com todos os subsistemas subjacentes. Segundo ela, o AEGIS é capaz de localizar até 100 alvos simultaneamente e, se o navio dispuser dos meios, disparar contra todos eles ao mesmo tempo. No caso da Álvaro de Bazán isso é impossível dado que ela possui “somente” um canhão, um máximo de oito mísseis Harpoon e 48 mísseis antiaéreos no seu VLS. Ainda assim, o disparo simultâneo de todas essas armas – algo nunca tentado – seria algo realmente impressionante.
Contudo, mais importante do que as palavras do fabricante, é o que diz o usuário do sistema sobre seu funcionamento. Nesse sentido, não há reclamações a serem feitas. Toda a tripulação da Álvaro de Bazán é extraordinariamente enfática quando elogia o funcionamento do AEGIS. Segundo seu comandante, o sistema é “cem por cento confiável, não apresentando praticamente nenhuma falha. É uma arma tremendamente capaz”; suas capacidades de detecção, isto é, o alcance de seu poder de localização é fenomenal, da ordem de cem milhas náuticas, a absurda distância de quase cento e noventa quilômetros. Além disso, o sistema é altamente resistente a todas as formas de interferência mais recentes da guerra eletrônica, sendo capaz não só de se defender, mas também de revidar ou iniciar um ataque 100% eletrônico, graças a outros subsistemas de guerra eletrônica dele, o Aldebarán e o Regulus. E há também a mencionada capacidade de dar combate simultâneo a vários oponentes. Fabricantes franceses alegaram que as quatro antenas separadas do radar gerariam pontos cegos, e por isso o sistema não seria perfeitamente “blindado”. Essas alegações são desmentidas pelo comandante da Álvaro de Bazán, segundo o qual os raios emitidos pelas diversas antenas do SPY-1 se sobrepõem, não havendo pontos sem guarda dentro do guardachuva do radar do navio.
Um ponto problemático dentro da lógica da independência tecnológica buscada pela Marinha do Brasil, mas que parece não incomodar muito aos espanhóis, é a questão do reparo de certas peças mais sofisticadas. Embora muitos técnicos espanhóis tenham viajado aos EUA para receber treinamento e estejam aptos a fazerem reparos de várias ordens, alguns componentes críticos, os mais valiosos, só podem ser consertados nos EUA. Eles devem, portanto, ser enviados para lá a fim de que sofram os devidos reparos. Para toda peça em reparo, porém, é oferecida à Armada uma substituta, de modo que os navios nunca perdem capacidade operacional, não por falta de componentes do AEGIS, pelo menos. Uma curiosidade sobre o sistema; ele é tão valioso do ponto de vista tecnológico que há marretas espalhadas por todo o COC para que, caso o navio seja comprometido de qualquer maneira, esses preciosos componentes sejam destruídos pelos próprios tripulantes.
O sistema AEGIS é uma arma poderosíssima na guerra antiaérea, realmente garantindo àqueles que o possuem, senão o domínio, ao menos uma total consciência de tudo que se passa no ar. ALIDE viu de perto que as afirmações sobre o poder do sistema não são levianas. Durante o Noble Mariner, a Álvaro de Bazán foi a segunda a fazer seus disparos no exercício de ameaça antiaérea, acertando o alvo logo em seu primeiro tiro. Foi-nos contado - e por um oficial português, e não um espanhol - que esse não é um fato inédito, a F-101 faz valer aquilo que se fala sobre ela e verdadeiramente age como sentinela dos céus.
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