O mais importante hoje a respeito da China é o recrudescimento da
Trade War iniciada pelo atual Presidente dos EUA, que já esbravejava sobre o tema, com frases do tipo "
China is rippin' us off" mais de uma década antes de concorrer. Pouco tempo atrás, na reunião do G-20 em Osaka (JPN), um amistoso Trump se reuniu com a mandatário Chinês, cheio de frases sobre distensão e sorrisos. Pouco tempo depois o anúncio: novas taxas, agora sobre cerca de outros USD 300B em produtos
Made In China, alegadamente de 10% mas, segundo o mesmo Trump, podendo chegar a até 25%. Na prática, isso significa taxar
todas as exportações do gigante Asiático para os EUA, com o corolário extra de aliados e "aliados" poderem ser persuadidos a fazer o mesmo, o que deixaria o nosso amigo Xing Ling numa encrenca dos infernos. As novas sanções são
ainda apenas uma ameaça, eis que previstas para entrarem em vigor em 01/09.
E o contraponto? A parte visível a todos são sanções de represália, como a recusa - já em vigor - de assinar novos contratos com fornecedores agrícolas dos EUA, o que atinge em cheio uma parcela significativa dos Eleitores de Donald Trump. A parte menos visível - mas não menos importante - inclui, pela primeira vez em cerca de uma década, a desvalorização da moeda nacional Chinesa para cerca de 1/7 de USD (o que compensaria, em tese, pelo menos parte das sanções em seus efeitos práticos) e nebulosas tratativas com o Irã, nas quais óleo proveniente de lá fica na China mas não
OFICIALMENTE comprado (para não desafiar as sanções contra os Persas), parte em depósitos não-alfandegados e parte em
Tankers parados em portos Chineses, alegadamente "em trânsito".
A questão é: ao ver-se em uma nova e muito mais dura rodada de sanções, irá a China se conformar ou retaliar
de verdade? No que comprar o óleo Iraniano que está em casa mas não é oficialmente seu, já dá uma paulada nos ianques e esburaca suas sanções contra o citado Irã; no que assinar contratos para mais, a Guerra Comercial provavelmente vai escalar num nível só visto nos tempos da guerra fria. Já substituir os fornecedores agrícolas dos EUA sempre foi um grande problema, em especial para quem exporta muito para lá, com ou sem taxas. Para se ter uma ideia, nem a URSS conseguiu, e tinha população bem menor. Grandes e tradicionais exportadores de agro-
commodities como Brasil e Argentina podem não estar disponíveis, eis que muito mais suscetíveis a quaisquer sanções (só precisa
UM tweet mal-humorado e todo mundo arria as calcinhas); já a Rússia ainda é vista, neste setor, mais como uma curiosidade do que como fornecedor tradicional e confiável, pois tem muita terra agricultável mas há grandes dúvidas quanto à
verdadeira produtividade e ainda por cima o clima não ajuda nada.
Assim, de 01/09 em diante poderemos estar diante de grandes mudanças na ordem mundial (pelo menos na parte econômica), com um possível "efeito-cascata" fazendo com que todos os sancionados pelos EUA passem a desconsiderar ou pelo menos relativizar as ditas sanções e, sendo alguns integrantes da "aliança rebelde" dotados de um baita arsenal nuclear, não vai ter como forçá-los
manu militare. Mas não parece ser esta a ideia de Donald Trump: no discurso vai ser o de sempre, "quem estiver conosco estará bem", na prática a queda dos preços do petróleo a níveis inusitada e crescentemente baixos (que já começou) e com Bolsas e ações (p ex, a Boeing está abaixo dos 2% faz dias, o Google caiu 6% hoje) também em queda, me parece que caminhamos para uma recessão mundial muito dura. E os líderes por trás disso?
Na China, há um velho (milenar, na verdade) adágio que diz mais ou menos que "se o preço do arroz é baixo, o Grande Magistrado vive tranquilo; se o preço do arroz fica acima do que o Povo pode pagar, o Grande Magistrado cai"; já nos EUA o petróleo em baixa (e os preços já vêm caindo nas bombas, em um mês tendo ido de USD 2,8 para 2,7/US gal e continua para baixo) e a economia aquecida - mesmo com os tombos citados, e lembrar que na Europa a coisa não está melhor - por certo mantêm a crença de Trump sobre a correção de sua estratégia de reeleição.
Vamos ver. No meu entendimento, setembro - ou mesmo antes - nos trará uma possível distensão dos EUA com o Irã (aumentar a disponibilidade internacional do crude, reduzindo ainda mais a já decadente influência da OPEP+ e ainda facilitando uma queda ainda maior do preço dos combustíveis nos EUA) e as coisas engrossando cada vez mais para cima da China (desvalorizar sua própria moeda não prejudica
apenas os EUA), o que poderá até nos trazer um novo tipo de bipolaridade tipo Guerra Fria, agora com um dos lados sendo representado pelo binômio China-Rússia e o outro possivelmente EUA-UK (talvez Japão e mesmo Índia adiram) e a Europa Continental sendo apanhada no fogo cruzado. Para quem investe, hora do ouro (neste momento a quase inacreditáveis USD 1,473/oz) ou mesmo da Bitcoin, enquanto corre para longe das
commodities, índices e ações...
SUGESTÃO DE LEITURA:
https://www.cnbc.com/2019/08/05/china-f ... trump.html