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As dez coisas que me assustam em um segundo mandato do governo atual
Há dez coisas que me assustam muito em um segundo governo Dilma. Isso não necessariamente acontecerá, mas os dez pontos que destaco abaixo estão presentes em declarações de simpatizantes do governo e, às vezes, até mesmo em declarações da própria presidenta Dilma. Nesta lista não há nada pessoal. É um debate de ideias.
(1) Controle do Banco Central
O governo parece confundir independência do Banco Central – formal ou operacional – com o controle dos banqueiros da economia brasileira. Essa é a visão divulgada em uma propaganda política da coligação da presidenta, o que nos leva a crer que, em um novo governo, a presidenta e o seu partido tentarão controlar ainda mais o Banco Central. Vale lembrar que, neste governo, a inflação só passou a ser levada a sério quando Ana Maria Braga vestiu um colar de tomates (clique aqui).
(2) Aumento da Divida Bruta e Liquida
Por mais que se tente explicar, simpatizantes do governo acreditam que, quanto maior a divida para financiar a juros subsidiados um conjunto de empresas, melhor. E o custo? para eles, há uma espécie de “milagre da multiplicação dos pães”. O aumento da divida aumenta o investimento e, logo, ocasiona mais crescimento e mais impostos que, necessariamente, serão suficientes para pagar o crescimento da dívida. Mas não fizemos exatamente isso na década de 70? Logo, a solução para o crescimento não é aumento da produtividade, mas o crescimento cada vez maior da dívida. Como diz um amigo meu no governo quando questiono o crescimento da dívida: “como vamos financiar o crescimento da produtividade?”. Ou seja, tudo passa pelo aumento da dívida até mesmo o crescimento da produtividade.
(3) Inflação alta
O governo atual e seus simpatizantes não acreditam que uma taxa de inflação um pouco acima de 6% ao ano seja um problema. Na verdade, acreditam que é um índice bom porque é menor que 10% ao mês. Acreditam também que trazer a inflação para o centro da meta tem um custo muito grande e, assim, é melhor aceitar uma inflação moderadamente elevada de 6% ao ano (mesmo com controle de preços) e criticar quem promete trazer a inflação para o centro da meta. Por que isso mudaria em um segundo governo Dilma? Não tenho ideia.
(4) Superávit primário baixo
O governo atual parece acreditar que o esforço de gerar um superávit primário sem o uso de truques fiscais é excessivamente alto. Por quatro anos, o governo tentou enganar o mercado na divulgação do superávit primário, mas o tiro saiu pela culatra. Estamos na iminência de perder o grau de investimento e, mesmo que o governo mude a equipe econômica, a desconfiança do mercado é tão grande que o custo de ajuste em um segundo governo Dilma será maior do que em um governo da oposição – seja o presidente Aécio Neves ou Marina Silva.
(5) Taxas de juros elevada.
Um país com poupança baixa, no qual a tendência da divida bruta e liquida é de crescimento, a taxa de juros tende a ser elevada. Isso será agravado por sucessivas tentativas de tentar controlar a taxa de juros de qualquer maneira, como o governo já tentou no mandato atual e fracassou. Claro que se os EUA elevarem a taxa de juros deles, teremos problemas.
(6) Estagnação ou queda da produtividade.
Em recente entrevista ao Estado de São Paulo, a presidenta Dilma afirmou que foi no governo Lula (2003-2010) que a produtividade cresceu e não no governo do ex-presidente FHC (1995-2002). Ou seja, na interpretação da nossa presidenta, o crescimento da produtividade responde sem defasagem à políticas do presente. Ou seja, todas as reformas anteriores ao governo Lula foram um fracasso. O problema é que ninguém acredita nessa ideia absurda. Nem mesmo os seus ministros. O governo tem a noção infantil que consegue aumentar a produtividade se reunindo com 50 empresários em uma sala fechada e distribuindo incentivos setoriais. Não deu certo e não funcionará novamente.
(7) Controle da taxa interna de retorno dos projetos.
Alguns amigos me falam que o governo aprendeu com a tentativa fracassada de tentar controlar a taxa interna de retorno dos projetos. Mas acho que esse aprendizado foi parcial. O governo continua insistindo no aumento do crédito subsidiado, financiamento de fundos de pensão de estatais e aportes do FI-FGTS em troca de preços (tarifas) menores. Por que em um segundo governo será diferente? não será.
(8) Pré Sal e valorização da taxa de câmbio.
O governo atual fala para quem quiser ouvir e para quem não quiser ouvir que os recursos do pré sal serão utilizados para financiar maiores gastos com educação e outros gastos meritórios. Não explica, no entanto, que o uso de uma receita em dólar para financiar um gasto corrente na moeda local significa valorização do Real e, logo, o risco maior de desindustrialização. Como isso será solucionado? não será porque eles não conseguem enxergar o problema. Samuel Pessoa já falou que topa dá uma aula de graça.
(9) Aumento da carga tributária
O governo tem dito nesta campanha eleitoral que continuará a expandir os subsídios para financiar o setor “real” da economia. Como ainda não pagou o que já deu e ainda promete novos subsídios, isso significa uma coisa: aumento da carga tributária hoje ou no futuro (para pagar a dívida). Tenho certeza que um segundo governo Dilma vai tentar ressuscitar a CPMF. Mas isso não preocupa simpatizantes do governo porque eles acreditam, como falei acima, no “milagre da multiplicação dos pães”.
(10) Sindrome de He Man: “Eu tenho a força. Sou invencível. Juntos amigos, venceremos a semente do mal”
O governo parece acreditar que consegue controlar o espírito animal dos empresários e escolher os setores que puxarão o crescimento. Qualquer empecilho é solucionado em uma reunião rápida no Palácio do Planalto. Se faltar recursos para obras de investimento, o Tesouro aumenta a divida e empresta para o BNDES. Se a indústria estiver com problemas, governo aumenta imposto de importação. O governo tem feito isso de forma sistemática nos últimos anos. Por que em um segundo mandato seria diferente? O governo acha que consegue microgerenciar a economia e não adianta tentar convence-lo do contrário porque, neste caso, você será a “semente do mal” da música do He Man (junto com os banqueiros e a grande imprensa).
Pelos dez motivos acima não voto no atual governo e acho que um segundo mandato tem tudo para ser desastroso. Mas posso estar errado por dois motivos. Primeiro, o governo pode ser forçado a mudar o curso da política econômica na iminência de uma crise. Segundo, o governo pode mudar porque se convenceu que o que fez ao longo dos últimos quatro anos não entregou o resultado esperado. Mas não é isso que representantes do governo falam e continuam culpando o resto do mundo pelas nossas mazelas.