Thor escreveu:Estamos partindo do princípio que os motores são semelhantes, da mesma geração e passaram pelos mesmos padrões de certificação. O lógico é que a perda total devido à falha de motor seja menor num bimotor se comparado a um monomotor.
É a primeira impressão, mas, existem fatores não óbvios que podem atrapalhar o bimotor quando agem em conjunto com um fator óbvio, que com dois, é mais provável que um deles falhe:
1) Quando falamos "probabilidade de falha" da a entender que falhas são eventos totalmente aleatórios, de fato, existem fatores que causam falhas que estão totalmente fora do nosso controle e podemos até assumir que são aleatórios, mas nem todos, quando a causa não é aleatória existe um risco muito grande dessa falha afetar os dois motores, por exemplo, uma falha de projeto, de cabeça, no mundo da aviação lembro dos primeiros jatos comerciais que explodiam de forma consistente após um certo número de voos, o problema no caso era a pressurização, mas, uma falha de projeto em um motor poderia fazer com que os dois motores falhassem ao mesmo tempo ou em um curto intervalo de tempo.
2) Uma falha pode ser catastrófica, quer dizer, além do motor simplesmente parar de funcionar ele pode prejudicar o funcionamento de outras partes da aeronave, algo que citei na pagina anterior, se um motor explode e arranca um pedaço da asa? Ou se um motor pega fogo? No caso de aeronaves com motores próximos um do outro, e se os danos em um, por qualquer motivo, danificarem o outro? Um exemplo real na aviação civil, quando uma falha ativou o reverso de um avião da TAM, apesar dele ter dois motores a falha em um deles derrubou o avião.
3) Há momentos em que a aeronave precisa operar no limite, nesses casos a falha em dos motores pode ser fatal, imagine a decolagem de um avião naquela pista curta do Rio, ou a decolagem a partir de um porta aviões, ou um outro caso, um suposto F-35 bimotor pairando no ar, nesses casos dificilmente um motor sozinho daria conta do recado.
Falando em redundância e sobre o "2 é melhor que 1", existem outros fatores que prejudicam a confiabilidade de sistemas redundantes, embora não afetem tanto aeronaves:
4) Sistemas com redundância se tornam mais complexos, a complexidade aumenta as chances de existir uma falha de projeto ou de operação e cria uma infinidade de possibilidades de como o sistema vai operar degradado dependendo de como houve a falha parcial, é possível que o sistema não consiga lidar com um tipo de falha não prevista mas que não deveria ser catastrófica.
5) Em um mundo perfeito "falhar" significa "parar de funcionar de forma civilizada, previsível, facilmente identificável e sem outros efeitos colaterais", mas no mundo real falhas ocorrem enquanto o sistema falho ainda parece funcionar normalmente, mas o funcionamento incorreto (valores errados, acumulo de substâncias, etc) pode levar a uma falha catastrófica.
Já vi muitos sistemas baseados no "óbvio que 2 é melhor que 1" que falharam por motivos bestas e que provavelmente não falhariam se houvesse apenas uma unidade, sei que a coisa não é tão óbvia assim e sei também que, sem números para comprovar apontar para um ou outro e dizer que é mais seguro não passa de chute.
Thor escreveu:Em aeronaves de caça, imagino que se eu preciso de ter um caça que leve apenas 5 ton de armamentos de precisão (realidade atual, para a maioria dos cenários) e que me possibilite uma velocidade adequada, por que colocar 2 turbinas que vai aumentar o consumo, o custo, o arrasto induzido, o peso, sem grandes ganhos expressivos, mas que dará um aumento de confiabilidade por perda associada a motor de 1,3 aeronaves perdidas por 100.000h para 0,9, por exemplo? Vale a pena?
Toda a discussão surgiu por causa de uma afirmação de que, o custo de reposição de aeronaves monomotoras que caíram por falha no motor deveria ser adiciono ao custo da hora voo, bem, se as quedas pelo motor são de 1 em 1 milhão de horas e a aeronave custa 100 milhões de dólares só adicionar 100 dólares na hora voo e ver se vale a pena, mas ai teria que ver quanto o custo de reposição maior do bimotor vai pesar na reposição por quedas por todos os outros motivos...
E isso tudo falando de caças, com caças é fácil ignorar o piloto, é militar... Tem assento ejetor e, se o assento ejetor machucar ele não é minha culpa... Mas com aeronaves civis é mais complicado, não tem assento ejetor, são centenas de passageiros e para piorar, não é só fazer uma aeronave segura, é preciso convencer os passageiros de que ela é segura, e pessoas tendem a acreditar que 2 é melhor que 1 sem nem pensar a respeito.