Pergunta que não quer calar: quantos aviões AEW&C a FAB precisará no futuro a médio e longo prazo após a retirada de serviço dos E\R-99
Os modelos atuais foram comprados dentro do processo de desenvolvimento do SIVAM nos anos 1990, o que justificou e providenciou os recursos necessários à sua aquisição. Ponto. O hoje CINDACTA IV está em pleno funcionamento e integrado em todas as suas múltiplas funções, mas não há aviões AEW operando na região norte, com os E\R-99 baseados em Brasília, atendendo o país inteiro.
Isto dito, quais fatores devem influenciar a decisão da FAB por um novo vetor do mais complexo ao mais simples de resolver:
1. recursos orçamentários;
2. recursos tecnológicos;
3. recursos humanos;
4. recursos logísticos;
5. recursos operacionais;
6. recursos doutrinários.
Considerações:
1. recursos orçamentários - não há mais um SIVAM da vida para justificar o investimento em novos AEW na FAB. Portanto, deve-se buscar outras justificativas que sensibilizem o governo de plantão de forma a amparar a substituição dos E\R-99; no momento não há nada de concreto que diga ao setor político que vale a pena investir em tais vetores para a FAB e o que ele ganha com isso na prática.
2. recursos tecnológicos - a FAB tem em suas mãos o planejamento estratégico que vislumbra o desenvolvimento de vários tipos de radares para sua utilização, entre eles um radar aerotransportado; o presente plano chega a termo em 2027, e não se tem até agora sequer a proposta de início do desenvolvimento deste radar e nem de qualquer outro apontado neste planejamento.
3. recursos humanos - a FAB não dispõe hoje de recursos humanos em quantidade e qualidade para operar vetores C4ISR, visto o número limitado de aviões que opera, e as vagas referentes à OM que abriga os mesmos; para o futuro é preciso decidir com antecedência quantos e quais vetores a FAB demandará a si, de forma que se possa iniciar o processo de formação com antecedência. Formar pessoas, e torná-las proficientes, leva muito tempo e investimento financeiro. Algo que não temos sobrando.
4. recursos logísticos - a atual organização da FAB em relação a seus vetores AEW atende apenas aos 8 E-145 que operam na base aérea de Anápolis; a demanda para novos vetores tem que ser estabelecida, assim como os recursos humanos com antecedência a fim de estabelecer as necessidades logística que devem ser assistidas. Novamente, logística é algo que não se pode arrumar a troco de caixa e levianamente.
5. recursos operacionais - os componentes do 2o\6o Gav que formam o núcleo dos vetores AEW\ISR da FAB talvez sejam suficientes para tempos de paz, mas, em situações de conflito, em grande, pequena e média escala é preciso pensar e debater se são condizentes ou não; as lições da guerra aérea na Ucrânia precisam ser levadas em conta, olhando não apenas para o lado, mas buscando antever se nossa capacidade operacional é suficiente para darmos conta de situações que escapem ao cotidiano das vigias contra papa-tangos nas fronteiras, e encarar ameaças realmente sérias.
6. recursos doutrinários - a doutrina evolui com os seu vetores, e neste ponto a FAB tem bastante experiência; a modernização dos E\-99 trará novas capacidades que oferecerão novidades em termos de operacionalidade e capacidades, assim como referencias para a atualização doutrinária. Mas é preciso ver aonde e como esta doutrina está em acordo com os conflitos modernos e a inserção de novos vetores na guerra aérea, e de que forma o setor AEW pode e deve evoluir a fim de fazer frente aos mesmos. quais as capacidades necessárias e como justifica-las e operacionalizar tudo isso considerando a onipresente escassez de recursos e meios humanos e materiais.
Os E\R-99 duram mais uns 15 anos, se muito. A partir de 2040 temos que entrar nesta nova década já sabendo com qual capacidades iremos combater em termos de vetores C4ISR.
Pode até parecer faltar muito tempo para pensar em tais decisões, mas, deixar para o último minuto nunca foi e continua não sendo uma opção racional e lógica.
A experiência ucraniana não me deixa mentir.