Olá Pessoal,
Mais um capítulo da novela Projeto FX. Desta vez o personagem é a Revista IstoÉ.
PS: Tenho a impressão que é uma notícia requentada.
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Armadilha russa
Sukkhoi quer vender caças para
a Força Aérea e usar o dinheiro
para competir com a Embraer
Mário Simas Filho
Nos próximos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá reunir o Conselho de Segurança Nacional e, em seguida, anunciar qual o avião escolhido para suceder os superados caças Mirage IIIEBR na necessária missão de defender o espaço aéreo brasileiro. Por trás da decisão presidencial está muito mais que um gasto de aproximadamente US$ 800 milhões para a compra de 12 modernos caças supersônicos. “Esse investimento só será válido se for traduzido em real oportunidade de desenvolvimento. Para isso, o pacote a ser escolhido deve vir com uma profunda transferência tecnológica, que nos garanta um up-grade na direção de diminuir nossas exportações no futuro”, observa o deputado Delfim Netto (PP-SP). É comum que os contratos internacionais estejam rodeados de contrapartidas comerciais e até de transferências tecnológicas. Mas, muitas vezes, as propostas apresentadas escondem algumas armadilhas. No caso da disputa dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), uma dessas armadilhas está na proposta apresentada pela russa Rosoboronexport.
Em parceria com a Avibrás, os russos oferecem o supersônico Sukkhoi Su-35. O avião, por enquanto um protótipo bi-reator, é o xodó dos pilotos da FAB e tratado, por assessores do ministro da Defesa, José Viegas, como um dos favoritos para a substituição de nossos velhos Mirage. Para convencer o governo brasileiro a optar pelo seu caça, os russos se comprometem a comprar até US$ 3 bilhões em produtos brasileiros e prometem transferir tecnologia em várias áreas, inclusive na espacial, o que agrada sobremaneira aos entusiastas do Sukkhoi. O problema, no entanto, está exatamente naquilo que não está escrito na proposta.
Planos – Enquanto briga para tentar vender seus caças no mercado externo, na Rússia a Sukkhoi trabalha no projeto de construção de um jato comercial regional, o Russian Regional Jet (RRJ). O plano está bem adiantado. A previsão é produzir, nos próximos dez anos, 640 unidades desses jatos, com capacidade de 60 a 95 assentos, segundo revelou a revista americana Aviation International News, na última semana de fevereiro. A intenção dos russos é vender o jato regional para o mercado da Ásia, principalmente Malásia, Índia, Vietnã e Indonésia, que já compram aviões militares da Sukkhoi. Para tanto, os russos estão garantindo apoio para produção e manutenção dessas aeronaves para indústrias dos países que se comprometerem a comprar o RRJ.
O maior problema dos russos é dinheiro. Para tirar o RRJ do papel, há um investimento de cerca de US$ 670 milhões apenas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. O dinheiro está sendo levantado em bancos (30%), ações de risco com fabricantes de componentes (45%) e fundos estatais (15%). Os restantes 10% deverão ser aportados pela Sukkhoi, que para isso depende da venda de seus caças para países da América Latina, do norte da África e do Oriente Médio. Atualmente, a Sukkhoi está preocupada porque a procura pelos seus caças vem decrescendo na Ásia. Ainda de acordo com a revista americana, caso a Sukkhoi não consiga vender seus caças, será difícil encontrar trabalho para os 20 mil trabalhadores da KnAAPO (Komsomolsk-on-Amur Aircraft Industrial Organization, a empresa russa que comercializa os aviões) sem entrar no mercado de aviação civil.
Tiro no pé – Os planos da Sukkhoi expostos pela Aviation International News mostram que, se o governo brasileiro vier a optar pelo caça russo na concorrência
da FAB, estará, a médio prazo, fazendo um gol contra. A eventual compra do Sukkhoi Su-35 pelo Brasil contribuirá diretamente para o desenvolvimento do jato russo, que irá disputar um seleto mercado com a brasileira Embraer. Quarta maior fabricante de aviões do planeta, a Embraer emprega diretamente 13 mil pessoas e indiretamente mais de 150 mil. Nos últimos nove anos, a empresa exportou US$ 14 bilhões e fez investimentos de US$ 1,7 bilhão. Se perder mercado, a empresa terá que reduzir suas atividades.
Assim como os russos, a brasileira Embraer também aposta na concorrência da FAB para continuar a crescer. A empresa se associou à francesa Dassault e disputa a venda dos caças com o Mirage 2000-5Br. “Precisamos da tecnologia supersônica para poder continuar a crescer”, diz Maurício Botelho, presidente da Embraer. Nas últimas semanas, assessores do Ministério da Defesa e do comando da Aeronáutica espalharam boatos de que a Embraer seria contemplada, qualquer que fosse a escolha do presidente. Em reunião com Lula, porém, Botelho esclareceu que apenas a parceria com os franceses lhe garante a total transferência tecnológica, o que lhe assegurará mercado e geração de empregos.