Acredito que tenha a ver com o tema . Pelo menos no que tange ao
dos BRICs.
TAM já vale mais que JetBlue, United e American Airlines |
Muitas empresas brasileiras superam gigantes americanas em valor de mercado com queda do dólar e crise nos EUA
Gerar valor para o acionista é um mantra repetido à exaustão por executivos de todos os setores. Se alguém estivesse no comando de uma empresa cujo faturamento equivale a 21% do da maior companhia americana de seu setor, e cuja capacidade de produção correspondesse a apenas 12% daquela empresa, a tarefa de superar seu valor de mercado no curto prazo pareceria loucura. E o que dizer, então, de uma companhia que, nestas condições, já conseguiu bater uma rival desse porte? Foi o que aconteceu com a TAM. A aérea brasileira encerrou julho com um valor de mercado de 3,073 bilhões de dólares. A cifra é 35% superior aos 2,268 bilhões de dólares que os investidores pagariam pela AMR, holding que controla a American Airlines, maior companhia aérea dos Estados Unidos em receita, e sua co-irmã American Eagle, de vôos regionais. A TAM também vale mais que outras gigantes da aviação americana, como Delta, United, Continental e Northwest.
Os balanços das empresas mostram que a vitória da empresa brasileira se compara à de Davi contra Golias. No ano passado, a TAM faturou 4,9 bilhões de dólares, de acordo com o anuário Melhores e Maiores de EXAME. Já a AMR registrou receitas de 22,9 bilhões de dólares, quase cinco vezes mais. A disparidade também passa pelo tamanho da frota. No início de agosto, a brasileira alcançou 116 aeronaves – menos da metade dos 296 aparelhos operados apenas pela regional American Eagle. No total, a AMR possui uma frota de 980 aeronaves, sendo que 29 delas não estão em operação. A “capacidade instalada” da TAM permitiu-lhe transportar 27,950 milhões de passageiros em 2007, algo que a AMR demorou apenas 104 dias para fazer. Ao longo de 2007, a americana movimentou um total de 98,162 milhões de pessoas.
Por tudo isso, a TAM ocuparia uma modesta oitava posição no ranking das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, elaborado pela revista Fortune. A brasileira ficaria entre a Southwest, que faturou 9,9 bilhões de dólares em 2007, e a Alaska Air Group, com 3,5 bilhões.
Maior autonomia de vôo
A irracionalidade então teria dominado o mercado? Para analistas, a resposta é não. Os papéis da TAM também são castigados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) pelos mesmos motivos que levam os de suas concorrentes americanas a apanhar na Bolsa de Nova York – a disparada do petróleo, o conseqüente aumento do combustível e a corrosão de suas margens de lucro. Até 31 de julho, as ações preferenciais da TAM (TAMM4, sem direito a voto) perderam 26% do valor, em relação aos 42 reais com que eram cotadas no primeiro pregão do ano. Já os papéis da AMR na Bolsa de Nova York caíram 36%, para 9,03 dólares. As perdas amargadas pela TAM são bem maiores que os 5,27% de queda acumulada pelo Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, no mesmo intervalo.
A diferença, para os especialistas, é o grau com que o cenário adverso afeta as empresas. No final de maio, a AMR passou a cobrar novas taxas dos passageiros, como uma de 15 dólares sobre a primeira bagagem a passar no check-in. A companhia também pretende cortar em 4,6% a capacidade em suas rotas nacionais até dezembro, e em 11% a dos vôos regionais. Além disso, em maio, circulou na imprensa americana que a American Airlines negociava uma fusão com a Continental, a fim de ganhar escala e cortar custos.
Nenhuma medida do gênero, até o momento, foi adotada pelas companhias aéreas brasileiras. “No geral, o desempenho das empresas brasileiras é melhor que o das rivais americanas”, afirma Kelly Trentin, chefe de análise da corretora SLW. Devido à grande competição no mercado americano de aviação, as empresas já vinham se reestruturando desde a desaceleração do setor, fruto dos atentados terroristas de 2001. “Eles já trabalham com margens pequenas, e não há muito para cortar para enfrentar o petróleo caro”, diz Kelly. Por aqui, a situação é diversa. A competição é bem menor e as companhias aéreas ainda têm espaço para enxugar eventuais gorduras.
Além disso, a queda do petróleo nos últimos dias e a expectativa de que os números do segundo trimestre sejam mais favoráveis também contribuem. O preço-alvo médio das corretoras para a TAM, em dezembro, é de 45 reais por ação, o que indica um potencial de valorização de 41% sobre o fechamento desta segunda-feira (4/8), de acordo com a Thomson Financial, agência americana especializada em informações financeiras. A maioria das corretoras ainda recomenda a compra dos papéis. As projeções para a AMR são opostas: recomendação de venda e preço-alvo de 7,75 dólares, uma queda de 20% sobre a segunda.
Tudo isso reflete nas altas recentes dos papéis da TAM e da Gol (GOLL4) na bolsa. A própria Gol também se beneficia da situação. Seu valor de mercado, 2 bilhões de dólares, superou os 1,43 bilhão de dólares da JetBlue, empresa que inspirou o modelo de negócios da família Constantino.
Sem jabuticabas
A valorização das aéreas brasileiras poderia ser um caso típico de jabuticabas no mercado mundial, mas há outros setores em que as companhias verde-amarelas já superam o valor de mercado de suas concorrentes americanas. No ramo de frigoríficos e abatedouros, por exemplo, a JBS-Friboi e a Perdigão já superam o valor de mercado da gigante Tyson Foods. Embora o faturamento da americana, no ano passado, tenha somado 26,9 bilhões de dólares, seu preço em bolsa é de 5,291 bilhões. A Perdigão vale 5,629 bilhões, mesmo com um sétimo das vendas.
A siderurgia é outro setor que desponta à frente das rivais dos Estados Unidos. A CSN é a empresa brasileira com maior valor de mercado neste segmento, 30,109 bilhões de dólares. A gigante Alcoa, que faturou 4,6 vezes mais no ano passado, é a empresa americana do setor de maior valor na Bolsa de Nova York: 27,452 bilhões.
E a Petrobras, avaliada em 227,103 bilhões de dólares, só perde para a Exxon Mobbil, mas supera a segunda companhia petrolífera dos Estados Unidos, a Chevron Texaco, cotada em 174,903 bilhões de dólares. Detalhe: a americana faturou, em 2007, mais que o dobro da brasileira – 211 bilhões de dólares.
Commodities e câmbio
A alta das commodities agrícolas e metálicas é um fator que explica boa parte da valorização das empresas brasileiras, em ramos tão distintos quanto o frigorífico e o petrolífero. Outro motivo é a situação do mercado interno. Enquanto os americanos beiram uma estagflação – a incômoda mistura de estagnação econômica e inflação -, o Brasil ainda vive um período de expansão econômica, com o consumo estimulado pela maior oferta de crédito.
O terceiro fator é o câmbio. “O dólar fraco também é responsável pela mudança de patamar das empresas brasileiras”, afirma Luciana Leocádio, analista-chefe da corretora Ativa. Segundo o Banco Central, o dólar comercial para venda acumulou uma queda de 12,15% entre o primeiro dia útil do ano e esta segunda-feira. Assim, ao converter os resultados e o valor de mercado das brasileiras para dólares, o real forte também favorece a comparação.
O câmbio é um elemento importante, mas é preciso lembrar que comprar ações na Bovespa ainda está “barato”, na comparação com a Bolsa de Nova York. O P/L (preço da ação sobre o lucro líquido da empresa) médio dos papéis negociados na bolsa paulista é de 10,9 anos. No pregão de Wall Street, o P/L é de 12,4 anos, segundo a Ativa. Na prática, o P/L indica em quanto tempo um investidor obtém o retorno do capital aplicado em uma empresa. Por isso, é dado em anos. Quanto menor o P/L, mais rápido é o retorno ou, como preferem os analistas, “mais barato” é o papel. “A Bovespa ainda está barata, e há margem para um crescimento mais rápido que o da bolsa americana”, diz Luciana, da Ativa. Se isso acontecer, o valor de mercado das brasileiras pode se distanciar ainda mais do de suas concorrentes americanas. Só faltaria alcançar uma escala de produção semelhante à delas. Mas isso é outra tarefa para os executivos que entoam o mantra da geração de valor para os acionistas.
Empresa Valor de Mercado (US$ bi em 31/7)* Faturamento em 2007
(US$ bi)** País
Aéreas
TAM 3,073 4,911 BRA
AMR 2,268 22,935 EUA
Gol 2,053 2,708 BRA
United Airlines 1,052 20,143 EUA
Papel e Celulose
Aracruz 8,718 1,491 BRA
VCP 4,901 1,559 BRA
Avery Dennison 4,686 6,307 EUA
MeadWestvaco 4,658 3,02 EUA
Suzano 4,571 2,249 BRA
Klabin 4,24 1,992 BRA
Frigoríficos/Alimentos
JBS 7,606 2,635 BRA
Hormel Foods 4,908 6,193 EUA
Perdigão 5,629 3,838 BRA
Tyson Foods 5,291 26,9 EUA
Sadia 4,892 5,415 BRA
Smithfield Foods 2,887 11,932 EUA
Pilgrim's Pride 903 7,599 EUA
Siderurgia
CSN 30,109 6,619 BRA
Gerdau 28,973 5,187 BRA
Alcoa 27,452 30,748 EUA
Usiminas 21,401 5,843 BRA
United States Steel 18,84 16,83 EUA
Bolsas
Chicago Mercantile 19,633 1,756 EUA
BM&F Bovespa 18,036 0,396*** BRA
New York Stock Euronext 12,519 4,158 EUA
Nasdaq Stock Market 5,545 2,436 EUA
Petróleo
ExxonMobbil 424,968 372,824 EUA
Petrobras 227,103 101,12 BRA
Chevron Texaco 174,903 210,783 EUA
Conoco Phillips 124,046 178,558 EUA
Bancos comerciais
Empresa Valor de Mercado (US$ bi em 31/7)* Valor ajustado dos ativos em 2007
(US$ bi)** País
Bradesco 61,188 177,922 BRA
Itaú 59,102 172,862 BRA
US Bancorp 53,279 237,615 EUA
Banco do Brasil 40,731 206,668 BRA
Bank of New York Mellon 40,606 197,656 EUA
Wachovia 34,4 782,896 EUA
State Street 28,004 142,543 EUA
Unibanco 22,555 89,059 BRA
*Fonte: Economática
**Fonte: Melhores e Maiores de EXAME, Revista Fortune, empresas
***Resultado pró-forma; taxa de câmbio de 31/07/08