FX-2 – Uma visão crítica a respeito dos bastidores na LAAD-2011
Autor: Claudio M. Queiroz – para o Plano Brasil e GeoPolítica Brasil
A grande vantagem de se freqüentar uma feira de tecnologias militares como a LAAD-2011, é a possibilidade de conversas descompromissadas com as pessoas certas, responsáveis direta ou indiretamente em alguns assuntos.
Em relação ao FX-2, não foi diferente, pois podemos observar e colher muita informação a respeito do mesmo, desde as coletivas de imprensa, como nas conversas com os envolvidos, estas sempre deixando claro o anonimato das fontes, pois como existe muitos interesses em jogo, e grandes cifras envolvidas é prudente o sigilo.
O que escreverei aqui será meu ponto de vista do que foi mostrado, explanado e ofertado. Portanto é minha opinião, tentando ser imparcial e sem qualquer vínculo com as decisões reais tomadas pelo governo. Porém, sem esquecer que o que se procura é uma capacidade impar de impor a defesa aérea com uma larga transferência de tecnologias, pois só podemos dominar o campo de batalha quando se dominam os meios.
Hoje estão no Short list três concorrentes, vamos analisar individualmente as propostas ofertadas publicamente, principalmente através do que foi falado nas coletivas de imprensa dos fabricantes.
O Boeing F/A 18 E/F Super Hornet não preciso dizer que é um excepcional avião de caça, que o mesmo é um produto originário de um caça com nada menos que alguns milhares de células fabricadas. Como o próprio fabricante afirma o Super não é uma evolução do Hornet anterior e sim um novo caça desenvolvido para preencher e corrigir problemas do anterior, onde o que se usou do mesmo foram os estudos aerodinâmicos, assim como a parte frontal da fuselagem, isto ocasionando em um dos grandes problemas do mesmo, pois falta espaço para crescimento das capacidades dos aviônicos, como exemplo a impossibilidade de um IRST interno, fazendo com que este seja colocado em casulos (no caso do Super Hornet em um tanque alijável no pilone central, impedindo o alijamento do mesmo em caso de necessidade), por isso o mesmo sendo hoje um caça totalmente novo em relação ao Hornet, que segundo dizem o nome só foi usado para que o Congresso não vetasse o desenvolvimento do mesmo, pois não existiam verbas para novos caças e sim para “retrofits”, ou seja, até eles ficam com as mãos atadas pelo congresso, o mesmo que será o autorizador das transferências por nós solicitadas. O Super Hornet hoje só é utilizado por dois únicos países, sendo o próprio EUA através da Navy e dos Marines e a Austrália via RAAF.
Na coletiva de imprensa os representantes da Boeing estavam nitidamente desconfortáveis com as perguntas que estavam sendo feitas, vou citar apenas uma que achei relevante. Foi perguntado como seria a comercialização a terceiros dos Super Hornets que vierem a ser “fabricados” no Brasil, a resposta foi dita de forma abrupta e ríspida, dizendo que não existirá fabricação dos mesmos no Brasil e que a venda será somente para uso da FAB, se posteriormente vier um novo NAe para a MB para ela também. Com isto eles deixaram bem claro que procuram uma venda com alguma transferência de tecnologia, na montagem, usinagem e alguns softwares, mas não a fórmula de como se fazer a dita “receita do bolo”.
Em conversas e até mesmo em entrevistas anteriores foi indagado como ficariam a questão de integração de armamentos nacionais ou de interesse da FAB nos Super Hornet, sempre responderam que não era interessante para a FAB estas integrações pois perderíamos a comunalidade com os outros usuários deste caça, como citamos acima apenas os EUA e a Austrália os opera. Caso a FAB assim o quiser teria que arcar com os custos dos mesmos lá nos EUA. Então somente por estes tópicos eu considero o Super Hornet praticamente carta fora do baralho, somente virando o jogo se o for ofertado algo muito interessante, e o jogo for pesado demais para agüentarmos.
O SAAB Gripen NG (Gripen E-F) partindo do princípio que é apenas um conceito, onde o que se tem voando é um demonstrador do que poderá ser o mesmo, não é o protótipo do Gripen NG/E-F, fica muito difícil dizer a respeito de sua capacidade bélica e suas vantagens. Tomando como base as versões anteriores, podemos supor que ele será um excelente caça leve, perfeito para países com “inimigos” pontuais e países com territórios pequenos, o mesmo apresenta vantagens, sendo um caça leve é consequentemente mais barato de operar, porém, isto faz com que se necessite de mais aeronaves voando para cumprir o mesmo serviço que um número menor de caças médios ou pesados fariam. Então em resumo a economia vai para o ralo.
Existe um detalhe pouco revelado, mas que não pode ficar oculto, tudo que se diz a respeito dos custos do Gripen NG são estimativas calculadas através de equações matemáticas, que no passado recente já se mostrou que não são tão exatas assim (F-35, F-22, Typhoon, Rafale, AMX, F/A-18, Gripen A/B/C/D entre outros inclusive na Rússia), então os parâmetros de comparação são virtuais, não sendo a realidade esperada apesar de toda a publicidade a respeito dos valores, sendo em grande parte pagas pela própria SAAB, afinal quando se adentra nestes grandes empreendimentos os altos valores fazem que medidas deste nível sejam tomadas, nada mais natural no mercado capitalista que vivemos. A Saab montou na LAAD um estande extremamente bem feito, onde pudemos utilizar o seu simulador fixo do Gripen C/D, inclusive com alguns colegas tendo “voado” o mesmo, mas como sempre as propostas oferecidas são baseadas em estudos e cálculos que não podem se manter, como dito os valores investidos no projeto não tem como ser mensurados na totalidade.
Notei também que não só na feira, mas através de várias noticias, conversas e entrevistas, que a proposta Sueca é interessante do ponto de vista para quem procura um desenvolvimento descompromissado com a questão tempo, e não busca o domínio completo da arte de se fazer a “receita do bolo”, explicarei melhor; o que eles oferecem é um desenvolvimento conjunto de uma nova versão do Gripen onde teríamos custos futuros não calculados e não apresentados, pois o projeto será feito em parceria. O mais crítico disto tudo é que eles não dominam a totalidade das tecnologias embarcadas em seu caça, nem neste NG, nem nos anteriores, apesar de sua Pseudo Neutralidade, pois grande parte do mesmo é de domínio de empresas estrangeiras. Vamos citar alguns componentes que não poderão repassar tecnologia e quiçá códigos fontes quando o tiverem: Suíte de aviônicos da nacele (a princípio é fornecido pela Honeywell dos EUA, podendo ser substituída por outro fornecedor), Radar AESA ainda em desenvolvimento (Selex Raven, dizem que antena é feita pela Thales), Fly by Wire (EUA), Motor (GE dos EUA), Armas ar-ar (MBDA Meteor – Europa, AIM-120C – EUA, Iris-T – Europa, entre outros). Claro que isto não desmerece o projeto em si, mas deixa bem claro que no quesito transferência de tecnologia os Suecos não poderão ofertar muito mais do que os EUA. Mesmo assim ainda é interessante essa proposta, pois teríamos a propriedade intelectual de parte do caça (somente a que dominaríamos em desenvolvimento conjunto com eles) proporcionando a venda para países que temos maiores chances de acordos comerciais.
Um detalhe que tem sido tópico de debates, é a quantidade de países que utilizam o Gripen, inclusive sendo este motivo de argumentos em beneficio deste caça. Hoje respondo com toda a certeza que nenhum país o utiliza, pois ele ainda não existe e nem ao menos ainda foi vendido, pois a própria Suécia afirmou e se comprometeu na compra de umas dezenas caso o Brasil assim o fizer também, ou seja, a compra deles está condicionada a nossa escolha somente para corroborar á uma questão do edital, que é que o caça escolhido ESTEJA EM USO NO PAÍS DO FORNECEDOR, ou seja, hoje o Gripen NG não poderia estar no Short List da FAB. Mas como disse, ele ainda é um projeto promissor, não para o imediato que precisamos, mas quando o for o mesmo pode vir a estar obsoleto face a quantidade de novos caças de quinta geração que estão chegando no mercado, como Chineses, Russos, Coreanos, Turcos e até mesmo Japoneses, apesar que este pode ter sido prejudicado por conseqüências das catástrofes. Por estes motivos posso afirmar que o Gripen NG é um sonho apenas, pois no momento não atenderia o que se procura, que é aprender a fazer a receita do bolo, separando a matéria bruta e aprimorando a receita, e não apenas aprender a misturar os elementos prontos. Mas ainda assim vejo um futuro promissor para o mesmo em outra categoria de aeronave, onde em breve explicarei em outra matéria.
O Dassault Rafale C/B Versão F3+ é a aeronave oferecida pelo consórcio Rafale, com todo o respaldo legal do governo Francês assim como o comprometimento de todas empresas envolvidas no mesmo. Vamos analisá-lo com mais atenção, pois apesar do mesmo gerar vários tipos de comentários maldosos e infundados, o caça proposto pelo governo Francês, onde ele o chama de Ominirole, pois o mesmo possui a capacidade de gerir todas as informações referentes a suas missões mesmo em vôo: ataque a superfície (ao solo ou naval), combate aéreo, reconhecimento via OSF (para um melhor desempenho instala-se um pod específico no pilone central), ELINT (através do sistema SPECTRA) sem a necessidade de reconfiguração de seus sensores. Diferente dos concorrentes, ele age com um procedimento de fusão de dados, onde é apresentado ao piloto a arena tática que se desenrola no momento, auxiliando inclusive nas contra medidas de apoio a guerra eletrônica, sem mesmo que o piloto perceba, assim como nas defesas físicas (chaff e flares), sendo um dos grandes trunfos do avião em si para o combate aéreo, inclusive quando em ataque a alvos de superfície a sua suíte de proteção integrada denominada SPECTRA.
Para a FAB será da versão II do SPECTRA, onde a mesma possui uma gigantesca capacidade de analise de emissões que por ventura venham a iluminar o Rafale, proporcionando uma medida defensiva ideal, existindo relatos concretos de que esta tem a capacidade de quando o mesmo estiver sendo iluminado por um radar de busca, analisar a freqüência do emissor, armazenar e emitir a defesa em uma freqüência idêntica, mas com fase invertida praticamente fazendo com que o Rafale iluminado suma do radar por simples anulação do mesmo sem que o inimigo sequer perceba que foi “jameado” (pois na verdade não o é). Talvez tenha sido este artifício que fez com que existam gun photos do HUD do Rafale com o F-22 (o que não comprova que houve acerto virtual/vitória) no piper, pois se ele consegue sumir dos radares através de artifícios eletrônicos, ele consegue trazer os combates aéreos para a arena visual, inclusive onde ai se faz a diferença do OSF, pois proporciona um reconhecimento de um caça do tamanho visual (não RCS) do F-22, F-15 a mais de 75km, podendo inclusive fornecer parâmetros de disparo para os Mica IR e talvez para os Mica R.
O consórcio Rafale está oferecendo ao Brasil todo conhecimento adquirido no desenvolvimento do mesmo, sem restrições, ou seja, estão oferecendo um produto pronto e testado em combate (guerra do Afeganistão e Líbia, esta providencial para o marketing) e principalmente o “como fazer” do mesmo. Foi indagado aos representantes em uma das apresentações que foram feitas durante a LAAD, como ficariam as questões de integração dos armamentos não Franceses nos caças Rafale Brasileiros, caso ele fosse escolhido no FX-2. A resposta dos mesmos, a mais franca e que melhor demonstra o grau de comprometimento dos mesmos, responderam que qualquer armamento que o Brasil venha a integrar no mesmo será feito no Brasil por técnicos brasileiros com total apoio e sem pagamentos extras ao fabricante, assim como já está sendo feito em outro acordo de cooperação e “compra”, pois ninguém transfere tecnologia de graça, os EC-725, principalmente os UH-15 da MB, que terão os AM-39 Exocet II e posteriormente os futuros MAN-1 nacionais.
Outra dúvida recorrente nos meios de defesa é com relação ao custo operacional, sendo esclarecidos que o Rafale tem um custo um pouco superior ao de um Mirage 2000 (todas as variantes), porém muito inferior ao que se tem alardeado na mídia. Lembrando que existe um termo no contrato com o consórcio, onde o mesmo se compromete a bancar o custo que ultrapassar o valor acertado em contrato e com a economia de escala ganha-se com o aumento do número de células, assim o custo da hora de vôo tende a cair.
Outra questão levantada que muitos têm falado é com relação ao custo unitário do mesmo que é maior que os concorrentes. Este custo é proporcional ao grau de transferência de tecnologia ofertado, pois como foi dito anteriormente, hoje nenhum dos produtores de tecnologia transfere anos de conhecimento sem cobrar por isso, sendo este o motivo do custo dele ser maior que os demais concorrentes. O preço que se paga pela omissão no desenvolvimento tecnológico em nosso passado não tão distante, porém hoje com o horizonte de cobiça que se descortina ao nosso redor temos que pagar este preço, que se mostra até “barato”.
Se pararmos para analisar o que tem sido oferecido ao Brasil pelo consórcio Rafale podemos observar que ele realmente é a melhor opção (pode não ser o melhor caça do mundo), pois o pacote é muito abrangente, sendo de forma simples a produção do mesmo, com um índice crescente de nacionalização em tudo conforme as encomendas, possibilidade de venda a outros países de influência Brasileira, desenvolvimento futuro dos mesmos em parceria com a França se for a nossa vontade ou independentemente e a participação em projetos futuros. Quanto a isto foi indagado por uma entrevista o que a França tinha na prancheta para substituir o Rafale em médio prazo. A resposta foi nada, pois é o interesse do Governo Francês que o Rafale seja o cavalo de batalha por um longo tempo, contudo, estão sendo lideres no projeto do UCAV (SANT em linguagem padronizada pelo Ministério da Defesa Brasileiro) NeuRon, uma aeronave Stealth não tripulada que esta sendo projetada para ser a ponta de lança em ataque á ambientes densamente defendidos, com o Rafale sendo o principal centro nervoso do mesmo, funcionando como um líder a distancia das esquadrilhas de NeuRon.
Devido a tudo isso acho o Rafale o caça com a melhor capacidade de se opor a quase todos os agressores com certa facilidade, ou com menor índice de perda, sem contar que o mesmo está plenamente qualificado em sua versão naval para operar sem restrições no atual NAe São Paulo da MB, onde seria um grande ganho em poder de dissuasão no Atlântico Sul.
Como curiosidade, um dos motivos ventilados pelo motivo que fez os Venezuelanos não virem para a Cruzex deste ano foi justamente o medo deles que os Rafale Franceses captassem via SPECTRA OSF todas as suas emissões eletromagnéticas, IR e outras, e depois repassassem para o Brasil e os EUA, deixando os mesmos em franca desvantagem tática.
Em breve falaremos a respeito das possibilidades e necessidades futuras de um LIFT e até mesmo uma opção concreta de um conceito Hi – Low Figther.
Fonte:
Plano Basil