Forte de Ormuz, uma das glórias dos Descobrimentos portugueses, vai ser restaurado pelo turismo do Irão
Construído por Afonso de Albuquerque, era a 'terceira chave' do império português na Ásia, juntamente com Goa e Malaca. O Irão vai agora investir cerca de 1 milhão de dólares no seu restauro para o tornar numa atração turística
Teve um papel maior na história dos Descobrimentos portugueses, esta pequena cidade marítima à entrada do golfo Pérsico, que se tornou num importante posto comercial, e onde cavalos eram trocados por pérolas: Ormuz foi o sítio estratégico onde Afonso de Albuquerque mandou construír uma fortaleza em 1507, considerando-a como a "terceira chave" do Império português na Ásia, juntamente com os fortes de Goa e Malaca.
O forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz está hoje longe de ter a antiga glória que os portugueses viveram na Pérsia, atual República Islâmica do Irão. Mas o monumento do século XVI continua a ser um dos mais visitados pelos turistas na ilha de Ormuz, preparando-se agora para ser restaurado pelas autoridades do Irão.
O ministro iraniano do turismo, Ali-Asghar Mounesan, anunciou investimentos de cerca de 1 milhão de dólares na recuperação da fortaleza, que é internacionalmente conhecida como 'portuguese castle', numa visita recente à ilha de Ormuz, segundo noticia o diário iraniano Tehran Times.
"O ministério do turismo dá uma atenção especial a este monumento, que é uma das atrações turísticas da ilha de Ormuz", enfatiza Ali-Asghar Mounesan, citado pelo jornal iraniano.
O Tehran Times lembra ainda que o forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz é um dos últimos monumentos que sobreviveram do período colonial no golfo Pérsico, e que no início de 2019 já foi alvo de algumas obras de reabilitação, em particular na vedação de rachaduras e substituição de algumas pedras que já não ofereciam segurança.
O forte de Ormuz numa carta de 1572
D.R.
Feito de pedras avermelhadas e localizado no extremo norte da ilha, o forte de Ormuz estava separado do resto do povoado por um fosso, do qual ainda restam vestígios, e era uma espécie de cidade dentro da cidade, incluíndo um depósito de água, igreja, prisão, casas e centro de comando. O jornal iraniano destaca ainda a atual "beleza cénica" da fortaleza, onde é possível disfrutar "de uma vista fantástica da ilha, das montanhas e das águas azuis do golfo Pérsico".
Afonso de Albuquerque tomou Ormuz com 500 portugueses contra 20 mil homens
A história da fortaleza de Ormuz remonta a 1507, quando Afonso de Albuquerque fez a primeira tentativa de controlar a cidade no golfo Pérsico, chefiando uma pequena frota que não ia além de sete navios e quinhentos homens. Quando a frota portuguesa chegou à cidade, defrontou-se com um efetivo de quase 20 mil homens prontos para a enfrentar. Ao fim de uns dias, a artilharia lusa chegou a derrubar a de Ormuz, acabando o seu soberano por pedir tréguas e oferecer a cidade aos portugueses.
A fortaleza começou a ser construída em 1507, na altura com o nome de Nossa Senhora da Vitória, como parte do acordo que Afonso de Albuquerque selou com o soberano de Ormuz. Mas durante a obra decorreu um motim gerado por três capitães portugueses, que se aliaram ao soberano de Ormuz no combate a Afonso de Albuquerque, que se viu obrigado a abandonar a cidade em 1508, deixando para trás o forte que estava em construção.
A construção da fortaleza foi retomada em 1515, quando Afonso de Albuquerque regressa a Ormuz empenhado em reconquistar a cidade, e desta vez munido de artilharia pesada: 27 navios e um efetivo de 1500 soldados. O forte português acabou por ficar concluído em Ormuz sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.
Mas o período da dinastia filipina trouxe a perda das praças portuguesas no golfo Pérsico, que se tornaram alvo de ataques por parte de espanhóis e sobretudo de ingleses. Em 1623 os portugueses fixaram uma nova base em Mascate, após a queda de Ormuz (e houve várias tentativas de reconquistar a fortaleza, todas sem sucesso), mas em 1650 Portugal perdeu esta sua última posição na Arábia, encerrando-se assim o chamado "período português" no golfo Pérsico.
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