Enviado: Ter Nov 27, 2007 10:45 am
27/11/2007
Brasil compra armas e reforça a defesa das fronteiras
O governo Lula aumentará em 50% os gastos bélicos em 2008
J. Marirrodriga
Em Buenos Aires
Mais armas e de melhor qualidade para ter mais peso político na América Latina. Desse modo o Brasil decidiu dar uma virada significativa em sua política de defesa. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, junto com a cúpula militar do país, está elaborando um plano estratégico que será revelado no início de 2008, baseado em um aumento de até 50% dos gastos em material bélico, uma reorganização das defesas de fronteira e costeiras e a adoção do papel de referência principal como árbitro nos conflitos que possam surgir no subcontinente.
O Brasil prevê gastar em 2008 cerca de US$ 4,6 bilhões em compras de material para defesa, sem contar os salários dos 310 mil integrantes das forças armadas, distribuídos em 190 mil militares no exército, 70 mil na aeronáutica e 50 mil na marinha. Um número que eleva em 50% os US$ 3 bilhões orçados para este ano.
Mas, diferentemente do que fizeram outros países da região, como Chile ou Venezuela, os brasileiros não empregarão a maior parte desse dinheiro em compras no mercado internacional de armas, e sim desenvolverão uma indústria bélica própria, que, além de garantir uma menor dependência de sistemas estrangeiros, colocará o Brasil como referência para outros países na hora de fazer suas próprias aquisições.
O Brasil vai intensificar a fabricação de aviões de combate e treinamento, sistemas antitanque, veículos blindados, pequenos navios, eletrônica, radares e munição, em um ambicioso programa apoiado por capital privado nacional. Paralelamente, começou a mobilização permanente de tropas na fronteira amazônica, com a construção de uma rede de bases militares para vigiar a fronteira mais extensa da América do Sul.
Os motivos dessa mudança foram explicados pelo próprio Lula: "As fronteiras terrestres, as águas jurisdicionais e o espaço aéreo com as dimensões de um país como o Brasil exigem forças armadas muito bem equipadas e treinadas para a defesa dos interesses nacionais", salientou o presidente. Além disso, para efetuar a reorganização, Lula pôs em julho passado à frente do Ministério da Defesa Nelson Jobim, um ex-presidente do Supremo Tribunal que assumiu o cargo uma semana depois da pior tragédia aérea da história do país, em meio a uma forte polêmica sobre o controle do espaço aéreo, onde os militares têm um papel preponderante. Na época Jobim foi muito direto ao exigir a modernização do exército e reclamar dos empresários privados que participem do projeto.
Do ponto de vista brasileiro, a pressa é mais que justificada. Em 2008 o Chile terá concluído seu ambicioso programa de rearmamento, que inclui aviões de combate americanos, uma centena de carros de combate alemães, fragatas lança-mísseis, submarinos e radares de última geração, entre outras aquisições. A Venezuela também receberá grande parte das compras realizadas nos anos anteriores, entre as quais se destacam centenas de milhares de fuzis de assalto. São os dois países da região que mais gastaram em armas nos últimos dois anos.
O Brasil costuma ser chamado de gigante latino-americano, e agora setores importantes do exército começaram a reclamar que o gigante entre em ação. Segundo uma pesquisa publicada sábado pela revista "Veja", 63,5% dos militares brasileiros acreditam que é possível um conflito armado com os países vizinhos. Em troca, em uma amostragem da população civil, 57,9% não consideram possível esse cenário. Sobre quem seriam os inimigos potenciais, 50% dos militares acreditam que seriam Venezuela e Bolívia.
Algumas vozes não-autorizadas mas significativas foram mais longe, e assim o general José Benedito de Barros Moreira salientou há dez dias que o Brasil precisa desenvolver armas atômicas para proteger seu patrimônio. E Moreira não é um general a mais, mas sim o titular da Secretaria de Política, Estratégia e Relações Internacionais do Ministério da Defesa. Moreira se soma, embora provavelmente passando dos limites, à tese de seu ministro, que assim que anunciou a descoberta de gigantescas reservas de gás e petróleo nas costas brasileiras se manifestou a favor de modificar a política de defesa. "O mundo carece de água, energia, alimentos e minerais. O Brasil é rico em tudo isso", acrescentou Moreira para defender o argumento nuclear.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do El País
Brasil compra armas e reforça a defesa das fronteiras
O governo Lula aumentará em 50% os gastos bélicos em 2008
J. Marirrodriga
Em Buenos Aires
Mais armas e de melhor qualidade para ter mais peso político na América Latina. Desse modo o Brasil decidiu dar uma virada significativa em sua política de defesa. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, junto com a cúpula militar do país, está elaborando um plano estratégico que será revelado no início de 2008, baseado em um aumento de até 50% dos gastos em material bélico, uma reorganização das defesas de fronteira e costeiras e a adoção do papel de referência principal como árbitro nos conflitos que possam surgir no subcontinente.
O Brasil prevê gastar em 2008 cerca de US$ 4,6 bilhões em compras de material para defesa, sem contar os salários dos 310 mil integrantes das forças armadas, distribuídos em 190 mil militares no exército, 70 mil na aeronáutica e 50 mil na marinha. Um número que eleva em 50% os US$ 3 bilhões orçados para este ano.
Mas, diferentemente do que fizeram outros países da região, como Chile ou Venezuela, os brasileiros não empregarão a maior parte desse dinheiro em compras no mercado internacional de armas, e sim desenvolverão uma indústria bélica própria, que, além de garantir uma menor dependência de sistemas estrangeiros, colocará o Brasil como referência para outros países na hora de fazer suas próprias aquisições.
O Brasil vai intensificar a fabricação de aviões de combate e treinamento, sistemas antitanque, veículos blindados, pequenos navios, eletrônica, radares e munição, em um ambicioso programa apoiado por capital privado nacional. Paralelamente, começou a mobilização permanente de tropas na fronteira amazônica, com a construção de uma rede de bases militares para vigiar a fronteira mais extensa da América do Sul.
Os motivos dessa mudança foram explicados pelo próprio Lula: "As fronteiras terrestres, as águas jurisdicionais e o espaço aéreo com as dimensões de um país como o Brasil exigem forças armadas muito bem equipadas e treinadas para a defesa dos interesses nacionais", salientou o presidente. Além disso, para efetuar a reorganização, Lula pôs em julho passado à frente do Ministério da Defesa Nelson Jobim, um ex-presidente do Supremo Tribunal que assumiu o cargo uma semana depois da pior tragédia aérea da história do país, em meio a uma forte polêmica sobre o controle do espaço aéreo, onde os militares têm um papel preponderante. Na época Jobim foi muito direto ao exigir a modernização do exército e reclamar dos empresários privados que participem do projeto.
Do ponto de vista brasileiro, a pressa é mais que justificada. Em 2008 o Chile terá concluído seu ambicioso programa de rearmamento, que inclui aviões de combate americanos, uma centena de carros de combate alemães, fragatas lança-mísseis, submarinos e radares de última geração, entre outras aquisições. A Venezuela também receberá grande parte das compras realizadas nos anos anteriores, entre as quais se destacam centenas de milhares de fuzis de assalto. São os dois países da região que mais gastaram em armas nos últimos dois anos.
O Brasil costuma ser chamado de gigante latino-americano, e agora setores importantes do exército começaram a reclamar que o gigante entre em ação. Segundo uma pesquisa publicada sábado pela revista "Veja", 63,5% dos militares brasileiros acreditam que é possível um conflito armado com os países vizinhos. Em troca, em uma amostragem da população civil, 57,9% não consideram possível esse cenário. Sobre quem seriam os inimigos potenciais, 50% dos militares acreditam que seriam Venezuela e Bolívia.
Algumas vozes não-autorizadas mas significativas foram mais longe, e assim o general José Benedito de Barros Moreira salientou há dez dias que o Brasil precisa desenvolver armas atômicas para proteger seu patrimônio. E Moreira não é um general a mais, mas sim o titular da Secretaria de Política, Estratégia e Relações Internacionais do Ministério da Defesa. Moreira se soma, embora provavelmente passando dos limites, à tese de seu ministro, que assim que anunciou a descoberta de gigantescas reservas de gás e petróleo nas costas brasileiras se manifestou a favor de modificar a política de defesa. "O mundo carece de água, energia, alimentos e minerais. O Brasil é rico em tudo isso", acrescentou Moreira para defender o argumento nuclear.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do El País