Sem dúvida, tanto que eu mesmo mencionei isso no meu post, a velocidade máxima dos sub’s convencionais chega a 18-20 nós, mas aí a furtividade e a capacidade dos sensores fica comprometida. Por isso na prática a velocidade de interceptação é menor, entre 8 e 12 nós, dependendo das circunstâncias que você muito bem mencionou e das próprias características técnicas do sub e de seus sistemas.WalterGaudério escreveu:Leandro, sei que vc deve saber, mas nunca é demais lembrar. Uma coisa é velocidade de trânsito até a área de patrulha designada, outra coisa é velocidade de interceptação. Esta última, ao contrário do que se pensa comumente, não é a maxima velocidade do submarino. Mas a velocidade taticamente mais adequada, que SEMPRE será inferior a máxima velocidade do sub. No caso do SSK.
Certo, mas lembrando sempre que este “ponto” taticamente mais eficiente não é de fato um ponto, mas uma região dentro da qual o sub pode se posicionar e atacar quando detectado o inimigo. Se o sub contar apenas com os seus sistemas próprios de detecção esta região é muito limitada devido às limitações dos sensores subaquáticos, e em águas abertas só por muita sorte um sub estará no local certo na hora exata para realizar um ataque eficiente. Mas como você mesmo comentou não é assim que os sub’s devem operar, e sim dentro de uma rede de informações que disponibilizará para ele dados externos, e nestas condições um sub pode ter que se deslocar em velocidade relativamente alta (os 8-12 nós, e não a máxima) por distâncias consideráveis (de várias dezenas até algumas centenas de km) para se colocar na posição mais favorável à interceptação de uma força inimiga, e depois do ataque precisará se afastar o mais rapidamente possível ainda sob perseguição do inimigo a mesma distância ou até mais.Isso posto, temos que considerar que o emprego do sub convencional(SSK) é de "posição" e não de emprego de "movimento", posto que para isso existe o nuclear. A "posição" a que me refiro é justamente a área de patrulha designada, claro, a zona de passagem do adversário/alvo de interesse.
Ou seja, o sub SSK, não "irá atrás" dos alvos, mas ficará posicionado aguardando sua passagem pelo ponto taticamente mais conveniente de ataque, dentro da sua área de patrulha muito limitada.
Aí é que a capacidade das baterias de um sub convencional faz muita diferença. Como já mencionei, a autonomia subaquática é geralmente dada a 5 nós (patrulha lenta), mas ela cai para cerca de ¼ deste valor nas manobras de ataque/retirada a 10 nós. Aí o que parecem confortáveis 500km viram apertados 125km, e considerando a mesma distância para se aproximar do objetivo (na verdade da linha de navegação do objetivo, como você disse o sub não vai perseguir os navios, se eles passarem já era, o sub fica para trás) e depois se retirar o submarino só poderia enfrentar alvos que estivessem dentro de uns 65 km de distância, praticamente o alcance de seus próprios sensores. Por isto esta autonomia subaquática pode até ser considerada adequada para marinhas que precisam proteger apenas regiões extremamente limitadas, ou as que contam com poucos recursos e terão que utilizar seus sub’s isolados do mundo externo e contando em muito com a sorte. Já se é para os sub’s operarem em conjunção com outros sistemas mais abrangentes de informação, eles serão tanto mais efetivos quanto maior a sua autonomia subaquática, e por isso a utilidade de sub’s maiores.
Isso é ponto pacífico, acho que ninguém discorda da importância dos sub’s nucleares para a MB. A discussão que coloquei acima só reforça isso. Mas, porém, contudo, todavia e entretanto o custo dos sub’s nucleares é bastante alto, e acho bem pouco provável que a MB em qualquer tempo possa manter uma frota maior do que 4 ou 6 unidades operacionais. E não me parece que esta quantidade seja suficiente para exercer de forma efetiva a negação do uso do mar nas águas em frente ao nosso litoral, nas nossas próprias linhas de navegação e nas linhas de navegação do próprio inimigo.Mas para combate em oceano aberto, não é preciso ter vivência marinheira, para se chegar a conclusão que se trata de terefa delineada para submarinos com propulsão nuclear, com uma infra-estrutura de comando adequada. Sistemas de satélites com transmissão em radio-cifra segura em frequência ELF/VLF(obrigatoriamente), um sistema de inteligência naval operante( este mais útil para o correto posicionamento dos SSKs, e disponibilidade de meios de reabastecimento de provisões adequado.
Por isso vejo a MB utilizando idealmente até 3 classes de sub’s: 4 a 6 nucleares para desaparecerem no oceano e se necessário irem até a costa inimiga hostilizar seus navios, tornando qualquer viagem de uma frota que pretenda nos incomodar em qualquer lugar do mundo um verdadeiro inferno. Uma classe com uns 8-10 de SSK’s relativamente pequenos mas bastante silenciosos e adequados à operação em águas rasas, para patrulhar os pontos mais importantes do nosso litoral até distâncias de 2000 a 2500 km, principalmente contra SSn’s inimigos, e uma terceira classe de 6-8 unidades de grande porte para patrulhas distantes no Atlântico Sul, principalmente contra FT’s de superfície. Se estes barcos ficassem realmente muito bons mas não muito caros talvez pudessem cumprir também a função da classe menor, mas o inverso não seria verdadeiro pelo exposto acima.
É claro que se for possível ao nosso país manter de 10 a 12 sub’s nucleares do tipo mais moderno possível esta última classe se tornaria dispensável, mas além da questão financeira acho que tecnicamente seria complicado, pelo menos nos próximos 25 anos, que o Brasil conseguisse desenvolver SSN’s com o mesmo nível de furtividade de um Sea Wolf, um Trafalgar ou um Yansen. Já um sub convencional de maior porte pode sim chegar a este nível de furtividade ou até melhor quando só em baterias, e acho que esta é também uma consideração importante. O que acho que não precisamos é ter medo de operar mais de uma classe, não vejo nenhuma razão séria para isso.
Leandro G. Card