El País: Al Qaeda abre caminho na guerra da Síria
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O bloqueio às sanções no Conselho de Segurança da ONU contra o regime que governa a Síria e a proximidade desse país do Iraque facilitaram que várias células do grupo terrorista Al Qaeda se infiltrassem entre os grupos opositores sírios, o que provoca inquietação no governo americano e seus aliados e está dando motivos para a desconfiança de países aliados do presidente Bashar al-Assad, como a Rússia.
A duração do conflito, que começou há mais de 16 meses, permite que diversos jihadistas operem de forma contínua na Síria e que tenham formado seus próprios grupos, empregando as mesmas táticas e recorrendo à mesma propaganda que a Al Qaeda.
Os EUA possuem pouca informação sobre a heterogênea oposição síria, especialmente porque a CIA não conseguiu obter dados suficientes, afetada pelo fechamento da embaixada americana em Damasco em fevereiro. Mesmo assim, altos funcionários do Departamento de Estado e da Casa Branca consideram um fato que células jihadistas operam de forma independente junto a grupos que os EUA consideram legítimos, unidos no Conselho Nacional Sírio, com cujos representantes a chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, se reuniu em dezembro em Genebra.
Os analistas de inteligência dos EUA concordam que a Al Qaeda pôde se infiltrar na oposição síria sobretudo pela proximidade do Iraque, país vizinho no qual o grupo terrorista manteve uma presença robusta e constante depois da retirada total das tropas americanas, em dezembro passado. Na segunda-feira, uma onda de atentados em 18 cidades do Iraque provocou pelo menos 107 mortes e deixou duas centenas de feridos. Os jihadistas que atuam hoje na Síria aproveitaram as vias de transporte, o material e a logística existentes no Iraque.
"Estamos 100% seguros, devido à nossa coordenação com o governo sírio, de que os nomes em nossas listas de homens procurados são os mesmos que possuem as autoridades sírias, especialmente nos últimos três meses", declarou ao "New York Times" Izzat al Shahbandar, assessor do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki.
Já em fevereiro o diretor de Inteligência Nacional americano, James Clapper, advertiu em uma audiência no Senado que "a Al Qaeda está se estendendo à Síria". "É um fenômeno preocupante, que vimos recentemente, e segundo o qual há extremistas infiltrados em grupos opositores", acrescentou. "E parece que os grupos de oposição não percebem em muitos casos que se encontram infiltrados por esses extremistas."
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta quarta-feira que os rebeldes sírios que tomaram o controle de vários postos na fronteira entre a Síria e a Turquia são suspeitos de ser aliados da Al Qaeda. "De acordo com algumas informações, esses postos não foram tomados pelo Exército Livre da Síria, mas grupos relacionados à Al Qaeda", disse em entrevista coletiva, segundo a agência Reuters.
"Se nossos aliados apoiam a tomada de territórios por parte de terroristas, gostaríamos que nos esclarecessem que posição mantêm na Síria", acrescentou, referindo-se às potências ocidentais.
Uma das grandes razões que o regime de Assad alegou para justificar a campanha de repressão contra sua população é que por trás do movimento de oposição se encontra na realidade a Al Qaeda. Diversos jihadistas criaram em janeiro, dentro da Síria, o grupo Jabhat al Nusra, inspirado na Al Qaeda, empregando iconografia e materiais de propaganda semelhantes aos dessa rede terrorista internacional.
Nestes meses seus integrantes publicaram vídeos na internet nos quais reivindicam a autoria de diversos atentados. A agência estatal síria Sana atribuiu diversos ataques à Al Nusra, incluindo muitos que na realidade foram cometidos por outras forças, não jihadistas.
"Estamos vendo sem dúvida uma presença crescente de agentes da Al Qaeda na Síria", explica o professor Bruce Riedel, um veterano da CIA e especialista em terrorismo e política internacional no Centro Saban para o Oriente Médio do Instituto Brookings.
"Não é uma grande parte ou uma parte importante da oposição ao regime, mas é uma parte que as potências ocidentais devem considerar, sobretudo porque aporta uma série de técnicas muito identificáveis, como ataques suicidas ou o emprego de explosivos, que são técnicas já testadas em outros países como o Iraque, onde a Al Qaeda demonstrou ser muito resistente."
Em fevereiro, o líder da Al Qaeda Ayman al Zauahiri fez um apelo aos jihadistas do Oriente Médio para que fossem lutar na Síria. "Apelo a todos os muçulmanos e a todos os homens nobres e livres da Turquia, Iraque, Jordânia e Líbano para que acudam em apoio a seus irmãos na Síria com tudo o que possuem, sua riqueza, suas opiniões e sua informação", dizia o comunicado. "Se quisermos liberdade, devemos nos livrar desse regime. Se quisermos justiça, devemos contra-atacar esse regime. Se quisermos independência, devemos enfrentar esse regime."
A Al Qaeda, um grupo sunita, chamou seus integrantes para a ação na Síria, alegando que a maioria da população desse país pertence a esse mesmo ramo da ortodoxia islâmica e foi oprimida durante décadas por uma minoria alauíta --uma seita derivada do xiismo--, à qual pertencem o presidente Bashar al-Assad e seu círculo de poder. Seus chamados à ação começaram a dar resultados em janeiro, quando ocorreram na Síria os primeiros atentados suicidas com artefatos explosivos.
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, com sede em Washington, desde então houve uma dezena de ataques suicidas nesse país e de quatro deles a Al Nusra assumiu a autoria através de diversos comunicados.
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