Página 33 de 578

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Mar 12, 2008 5:24 pm
por Pedro Gilberto
Centurião escreveu:
Pedro Gilberto escreveu: Mas vai haver uma nova revisão da metodologia Centurião? Afinal foi refeita recentemente e creio eu que já deve ter sido aplicado no cálculo do PIB do ano passado.

[]´s
Pelo o que eu entendi, não é uma revisão da metodologia. Porém, as publicações trimestrais do IBGE têm alterado de forma significativa os números, justamente por causa da nova metodologia. Na minha opinião, ao adicionar mais setores e dados econômicos, o IBGE tornou menos precisos os primeiros números do PIB. Ainda que sejam mais altos.

Agora o próprio ministro da economia está confirmando isso:
Crescimento de 2007 pode ter sido maior, diz Mantega

SÃO PAULO, 12 de março de 2008 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que o crescimento da economia brasileira pode ter sido maior do que os 5,4% anunciados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mantega lembrou que o instituto de pesquisa ainda deverá realizar uma apuração mais completa dos dados econômicos referentes ao ano passado, o que poderia trazer novos números ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. "Quando o IBGE fizer uma análise mais aprofundada, o resultado poderá ser maior", analisou.

Os dados divulgados hoje pelo IBGE apresentaram uma série de revisões dos números relativos aos três primeiros trimestres de 2007. Na comparação com 2006, o crescimento dos três período ficou abaixo do divulgado em dezembro do ano passado. Já na comparação do resultado mais recente com o trimestre anterior, as revisões dos períodos entre abril e junho e julho e setembro foram positivas. (Redação - InvestNews)
Tem um estudo que mostra que o avanço da renda medida pelo consumo das classes mais baixas, é maior do que o indicado pelo PIB. O pesquisador chegava à seguinte conclusão: Ou o resultado do PIB ou o avanço dessas classes sociais não corresponde à realidade. Ele mesmo afirmava que tudo indica que o consumo cresce exatamente da maneira medida. O que sobra então? ;)

Depois coloco aqui o artigo que fala desse estudo.
Ok Centurião, creio que devem ser recalculos que são feitos com dados mais confiáveis. Já é praxis do IBGE fazer isso. Não necessariamente esse número crescerá, mas vamos ver no que vai dar.

Quanto a questão do crescimento do consumo de classes mais baixas X crescimento do PIB é natural que seja verificado alguma distorção devido à elevada informalidade nas relações comerciais e trabalhistas nessa faixa populacional. As ferramentas que o IBGE dispõe não deve ser suficiente para captar com exatidão esse crescimento. Para resolver só aumento o grau de formalidade da economia como um todo.

[]´s

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Mar 12, 2008 6:18 pm
por Centurião
Pedro Gilberto escreveu: Ok Centurião, creio que devem ser recalculos que são feitos com dados mais confiáveis. Já é praxis do IBGE fazer isso. Não necessariamente esse número crescerá, mas vamos ver no que vai dar.

Quanto a questão do crescimento do consumo de classes mais baixas X crescimento do PIB é natural que seja verificado alguma distorção devido à elevada informalidade nas relações comerciais e trabalhistas nessa faixa populacional. As ferramentas que o IBGE dispõe não deve ser suficiente para captar com exatidão esse crescimento. Para resolver só aumento o grau de formalidade da economia como um todo.

[]´s
Pedro, essas revisões dos números já aconteciam mesmo, nunca neguei isso. O ponto que eu abordei é que, com o aumento dos dados e das informações de setores causado pela nova metodologia, o IBGE tende a mudar mais os números de uma revisão para a outra. Essa é a impressão que eu tenho ao acompanhar as revisões. É só especulação minha mesmo. :)

Quanto ao fato do crescimento subir na próxima revisão, não sou quem aposta. O Mantega (que deve ter informações privilegiadas) e o Delfim Neto apostam no aumento da taxa.

Alguns economistas defendem que o IBGE usa um método apropriado para um país desenvolvido e muito restrito para a nossa realidade. O fato de para o IBGE ser difícil ler o setor informal é algo bem conhecido. O problema é quando o IBGE não consegue ler algo que a PNAD detectou! A PNAD indica um aumento de 8% por ano na renda do brasileiro.

O artigo:
Um bolo para ser entendido


Para que serve o Bolsa Família? Para melhorar a qualidade de vida dos pobres. Na hora de comer, basicamente. Mas isso foi bem no começo. Agora, os recursos do programa também ajudam a comprar eletrodomésticos e móveis a prazo, como informa o Ministério do Desenvolvimento Social em seu site (reproduzindo conclusões de estudo realizado pela economista Rosa Maria Marques, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Se isso estimula ou inibe o desejável caminhar daquelas pessoas em direção a eventuais portas de saída do programa, para que cuidem das próprias vidas com desenvoltura menos condicionada ao amparo governamental, não se sabe - como também não se sabe até que ponto a incursão da clientela do Bolsa Família pelas praias do consumo poderá contribuir para fabricantes de eletrodomésticos e móveis aumentarem a produção e empregarem mais gente de modo significativo, como seria do interesse geral. Em qualquer hipótese, pode estar nascendo aí uma nova questão para complicar a vida de quem pretenda compreender, ou deva explicar, o estado presente e os possíveis rumos da distribuição de renda no Brasil. O aumento do salário mínimo, de R$ 380 para R$ 415, a partir deste mês, e as regras de sua atualização para os próximos anos, combinadas entre o governo e sindicatos no ano passado, acrescentam outras variáveis a um quadro de indagações crescentes.

Alguns avanços já são melhor mensurados e entendidos. Estudo realizado por economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD concluiu que, sim, programas de transferência de renda conduzidos no Brasil, México e Chile têm impacto positivo na redução da desigualdade, como se viu entre meados dos anos 1990 e meados dos anos 2000. Os programas brasileiro (Bolsa Família) e mexicano apresentaram os resultados mais expressivos em avaliações feitas pelo critério do índice de Gini (no qual 0 corresponde a completa igualdade e 1 a completa desigualda-de). Enquanto a redução na desigualdade alcançada pelo Chile Solidário alterou o índice em apenas 0,1 ponto, no México e no Brasil a desigualdade caiu 2,7 pontos, pela mesma medida. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do IBGE, correm na mesma direção. Em 2004, com 0,5717, o índice desceu ao nível mais baixo desde 1992 (0,5832) e continuou a cair em 2005 e 2006, quando chegou a 0,5620.

Certo é que próximas pesquisas de orçamentos familiares (o IBGE já pensa na sua, depois da que realizou em 2002/2003, além da ampliação, já prevista, da PNAD para quesitos de consumo) devem ganhar importância histórica: serão as primeiras a mostrar o alcance de uma virada sem precedentes nos hábitos de consumo dos brasileiros, essa da qual todos os dias - principalmente desde o ano passado, mas com origens já insinuadas a partir de 2004 - capta-se um novo sinal, das vendas de carros às de eletrodomésticos, das cestas de alimentação que passam a incluir ítens antes considerados supérfluos às compras de material de construção muitas vezes adiadas.

São mudanças, essas que se desvendam com clareza crescente, que, pode-se imaginar, também desenham o perfil de um brasileiro consciente de possibilidades, em matéria de bem-estar, que tendem a se tornar exigências difíceis de ignorar na formulação de políticas de governo, principalmente aquelas esperadas por quem, nos estratos inferiores da escala de rendas, provou de melhorias antes inimagináveis - desde as menores rendas que se complementam com o Bolsa Família até bem mais em cima, passando pelo salário-mínimo e suas vizinhanças (embora a partir daí algumas análises encontrem uma certa contenção de movimento).

Ao que tudo indica, dizem analistas também - o que pode contribuir para um certo sossego de governantes e políticos em geral - este é um ciclo de aumento de renda e de consumo de forte sustentabilidade, feitas as ressalvas de praxe quanto a eventuais adversidades infladas em paragens externas, fora dos controles nacionais. Tem-se, então, uma atmosfera de progresso que, junto com o natural espraiar da sensação de maior bem-estar, tende a sugerir, como contrapartida menos agradável ao paladar de quem deve satisfações ao eleitorado, mais e mais questões a respeito da qualidade da distribuição social desse benefício de natureza entre material e psicológica.

Algumas premissas já estão colocadas, e são de indiscutível aplicação universal. Será conveniente lembrar, por exemplo, que se os tempos são de bonança neste Brasil de indicadores econômicos cintilantes é porque, em larga medida, mais pessoas estão podendo fazer escolhas que antes não podiam fazer. Quando se compra - fazendo girar a roda do consumo que hoje move com força a economia brasileira - escolhe-se. Subindo a renda, sobem junto as possibilidades de escolha. A começar pelos beneficiários do Bolsa Família. É intuitivo.

Outro traço típico do regime de mercados livres (ainda que imperfeitos) é a desigualdade de renda (entre outras). Pode-se diminui-la, mas não extingüi-la. Porque ela é, basicamente, a conseqüência da distribuição desigual de capacidades de produzir. Por outro ângulo: se o sistema é fundamentado na liberdade de contratos, está criado o ambiente para a multiplicação de trocas voluntárias e a ampliação da divisão do trabalho. A propriedade individual dos bens intercambiados e dos fatores que os produzem completam as condições necessárias para a existência do sistema capitalista. "É fácil compreender que esse sistema deve incessantemente gerar distribuições desiguais de renda e riqueza e também que essas distribuições não poderão ser enquadradas em nenhum padrão duradouro".

Para onde vai a distribuição de renda no Brasil, em meio a essas inelutáveis incertezas? O que poderá (ainda) vir pelas mãos do governo? E, particularmente, pelas decisões de empresas e escolhas das pessoas, em diferentes mercados, inclusive o de trabalho?

A inflação, que alimentava e era alimentada por desigualdades sem conta - abstração feita da despreocupada contabilidade de quem podia se defender com aplicações financeiras - anda de crista baixa já há bom tempo, tão mansa que desqualifica até as mais otimistas projeções, como acaba de fazer o índice de preços ao consumidor semanal, da Fundação Getúlio Vargas, que ficou num desconcertante zero no fechamento de fevereiro, fazendo pouco dos analistas, que previam aumento entre 0,05 e 0,15%. Restaram outras razões, que talvez se pudessem chamar de "estruturais", para explicar os movimentos de preços e aquelas, de conjuntura nacional ou estrangeira, que estão aí, de certo modo, para justificar a existência de bancos centrais, inclusive o brasileiro, e suas políticas monetárias.

Mais importante, contudo, nesta hora brasileira de consumo expandido em ritmo que faz inveja até a americano, é que: (1) a euforia compradora não está contribuindo com força proporcional para engordar os índices de preços; (2) isso sugere que não há pressões exacerbadas sobre a oferta, nem expectativas de que venham a existir; (3) o que provavelmente tem a ver com o ritmo também acelerado dos investimentos, internos e vindos de fora; (4) que são feitos, evidentemente, de olhos postos no futuro, o que significa confiança na continuidade do crescimento da demanda interna (o real valorizado só não tem graça para exportadores, mas também não faltam aqueles que conseguem vender lá fora, do mesmo jeito).

O brasileiro, individualmente, compartilha desse otimismo já há algum tempo, como se vê nos resultados da pesquisa realizada pelo instituto Gallup em 130 países, divulgados em 2006. Numa escala de 0 a 10, o nível de satisfação pela vida, ou "felicidade", declarado pelos brasileiros foi de 6,61. Os dinamarqueses seriam os mais "felizes" do mundo, com 7,98, acima dos americanos (7,09). O Chad apareceu em último lugar, com 3,36. Na projeção de "felicidade" esperada para 2011, a situação se inverte: os brasileiros são os campeões do otimismo, com 8,24, e os dinamarqueses ficam em segundo lugar, com 7,86.

Uma explicação para esse elevado estado de ânimo pode estar nos números da PNAD-2006, a mais recente, processados pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas - CSP/FGV. No período 2005/2006, a variação acumulada da renda domiciliar per capita, para todas as faixas, excluindo o crescimento populacional, chegou a opulentos 16,4%. Para os 50% mais pobres, o aumento foi ainda maior, de 21,6%. Para os 40% médios, 15,9%. Para os 10% mais ricos, 15,3%. Aqueles 16,4% são quase 4,3 vezes maiores que o PIB per capita acumulado no período, de 3,84%.

Persistem, contudo, espaços cinzentos nessa história de pobreza, transferências de renda e desigualdades - e, por extensão, na própria trajetória do PIB brasileiro, que é, afinal, o grande bolo que se reparte assim ou assado. Debruçado sobre essas questões há anos, com luzes de competência que o qualificam como um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, Marcelo Côrtes Neri, chefe do CPS/FGV, continua procurando respostas para esta pergunta: O Brasil está mais para um perfil chinês ou haitiano?

Pelo lado que se poderia chamar de "chinês", tem-se a variação de renda informada pela PNAD, que incorpora os mesmos 8% de crescimento anual dos tempos do "milagre". Pelo lado "haitiano", o que impressiona é o PIB de expansão diminuta.

Como se explica essa discrepância entre dois indicadores "gêmeos", que deveriam apontar praticamente na mesma direção? Neri imagina possibilidades: ou a economia brasileira está crescendo mais do que o PIB indica, ou a pobreza não está caindo tanto quanto a PNAD informa: de 35,2% no princípio dos anos 1990, a presença da miséria no Brasil oscilou em torno da média de 28% da população até 2003 e começou a cair significativamente a partir de 2004 (25,38%), com 22,77% em 2005 e 19,31% em 2006.

Talvez se pudesse explicar a disparidade pelas diferenças de itens que entram na PNAD, fortemente concentrada em salários (embora as perguntas feitas às pessoas pesquisadas alcancem diversas fontes possíveis de renda) e aqueles exclusivos do PIB (como lucros retidos e gastos de consumo não associados à disponibilidade de renda). "O fato é que uma série de indicadores, como emprego, a valorização do Ibovespa, a expansão do crédito, as vendas no varejo, mostram um país não haitiano", diz Neri, e, assim, conferem aos números da PNAD um significado que seria mais próximo da realidade hoje vivida. Ele recomenda, contudo, que não se fechem raciocínios nessa direção, ainda que 2007 e mesmo 2008 devam apresentar, ao que tudo indica, cenários também bastante positivos.


João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea e professor do Instituto de Economia da UFRJ, vai aos números do PIB e vê traços importantes de desigualdade irresolvida, e crescente. Em 1995, argumenta, o total pago na forma de salários como proporção do PIB era superior a 35% e as rendas do capital ficavam um pouco acima de 31%. Em 2005 a situação se inverte: os salários comparecem com 31/% e as rendas do capital saltam para quase 36%.

"Outra forma de se ver a desigualdade de participação dos salários e do capital no PIB", diz Sicsú, "é pela distribuição de gastos governamentais, com o pagamento de juros disparado na frente de educação e saúde, por exemplo". Quando o PIB cresce, é verdade, os salários aumentam sua participação. "A questão é que os lucros e os juros têm aumentado sua participação de forma mais rápida, por causa da concentração da produção, dos ganhos do sistema financeiro". Sicsú só vê uma saída: uma política firme e eficaz de participação dos trabalhadores nos lucros, sem a timidez implícita na legislação hoje existente.

Se não for assim, acredita o diretor do Ipea, a desigualdade de renda pode até estar diminuindo, como de fato está, mas isso acontece de um modo desconjuntado: os que estão em baixo sobem (o que Sicsú, naturalmente, acha bom), mas os que estão em cima continuam parados, ou quase isso. E, então, cai a participação dos salários na composição do PIB.

Faltaria também, segundo Sicsú, dar um jeito melhor em outra distribuição, a da força de trabalho ela mesma, de maneira que pudesse ser maior a presença de profissionais de saúde e educação. Aumentando-se assim a oferta desses trabalhadores à disposição da sociedade, também se iria dando pavimentação consistente aos caminhos para uma distribuição de oportunidades mais equânime.

Neri examina a renda do trabalho (renda familiar per capita média) com a atenção dirigida para a recuperação havida de 2003 para cá, depois da forte redução iniciada em 1997.Conforme os números da PNAD, houve um aumento de R$ 312 ,85 em 2003 para R$ 372,07 em 2006, ou seja, um crescimento de 19,2%, no total, e de 9,1% só no último ano, descontado o crescimento populacional. Com este detalhe: já se recuperaram as perdas, e agora o acréscimo é efetivo. Segundo Neri, está aí delineada, e incluindo 2007, uma trajetória de crescimento sustentável da renda, considerado o conjunto de indicadores atuais. O emprego não fica atrás, com a criação provável de 10 milhões de postos de trabalho em quatro anos, até 2007.

Neri recomenda que não se esqueça da presença dos que trabalham por conta-própria, um contingente importante, cujo perfil meio híbrido, com um pé na massa de salários e outro no capital, pode tirar clareza ou mesmo substância às análises de composição estrutural do PIB. Mais importante, porém, é que se deve a eles, particularmente, o forte crescimento no consumo de "bens de produtores", como computador, internet e celular. Neri fala em "signos trabalhistas", como esses, mais o número crescente de empregos com carteira assinada e o acesso a cursos superiores, que funcionam como indicadores antecedentes de mudanças importantes. Tudo, ainda, "em níveis bastante baixos, uma foto ruim, mas já diferente que a de três ou quatro anos atrás". Enfim, "são símbolos de uma sociedade em que pode estar havendo uma melhoria da capacidade de trabalho".

Uma conclusão plausível parece ser a de que ainda falta, na discussão dos rumos das relações entre crescimento e renda - e consumo, por extensão - uma base mais clara de inter-relações de dados e seus desdobramentos para o conjunto da economia. Compreende-se. Fatos novos, de conexão nem sempre óbvia, estão se acumulando rapidamente, num espaço de tempo relativamente curto. Além disso, apesar da boa qualidade dos indicadores fundamentais, ainda é preciso resolver questões não menos essenciais, como a da previdência social, enquistada no cerne de desequilíbrios fiscais pendentes de equacionamento duradouro.

Por isso mesmo, o aumento do salário mínimo de R$ 380 para R$ 415 repõe na mesa uma antiga pergunta: Qual é o impacto da elevação desse piso de remuneração sobre a distribuição de renda, a redução da pobreza extrema e as contas públicas, tendo-se em mente que aposentadorias também tomam o mínimo como piso?

O economista Fábio Giambiagi admite que o aumento do salário mínimo alavanca a demanda. "Ao mesmo tempo, porém, aumenta a despesa da previdência social em bases permanentes, o que pode ser absorvido no curto prazo, num contexto de crescimento, mas depois a trajetória da curva é jogada sistematicamente para cima, no sentido de que uma das variáveis se torna rígida."

O impasse tem saída, segundo Giambiagi, sem que se desrespeite o combinado entre o governo e sindicatos, de reajuste do mínimo pelo crescimento do PIB defasado de dois anos . Em síntese, ele sugere que depois de 2011, quando se deverá definir a regra para 2012/2023, se adote um reajuste moderado para o mínimo, que seja diluído ao longo de quatro anos, de maneira que, em 2015, a relação teto de aposentadoria/piso caia, por exemplo, para 6 (em 2007, foi de 7,6). Daí para a frente, o mínimo seria desvinculado do piso, seus aumentos reais deixariam de afetar a previdência e todas as aposentadorias aumentariam em função da inflação do ano anterior, "como acontece em todos os países".

Giambiagi recusa o rótulo de que, ao defender suas idéias de revisão das regras de aposentadoria, despreza o salário mínimo como instrumento de distribuição de renda. "Isso soa como politicamente incorreto. A expressão técnica é que o mínimo foi perdendo eficácia como instrumento de redistribuição de renda em favor das camadas mais pobres da população." Na verdade, "o mínimo já não é mínimo", porque muita gente ganha menos que o suposto piso, que se afasta sempre mais, e para cima, das remunerações de fato inferiores (empurrado por crescimento real de quase 100% entre 1995 e 2007).

Em artigo recente no blog "Crítica Econômica", a economista Isabela Nogueira confronta as posições de Giambiagi. "De fato, poucas pessoas dentre as que recebem salário mínimo estão entre os 10% mais pobres", admite. "Mas quando consideramos os rendimentos do trabalho, verificamos que parte dos que recebem o mínimo estão nos níveis médios e baixos da distribuição de renda." Em seu entender, "isso significa que o combate à pobreza, no curto prazo, não pode prescindir de políticas de transferência de recursos diretamente às mãos das famílias pobres." Ao mesmo tempo, porém, "pode haver alguma relação entre a melhora na desigualdade e o incremento do salário real, nos últimos anos, que merece ser analisada."

Isabela não é explícita, mas deixa entrever, no fecho de seu artigo, que, naquilo que se refere às aposentadorias e relações com o mínimo, não há porque induzir mudanças.

À medida que 2010 se aproxima, com sua carga de disputas eleitorais, mais acalorada tende a se tornar a discussão de tantas questões relacionadas à distribuição de renda - com o presumível estímulo adicional, agora, do apetite de muita gente que provou do bolo e está adorando seu sabor.

(Valor Econômico)

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 14, 2008 9:33 am
por Pablo Maica
Últimas Notícias Sexta, 14 de Março de 2008, 7h28
Fonte: BBC Brasil

Economia Nacional
Brasil 'se tornou ator econômico de peso', diz The Guardian


Em um sumplemento especial de 20 páginas publicado hoje, o jornal britânico The Guardian faz um balanço do Brasil e afirma que "mais conhecido pelo futebol, samba e sensualidade, ele se tornou um ator econômico de peso".

» Mantega: Brasil é atrativo mesmo com IOF
» Para sul-americanos, Brasil é amigo e potência

No caderno intitulado "terra de contrastes", o jornal faz uma análise dos setores de economia, agricultura, energia, saúde e cultura, além de um perfil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da cidade de São Paulo, que chama de "a cidade do futuro".

Segundo o Guardian, quando se pensa "na exuberância brasileira", a primeira coisa que vem à mente, dificilmente, será a economia, já que o Brasil "é a terra do Carnaval".

"Mas visualize isso: um país em que o fluxo de investimentos atingiu níveis recordes, onde a exportação de tudo, desde soja a biocombustíveis, está aumentando e onde a renda dos ricos e pobres está crescendo e impulsionando um boom de crescimento."

A reportagem afirma que o Brasil "parece ter entrado em uma nova fase de expansão sustentável que poderia, finalmente, destrancar o vasto potencial do País".

Segundo o jornal, os números vão "de bons a espetaculares: 1,4 milhão de empregos criados todos os anos; mais de US$ 100 bilhões em reservas (que excedem a dívida externa e tornam o Brasil credor internacional); 4,7% de inflação, o que é "manso" pelos padrões brasileiros; 4% de crescimento econômico, e uma ligeira aproximação na diferença com a China. Ah, e no ano passado o mercado de ações cresceu em 60%".

Segundo analistas ouvidos pelo Guardian, o crescimento é equilibrado e o País estaria menos vulnerável hoje.

"Analistas concordam que a forte demanda doméstica, a estabilidade financeira e exportações bem distribuídas internacionalmente oferecem alguma proteção contra o desaquecimento americano. Quando o mundo pega uma gripe, o Brasil não mais pega uma pneumonia."

O Guardian destaca que agora, além do samba e jogadores de futebol, o Brasil também exporta carros e aviões, notadamente aviões executivos e de passageiros da Embraer, mas afirma que apesar do crescimento, o País ainda enfrenta vastos problemas sociais e ambientais.

"Há um lado escuro do crescimento. Ambientalistas levantam o alarme de que o cultivo de cana e soja estão empurrando o rebanho de gado para o norte, na Amazônia, acelerando o desmatamento. As condições dos trabalhadores de algumas dessas plantações já foram comparadas à escravidão."

"O crescimento ainda provocou gargalos de infra-estrutura horrendos. Os engarrafamentos em São Paulo pioram a cada mês, os portos não conseguem acompanhar o ritmo do volume de navios e as viagens aéreas freqüentemente se tornam caóticas."

De acordo com políticos entrevistados pelo jornal, estes seriam problemas normais do processo de amadurecimento do País.

O Guardian ainda destaca a desigualdade entre ricos e pobres e a violência nas favelas: "A guerra de gangues e a brutalidade policial permanecem enraizadas aqui, bem como a extrema desigualdade. Algumas favelas, com sua legião de crianças de rua e barracos de madeira e plástico, poderiam passar pelas regiões mais empobrecidas da África subsaariana. Exceto pelo fato de que helicópteros sobrevoam a região, transportando os super-ricos para compras com hora marcada com Gucci e Jimmy Choo".

Críticos ouvidos pelo jornal ainda dizem que o crescimento do Brasil impressiona, mas é vazio, "como um carro alegórico de Carnaval, porque se apoia em condições globais benignas e no crescimento do crédito doméstico enquanto foge à difícil tarefa de construir uma economia competitiva".

O Guardian conclui comentando que o Brasil era conhecido como o País do futuro. "O futuro ainda não chegou, mas está mais perto agora do que já esteve em várias gerações."


Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC Brasil.

Um abraço e t+ :D

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 28, 2008 11:30 am
por Sniper
Produtores australianos temem avanços da Friboi no país

Agência Estado O setor agropecuário australiano entrou em estado de alerta. Os impactos da mudança de clima, sentidos pelos produtores nos últimos três anos de seca, e a ausência de novas fronteiras somaram-se a um novo componente aterrador - as aquisições da brasileira JBS Friboi nos mercados dos Estados Unidos e da própria Austrália. O caso expôs aos produtores australianos o lado agressivo do setor empresarial do Brasil e mexeu com os ânimos dos que se reuniram na semana passada na maior conferência anual do agronegócio do país, promovido pelo Escritório Australiano de Agricultura e Pesquisa Econômica (Abare).No ano passado, o primeiro sinal de preocupação veio com a compra da Swift americana e de sua filial australiana pela JBS Friboi. O negócio custou US$ 1,4 bilhão. No início do mês, a companhia brasileira adquiriu outra empresa australiana do setor, a Tasman, por US$ 150 milhões, e as americanas National Beef e Smithfield Beef, por US$ 1,125 bilhão.Para empresários do setor, a ameaça dessas iniciativas vai além da perspectiva de o Brasil vir a controlar o segundo maior mercado de destino da carne australiana, os EUA. Produtores afirmaram que temem a triangulação do produto - o brasileiro vir a ser reexportado, da Austrália para os seus mercados cativos da Ásia - e o domínio no setor produtor do país. "A Friboi é o maior exportador de carne para a Coréia. Estamos preocupados com essa movimentação", afirmou Glen Feist, da Meat and Livestock Austrália (MLA). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

http://portalexame.abril.com.br/ae/nego ... 55672.html

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 28, 2008 11:31 am
por Sniper
Mantega quer que setor automotivo continue a puxar PIB

Reunido esta tarde com dirigentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e presidentes das maiores montadoras do país, o ministro da Fazenda, Guido Mantega disse nesta quinta-feira que as perspectivas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos seguem uma trajetória robusta, em torno de 5%, semelhante à registrada no ano passado.

Nesse contexto, ele disse esperar que a indústria automotiva mantenha-se à frente do processo de crescimento. "A indústria automotiva foi o carro-chefe da economia em 2007 e gostaríamos que continuasse a ser este ano", afirmou. Ele garantiu que o governo vai assegurar a continuidade de fundamentos como a baixa vulnerabilidade interna, a consistência fiscal, a elevação da massa salarial e os estímulos ao aumento do crédito.

"Perguntei se a indústria estava preparada para manter a sustentabilidade do crescimento de 2007 ao longo dos anos e se saberá enfrentar o desafio de atender a vigorosa demanda", declarou. O ministro disse ter ficado bastante tranqüilo com a resposta. O presidente da Anfavea, Jackson Schneider, citou que os investimentos de US$ 5 bilhões já anunciados pela indústria no País neste ano elevarão a capacidade instalada do setor em 350 mil veículos, para 3,8 milhões de automóveis anuais. Ele disse também que haverá novos anúncios de investimentos ainda neste ano por parte das montadoras. De 2008 a 2010, a cadeia como um todo, incluindo autopeças, investirá US$ 20 bilhões.

Mantega disse ter ficado muito satisfeito. "Não são apenas intenções, mas sim investimentos", ressaltou. O ministro disse também que o governo espera que as exportações de veículos voltem a crescer. De acordo com Schneider, as vendas externas de automóveis caem em unidades desde 2005, embora se mantenham em valores por conta do ampliação do mix de produtos e seus respectivos preços. "Perguntei também se poderemos manter ou até expandir as exportações. Me foi respondido que sim, dentro de determinadas condições cambiais, financeiras etc.", relatou Mantega. "Ampliar também a capacidade de exportação da indústria automobilística é um dos objetivos do governo", acrescentou.

Apesar disso, o ministro negou que o governo cogite adotar novas medidas cambiais para conter a valorização do real e afirmou acreditar "que o conjunto de medidas que anunciamos recentemente já surtiram algum efeito. No longo prazo, ainda temos que ver, mas o real já se desvalorizou". Mantega lembrou ainda que a política industrial que será anunciada em breve pelo governo trará novidades, com um conjunto de medidas para vários setores, inclusive a indústria automotiva.

http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_4 ... erna.shtml

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 28, 2008 11:35 am
por Sniper
Friboi é líder mundial em carne bovina

Com o apoio do BNDES e dos fundos de pensão, o grupo JBS-Friboi vive um espetacular processo de crescimento e se transforma na maior empresa de carne bovina do mundo

empresário goiano Joesley Batista, presidente do frigorífico JBS-Friboi, foge do estereótipo de qualquer CEO de multinacional. Aos 35 anos, não tem curso superior nem especialização em gestão de empresas -- Joesley abandonou a escola durante o Ensino Médio e o maior destaque de seu currículo acadêmico é um curso de inglês. O jeito retraído e as frases pontuadas pelo forte sotaque goiano, muitas vezes, passam uma imagem de ingenuidade. Mas a maneira com que vem conduzindo os negócios do JBS-Friboi, porém, revela uma surpreendente agressividade. Ao assumir, no fim de 2006, o comando da empresa fundada em 1953 pelo pai, José Batista Sobrinho, Joesley deu início ao que seria o grande salto do JBS-Friboi rumo à globalização. Em maio do ano passado, Joesley arquitetou a oferta pública de ações da companhia e, logo em seguida, comprou a americana Swift, por 1,4 bilhão de dólares. A aquisição surpreendeu investidores. De uma só vez, ele desbancou as gigantes americanas do setor, Tyson Foods e Cargill, e tornou o Friboi a maior empresa de carne bovina do mundo. Há três semanas, Joesley deu outro passo para a expansão internacional e mais uma vez surpreendeu o mercado. Arrematou, por 1,7 bilhão de dólares, mais três frigoríficos: o australiano Tasman e os americanos National Beef e Smithfield Beef. Com as aquisições, a receita do Friboi chegou à casa dos 21 bilhões de dólares, o que o colocaria na terceira posição entre as maiores empresas brasileiras no ranking relativo a 2006 feito por Melhores e Maiores, de EXAME. "O Joesley é muito ambicioso. Quer ganhar cada vez mais escala e, claro, dinheiro", afirma um empresário do setor de carnes.

Não é apenas a ambição que explica a ascensão de um pequeno açougue de Anápolis, no interior de Goiás, a uma das empresas mais poderosas e globalizadas do país. Por trás desse crescimento vertiginoso está um providencial apoio do governo e dos fundos de pensão das empresas estatais. Boa parte da expansão do Friboi pode ser creditada à participação do BNDESpar, o braço de participações em empresas do BNDES. Desde o IPO na bolsa de valores, em junho de 2007, quando a empresa captou 1,4 bilhão de reais, a instituição vem desempenhando papel decisivo no financiamento do Friboi. Depois da abertura de capital, o BNDESpar arrematou o equivalente a 1,13 bilhão de reais em ações do frigorífico numa operação realizada no segundo semestre de 2007 -- dinheiro que foi utilizado para a aquisição da americana Swift. Agora, para realizar as últimas três compras, o Friboi fará um aumento de capital de 2,2 bilhões de reais e contará novamente com os velhos companheiros do BNESpar, além do Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, e do Funcef, o similar da Caixa Econômica Federal. A tríade formará um fundo de investimento que arcará com dois terços da operação. "Temos análises independentes demonstrando que o mercado de carne tem um potencial de crescimento muito relevante nos próximos anos. Com a taxa de juro em queda, temos de buscar investimentos com alto potencial de retorno", diz Guilherme Lacerda, presidente do Funcef.


O avanço da Friboi
Passados nove meses da abertura de capital do Grupo JBS, o faturamento da empresa cresceu mais de 1 000% e sua capacidade de abate quase quadruplicou
Antes do IPO
Unidades
A empresa tinha 21 unidades de abate no Brasil e outras cinco unidades de abate na Argentina

Faturamento
US$ 1,9 bilhão

Abate
22 000 cabeças por dia

Depois do IPO
Unidades
A empresa tem 22 unidades de abate no Brasil, seis na Argentina, 21 unidades de produção e 11 de confinamento nos Estados Unidos, dez unidades de abate e cinco de confinamento na Austrália e dez plantas na Itália

Faturamento
US$ 21,5 bilhões

Abate
79 000 cabeças por dia


Na arquitetura dessas aquisições, Joesley exerceu papel de destaque. Foi ele quem coordenou a estrutura financeira de cada uma delas. Apaixonado pelo mercado financeiro, costuma se cercar de profissionais do ramo para conhecer as melhores soluções e opções para seu negócio. Aconselha-se freqüentemente com os economistas Affonso Celso Pastore (ex-presidente do Banco Central), Luiz Fernando Figueiredo (ex-diretor de política monetária do Banco Central) e Allan Hubbard, ex-assessor econômico do presidente americano George W. Bush. Embora seja a personificação desse novo momento da companhia, Joesley não atua sozinho. As decisões são compartilhadas com os irmãos José Batista Júnior, de 46 anos, e Wesley Batista, de 36. Segundo executivos do setor, os três têm uma sintonia incomum na gestão do grupo. Com base em características e habilidades pessoais, os irmãos Batista desempenham, cada um a seu modo, funções complementares na expansão internacional do Friboi. Wesley, presidente do grupo nos Estados Unidos, é o estrategista. Percorre com freqüência todos os mercados importadores de carne brasileira e identifica as boas oportunidades de negócio fora do país. É ele também quem coordena a integração das empresas adquiridas no exterior. Membro do conselho de administração e ex-presidente executivo, Júnior entra em cena como negociador das aquisições. Carismático e político, ele tem a paciência e a sagacidade necessárias para fechar os acordos internacionais. "Wesley garimpa, Júnior negocia e Joesley paga a conta", resume um amigo próximo dos irmãos.


Quem é quem no comando do JBS-Friboi Os três herdeiros da empresa dividem o comando. Veja o papel de cada um:
O Financista
Joesley Batista, 35 anos
É o presidente do grupo JBS. Conduziu o processo de abertura de capital e é responsável pela coordenação financeira de cada aquisição realizada pelo grupo. Mora em São Paulo, onde está localizada
a sede da empresa
O Estrategista
Wesley Batista, 36 anos
Presidente do grupo nos Estados Unidos. Seu papel é identificar oportunidades de compra no exterior e coordenar a integração das empresas adquiridas. Mora no estado do Colorado, nos Estados Unidos
O Negociador
José Batista Jr., 46 anos
É o irmão mais velho dos Batista e foi presidente do grupo entre 1994 e 2006. É membro do conselho de administração e atua como negociador nas aquisições. Mora no estado do Colorado, nos Estados Unidos


A EXPANSÃO NO EXTERIOR promovida pelos irmãos Batista tem razões ainda mais estratégicas do que o óbvio ganho de escala. A compra de frigoríficos internacionais é uma maneira de abrir as portas de mercados estratégicos que, em razão de recentes focos de febre aftosa no país, hoje impõem barreiras sanitárias às exportações brasileiras. Para empresas como Friboi, Marfrig e Bertin, esse é um grande entrave ao crescimento. Com unidades de negócios nos Estados Unidos e na Austrália, o Friboi resolve esse problema de maneira categórica: consegue ter acesso a 50% do mercado mundial que permanece fechado para o Brasil. Ou seja: a partir dessas novas unidades, o Friboi poderá alcançar compradores nos Estados Unidos, no Canadá, na Coréia do Sul e no Japão, entre outros. "A aquisição poderá abrir mercados para o Brasil, uma vez que o Friboi deve utilizar os canais de distribuição das unidades estrangeiras para distribuir a carne brasileira", diz Fábio Silveira, sócio da RC Consultores.

Daqui por diante, o maior desafio dos irmãos Batista é domar o gigante que criaram. Com as aquisições no exterior, o endividamento da companhia atingiu cerca de quatro vezes o lucro antes de impostos, amortizações e depreciações (Ebitda) -- nível considerado altíssimo para empresas do setor. Para efeito de comparação, o endividamento da concorrente Marfrig, que também abriu o capital no ano passado e mantém uma agressiva política de aquisições, é duas vezes e meia o Ebitda. O maior receio dos analistas é que os maus resultados das empresas estrangeiras contaminem a operação do Friboi no Brasil. Os frigoríficos americanos vêm reduzindo as exportações após o registro do primeiro caso da doença da vaca louca nos Estados Unidos, em dezembro de 2003. Aliado a isso, com a crise recente e a retração do consumo de carne no mercado americano, as empresas não conseguem repassar para o consumidor final o aumento do preço da carne. "A dúvida é como o Friboi conseguirá ganhar margem diante dessa situação", diz Rafael Cintra, analista da Link Corretora.

Na opinião dos analistas, o grande teste para o clã Batista será o balanço financeiro da Swift, resultado que será apresentado nos próximos dias. Até o terceiro trimestre do ano passado, a rentabilidade da companhia era de mero 0,1%. O plano é que esse desempenho suba para pelo menos 3% até o fim de 2008. Se não houver um avanço claro já neste trimestre, a meta poderá se tornar inatingível. Quando foi comprada pelo Friboi, a Swift tinha uma dívida de 1,2 bilhão de dólares e era considerada, por muitos, um enorme abacaxi. Dias depois do anúncio da aquisição, a agência de rating Moody's ameaçou rebaixar a classificação de risco da companhia brasileira. Para aumentar as margens, Júnior e Wesley, que atualmente moram no Colorado, nos Estados Unidos, estão promovendo uma drástica mudança nas unidades americanas e australianas da empresa. Na prática, isso significa redução de custos, que vai do corte de funcionários ao cancelamento de benefícios para executivos, como carros e viagens. Medidas semelhantes serão adotadas também nas unidades recém-adquiridas. Até aqui, os irmãos Batista mostraram um grande talento para realizar aquisições. Falta mostrar agora que eles também são igualmente bons em administração.

http://portalexame.abril.com.br/revista ... 54767.html

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 28, 2008 11:38 am
por Sniper
Usiminas vai investir mais US$ 1 bi em pelotizadora

A Usiminas anunciou que vai adicionar mais US$ 1 bilhão ao pacote de investimentos de US$ 750 milhões nas quatro minas da J.Mendes, adquiridas em fevereiro deste ano. O valor será investido na construção de uma unidade de beneficiamento do minério de ferro (pelotizadora), que deverá começar a operar entre 2013 e 2015. Segundo o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, o objetivo é atingir a produção de 7 milhões de toneladas de minério em pelotas, produto que tem alto valor comercial no mercado internacional.


A companhia comprou as minas da J.Mendes por US$ 925 milhões - valor que ainda pode chegar a US$ 2 bilhões, dependendo dos estudos de reservas das minas -, no esforço para alcançar a auto-suficiência de minério e exportar até 9 milhões de toneladas por ano até 2013. Hoje, a Vale é a principal fornecedora de minério da Usiminas. No final do ano, a expectativa é que a capacidade de produção das minas chegue a 5 milhões de toneladas.


O primeiro embarque de minério para as unidades da Usiminas ocorreu na semana passada. Foram 27 mil toneladas da matéria-prima destinadas à Cosipa, usina controlada pela empresa em Cubatão (SP). Por questões logísticas, a Cosipa receberá a maior parte da produção das minas. Segundo Soares, em 2013, a capacidade de produção das minas deverá chegar a 29 milhões de toneladas, e 22 milhões de toneladas ficarão em Cubatão. A expectativa é que, com o fornecimento próprio, a Usiminas obtenha uma economia de até US$ 35 por tonelada de minério. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

http://portalexame.abril.com.br/ae/econ ... 55668.html

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Mar 28, 2008 8:00 pm
por Junker
IMF board to back overhaul of members' voting power

By: Reuters
Published: 28 Mar 08 - 9:07

The International Monetary Fund board on Friday will recommend a landmark overhaul in the voting power of member countries, with emerging economies saying they will settle for less than they wanted.

The proposed changes have won the support of key large emerging economies China, India, South Korea, Mexico and Brazil, which will gain voting power according to a new formula for calculating each country's so-called quotas, or membership subscriptions.

Others, Egypt, Iran, Saudi Arabia and Russia are likely to abstain from Friday's vote because the changes reduce their votes, while smaller European nations such as Luxembourg gain.

Rather than extending gruelling negotiations that have stretched on for more than a year over voting power in the IMF, most emerging economies decided to accept what they could get now and plan to keep pushing for more.

"We're not happy about the proposal because it falls short of what we had expected, hoped for and we had strived for," India's Executive Director to the IMF, Adarsh Kishore, told Reuters. "We had two choices: some forward movement, the other is no movement at all."

Kishore said a key demand by emerging economies that a new shareholding formula should take into account economic weight by purchasing power parity (PPP), not just market exchange rates, had been accepted.

"For the first time PPP has been recognized as a factor in the formula ... which is a positive sign," he said in an interview.

REAL THREAT

Still, Kishore acknowledged that the changes, making the IMF more representative of its 185 members, would not be enough to restore the Fund's legitimacy.

"It has to be seen against a very real threat that unless we have real movement now, then we are in a real danger of eroding whatever is left of our legitimacy," he said. "Obviously it is not entirely satisfactory, obviously we are not gung-ho about it, but we do see some forward movement," he said.

Friday's board meeting is expected to pass a resolution recommending a new quota formula, ad hoc increases for some members and a tripling of so-called basic votes of each country. Basic votes are distributed equally to each member regardless of economic importance, so that Africa does not lose ground to more dynamic Asia and Latin America.

IMF's board of governors, made up of finance ministers or central bank chiefs of the fund's 185 member countries, will vote on the changes in voting power after the IMF spring meeting on April 11 and 12 in Washington.

Sources said 54 countries, mainly emerging economies, would gain voting power under the new formula including Brazil, India, China, Thailand, Malaysia, Philippines, Singapore, Hungary, Poland and Botswana.

Since the inception of the IMF in 1944, Europe and the United States have dominated the institution that oversees global financial stability.

While developing and emerging economies acknowledge that proposed changes represent some progress, they say the proposals do not sufficiently shift voting power away from dominant industrial countries to developing nations, as intended.

Some of the biggest opposition to the voting reform plan came this week from a group of influential Washington-based academics who said the changes fell far short of what was needed to significantly realign nations' quotas with their rising influence in the world economy.

International development group Oxfam said the proposal meant "minimal" change in the IMF's voting structure.

"After years of debate, a proposal that gives only a small increase in quota share for a handful of developing countries -- and none for the rest -- would be more than disappointing," Oxfam's policy advisor Elizabeth Stuart said.

"The Europeans need to give up their overly dominant position. It's unacceptable that Ireland, Greece and Luxembourg are about to see an increase in their voice, while poor countries that make up 70 percent of the IMF's work, gain nothing," she added.

Edited by: Reuters
Brasil terá mais cotas no FMI, diz Mantega

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A participação do Brasil nas cotas do Fundo Monetário Internacional vai subir de 1,4% para 1,7%, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele disse hoje (28), em São Paulo, que haverá aumento na representação dos países em desenvolvimento na diretoria-executiva do FMI.

“Foi decidida a elevação da participação dos países em desenvolvimento nas decisões do FMI, entre os quais o Brasil”, disse o ministro. Ele afirmou que está ocorrendo uma revisão dos critérios de participação das nações, valorizando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB em valores de PPP (paridade de poder de compra, na sigla em inglês).

“Parece pouco, mas não é. É um aumento expressivo, de mais de 20%”, declarou. Ele explicou que as cotas representam o poder de voto nas decisões do fundo.

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Abr 01, 2008 10:24 am
por Centurião
Delfim ainda não vê excesso de demanda
Sergio Zacchi / Valor

Delfim Netto: "A única coisa que sabemos que há em excesso no Brasil é a dengue. Sobre isso não há dúvida"
Antes de adotar qualquer medida para desaquecer a demanda é preciso, primeiro, saber se há excesso de demanda, recomenda o ex-ministro Antônio Delfim Netto. Ele tem fortes dúvidas a respeito do real descasamento entre a oferta e a demanda por bens e serviços na economia, propalado pelo Banco Central, que acabará gerando pressões inflacionárias indesejáveis. "A única coisa que sabemos que há em excesso no Brasil é a dengue. Sobre isso não há dúvida", diz, num misto de bom humor e indignação em relação à postura do Banco Central, que acena com a elevação da taxa de juros, a Selic, já em abril para esfriar a demanda agregada e abortar um eventual aumento da inflação acima da meta de 4,5%.


"A não ser que o BC saiba de coisas que ninguém sabe, não há nenhuma prova de que há excesso de demanda que exija uma ação imediata, mesmo porque não sabemos quais serão os efeitos da crise americana na economia mundial, se os preços das commodities vão cair, se a recessão vai pegar a Europa, a China. Se isso acontecer, não será preciso mexer em nada", avalia.


Se constatado, porém, que há realmente um excesso de demanda, prossegue o ex-ministro, "não pode haver dúvida de que a única medida decente e que menos prejuízo causará ao investimento e ao crescimento da economia é o corte dos gastos de custeio do governo." Delfim Netto e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo tiveram recentemente uma reunião com o presidente Lula, onde essas questões macroeconômicas foram discutidas, juntamente com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles.


Ambos, que têm sido conselheiros do presidente, concordam que a medida mais recomendável caso o diagnóstico do excesso de demanda se confirme, é fiscal e deve recair sobre os gastos correntes do setor público, conforme também declarou Belluzzo ao Valor. Ou seja, eles estão sugerindo medidas na direção oposta ao que o governo faz ao, por exemplo, conceder - como ocorreu há poucos dias - reajustes salariais para 800 mil funcionários públicos ao custo adicional de R$ 2,1 bilhões este ano.


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não conseguiu evitar que essa despesa permanente fosse criada agora, sob o patrocínio do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, comentaram assessores da Fazenda. É difícil imaginar o governo fazendo um maior aperto fiscal em ano de eleições municipais e com o presidente Lula com popularidade invejável.


Como argumenta o ex-ministro Delfim Netto, porém, essa é uma alternativa bem mais saudável do que a alta da taxa de juros que, segundo ele, seria uma medida "devastadora" para as expectativas de investimentos. Não pelo custo do dinheiro, pois a grande maioria das empresas no país se financia à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e não pela Selic. O empresário, porém, vai ver que ao elevar os juros básicos o governo estará reduzindo a demanda futura e, portanto, o mercado de consumo para seus produtos.


O boletim Focus divulgado ontem - a pesquisa do BC junto ao mercado - indica que a expectativa de juros para dezembro deste ano deu um salto, saindo de 11,25% para 12%. "Veja que coisa fantástica, como é uma embricação extremamente delicada. Os informantes do Focus são do sistema bancário. Se você olhar todas as estimativas do Focus elas crescem milimetricamente. A estimativa de juros para o fim do ano, porém, teve uma função descontínua. Deu um pulo. Ou seja, o BC assusta o sistema bancário, este obedece ao BC e ajusta suas expectativas, mas antes o BC já havia obedecido ao sistema bancário que demandou juros mais elevados. É uma corrente da felicidade em que o 'presunto' é o Tesouro Nacional, que é onde tudo desaba e faz crescer a dívida interna", acrescenta.


A dívida pública interna está crescendo em termos absolutos, embora esteja caindo como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). "Você acha que o sistema bancário aumenta a expectativa de juros porque está preocupadíssimo com o fato de as expectativas de inflação terem aumentado de 4,5% para 4,6% este ano? Eles estão interessados é porque aumentando os juros seu lucro aumenta proporcionalmente e o Tesouro é que vai pagar isso. Esse que é o ponto", diz o ex-ministro.


O excesso de demanda, lembra Delfim Netto, "desaba é nas contas correntes". Ou seja, para suprir a economia doméstica o país aumenta suas importações, que acabam por crescer em ritmo bem mais veloz do que as exportações, reduzindo o superávit ou mesmo criando déficit na balança comercial. O déficit corrente seria a diferença entra o saldo comercial e o déficit da balança de serviços.


O BC, em suas mais recentes estimativas, está prevendo para este ano um déficit de aproximadamente US$ 12 bilhões, numa virada importante se confrontado com o superávit nas transações correntes do balanço de pagamentos de US$ 1,5 bilhão no ano passado. Delfim, porém, acha que o déficit estimado para este ano não chega a ser um problema, ao contrário "é até saudável para a taxa de câmbio e para o país, pois o Brasil não precisa ser financiador do mundo". O risco, contudo, não é ter um pequeno e financiável déficit em conta corrente, mas a dinâmica que ele pode assumir, de crescimento exponencial.


Essa foi uma das questões mais discutidas na reunião com o presidente Lula, há três semanas e, naquele momento, foi dito com toda a clareza que não existe nenhuma garantia de que nos próximos quatro a cinco anos o país conseguirá manter uma situação folgada nas contas correntes como ainda há hoje. Para conseguir isso, também foi sugerido que o governo adote um forte programa industrial-exportador, que é o que está sendo construído pelo Ministério do Desenvolvimento e pelo BNDES.

O risco é Lula chegar na campanha eleitoral de 2010 tendo reeditado a vulnerabilidade externa do país, depois de este ter feito um ajuste asiático nas contas do balanço de pagamentos. E isso, por duas razões: valorização da taxa de câmbio e pressão da demanda sobre as importações.


Se o BC elevar a taxa Selic na reunião de abril, estará ajudando a valorizar ainda mais o real. "Dado o 'merchandising' feito pelo sistema financeiro, nos últimos dias, pelo aumento da taxa de juros, sugiro duas medidas imediatas: a estatização do Banco Central e o controle do ingresso de capitais. Em legítima defesa, apelo para o necessário, mas impossível controle de capitais. Já que não se pode fazer o que deve ser feito, vamos fazer o errado", diz Delfim, sem esconder uma certa irritação. "Há economistas que cometem a desfaçatez de dizer que pelos seus cálculos será preciso um aumento de no mínimo 1,75 pontos percentuais na taxa Selic", acrescenta, referindo-se ao último relatório da Goldman Sachs.
Resumo: Aumentar os juros para conter a demanda, significa dar o remédio errado. O governo pode conter a demanda e diminuir o déficit de conta corrente ao cortar seus gastos e estimular fortemente as exportações.

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Abr 01, 2008 3:19 pm
por Centurião
http://economia.uol.com.br/ultnot/2008/ ... u1181.jhtm
Mantega, ainda conforme a Agência Brasil, afirmou que a prioridade do governo agora são os cortes nos gastos correntes (custeio da máquina pública) e a política industrial, com o programa de aceleração das exportações.

Parece que o governo está ouvindo os economistas Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo. Será que isso significa um adiamento ou até mesmo cancelamento do aumento dos juros? :twisted:

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Abr 01, 2008 3:48 pm
por pafuncio
A tungada do COPOM já está "precificada" (urgh, expressão abjeta).

Ou seja, aí vem os cortes. Tomara que não sobre para o reequipamento das fa´s ...

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Abr 01, 2008 6:35 pm
por Centurião
Alexandre,

Você quis dizer "aumento" e não "corte", certo? :)

Agora é que vamos saber qual o poder do mercado sobre o BC. Se os diretores resolverem adiar o aumento dos juros, irá sinalizar que não é tão influenciado pelos bancos e corretoras como se pensa.

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Abr 01, 2008 6:39 pm
por pafuncio
Tunga = aumento dos juros ...

Mas tenho as mesmas esperanças que tu. Infelizmente, creio que os fatos me desmintirão ...

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Abr 02, 2008 10:43 am
por Centurião
A imprensa está usando da mesma arma que os bancos e as corretoras, só que dessa vez para convencer a opinião pública de que o aumento dos juros não é necessário. :)

http://click.uol.com.br/?rf=eco-h-cham4 ... 86196.jhtm
02/04/2008 - 09h12
Análise: Crise esmorece e atenua temor do BC
Luiz Sérgio Guimarães
SÃO PAULO - Os investidores globais experimentaram ontem a sensação de estarem finalmente acordando de um longo, tumultuado e penoso pesadelo. A crise acabou?

Nem os mais otimistas incentivadores profissionais do bull market ousam decretar o fim da tempestade que vergasta mais pesadamente os EUA desde 16 de agosto do ano passado, dia em que dois fundos do falecido Bear Stearns não honraram resgates. Mesmo assim, os investidores se desfizeram de posições defensivas armadas em títulos do Tesouro americano (tanto que a taxa do de dez anos saltou de 3,4096% para 3,5564%) e em ouro (em Nova York o metal tombou 4,07%) e rumaram alegremente para os pregões sujeitos a risco.

O Dow Jones fechou em alta de 3,19%. O risco-Brasil retrocedeu 3,57%, para 270 pontos-base. Os hedge funds retomaram as operações de venda de dólar e compra de real, e a moeda americana cedeu 0,45%, para R$ 1,7450. Se a percepção de fim da crise - suscitada pela faxina radical feita em seus balanços pelas instituições sobreviventes e pela profilaxia representada pelos novos poderes regulatórios conferidos ao Federal Reserve (Fed) - transformar-se em certeza, o Banco Central terá de arquivar seu plano de elevar a taxa Selic já na próxima reunião do Copom, dia 16.

O BC vem defendendo a necessidade de aplicar um aperto monetário preventivo baseado mais em arte premonitória do que em pressupostos científicos. O seu feeling diz que, em algum momento, a atividade econômica hoje potencialmente explosiva irá pulverizar o centro da meta de inflação. E aí será tarde demais para reagir.

O BC parece quase isolado em seus temores divinatórios. Mesmo entre as instituições que mais acertam prognósticos de IPCA não há essa preocupação. As top 5 - em fevereiro foram Modal Asset, Itaú, Itaú BBA, Safra, Banco Abc Brasil e Unibanco Asset - prevêem, segundo o último Focus, IPCA de 4,51% este ano e de 4,45% em 2009. São projeções maiores que a mediana das cem instituições pesquisadas - de 4,47% e 4,31%, respectivamente -, mas ainda assim dentro da meta, dispensando apertos monetários adicionais (adicional porque o Brasil, mesmo com Selic a 11,25%, já paga o maior juro real do mundo).

Os dados divulgados ontem pelo IBGE sobre a produção industrial mostram que não há explosões de demanda no horizonte. Em fevereiro, a atividade caiu 0,5% em relação a janeiro. Os analistas esperavam queda, mas menor, de 0,2%. Em compensação, a alta anual, de 9,7%, foi maior que a prevista, de 9,5%. A produção de bens de capital saltou 3,1% na comparação mensal e 25% na anual, ou seja, tenta-se ampliar a oferta.

"Assiste-se, de fato, a um maior ritmo de expansão da indústria, porém menor do que refletido no crescimento do setor acumulado no ano", diz relatório do Iedi. "O grande crescimento da produção de bens de capital confirma a forte evolução da capacidade de produção no país e dispensa ações de política monetária para desacelerar o crescimento da indústria e da economia", diz.

Diante do desafogo externo e da atividade industrial não explosiva não teve jeito de os juros sustentarem seu movimento de alta no mercado futuro da BM&F. O contrato mais negociado, para janeiro de 2010, recuou de 13,27% para 13,21%. Mas os prêmios permanecem obesos em face das ameaças ortodoxas do BC.

Alguns analistas do mercado ainda acreditam que uma gestão monetária linha-dura exercida unicamente por meio de discursos ferozes e ameaçadores e não de atos propriamente ditos tem o mérito de suavizar as pressões inflacionárias sem apresentar os efeitos colaterais deletérios, o principal dos quais é o encarecimento da dívida pública. Engano. A retórica terrorista encarece de imediato o custo de rolagem dos papéis.

Os juros dos títulos do Tesouro Nacional são fixados tendo como referência a curva futura riscada no pregão de CDI futuro da BM&F. Se o DI sobe porque soaram as trombetas apocalípticas do Copom, de imediata o Tesouro tem de pagar mais caro para rolar a dívida. Talvez por isso ele tenha programado para abril uma venda menor. Este mês irão vencer títulos correspondentes a R$ 65 bilhões, a maioria (79% ou R$ 51,5 bilhões) composta por papéis prefixados. Mas o Tesouro só vai oferecer no mês R$ 45 bilhões.

A política monetária ultraconservadora limitada ao grito e ao murro na mesa não tem custos políticos? Tem sim. A retórica ríspida, cuja eficiência resulta da quantidade de vezes em que é propalada, aparece mais na mídia do que uma decisão tomada pelo Copom a cada 45 dias. Ou seja, vai contra o princípio governante de se fazer o mal de uma vez e o bem de forma gradual e repartida ao longo do tempo.
(Luiz Sérgio Guimarães | Valor Econômico)

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Abr 02, 2008 1:19 pm
por Centurião
Como suspeitávamos aqui no DB:
02/04/2008 - 13h08
Lula convoca Mantega e Meirelles ao Palácio da Alvorada

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foram convocados para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje de manhã, no Palácio da Alvorada. Mantega não quis falar sobre o teor da reunião fora de agenda, que durou mais de duas horas.

Dois temas, entretanto, estão na ordem do dia do governo: o contingenciamento orçamentário e a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para a semana que vem, com sinalização de que o juro básico (Selic) de 11,25% ao ano pode ser elevado, diante da preocupação da autoridade monetária com a alta da inflação.

Num momento em que Lula está empolgado com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sobre o qual passou mais de 10 minutos tecendo elogios, ontem, na reunião do Conselhão, há quem defenda dentro e fora do governo um maior controle dos gastos públicos. Isso poderia ajudar a conter a demanda aquecida, mas também significaria conter os investimentos do PAC.

O controle fiscal seria uma contrapartida para o Copom não elevar os juros, explicam fontes do Planalto.

Após a reunião no Alvorada, Mantega passou rapidamente por seu gabinete e foi para o Palácio do Planalto. A assessoria de Meirelles confirmou sua ida ao Alvorada, também sem comentar o tema discutido com o Presidente da República.

(Azelma Rodrigues | Valor Online)