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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Qui Abr 15, 2010 7:01 pm
por suntsé
Prezado orestes, gostei muito da sua explanação, vou guardar os seu texto nos meus favoritos.

Boa sorte.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Qui Abr 15, 2010 8:55 pm
por Bender
Esse post de cima de suntsé e Delta véio:
+
Este de baixo colocado pelo Marino:

É = a ? Chamem o Orestes!
:mrgreen:
Que nós brinda com tremenda visão e lucidez! :D

orestespf
Deve-se haver algum cuidado com estas informações da mídia. A primeira é desvincular o país Argentina de sua presidenta Cristina Kirchner. O mundo todo sabe do alinhamento do casal Kirchner com os EUA, mas não necessariamente da Argentina com os EUA. Claro que a presidente seguirá as "sugestões" de Washington, mas não durante muito tempo, pois trata-se de um governo fraco internamente.

Não interessa à Argentina ver um Brasil forte, pois não tem condições econômicas para se armar e se defender nos mesmos moldes que por aqui se desenha. Não tenham dúvidas que se pudessem, eles fariam isso. Só que lá impera a humilhação de suas forças armadas, enquanto aqui ocorre justamente o contrário. Não vejo a Argentina investindo significativamente em seu programa nuclear, deve estar pouco diferente do estágio conseguido no final dos anos 70 ou pouco mais do que isso. Mas é justamente isso o ponto da discórdia, mexer com os nervos dos argentinos, provocando-os com sentimentos de inferioridade --- este deverá ser o jogo de Washington.

Pergunto: Washington desejar que a Argentina faça o seu jogo para pressionar o Brasil, é razoável, mas a Argentina tem algum poder, seja de convencimento, seja diplomático, seja técnico-tecnológico, etc., para conseguir este feito? Estou convencido que não, ainda mais se o Chile se unir a nós. A Argentina não está bem com o Uruguai, até mesmo com o Paraguai, o restante da AS, pior ainda. As falas da Sra. Kirchner não passam, pra mim, de retóricas para agradar os EUA, pois nem para consumo interno serve. Claro, haverá questionamento popular sobre o risco de se ter um vizinho "nuclearizado" como o Brasil, mas não demorará para que se questione a total falta de investimentos no que há de mais básico em suas forças armadas --- o contraditório se fará presente e nada melhor do que a confusão interna para desviar o próprio foco das atenções. Os EUA sabem disso, mas não lhes restam outras opções, só esta mesmo, tentar.

De fato os EUA poderiam tentar armar a Argentina para frear a investida brasileira, mas esbarrariam imediatamente na resistência inglesa. Poderiam doar alguns F-16 ou coisas assim oriundos do deserto, poderiam doar mais algumas coisas, mas pensando em vender algum equipamento de maior valor agregado e obter algum lucro. A Argentina teria condições de adquirir, por exemplo, F-16 surrados, colocá-los em condições plenas de combate? Como fazer isso se nem os seus A-4 estão aptos para simples vôo? E quanto tempo para seus militares se encontrarem totalmente familiarizados com novos equipamentos é prontos para o combate? Isto não é rápido, todo aqui sabemos disso!!! E os armamentos??? Até o Chile, que comprou F-16 zero-bala, teve dificuldades para obter os AIM-120, imagine quanto tempo para a Argentina ter os seus!!!

A Argentina não nos representa ameaças neste momento, não por subestimar nosso vizinho e sua capacidade, mesmo sob duras penas impostas aos seus militares e forças armadas, mas por vê-la cada dia mais dependente economicamente do Brasil. Se com o Mercosul a coisa já está feia pra eles, imagina retirar o Brasil? Além disso, acredito, as relações diplomáticas Brasil-Argentina têm sido as melhores durante décadas. O que poderemos ver são retóricas e de pouco ou nenhum impacto, pois não vejo interesse em ambas as partes partir para agressão, nem verbal. A Argentina fez uma escolha equivocada em 1982, paga o preço arduamente, então dificilmente cometerá o mesmo erro. Uma coisa é marcar posição, outra coisa é o enfrentamento, mesmo que se sinta "humilhada" ao ver o Brasil melhor protegido e armado; consequências de escolhas ruins feitas no passado.

Vejo que a saída é o investimento do Brasil lá na Argentina, principalmente no campo militar. A melhor e mais barata solução para as FFAA argentina é comprar material bélico brasileiro e, se possível, tentar algum desenvolvimento conjunto. O próprio Chile "já se tocou", deverá tomar este caminho; que a Argentina abra os olhos e se antecipe, todos ganharão, não apenas nós. A AS deveria tentar uma solução semelhante a adotada pela Europa, países com treinamentos conjuntos, equipamentos que "conversam entre si", uma espécie de padronização. Se a Argentina tentar ser uma Inglaterra da vida, se isolar na AS, bem, que os dois se entendam novamente (como em 82?). Se o fôlego da Inglaterra já se revela cansado, então nem fôlego a Argentina tem.

E agora extrapolo: sempre haverá "um maior", se o momento favorece ao Brasil, que assim seja. Então que a própria AS veja tal crescimento (em tudo) com bons olhos e tire proveito da situação, crescendo junto com o Brasil, impedir tal coisa é atitude medíocre. Se incomoda a nova liderança que se desponta na AS, que se admita a existência da mesma e faça tudo para que seja assim, pois é melhor uma liderança na vizinhança do que uma liderança vindo do Norte; isto é falta de soberania, isto sim é se humilhar.

Amigos argentinos: vamos nos unir, ganhamos todos! Porém, qualquer outra solução que não venha dos arredores, acreditem, com toda certeza imporá derrotas, mas a vocês! O Brasil precisa do crescimento da Argentina, mas isto não se aplica aos clássicos e antigos "aliados" seus, já estão plenamente satisfeitos com sua realidade atual.
[009]

Abraços!

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Qui Abr 15, 2010 10:21 pm
por Penguin
O casal Kirchner alinhado com os EUA?! Me parece ser justo o contrário.
Nestor K. se afastou da esfera de influência americana e aprofundou a parceria com o anti-americano Chavez, permitindo inclusive que o mesmo fizesse um comício anti-USA em plena Buenos Aires.
Menen sim, este era alinhado com os EUA.

[]s

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Qui Abr 15, 2010 11:48 pm
por PRick
Não sei não, mas às vezes acho que tem muita gente afetada pela radiotividade, é uma confusão só esse negócio, os caras querem manter seus arsenais e não param de perseguir os outros, mesmo que não queiram armamento nuclear. Essa paranóia de terrorismo nuclear vai deixar mais gente louca ainda! 8-] 8-]

[]´s

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sex Abr 16, 2010 11:37 am
por Bender
Quem adivinhar quem foi o escolhido da Globo News ontem sobre a adesão ou não do brasil ao TNP adendos, para participar e encerrar com chave de ouro o programa "Sem fronteiras" ganha umas jujubas,a dica que posso dar é que o Marino gosta para caramba deste ex-diplomata :mrgreen:

Uma frase do final para ajudar mais um pouquinho:

"Acho que não é inteligente promovermos uma corrida armamentista na América do Sul..."

Sds.

PS:Uma vergonha total.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sex Abr 16, 2010 1:36 pm
por Marino
Ainda bem que não vi. :evil:

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sex Abr 16, 2010 1:57 pm
por Marino
ENTREVISTA - MOHSEN SHATERZADEH
“Nenhum país deve ter armas nucleares”
Viviane Vaz
Zuleika de Souza
Especialistas de 60 países e chanceleres de 15 nações se reúnem amanhã e domingo na capital
iraniana, Teerã, para outra conferência mundial sobre desarmamento nuclear. Sob o lema Armas
nucleares para ninguém e energia para todos, a discussão sobre a não proliferação nuclear deve tomar
um rumo diferente da reunião realizada em Washington nesta semana, na qual o Irã foi o país mais
criticado, apesar de não ter sido convidado. Da parte brasileira, o Itamaraty confirmou que o embaixador
em Teerã, Antonio Luís Espinola Salgado, deve participar do encontro.
Os principais temas de debate da conferência deverão girar em torno da eliminação de todas as
armas nucleares, químicas e biológicas; das formas de monitoramento das atividades envolvendo
tecnologia nuclear; e da cooperação entre os países que assinaram o Tratado de Não Proliferação
Nuclear (TNP) e aqueles não signatários.
Em entrevista ao Correio, o embaixador iraniano, Mohsen Shaterzadeh, defendeu o direito da
República Islâmica de dominar a tecnologia nuclear, como país signatário do TNP, e ressaltou que o
reator nuclear que seu país possui em Teerã, adquirido dos Estados Unidos pela monarquia do xá Reza
Pahlevi, serve apenas para fins pacíficos —
o mesmo caminho seguido pelo Brasil.
A Conferência sobre Desarmamento e Não Proliferação Nuclear no Irã foi organizada como
resposta à reunião sobre o mesmo tema realizada em Washington?
Essa conferência estava programada desde o ano passado. Não tem nada a ver com os Estados
Unidos. Preparamos um programa para discutirmos seriamente o assunto da não proliferação e do
desarmamento. Esse programa foi entregue ao grupo 5+1 (países do Conselho de Segurança da ONU —
EUA, Reino Unido, China, Rússia e França mais a Alemanha). Nós registramos a responsabilidade
global e indicamos que o Irã seguirá buscando a não proliferação e o desarmamento. No entanto,
acreditamos que essas regras devem valer para todo mundo. Nenhum país, sob nenhum pretexto, deve
ter armas nucleares.
Quais países devem participar com chanceleres?
Mais de 70 autoridades, especialistas e diretores mundiais de três continentes, América Latina,
África e Ásia, participarão da conferência. Acreditamos na cooperação sul-sul. Temos grande atenção
com a preocupação do mundo. Essa conferência vai ser uma oportunidade para que os responsáveis
dos países do Hemisfério Sul discutam a preocupação com os riscos que provêm de armas nucleares.
Nós esperamos que os ocidentais, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia, tenham uma
visão mais séria sobre esse assunto.
Israel também foi convidado para a reunião em Teerã?
Não. Mas há uma razão para isso: eles são contra os que pedem o desarmamento, nunca
participam das reuniões e não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Além disso,
nunca reconhecemos Israel como um Estado legítimo. É um regime sem legitimidade, invasor de terras
(palestinas).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em Washington o caminho das
negociações com o Irã, em vez das sanções. Como o governo iraniano avaliou essa posição?
Acreditamos que a posição do presidente Lula é legítima. Nós não acreditamos no grupo 5+1,
mas acreditamos no Brasil, porque os brasileiros são solidários à paz no mundo. Respeitamos Lula como
uma personalidade mundial que busca a paz e os direitos humanos, e acredito que ele conhece a
realidade sobre as armas nucleares e trabalha ativamente para a paz real e justa. E a realidade é que o
Irã sempre esteve disposto a negociar e não quer urânio para armas nucleares, mas para produzir
energia e bem-estar para a população. Estamos seguindo o mesmo caminho do Brasil. Assinamos o
TNP para aproveitar os direitos de desenvolver essa tecnologia prevista pelo tratado. Nesse sentido, o
presidente Lula e o premier turco, Recip Erdogan, sugeriram em Washington que, em vez de levar o
urânio do Irã para ser enriquecido na Rússia ou na França, proposta que não agradava o governo
iraniano, que o urânio fosse enriquecido a 20% na Turquia.
O governo iraniano aceitaria essa proposta?
Sempre estivemos de acordo com a troca de combustível. O tema é que, como nós não
confiamos nos países ocidentais, queremos que a troca seja no mesmo momento (entregando o urânio
enriquecido no Irã a 3% e já recebendo a 20%). Há 35 anos, assinamos com os franceses um acordo
semelhante e não recebemos nada. Não queremos que isso se repita agora. Nós confiamos nos
brasileiros e nos turcos e estamos dispostos a colaborar. A Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA) tem responsabilidade para nos facilitar esse material nuclear. Somos compradores de
combustível para esse reator que serve para o tratamento de 800 mil iranianos. Quem vende tem o
direito de definir o preço, mas quem compra pode colocar as condições de compra. A imposição é cruel
para toda a humanidade. Estamos dispostos à troca em condições justas.
Os EUA esperam aprovar sanções contra o Irã nas Nações Unidas. O governo iraniano tem
se preparado para essas sanções, caso se confirmem?
Os Estados Unidos não podem fazer nada. Quando tinham a força, não fizeram, e atualmente
estão fracos para fazê-lo. E o Irã tampouco é um país de cruzar os braços, então vai poder superar todas
as dificuldades. Estamos há 30 anos sob embargo dos EUA, mas ficamos cada vez mais fortes e
desenvolvidos. Até hoje, suportamos vários embargos de países ocidentais e mesmo assim avançamos.
Desenvolvemos tecnologia aeroespacial nesse período, somos a 16ª economia mundial e nosso
comércio exterior chegou a US$ 170 bilhões. Esse avanço econômico não passa desapercebido. Nós
diversificamos nosso comércio exterior e diminuímos a dependência. Nosso intercâmbio comercial com a
China, por exemplo, é de US$ 30 bilhões. O Brasil também poderia ocupar, com facilidade, um papel de
destaque na nossa balança comercial. Nosso relacionamento com os países do sul, da África, com a
Indonésia e a Malásia aumentaram bastante e temos hoje projetos com 45 países. Portanto, a presença
ou não de países ocidentais na economia iraniana não tem importância.
O senhor mencionou que o aiatolá Khamenei afirmou que a construção de armas
nucleares vai contra o Islã e está proibida no Irã. Poderia falar mais sobre isso?
O Islã é uma religião de paz e afeto, apesar das explicações distorcidas na mídia ocidental,
baseadas em mentiras. A ordem do aiatolá é a de que armas nucleares são proibidas no Islã. Isto é, não
temos direito a produzi-las.
Então, por que há grupos, como a Al-Qaeda, que se dizem “islâmicos” e praticam
atentados terroristas?
Não estamos de acordo com esses grupos. Eles não têm comportamento islâmico. E
acreditamos que esses grupos são estruturados por ocidentais. A religião islâmica não precisa desses
atos extremistas.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sáb Abr 17, 2010 2:49 am
por Penguin
China ignora apelo do Brasil em favor do Irã
Lula conversa com Hu Jintao sobre programa nuclear de Teerã, mas líder chinês mantém disposição de discutir sanções na ONU
16 de abril de 2010 | 0h 00

Denise Chrispim Marin, Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa - O Estado de S.Paulo

A questão nuclear iraniana foi o principal assunto da conversa de ontem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder chinês Hu Jintao, em Brasília. Mas o Brasil não conseguiu persuadir o presidente chinês a recuar em sua decisão de discutir as sanções contra Teerã com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.

A posição chinesa acentuou o isolamento do Brasil, que insiste em mais espaço para uma solução negociada com o Irã. Em uma rápida entrevista depois do segundo encontro bilateral de Lula com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e antes da abertura da cúpula do Foro Ibas (Índia, Brasil, África do Sul), o chanceler brasileiro, Celso Amorim, avaliou que tanto a China quanto a Índia consideram discutível a eficácia de sanções sobre o Irã.

Segundo Amorim, há "grandes afinidades" desses países com a posição do Brasil.

Mas a "completa sintonia" foi percebida apenas na conversa entre Lula e o presidente sul-africano, Jacob Zuma. "Como disse o premiê Singh, as sanções atingem as pessoas mais fracas e vulneráveis e não os dirigentes", afirmou Amorim.

Lula insistiu ainda com Hu, Singh e Zuma que há espaço para a negociação de um acordo para a troca de urânio levemente enriquecido do Irã por combustível nuclear, fabricado na Rússia ou na França.

Também reiterou outros dois tópicos. Primeiro, que é preciso uma "flexibilização" da posição do Irã, para que esse país possa desenvolver seu programa nuclear com fins pacíficos sem despertar dúvida na comunidade internacional sobre a possível construção de uma bomba.

Segundo, que as sanções não só seriam ineficazes, como contraproducentes. "Lula reafirmou que o Irã tem de ser mais transparente para mostrar que a finalidade de seu programa nuclear é pacífica", disse Amorim.

Para o ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, o Brasil não está isolado. "Quando o Brasil está defendendo o interesse nacional, nunca está isolado", afirmou o ministro. "A posição brasileira contrária à invasão militar ao Iraque, em 2003, provou-se correta. Na época, todos os outros estavam errados", completou.


PARA ENTENDER


Rússia e China são os dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais resistentes à pretensão dos demais membros de impor sanções para forçar o Irã a desistir de seu programa nuclear. Ambos têm negócios milionários com Teerã. Nas últimas semanas, porém, a Rússia deu sinais de que poderia aceitar a imposição das sanções, desde que fossem leves. A China reiterou nesta semana que aceita "discutir" uma proposta de sanções.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sáb Abr 17, 2010 2:50 am
por Penguin
16/04
IRÃ
Para Amorim, é 'impossível' para Irã atender a exigências

Fabrícia Peixoto
Da BBC Brasil em Brasília

Davutoglu também voltou a criticar a ampliação das sanções ao Irã

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta sexta-feira que é “impossível” para o Irã atender à exigência de potências internacionais de que prove que seu programa nuclear não tem fins militares.

Segundo o chanceler, é “difícil” para um país produzir uma prova negativa, o que para ele já foi um problema no passado.

“Voltamos à questão da prova negativa. É muito difícil você querer provar que um país não fez determinada coisa. Para dizer a verdade, é impossível”, disse o ministro, logo após uma reunião com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, em Brasília.

Amorim voltou a comparar a situação iraniana à do Iraque, que “não provou” ter armas químicas e armas nucleares e que por isso teria sido invadido.

“Mesmo quando a Agência Internacional de Agência Atômica (AIEA) já tinha dito que o Iraque não tinha essas armas, continuava-se dizendo que ele não tinha provado que não tinha um programa nuclear”, disse o ministro.

“O resultado foi que, para provar, fizeram uma guerra em que morreram mais de 300 mil pessoas. E aí chegaram a conclusão de que não tinha arma nenhuma”, acrescentou o chanceler.

Proposta

Tanto Amorim quanto o chanceler turco voltaram a criticar a imposição de sanções comerciais contra o Irã, medida que vem sendo defendida pelos Estados Unidos.

Davutoglu disse ainda acreditar em uma solução “diplomática” com Teerã. Segundo ele, se as penalidades comerciais forem aprovadas, a economia turca acabará também sendo prejudicada.

“Somos vizinhos ao Irã, nossas economias estão muito ligadas. Também seremos afetados pelas sanções”, disse o chanceler turco.

Brasil e Turquia ocupam um assento temporário no Conselho de Segurança da ONU, instância em que as sanções deverão ser discutidas e votadas. Por não serem membros permanentes do grupo, nenhum dos dois países tem poder de veto à decisão final.

Amorim disse que Brasil e Turquia vêm discutindo uma “fórmula” que seja aceitável para os dois lados na negociação, mas segundo ele os dois países não pretendem apresentar uma nova proposta de acordo.

“Não queremos inventar nada. Existe uma proposta sobre a mesa que chegou muito perto de ser aceita”, disse o ministro.

O que estamos procurando é se existe algum ajuste que possa ser feito nessa mesma proposta”, acrescentou.

O chanceler brasileiro disse ainda que Brasil e Turquia são países com “boa interlocução” e “de excelente relação” tanto com países ocidentais como com o Irã.

“Acho que temos possibilidade de sermos ouvidos mais do que outros. Podemos ser ouvidos sem despertar animosidades”, disse Amorim.

Moeda

Amorim também fez um resumo dos principais temas discutidos ontem durante a 2ª cúpula dos BRICs, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China.

Segundo ele, a discussão sobre uma moeda que substitua o dólar no sistema financeiro internacional não esteve na pauta dos chefes de Estado.

“Não se trata, nesse momento, de discutir uma nova moeda”, disse o ministro, com o argumento de que essas discussões podem gerar “especulações”.

Segundo ele, os BRICs estão mais avançados no debate sobre o uso de moedas locais em transações comerciais dentro do grupo, mas ainda assim, ainda em nível técnico.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Sáb Abr 17, 2010 2:20 pm
por Carlos Mathias
Olha, acho que o que menos querem é resolver questões nucleares no Irã, tá cheio de caroço nesse angú.
Lembre-mo-nos do Iraque, o escript é exatamente o usado naquela ocasião.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Seg Abr 19, 2010 10:06 am
por Marino
Mais um... :evil:
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ESPAÇO ABERTO
A nova estratégia nuclear dos Estados Unidos
*José Goldemberg
A cada dez anos o governo americano publica um importante documento sobre os princípios - isto é, a "doutrina" - nos quais se apoia a sua estratégia nuclear. É um documento genérico, que fixa as diretrizes a serem seguidas por todos os órgãos do governo e pelas Forças Armadas.
O último deles, publicado há dez anos, refletia ainda a atmosfera da guerra fria e uma postura truculenta que se agravou durante os oito anos do governo do presidente George W. Bush.
Ela representava bem a influência dos elementos mais conservadores do Senado norte-americano, que já haviam bloqueado a aprovação de tratados internacionais que levassem a uma distensão política com a Rússia na área nuclear. Exemplo dessa atitude é o que ocorreu com o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBC), que não foi ratificado pelo Senado. Esses senadores, de modo geral, defendem interesses corporativos dos setores envolvidos na produção de armas nucleares, que geram milhares de empregos e que são muito poderosos em alguns Estados americanos.
Fazia parte dessa "doutrina" a noção de que até ataques convencionais aos Estados Unidos, por países que não possuíssem armas nucleares, provocariam um revide nuclear.
Por essa razão, o único progresso na área de desarmamento nuclear que ocorreu nos últimos 20 anos foi a redução gradual, mas lenta, dos estoques de armas nucleares das grandes potências, que chegaram a ser de mais de 30 mil em cada uma delas e que ainda são consideráveis.
A eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos parece ter mudado significativamente essa situação. No seu famoso discurso em Praga, em abril de 2009, Obama declarou que os Estados Unidos "procurarão promover a paz e a segurança de um mundo sem armas nucleares".
A nova estratégia nuclear americana, de abril de 2010, reflete essa intenção e abandona a visão ultrapassada de manter, modernizar e até aumentar os estoques de armas nucleares e realizar testes. Ela concentra agora as atenções do governo em duas áreas: impedir a proliferação nuclear e evitar o terrorismo nuclear.
Ao fazê-lo, o governo dos Estados Unidos adota a posição dos antigos "falcões da guerra fria", como Kissinger e outros que se convenceram de que armas nucleares - que garantiram no passado a segurança do seu país contra um possível ataque da União Soviética - não são eficazes contra o terrorismo nuclear, que não tem responsabilidades de governo.
Além disso, as ameaças resultantes da posse de armas nucleares nas mãos de governos problemáticos como o Irã e a Coreia do Norte tendem a se propagar, porque há outros aspirantes à posse de armas nucleares em várias regiões do mundo que desejam contrabalançar as ameaças criadas por eles.
Num certo sentido, o governo dos Estados Unidos "jogou a toalha" e, finalmente, se convenceu de que a única maneira de garantir a sua própria segurança é reduzir a importância das armas nucleares e começar a cumprir o artigo VI do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) de 1967, que prevê a adoção de medidas sérias que conduzam ao desarmamento nuclear.
Esse artigo foi adotado, na época, para encorajar os países não nucleares a não promoverem o desenvolvimento de armas nucleares e restringirem o uso de energia nuclear para fins pacíficos.
Vários países não aceitaram esse tratado porque o consideraram discriminatório e desenvolveram armas nucleares, como a Índia, encorajando o Paquistão a fazer o mesmo. Isso, aliás, é o que acontecerá se o Irã produzir armas nucleares, uma vez que o Egito e a Síria provavelmente desejarão fazer o mesmo para contrabalançar sua influência.
A nova estratégia nuclear americana abre caminho para uma discussão adulta sobre o problema do desarmamento nuclear, porque daqui para a frente a não-proliferação nuclear (dos países que não
têm armas nucleares) e o desarmamento nuclear (dos países que as possuem) passam a marchar juntos.
A melhor indicação da seriedade dos Estados Unidos em adotar esse caminho é a decisão tomada de "não usar (ou ameaçar usar) armas nucleares contra países que são signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e que cumpram suas obrigações estabelecidas nesse tratado".
Seria muito útil que o Itamaraty estudasse com cuidado a nova estratégia nuclear dos Estados Unidos e abandonasse as tendências revisionistas que ainda existem no governo brasileiro.
O Brasil se tornou signatário do TNP em 1994, o que removeu o País da lista de "suspeitos" de tentar desenvolver armas nucleares, que é o caso do Irã hoje. A decisão brasileira reforçou os esforços mundiais para fazer com que os países nucleares seguissem o caminho do desarmamento nuclear, dos quais o próprio chanceler Celso Amorim participou no passado.
As vozes que se ouvem hoje - vindas inclusive do próprio Itamaraty - são que o Brasil abdicou da sua soberania ao aderir ao TNP, o que representa uma total incompreensão do que é o mundo real com ogivas nucleares programadas para atingir qualquer cidade do mundo, inclusive do Brasil.
A desnuclearização da América Latina, que se tornou realidade com a criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc) em 1992, e o abandono de programas nucleares semiclandestinos no Brasil e na Argentina estão dando frutos agora.
Nessas condições, uma política nuclear de aproximação com o Irã e o ceticismo a respeito das vantagens do Tratado de Não-Proliferação Nuclear são contrários aos interesses nacionais.
*É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Seg Abr 19, 2010 10:53 am
por Marino
Inacreditável posição da Veja contra o Brasil. :evil:
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PROGRAMA NUCLEAR
Bomba, pra que te quero
A convicção de que o Brasil tem direito à bomba A persiste em setores do governo e das Forças
Armadas. A diplomacia lulista em relação ao Irã é sinal disso
Ana Claudia Fonseca e Duda Teixeira
O ex-embaixador brasileiro em Paris Marcos de Azambuja disse certa vez que, ao contrário dos
países que procuram disfarçar medidas ilícitas de uma forma lícita, o Brasil gosta de dar uma aparência
ilícita a atividades perfeitamente lícitas. A observação é perfeita para descrever a postura ambígua da
diplomacia brasileira em relação aos esforços para coibir a proliferação de armas atômicas. O Brasil tem
um programa nuclear civil, mas age como se considerasse correto usá-lo para fins militares. Primeiro,
porque se recusa a apoiar sanções econômicas para convencer o Irã a desistir de seus planos de
desenvolver uma bomba atômica. Segundo, porque ameaça não aderir a uma renovação do Tratado de
Não Proliferação Nuclear (TNP). As sanções ao Irã e a revisão do TNP serão discutidas em reunião das
Nações Unidas marcada para o mês que vem, em Nova York. O Brasil está se isolando nesse tema,
como ficou claro na semana passada. Durante a Conferência de Segurança Nuclear nos Estados Unidos,
Lula criticou o anfitrião, o presidente Barack Obama, por seu plano de punir o Irã por suas ambições
atômicas. Obama, em resposta, demonstrou quanto considera irrelevante a opinião brasileira ao ceder
apenas três minutos de sua agenda para uma conversa com Lula. Dias depois, durante o encontro dos
Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) em Brasília, Lula tentou fazer proselitismo sobre o assunto. Os
presidentes Dimitri Medvedev, da Rússia, e Hu Jintao, da China, os únicos presentes com poder de vetar
uma proposta de sanção no Conselho de Segurança da ONU, não deram trela.
Ao defender países párias e distribuir bravatas contra os tratados de não proliferação, o governo
Lula faz a comunidade internacional supor que o programa nuclear brasileiro não tem fins pacíficos. "A
história brasileira e declarações recentes de membros do governo dão margem à especulação de que
poderia haver planos sigilosos de armas nucleares no país", diz o historiador Marco Antonio Villa. Desde
1975, quando o Brasil fechou um acordo com a Alemanha para a construção de reatores em Angra dos
Reis, os militares namoram a ideia de ter a bomba A. O governo de Ernesto Geisel chegou a cavar um
poço de 320 metros de profundidade na Serra do Cachimbo, no Pará, para testar artefatos atômicos. O
buraco, nunca utilizado, foi fechado em 1990. Suspeita-se que, no governo de João Batista Figueiredo, o
Brasil tentou colaborar com o ditador iraquiano Saddam Hussein para desenvolver armas atômicas. Em
1981, dois aviões iraquianos chegaram a levar yellow cake (urânio concentrado) do interior de São Paulo
para Bagdá. Em 2004, a comunidade internacional voltou a desconfiar quando o Brasil impediu a visita
de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, às instalações da fábrica de
enriquecimento de urânio que estava sendo construída em Resende, no Rio de Janeiro. Na época, o
governo justificou a proibição dizendo temer a espionagem industrial. Antes disso, Lula teve de demitir o
ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, por ter defendido o direito do Brasil de desenvolver a
tecnologia necessária para construir a bomba.
O desejo latente e, muitas vezes, mal disfarçado de alguns setores do governo de dar um passo
além no programa nuclear é alimentado pela noção de que há uma assimetria no direito internacional.
"Existe um grande desequilíbrio no mundo em relação ao poderio nuclear. Por isso, não há razão para
assinar um protocolo adicional ao TNP", diz Odair Dias Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de
Energia Nuclear, do Ministério de Ciência e Tecnologia. Se os Estados Unidos e a Rússia, as duas
maiores potências nucleares do mundo, não cumprem suas promessas de desmantelar seu arsenal, por
que os outros países vão ficar atrás? Simples. "O argumento da igualdade entre as nações aplicado à
questão nuclear pode ser verdade na teoria, mas é perigoso quando defendido por um presidente, como
tem feito Lula", explica o sociólogo Demétrio Magnoli. Nesse caso, a realidade se sobrepõe aos
princípios. Nove países detêm a bomba atômica. Estados Unidos e Rússia acabaram de assinar um
acordo se comprometendo a reduzir em 30% o seu estoque de ogivas. Pode não ser o suficiente, mas
pior do que eles manterem seus arsenais é a possibilidade de o clube atômico aumentar. Isso significaria
multiplicar o risco de um conflito apocalíptico. Sem contar o perigo, ainda mais real, de as armas
nucleares caírem nas mãos de terroristas.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Seg Abr 19, 2010 10:57 am
por Marino
Carta Capital:

REDUÇÃO DE ARSENAL NUCLEAR
Economia de bombas
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
A cúpula de Segurança Nuclear em Washington nos dias 12 e 13 de março deve ser entendida,
antes de mais nada, como uma tentativa dos EUA e aliados, de manter o status quo geopolítico ao
menor custo militar e econômico, por meio de um concerto de potências nucleares. Menos ruim, é
provável, que o unilateralismo belicoso do primeiro governo Bush júnior, mas continua a ser um esforço
no sentido de salvar uma hegemonia em risco.
A preparação incluiu um acordo entre Washington e Moscou sobre redução de arsenais
nucleares e uma revisão da estratégia nuclear dos Estados Unidos, segundo a qual o país, mesmo
atacado com “armas de destruição em massa”, promete não usar armas nucleares contra nações que
não as possuam se – a ressalva é importante – estes cumprirem o Tratado de Não Proliferação Nuclear
(TNP).
Nenhuma das duas decisões é exatamente o que parece. Ao contrário do acordo nuclear
anterior, entre Bush pai e Mikhail Gorbachev, o novo nem sequer exige que as ogivas postas fora de
serviço sejam de fato inutilizadas: podem ser deixadas de reserva e reativadas em questão de dias, se a
conjuntura mudar.

Da mesma forma, se a conjuntura mudar, a “nova postura nuclear” de Obama pode ser alterada
de uma penada, como se fez em relação a Bush júnior
. Além de ser um retrocesso em relação a
posições anteriores. Antes de 2002, quando o Júnior anunciou a doutrina que fez do “eixo do mal” um
alvo potencial de bombas atômicas – o que levou a Coreia do Norte a expulsar os inspetores da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), retirar-se no ano seguinte do TNP e detonar sua bomba
atômica em 2006 –, a posição dos EUA era que armas nucleares seriam usadas apenas contra potências
como China e Rússia.
Não que tais declarações tenham algum valor além de propaganda: em 1968, a União Soviética
de Leonid Brejnev comprometeu-se a jamais ser a primeira a usar armas nucleares em um eventual
confronto. A Otan não acreditou nem o imitou e, em 1993, quando Boris Yeltsin abandonou esse
compromisso, ninguém se preocupou. Promessa por promessa, o Irã também garante jamais produzir,
estocar ou usar armas nucleares, não por uma mera ordem executiva, mas por uma fatwa de setembro
de 2004 do líder supremo Ali Khamenei, um parecer fundado na lei islâmica que é quase tão difícil de
revogar quanto um pronunciamento dogmático do papa.
A tese iraniana de “energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”, é defensável.
Em troca de promessas que podem ser abandonadas em horas, espera-se que outros países joguem
fora muitos anos de pesquisa e investimento necessários para se desenvolver a capacidade de produzir
combustível nuclear por conta própria – a única violação de que o Irã pôde, até agora, ser acusado com
provas. E que acatem as decisões de uma cúpula da qual a sexta potência nuclear do mundo, Israel,
recusa-se a participar por temor de que países como Turquia e Egito cobrem sua adesão ao Tratado de
Não Proliferação (ao qual o Irã aderiu), rompendo o pacto de silêncio pelo qual seu arsenal atômico é
deixado de lado pela mídia e pela ONU, como se fosse parte da ordem natural das coisas: “A política de
ambiguidade (nuclear) é o fundamento de toda a segurança de Israel, sempre o foi e continuará a ser.
Obama não exigiu que ela fosse alterada”, disse o vice-chanceler israelense Danny Ayalon em entrevista
à emissora de rádio do seu Exército.
De resto, o mundo ideal de Obama talvez fosse “livre de armas nucleares”, segundo as
declarações que lhe renderam o Nobel da Paz de 2009, livre e até de caças que contribuam para o efeito
estufa, a julgar pela apresentação recente de um F-18 parcialmente movido a biocombustível, o “Green-
Hornet”. Mas de nenhuma forma um mundo livre de golpes militares devastadores. O programa de
Ataque Global Imediato Convencional (Conventional Prompt Global Strike – CPGS), citado pelo
Departamento de Estado em 9 de abril, pretende contornar as limitações ao arsenal nuclear.
Desenvolveria armas convencionais avançadas e de longo alcance que Moscou não seria capaz de
emular, tais como armas hipersônicas que proporcionariam a velocidade e alcance de um míssil balístico
internacional a uma ogiva convencional.
Supostamente, teriam o mesmo poder de dissuasão das armas nucleares, trocando poder de
destruição indiscriminada por mais precisão, com menos risco de envenenamento radioativo do planeta.
Em troca, podem aumentar a tentação, para os estadunidenses, de ameaçar ou atacar com leviandade,
com o risco de atingir alvos errados e provocar uma retaliação nuclear. A quem, exatamente, interessa
tornar a guerra mais viável, politicamente correta ou ecologicamente sustentável?
Dito isso, a cúpula que reuniu 47 nações não deixa de ser um fato geopolítico a se levar em
conta, sejam ou não verdadeiros os discursos com os quais se apresenta. Ao contrário de seu
predecessor, Obama parece levar a sério o multilateralismo das grandes potências – mas só destas –, a
ponto de oferecer concessões palpáveis. Para melhorar as relações com a Rússia, desistiu dos
antimísseis na Polônia e parece ter admitido implicitamente uma esfera de influência russa, ao aceitar a
vitória do candidato pró-russo na Ucrânia e reconhecer rapidamente o (popular) golpe de mesma
orientação no Quirguistão. Até que ponto outros poderes têm interesse em colaborar?
A Rússia tem interesse aparente em congelar as relações de força, pois seu prestígio
internacional depende em grande parte do arsenal herdado da União Soviética. Sob outros aspectos, é
hoje uma média potência tentando recuperar algo do peso que perdeu em termos econômicos e ainda
mais em capacidade de inovação independente desde o colapso do socialismo. O Reino Unido é
militarmente um apêndice do Pentágono desde os anos 50, a França abriu mão da sua relativa
autonomia estratégica com o fim do gaullismo e a União Europeia como um todo, enfraquecida por
divisões internas, não tem perspectiva de se tornar um poder militar global em futuro previsível.
Restam Índia e Paquistão que, embora donas de arsenais de alcance limitado, se impuseram
como potências nucleares contra a vontade das forças ocidentais. E a China, que não é pouca coisa.
Terceira potência nuclear, tem mísseis de alcance mundial, um vasto exército convencional, capacidade
tecnológica ascendente (produz hoje quatro vezes mais artigos científicos que a Rússia) e uma economia
em crescimento explosivo cujas necessidades de insumos e de mercados obrigam o governo de Pequim,
queira ou não, a ampliar sua dimensão geopolítica, inclusive do ponto de vista militar.
A ambiguidade chinesa é a pedra no sapato do presidente dos EUA, contra a qual pouco pode
fazer, além de tentar interpretá-la a seu favor. Tem para isso o apoio de grande parte da mídia
estadunidense e ainda mais da brasileira – mais que nunca, disposta a reduzir o noticiário internacional a
peça de propaganda eleitoral – mas a realidade não é bem essa.
Na cúpula, Obama disse que a China já enviara um representante aos EUA para negociar
sanções econômicas ao Irã. Os chineses preferem dizer, porém, que a solução será o diálogo. Em outras
ocasiões-, disseram só admitir sanções que não prejudicassem os iranianos civis, ou seja, nãoeconômicas.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, ironizou a propaganda dos EUA, repercutida e
exagerada pelos setores da mídia brasileiras aos quais interessa fazer parecer que “o Brasil ficou
isolado”: “Vou procurar saber o que a China disse aos EUA no Brasil, na reunião dos BRIC” (dias 15 e
16, em Brasília).
Ao Brasil, como à Turquia, interessa uma solução pacífica para o Irã. O presidente Lula e o
primeiro-ministro Recep Erdogan pressionaram e obtiveram uma reunião de última hora com Obama
para apresentar uma proposta comum – a Turquia, neutra, teria o material nuclear do Irã sob sua guarda
e responsabilidade enquanto o urânio fosse enriquecido. Obama a ouviu e não se opôs à iniciativa, mas
não a apoiou e continuará a campanha por sanções econômicas no Conselho de Segurança e
certamente irritou-se com o rompimento público da falsa unanimidade contra Teerã.
Tanto Brasília quanto Ancara querem mais do que marcar posição. Para se opor às sanções, têm
interesses comerciais importantes no Irã e também estratégicos, ainda que não da mesma natureza.
A Turquia, vizinha do Irã e de todas as embrulhadas do Oriente Médio, só tem a perder com a
possibilidade de guerra ou desestabilização da região – inclusive territorialmente, visto que isso cria
oportunidades para seus rebeldes curdos. E o país,- depois de décadas de tentativas frustradas de
associar-se à União Europeia e obter vantagens de sua tradicional fidelidade ao Ocidente, passou a
eleger governos islâmicos, menos simpáticos a Tel-Aviv e mais próximos dos árabes e do Irã. Em 6 de
abril, o chanceler israelense Avigdor Lieberman acusou Erdogan de “estar se transformando em um
Kadafi ou Hugo Chávez”. No dia seguinte, o primeiro-ministro turco respondeu em Paris que “Israel é a
maior ameaça à paz no Oriente Médio”.
Ao Brasil, mesmo sem vínculos tão imediatos quanto o Irã, não convém abrir precedentes para
sanções das potências nucleares contra países com desenvolvimento autônomo de energia nuclear para
fins pacíficos, que é também o seu caso. Já em 2004, o Brasil, para proteger de espionagem industrial
sua tecnologia, vetou a inspeção das centrifugadoras de urânio em Resende (RJ), e permitiu à AIEA
apenas monitorar válvulas e tubos para medir a produção, o que foi aceito. E em março deste ano, tanto
o governo quanto os militares rejeitaram como “invasivo” o adendo promovido pelos Estados Unidos ao
TNP, que a AIEA apresentou em março e pretende impor a todos os signatários, pelo qual teriam de se
submeter a frequentes e detalhadas inspeções de surpresa para ter o “direito” de exportar urânio.
Nesse mundo de relações de poder em dissolução e movimento, não há garantia de que Obama
ou os EUA de fato consigam seus objetivos e o Brasil tem optado por não colocar todos os ovos na
mesma cesta. Prefere caças franceses, faz um acordo militar com os EUA para viabilizar troca de
equipamentos e tecnologia (e abrir espaço para a Embraer no mercado norte-americano), mas também
abriga em Brasília a reunião com as outras três potências, nucleares, que com ele formam o BRIC e têm
interesses econômicos e geopolíticos bem distintos do bloco ocidental, às vezes opostos.
De Washington, Lula, Hu Jintao, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e (com escala em
Buenos Aires) o presidente russo Dmitri Medvedev vão a Brasília conferenciar com objetivos
principalmente econômicos, mas isso inclui o uso de suas próprias moedas no comércio mútuo, em
substituição ao dólar – um fator a mais de corrosão de uma hegemonia já ameaçada – e intercâmbio
militar, incluindo a possível instalação de fábricas russas de carros blindados Tigre e caminhões militares
Kamaz no Brasil, a serem exportados para outros países latino-americanos.
As pressões por maior controle de material e processos nucleares devem, porém, continuar.
Obama parece levar muito a sério o risco de organizações terroristas conseguirem uma arma nuclear.-
Segundo seus especialistas, a Al-Qaeda- tenta adquirir materiais nucleares há 15 anos, embora
aparentemente não tenha capacidade técnica de construir uma bomba atômica. Sabe-se, de ao menos,
18 casos de roubo ou desaparecimento de materiais nucleares. Em novembro de 2007, quatro homens
armados chegaram a invadir um depósito sul-africano com urânio enriquecido, suficiente para doze
bombas antes de serem repelidos.
Nesse sentido, o maior risco não é o Irã, cujo regime é estável, mas o Paquistão. Notoriamente,
tem um governo precário e forças armadas cheias de fundamentalistas e sofre contínuos atentados e
ataques guerrilheiros do Taleban. Mas não só enriquece urânio e tem armas nucleares, como está
construindo dois reatores para produzir plutônio e bloqueando a proposta de Obama de um tratado para
deter a produção de material militar no mundo. E os EUA preferem deixar o problema de lado, por
precisarem do Paquistão para sua estratégia no Afeganistão – e nem sequer consideraram o problema
na agenda da Cúpula.

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Seg Abr 19, 2010 1:11 pm
por Hader
Olha Marino, eu ficaria muito surpreso se da Veja viesse algo à favor do Brasil... Existe uma diretiva clara para aumentar o barulho ao redor deste assunto, dentro do esquema que eu já explicitei aqui. Infelizmente a coisa vai piorar muito ainda...

Abraços!

Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil

Enviado: Seg Abr 19, 2010 1:47 pm
por Bender
Hader escreveu:Olha Marino, eu ficaria muito surpreso se da Veja viesse algo à favor do Brasil... Existe uma diretiva clara para aumentar o barulho ao redor deste assunto, dentro do esquema que eu já explicitei aqui. Infelizmente a coisa vai piorar muito ainda...

Abraços!
Voce está certo Hader,o ultimo Globo news Painél,foi sobre oque? TNP e a postura irresponsável do Brasil comando do WWaaaack. Convidados? Só os que dizem amém,teve um prof. da Usp que falou até que essa atitude de compras de novas armas para as FAs era "sem sentido",não temos inimigos nem virtuais.

Ontem entrevista com sr. Pres. FHC no canal Livre da bandeirantes,e repetida hoje incansavelmente por todas as emissoras do grupo desde cedo,assunto do miolo,a irresponsabilidade e pourralouquice da Politica externa Petista e das posições brasileiras quanto ao Irã e TNP,é a voz dos "responsáveis",pregando o "medo" como disseste muito bem em outro post Hader,se quisermos ser "irresponsáveis" não seremos mais confiáveis e teremos misseis balísticos apontados para nossas bundas.

Vem mais "eu tenho medo" por ai,muito mais,realmente vai piorar e muito.

Sds.