Enviado: Sáb Fev 11, 2006 4:31 pm
Entrevista
José Elito Carvalho Siqueira: comandante da Força das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti
'Não demos nenhum tiro durante votação', diz general
O comandante da Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), general José Elito Carvalho Siqueira, afirmou, em entrevista ao Estado, que está satisfeito com a relativa tranqüilidade das eleições do dia 7, mas adverte que a missão de paz não termina logo. "Acho que precisamos de pelo menos mais um contingente brasileiro", observou o comandante, que tem 7.500 homens sob suas ordens,
entre os quais 1.200 brasileiros.
Existe hoje no Brasil uma opinião crescente de que as tropas devem voltar. Um dos argumentos é que se o Exército está fazendo um trabalho de polícia no Haiti, por que não o faz também no Brasil, por exemplo no combate a traficantes em favelas do Rio?
Não vi no Brasil essa grande quantidade de opiniões sobre o retorno da tropa brasileira. Vejo opiniões contrárias e a favor, como é natural em qualquer fato complexo como é esse. Quanto ao papel de polícia no Rio, essa é uma decisão do governo. Nós somos uma república federativa. Os problemas dos Estados brasileiros, antes de mais nada, são de seus governadores. Para que o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica, como força armada, possa participar de uma ação dessa natureza, tem de ser determinado pelo presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas. Algumas vezes fomos empregados em operações dessa natureza.
Qual é a relação da população do Haiti com a tropa brasileira? Soldados que estiveram aqui denunciaram, recentemente, sem se identificar, que os brasileiros atiravam quase todos os dias e havia pelo menos um morto por dia. O sr. tem conhecimento disso?
Absolutamente, não. O que há hoje é um congraçamento, como se vê em Bel Air e em Cité Militaire. O brasileiro é benquisto em qualquer lugar do mundo. Não há esse antagonismo, muito pelo contrário, há uma empatia muito grande. Quanto às denúncias, são notícias soltas, sem nenhum argumento. Pelos dados que tenho aqui, em um ano e meio morreram dois civis em confrontos com as tropas da Minustah. É uma coisa insignificante, se podemos assim dizer. As regras da ONU são muito rígidas quando vamos para uma ação real. É rígido o controle de disparo de arma. Na eleição não houve um disparo de arma (houve tiros com balas de festim em dois locais). Imaginem se fosse um morto por dia, com que número estaríamos hoje?
Há informações de que os generais Augusto Eleno e Urano Bacellar, que ocuparam o comando antes do sr., sofreram pressões para que fossem mais duros na repressão. O sr. também sente alguma pressão?
Não há essa pressão. Não somos força de ocupação, nós somos força de estabilização. Quando se entrou em Bel Air ou em Cité Militaire foi uma decisão pensada, em nível de governo, de polícia, não contra ninguém, mas para melhorar as condições de vida da população destas áreas.
O chefe do serviço Desarmamento, Desmobilização e Reinserção da ONU disse que em Cité Soleil há pelo menos mil disparos por dia vindos das gangues, aos quais as tropas, no caso o contingente da Jordânia, respondem com 2.000 disparos. É um tiroteio que deve ter seu custo em perda de vidas humanas. Não aparecem cadáveres?
Os disparos existem realmente. Mas são disparos sem nenhum objetivo. Essa situação não pode continuar. Mas precisamos fazer alguma coisa mais ampla com apoio da população. Não adianta só invadir, ocupar. E daí? Tem senhoras, tem crianças. Temos de fazer alguma coisa com um projeto de assistência social complementar. Tem de ser uma coisa bem pensada, para evitar que pessoas inocentes sejam atingidas por disparos.
Fotos:
Fonte: Defesa @ Net
José Elito Carvalho Siqueira: comandante da Força das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti
'Não demos nenhum tiro durante votação', diz general
O comandante da Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), general José Elito Carvalho Siqueira, afirmou, em entrevista ao Estado, que está satisfeito com a relativa tranqüilidade das eleições do dia 7, mas adverte que a missão de paz não termina logo. "Acho que precisamos de pelo menos mais um contingente brasileiro", observou o comandante, que tem 7.500 homens sob suas ordens,
entre os quais 1.200 brasileiros.
Existe hoje no Brasil uma opinião crescente de que as tropas devem voltar. Um dos argumentos é que se o Exército está fazendo um trabalho de polícia no Haiti, por que não o faz também no Brasil, por exemplo no combate a traficantes em favelas do Rio?
Não vi no Brasil essa grande quantidade de opiniões sobre o retorno da tropa brasileira. Vejo opiniões contrárias e a favor, como é natural em qualquer fato complexo como é esse. Quanto ao papel de polícia no Rio, essa é uma decisão do governo. Nós somos uma república federativa. Os problemas dos Estados brasileiros, antes de mais nada, são de seus governadores. Para que o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica, como força armada, possa participar de uma ação dessa natureza, tem de ser determinado pelo presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas. Algumas vezes fomos empregados em operações dessa natureza.
Qual é a relação da população do Haiti com a tropa brasileira? Soldados que estiveram aqui denunciaram, recentemente, sem se identificar, que os brasileiros atiravam quase todos os dias e havia pelo menos um morto por dia. O sr. tem conhecimento disso?
Absolutamente, não. O que há hoje é um congraçamento, como se vê em Bel Air e em Cité Militaire. O brasileiro é benquisto em qualquer lugar do mundo. Não há esse antagonismo, muito pelo contrário, há uma empatia muito grande. Quanto às denúncias, são notícias soltas, sem nenhum argumento. Pelos dados que tenho aqui, em um ano e meio morreram dois civis em confrontos com as tropas da Minustah. É uma coisa insignificante, se podemos assim dizer. As regras da ONU são muito rígidas quando vamos para uma ação real. É rígido o controle de disparo de arma. Na eleição não houve um disparo de arma (houve tiros com balas de festim em dois locais). Imaginem se fosse um morto por dia, com que número estaríamos hoje?
Há informações de que os generais Augusto Eleno e Urano Bacellar, que ocuparam o comando antes do sr., sofreram pressões para que fossem mais duros na repressão. O sr. também sente alguma pressão?
Não há essa pressão. Não somos força de ocupação, nós somos força de estabilização. Quando se entrou em Bel Air ou em Cité Militaire foi uma decisão pensada, em nível de governo, de polícia, não contra ninguém, mas para melhorar as condições de vida da população destas áreas.
O chefe do serviço Desarmamento, Desmobilização e Reinserção da ONU disse que em Cité Soleil há pelo menos mil disparos por dia vindos das gangues, aos quais as tropas, no caso o contingente da Jordânia, respondem com 2.000 disparos. É um tiroteio que deve ter seu custo em perda de vidas humanas. Não aparecem cadáveres?
Os disparos existem realmente. Mas são disparos sem nenhum objetivo. Essa situação não pode continuar. Mas precisamos fazer alguma coisa mais ampla com apoio da população. Não adianta só invadir, ocupar. E daí? Tem senhoras, tem crianças. Temos de fazer alguma coisa com um projeto de assistência social complementar. Tem de ser uma coisa bem pensada, para evitar que pessoas inocentes sejam atingidas por disparos.
Fotos:
Fonte: Defesa @ Net