Artigo interessante...
27/11/2006 08:50
A 4a Força Militar
Luis Nassif (
http://luisnassifeconomia.blig.ig.com.br/)
Coluna Econômica – 27/11/2006
Durante um dia de discussões sobre Tecnologia Militar, em evento promovido na semana passada pelo Projeto Brasil (
http://www.projetobr.com.br),
o ponto que saltou à vista foi a carência de um novo agente, institucional, que possa coordenar os esforços de pesquisa e desenvolvimento do setor – hoje distribuídas sem maior coordenação pelas três forças.
Por exemplo, na área de pesquisa acadêmica, o grande agente indutor são os sistemas de avaliação, não apenas de trabalho como de instituição. Os sistemas de avaliação (Capes, CNPQ, Fapesp) exigem publicidade das pesquisas e avaliação. Na indústria da segurança, muitas pesquisas são sigilosas. O ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), por exemplo, é prejudicado pelo fato de muitas de suas pesquisas terem caráter sigiloso.
O mesmo se aplica aos financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O banco exige planos de negócios detalhados. Na indústria de segurança, seria inviável, pois identificaria questões estratégicas para adversários e/ou concorrentes.
O modelo que o país poderia se espelhar seria o do DGA (Departamento Geral de Armamentos) francesa, cujo funcionamento foi explicado, no seminário, por Yves Robins, vice-presidente da Dassault Aviation.
O DGA é a responsável pela industrialização de todo o sistema de defesa da França. Foi constituída quando a França decidiu desenvolver equipamentos nucleares de dissuasão.
É considerado uma espécie de quarta força, ao lado do Exército, Marinha e Aeronáutica. Seu papel é fornecer às Forças Armadas todos os equipamentos necessários, coordenar as pesquisas e obter a sinergia com o meio acadêmico e empresarial em sete campos de tecnologia de base, entre os quais informática, matemática e robótica; mecânica física de fluidos e sólidos; ótica e fotônica etc.
O DGA desenvolve uma política bastante ativa de prêmios e concursos na Europa. No ano passado montou um concurso franco-europeu, no qual juntou todas as universidades em um campus, para discutir o desenvolvimento de veículos sem piloto. O encontro gerou um conjunto grande de idéias sobre técnicas de propulsão e controle de vôos.
Um de seus principais projetos é o PEA (Programa de Estudos à Montante). Nele, o DGA determina em que área da tecnologia ela precisa avançar. Definida, se dirige à indústria civil e às universidades e encomenda esses avanços.
A nova geração dos radares de varredura alternativa do Rafard (o novíssimo avião de combate da Dassault) foi desenvolvida e aperfeiçoada graças a essa fórmula do PEA. Além disso, o DGA apóia teses, estágios, pós-doutorados.
Nos últimos anos, a tecnologia militar passou a buscar cada vez mais sistemas de prateleira para desenvolver seus projetos, visando baratear o desenvolvimento e permitir a sinergia com outras aplicações. E aí, mais uma vez, a centralização nas mãos de um organismo central ajuda a dar foco aos investimentos.
Obviamente, modelo nenhum dará certo se não houver recursos orçamentários permanentes, e não sujeitos ao contingenciamento que tem marcado esse superávit fiscal à brasileira.