Isso ficou para o futuro.
Conhecimento auferidos pela 1ª comitiva militar do Exército Brasileiro ao Vietnã
A vivência prática acumulada pelas Forças Armadas Vietnamitas, ao longo de dois séculos de guerra, adquirida nos Teatros de Operações (TO), contra poderosos e diferentes inimigos, fez com que a Nação do Vietnã passasse a ser conhecida mundialmente.
Para contrapor-se às políticas imperialistas dos países do continente asiático e ao domínio colonialista e expansionista das grandes potências ( respectivamente: na Idade Antiga, com a invasão dos mongóis; na Idade Média, com a violação do seu território pelos chineses e japoneses; na Idade Moderna, com a tentativa de colonização dos franceses e , finalmente, na Era Contemporânea, com a invasão do império norte-americano), as Forças Armadas Vietnamitas desenvolveram uma Doutrina Militar própria: a Doutrina do Combate de Longa Duração.
As Forças Vietnamitas, ao longo dos tempos, travaram inúmeros combates em que impuseram derrotas a potências militares incotestavelmente superiores, utilizando-se da Doutrina do Combate de Longa Duração. Isto permitiu e possibilitou o desenvolvimento de técnicas e táticas de Combate de Resistência, nos níveis estratégico e tático.
Considerando esse contexto, e visando a uma aproximação com a nação Vietnamita, em particular com as suas Forças Armadas, a Força Terrestre do Brasil, por proposta do Comando de Operações Terrestres ( COTer), planejou a criação da 1ª Comitiva Militar do Exército Brasileiro, enviada posteriormente em visita ao Vietnã.
A missão precípua da comitiva era buscar, inicialmente, uma aproximação com a Força Terrestre Vietnamita, tendo por finalidade agendar, em futuro próximo, visitas e reuniões de intercâmbio doutrinário em que seriam trocados conhecimentos militares nos níveis estratégico, operacional e tático, com ênfase nas áreas de inteligência, operações e emprego de tropa ( pequenas frações) em região de cobertura vegetal ( floresta tropical).
Do estudo prévio realizado pela comitiva e de comum acordo com o Secretário Geral da Embaixda do Vietnã, organizou-se um roteiro para a visita oficial.
A comitiva desembarcou, inicialmente, na capital Hanói, centro político daquele país, permanecendo naquela cidade por três jornadas, tendo cumprido a seguinte agenda: audiência oficial com o Embaixador Alcides Prates, na Embaixada Brasileira; visita à cidade de Há Long Bay e ao Museu do então Presidente Ho Chi Minh. Visitou, ainda, duas Grandes Unidades, os Quartéis-Generais da Forças Armadas Vietnamitas e da 308º Divisão de Exército, e o Museu de História Militar.
Na quarta jornada, a comitiva se deslocou para a cidade de Ho Chi Minh, antiga Saigon, centro econômico do país, permanecendo por três jornadas, onde visitou o Quartel-General da 7ª Zona Militar, o Museu de História da 2ª Guerra da Indochina ( Guerra do Vietnã) e os túneis subterrâneos de “ Cu Chi”.
Fazendo uma retrospectiva da visita, poder-se-ia apresentar, inicialmente, com a finalidade de ambientar o leitor deste artigo, as características da área.
O Vietnã está localizado na penísula da Indochina, nome consagrado em função da situação geográfica dos países que estão situados entre a Índia e a China.
O Vietnã está incrustado no epicentro da Ásia. Ao norte, faz fronteira com a República Popular da China; a leste, liga-se à Ásia Insular; e a oeste, faz fronteira com o Laos e o Camboja.
Sua formação é alongada de norte para sul, tomando um formato semelhante à letra “S” sendo o norte mais largo, estreitando-se à medida que se aproxima da parte meridional do país.
Pode-se comparar as dimensões territoriais do Vietnã, que apresenta uma área de 329.566 km2, ao estado de Goiás, que possui uma área de 341.289 km. A orografia vietnamita assemelha-se ao relevo da Região do Estado do Rio de Janeiro, com uma zona de planície costeira ao longo dos 3000 Km de litoral, esbarrando com a Serra de Anamita mais ao interior do país, muito semelhante à Serra do Mar brasileira, onde predomina uma vasta área montanhosa sob cobertura vegetal.
A hidrografia do Vietnã apresenta duas grandes bacias: uma localizada ao norte do rio Vermelho; e outra, ao sul, com um grande emaranhado de canais: a bacia do Delta do rio Mekong.
O clima é Equatorial com intensas chuvas, muito semelhante ao clima dominante na Região Amazônica, com eventuais furacões e fortes tempestades na Região do Pacífico Sul.
A vegetação abriga um tipo de floresta tropical idêntica à cobertura vegetal da Região Amazônica.
O litoral ao norte é escarpado, com formações de corais e águas calmas, enquanto o litoral sul é plano, com grande extensões de praias, sendo o mar extremamente agitado, apresentando onda fortes e gigantescas.
Pode-se afirmar que o Vietnã possui as mesmas características geográficas do Brasil, no que se refere aos aspectos de geologia, orografia, hidrografia, clima, vegetação e o litoral, pois apresenta uma posição relativa entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, próximo à linha do Equador.
Quanto às peculiaridades históricas, o que chamou a atenção da comitiva foi o envolvimento da Nação Vietnamita em inúmeras guerras, desde a Idade Antiga até a Era conteporânea.
Uma das características inegáveis da história do Vietnã, claramente reconhecida pelos historiadores, é que, desde a fundação do primeiro Estado Vietnamita ( no sécilo II A.C. com a Disnastia Qin), até 1975 ( fim da Guerra do Vietnã), a Nação conviveu com a ocupação estrangeira; consequentemente, lutou incessante e incansavelemente.
O Marco inicial da formação da nação do Vietnã deu-se com a guerra de resitência incrementada contra a Dinastia Qin ( 215-210 A.C) e só veio a ser consolidada com o término do colonialismo francês, na célebre batalha de Diên Bieên Phu em 1954.
Foram 22 séculos de guerra contra mongóis, japoneses, chineses, frnceses e norte-americanos. Ao longo deste vasto período de guerras, a Nação Vietnamita criou uma doutrina militar própria de combate de residtência, aprimorando-a, aperfeiçoando-a e adaptando-a ao longo do tempo conforme o inimigo ou potência que enfrentou.
A chamada Geurra da Indochina, travada desde 1946 até boa parte da segunda metade do século XX, é a que mais chama a atenção dos estudiosos dos conflitos do após II guerra Mundial 9II GM).
A Guerra da Indochina é alvo de estudos nos bancos escolares de muitos estabelecimentos de ensino militar, em função de vários aspectos: pelo fato de ser o conflito bélico mais longo após a II GM; pelo incremento de táticas e técnicas de combate empregadas por ambos os exércitos rivais, com uso de pequenas frações e de tropa especiais; pela aparição e utilização de novas armas; pelos combates travados nos mais diferentes tipos de terreno, com combates em áreas urbanas e rural, de montanha e de selva, além dos combates em localidade; pela crueldade dos combates, etc.
A Guerra da Indochina divide-se em duas guerras distintas: a 1ª e a 2ª Guerra da Indochina respectivamente, também chamadas de Guerra Vietmin ( que durou de 1946 até 1954), contra as Forças Armadas Francesas; e a Guerra Vietcong, ou Guerra do Vietnã ( que durou de 1964 até 1975), contra as Forças Armadas norte-americanas.
Descrever qualquer aspecto da história militar do Vietnã e não fazer menção ao ilustre e maior estrategista de guerra de resistência da era moderna, General VO NGUYEN GIAP, seria deixar de relembrar o pai, criador e mentor da “ Guerra de Longa Duração”.
Podem-se resumir os feitos do General Giap na 1ª Guerra da Indochina, nas célebres palavras do então general Christian de Castries, das Forças Armadas Francesas, comandante da fortaleza de “ Dien Bien Phu”, que resistiu ao cerco vietnamita por 169 dias.
“ O mais doloroso para a honra nacional dos franceses é que a nossa derrota deu-se frente a gente nanica que combatia com sandálias de borracha e comia arroz com as mãos e seu comandante era ainda menor do que seus comandados, medindo apenas metro e meio”.
Descrever em poucas palavras a 2ª Guerra da Indochina ( Guerra do Vietnã) seria lembrar o artifício utilizado pelas forças vietnamitas na criatividade da construção de 250 Km de túneis subterrâneos não contínuos, criando e incrementando novas técnicas e táticas de combate.
Os famosos túneis de “ Cu Chi” fizeram a diferença no teatro de operações no Vietnã, ferramenta sábia e inteligente que foi utilizada pelos estrategistas vietnamitas contra aas tropas norte-americanas.
Os combatentes vietnamitas, com tipo físico franzino diante dos soldados americanos de estatura e envergadura muito superior, souberam explorar esta vantagem marcante, o que lhes permitiu camuflar e ocultar suas pequenas frações ( grupos de comabte) em verdadeiros “bunkers” subterrâneos, locais onde jamais os americanos ousaram pisar, muitos menos penetrar.
Também não se poderia deixar de lembrar o grande feito em matéria de apoio logístico incrementado pelas tropas vietnamitas.
A famosa “ trilha de Ho Chi Minh”, por onde eram transportados cerca de 60 toneladas de suprimentos por mês, das mais diversas classes, numa distância aproximada de 1600 km, foi sem sombra de dúvida, fator de desequilíbrio no comabte, o que possibilitou a vitória das Forças Armadas Vietnamitas.
Finalmente, e como conclusão deste artigo, pode-se-ia afirmar que, a par dos ensinamentos auferidos pela comitiva que visitou o vietnã, no ano próximo passado, o primeiro passo do nosso objetivo foi alcançado, o de consolidar uma aproximação com as Forças Armadas Vietnamitas, visando a uma integração e troca de conhecimentos sobre a Doutrina de Resistência. Fruto de nossa visita, o Governo do Vietnã, já incrementou e implantou uma Aditância militar junto à embaixada Vietnamita em Brasília.
Coronel Luiz Alberto Alves Rolla
Comando Militar do Nordeste