Encarte n.2 da edição 117 de T&D- ano 2009.
I GUERRA MUNDIAL
A pouco conhecida epopéia da Marinha do BrasilAutor - Paulo Maia
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A DNOG
Em janeiro de 1918, cumprindo ordens presidenciais, o ministro da Marinha, almt. Alexandrino de Alencar passou a adotar as medidas administrativas necessárias para organizar uma força naval a ser enviada ao exterior. Para o comando da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG) foi escolhido o contra-almirante Pedro Max Fernando Frontin, que comandava a Força Naval do Sul e era conhecido na Marinha por seu valor profissional e virtudes pessoais. Tinha, na ocasião, 36 anos de serviço ativo, tendo estado embarcado nos navios à vela e nos encouraçados da chamada Esquadra de 1910. Era um chefe de grande prestígio, por ser enérgico, competente e humano, além de possuir grande coragem física, demonstrada quando preservou, de arma em punho, o seu comando no cruzador”Rio Grande do Sul”, durante a eclosão da chamada Revolta da Chibata.
Foram designados para comporem a DNOG os cruzadores “Rio Grande do Sul” e “Bahia” e os contratorpedeiros “Rio Grande do Norte”, “Paraíba”, “Piauí” e “Santa Catarina”. A força brasileira deveria ficar subordinada ao Esquadrão inglês no norte da África e sua missão seria a guerra antisubmarino, no estreito entre o Arquipélago de Cabo Verde e a cidade de Dacar, tendo Gibraltar como base. O teatro de operações marítimo escolhido atendia, em princípio, à experiência da Marinha do Brasil em operações em regiões tropicais, a preocupação dos aliados com a ação impune dos submarinos naquela região focal de navegação e a escassez de navios para tais tarefas.
A área de atuação das belonaves brasileira era perigosa por ser de difícil navegação e também pelas doenças existentes. Os recursos estratégicos eram mínimos, não existia arsenal adequado para o apoio e o pessoal teria que viver em navios superlotados. A falta de uma base naval com recursos adequados levou o almirante Forntin a solicitar um navio de apoio e um rebocador de alto-mar.
Foram então, incorporados à Divisão o “Belmonte”, ex-alemão”Valesia”, armado como cruzador-auxiliar e base de operações e o rebocador”Laurindo Pitta”, ainda em serviço nos dias de hoje como navio-museu.
Os navios que compunham a Divisão eram relativamente novos e haviam chegado ao Brasil em 1910, mas já estavam obsoletos e possuíam uma organização inadequada para a guerra que estava sendo travada. A propulsão era realizada pelo vapor produzido pelo carvão em uma época que as “Classes” mais recentes utilizavam caldeiras que queimavam óleo combustível. Os contratorpedeiros estavam plenamente operacionais pois foram bem construídos e tinham boas condições marinheiras. Entretanto, por terem sido projetados para ações costeiras precisavam ter apoio permanente em terra e seu raio de ação era pequeno. Os cruzadores necessitavam ter os condensadores retubados, mas os tubos especiais não estavam disponíveis no país. Os navios também não possuíam hidrofones e dispositivos adequados para o lançamento de bombas de profundidade.
O Arsenal de Marinha do Rio de janeiro (AMRJ), apesar de grandes dificuldades materiais e de pessoal, conseguiu prontificar os navios no melhor tempo possível. Para a realização de tarefa tão urgente o AMRJ e a Divisão Naval contaram com o apoio da Companhia de Navegação Bahiana, de Salvador.
As tripulações deveriam ser voluntárias, e logo após a abertura do processo, o número de inscritos superava largamente as tabelas de dotação de pessoal dos navios, em evidente demonstração de sentimento de patriotismo e dever. Os oficiais e praças que tinham as melhores informações em suas cadernetas de registro histórico foram selecionados.
A DNOG, composta pelos cruzadores e contratorpedeiros, recebeu ordens de se fazer ao mar no dia 24 de julho de 1918, reunindo-se com o “Belmonte”e o “Laurindo Pita”, que partiram de salvador, na ilha de Fernando de Noronha. Na longa e penosa travessia do Atlântico, os cruzadores apresentaram problemas de formação de vácuo nos condensadores principais sendo obrigados a parar para reparos de emergência. O rebocador “Laurindo Pita”realizou várias manobras de transferência de água destilada, carvão e sobressalentes, do “Belmonte”para os navios de combate, além de auxiliar nas manobras de atracação e desatracação, nas mais diversas condições de tempo e mar, das belonaves que procuravam o costado do cruzador auxiliar, que por várias vezes recebeu dois navios, um de cada bordo, para o fornecimento de água potável e combustível.
A primeira escala foi em Freetown, Serra Leoa, na época uma colônia da Inglaterra, onde ouve o apoio e o recebimento de instruções para o trabalho junto com a Marinha de Sua Majestade. Ali as tripulações puderam ter algum descanso, mas foi nesta ocasião que, por uma falha no serviço médico, ocorreu o contato com uma doença ainda desconhecida, uma espécie de gripe, depois chamada de espanhola. O navio-transporte inglês “Mantua” que tinha a missão de lançar os corpos dos nativos atacados pela doença ficava fundeado a uma pequena distância dos navios da DNOG.
Quando se dirigia para o próximo porto, o de Dacar, na noite de 25 para 26 de agosto, o “Belmonte” sofreu um ataque de submarino, o qual foi avistado na superfície pelo pessoal de vigilância do “Bahia”, “Rio Grande do Norte”e “Laurindo Pita”. O torpedo lançado passou a cerca de 20 metros da popa. Os demais navios, navegando em zigue-zague, atiraram sobre o submarino, que acabou atingido pelos canhões de 101mm e de 47mm do “Rio Grande do Norte”e desapareceu nas profundezas do oceano.
Após a confirmação do afundamento do adversário pelo Almirantado inglês, o mesmo foi creditado ao bravo contratorpedeiro. Na cidade de Dacar, houve o longo flagelo entre os oficiais e praças da DNOG assolados pela mortífera gripe espanhola. A doença reduziu drasticamente as lotações dos navios brasileiros e isso resultou em que apenas o “Piauí”fosse deslocado para realizar patrulhas na área marítima das ilhas do cabo Verde. A navegação naquela região foi estabelecida pela Marinha Britânica como medida preventiva às doenças que atingiam o continente e estava sob forte ameaça da arma submarina alemã. No dia 01 de novembro, após o retorno a Dacar, o “Piauí”, apoiado por três hidroplanos franceses, realizou uma grande caçada a submarino, mas sem lograr êxito na sua localização.
No dia 03 de novembro, a Divisão suspendeu em direção a Gibraltar, sendo que na rota em direção aquela importante base naval haviam sido assinalados 17 submarinos e um deles o “U-50”, afundou o encouraçado “Britânia”, navio capitânia da Divisão do almirante Sheppard.
A DNOG entrou em Gibraltar no daí 10 de novembro, e participou das cerimônias em homenagem ao “Birmânia”. No dia 11 de novembro foi assinado o armistício e cessado as hostilidades. Com o término da guerra a DNOG, a convite dos respectivos governos, visitou a Inglaterra, Portugal e França representando o Brasil nas comemorações da vitória.
Na viagem para Porthsmouth, o “Belmonte”, encarregado de neutralizar a ameaça de minas flutuantes, destruiu duas delas e recolheu outra que foi desmontada na base naval inglesa.
Recebida com entusiasmo pela população e por todas as embarcações que estavam na baía, a DNOG cruzou a barra do Rio de Janeiro em 19 de junho de 1919.
Era a volta pra casa. No desembarque faltavam 10 oficiais e146 praças, mortos pela doença no cumprimento do dever.
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Transcrevi o texto e depois posto algumas fotos.
Espero que agregue,
Um abraço,
Tupi