Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#46 Mensagem por Moccelin » Sex Set 12, 2008 8:35 pm

Guerra, fiquei interessado nessas "listas de kits". Isso é uma listagem do que seria incluído em "kits oficiais" ou é só uma lista de recomendação?

Pergunto isso porque na minha pequena experiência militar uma das coisas que mais me espantam é a não existência de kits próprios do Exército... Até o kit de manutenção de armamento o sujeito tem que comprar e montar.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#47 Mensagem por Clermont » Qua Set 24, 2008 8:44 pm

SEGUNDO TEMPO NO LÍBANO: COMO AS FDI FOCALIZARAM, EXCLUSIVAMENTE, EM CONTRA-INSURGÊNCIA, E PERDERAM A HABILIDADE PARA TRAVAR GUERRA DE MANOBRAS.

Por Jonathan Zagdanski – Infantry Magazine, setembro-outubro de 2007.

Israel já derrotou exércitos árabes maiores, repetidas vezes, desde sua criação, em 1948. As Forças de Defesa Israelenses (FDI) apreciavam a reputação de invencibilidade entre seus vizinhos árabes, até que, no ano passado, Israel foi sangrado e paralisado no Líbano, por uma organização militar não-estatal: a ala militar do Hezbollah, a Resistência Islâmica (ou Al-Muqawama al-Islamiyya). O alto-comando israelense esperava que a força aérea, sozinha, esmagasse a Resistência. Ao invés, a força aérea matou muitos civis e destruiu propriedades, mas não pôde deter os foguetes e mísseis da Resistência que choviam, diariamente, sobre Israel. Quando as tropas das FDI tentaram abrir caminho em meio a uma defesa bem-preparada, fracassaram. Parece que os israelenses perderam sua habilidade para conduzir guerra de manobras de alta-intensidade. O que aconteceu com as FDI?

O PANORAMA ESTRATÉGICO.

Em 12 de julho de 2006, forças da Resistência Islâmica executaram uma emboscada deliberada contra duas viaturas blindadas das FDI, utilizando minas antitanque e rojões RPG. O ataque matou três e feriu dois. A Resistência, também, capturou dois soldados israelenses. As FDI, imediatamente, despacharam um pelotão mecanizado e um tanque “Merkava”, para libertarem os dois prisioneiros. O tanque atingiu um enorme (200 a 250 Kg) dispositivo explosivo improvisado (IED), que matou, instantaneamente, a guarnição de quatro homens. Um oitavo soldado israelense foi morto durante o tiroteio, com soldados da Resistência. Neste dia, o Hezbollah infligiu o mais alto índice de fatalidades contra Israel, desde 1987.

Desde meados dos anos 1980, Israel tinha escaramuças de fronteira com o Hezbollah. Em maio de 2000, Israel decidiu retirar suas tropas do sul do Líbano, assim, satisfazendo uma das exigências-chave do Hezbollah. Seguindo-se à retirada, Israel preveniu o Hezbollah de que, qualquer ação ofensiva além-fronteiras, resultaria em retaliação militar total. Após seis anos de relativa calma na fronteira, os líderes políticos e militares israelenses ficaram complacentes a respeito da ameaça do Hezbollah. Seu foco estava na destruição da infraestrutura terrorista palestina dentro de Israel.

Enquanto isso, as forças da Resistência Islâmica estiveram construindo posições defensivas convencionais para conter qualquer futura incursão israelense. O Irã enviou grandes quantidades de armas para a Resistência e forneceu treinamento militar para sua forças. Pelo verão de 2006, a Resistência não era mais uma esfarrapada organização guerrilheira: ela era uma força aprestada para combate, altamente treinada e capacitada para conduzir uma determinada defensiva.

A SITUAÇÃO TÁTICA.

Missão – A missão e o propósito da Resistência Islâmica era lançar mísseis sobre Israel de modo a causar danos físicos e psicológicos ao país. A missão de Israel era impedir o Hezbollah de lançar mísseis e minimizar baixas amigas.

Equipamento – O Hezbollah não era mais uma força guerrilheira. A arma individual do combatente da Resistência era o fuzil de assalto AK-47. Os combatentes, também, estavam armados com armas individuais antitanque, tais como o RPG-7, RPG-9, TOW, AT-3, AT-4, AT-5, AT-13 e o AT-14. O arsenal antiaéreo consistia dos mísseis SA-7 “Strela-2” e, possivelmeente, SA-18 “Grail; dos canhões antiaéreos ZU-23 e dos S-60 de 57 mm. Os foguetes de médio e longo alcance da Resistência consistiam do “Katyusha” 122 mm; o “Fair-3” de 240 mm; o “Fajr-5”, o “Zelzal-2” e o míssil de fabricação síria “Uragan”. Os mísseis antinavio da Resistência consistiam do C-820 e C-701. Elementos aéreos da Resistência consistiam do “Mirsad-1”, veículo aéreo não-tripulado (UAV), que é capaz de vigilância e observação.

De outro lado, as Forças Armadas israelenses são modernas e totalmente equipadas com as mais recentes armas e equipamentos. Israel tem um monte de equipamento de fabricação americana e produz sistemas militares de topo de linha, por si mesmo.

Terreno – O sul do Líbano é montanhoso, e seu terreno canalizador fornece boa ocultação, apesar da vegetação esparsa. Forças da Resistência tiveram a vantagem do terreno para embasar obstáculos anti-mobilidade pré-planejados, tais como fossos antitanque e minas. Combatentes da Resistência conheciam o terreno do sul do Líbano; os soldados das FDI, não.

Disponibilidade de tropas – As forças da Resistência empenharam entre 600-800 combatentes de tempo integral e 5 mil à 7 mil de tempo parcial. Israel empenhou 8 mil soldados de terra.

Disponibilidade de tempo – Os líderes políticos e militares de Israel sabiam que tinham, apenas, umas poucas semanas, antes que a pressão do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do mundo, interviessem para conter a ação militar israelense no Líbano. E, também, longas campanhas militares são extremamente custosas para a economia israelense. O Hezbollah, por outro lado, não tinha tais restrições de tempo. Muito pelo contrário, quanto mais a Resistência Islâmica pudesse resistir a Israel, mais apoio público iria conquistar, especialmente, no mundo árabe.

Civis no campo de batalha – A Resistência Islâmica estruturou suas defesas dentro dos centros de população civil. Eles desenharam suas defesas, sabendo que os israelenses seriam relutantes em infligir pesadas baixas civis entre seus inimigos. A defesa da Resistência forçou os israelenses a engajarem-se em perigosas lutas de casa-em-casa, e a sofrerem elevado número de baixas amigas.

Comparação das Forças Oponentes: as FDI – O nível de forças das FDI é de, aproximadamente, 125 mil soldados da ativa, dos quais, 40 mil são soldados profissionais. As FDI, também, podem convocar até 600 mil soldados da reserva. A força terrestre israelense tem quase 4 mil tanques, e 11 mil viaturas blindadas à sua disposição. Há três brigadas blindadas e quatro brigadas de infantaria da ativa. Estas últimas são similares em treinamento e organização. Cada brigada de infantaria é constituída por três batalhões de infantaria, uma companhia de comunicações e um batalhão de reconhecimento.

Antes da guerra, o chefe do estado-maior das FDI, general Dan Halutz, promoveu um sistema logístico de redução de custos, chamado “logística regional”. A iniciativa privava as unidades de seus elementos de apoio logístico e provou ser uma significativa desvantagem durante a guerra.

Tradicionalmente, o papel primordial das FDI tem sido defender Israel numa guerra convencional de alta-intensidade. Entretanto, anos de conflito de baixa-intensidade, com os palestinos, modificou seu treinamento para um foco, principalmente, em contra-insurgência urbana. A segunda Intifada aumentou o tempo operacional, ao ponto em que unidades regulares tiveram que reduzir, significativamente, seus tempos de treinamento. A maioria dos exercícios de treinamento envolviam, somente, elementos de valor companhia e pelotão. Exercícios de valor batalhão e brigada, tornaram-se raridades. Vários cortes orçamentários afetaram o treinamento e a prontidão das unidades de reserva. Em 2003, as unidades de reserva não conduziam treino algum, afinal! Os líderes do Exército decidiram limitar exercícios de treinamento em grande escala para os reservistas, a um em cada três anos.

Antes da guerra, Israel tinha demonstrado uma impressionante capacidade de coleta de inteligência contra seus inimigos. No entanto, agora, as FDI atacaram utilizando informações limitadas e inacuradas, concernentes à força, atividades e capacidades da Resistência Islâmica. Fatores políticos e orçamentários foram as principais razões para a falta de informações das FDI a respeito da Resistência.

Desde a Guerra do Yom Kippur de 1973, Israel tem estado, principalmente, envolvido em conflitos de média e baixa-intensidade. Esses tipos de conflitos são, principalmente, travados ao nível de companhia e abaixo. Portanto, líderes subalternos tem anos de experiência de combate, enquanto os líderes superiores carecem de experiência operacional.

O general Halutz, um antigo comandante da força aérea, focalizou a doutrina e o treinamento das FDI, somente em operações de contra-insurgência em terreno urbanizado. Ele acreditava que “assassínios selecionados” a partir do ar eram a técnica preferida para enfrentar terroristas. O general Halutz desviou fundos muito necessários da força terrestre para a força aérea. A força terrestre tornou-se de importância secundária na luta contra o terrorismo.

Apesar disso, o moral das tropas das FDI era alto, no começo da guerra no Líbano, devido aos repetidos sucessos contra os grupos terroristas palestinos. Os soldados israelenses estavam ansiosos para lutar e derrotar o Hezbollah, de uma vez por todas.

Comparação das Forças Oponentes: a Resistência Islâmica – As forças da Resistência numeram entre 600-800 de tempo integral e 5 mil-7mil soldados de tempo parcial. O Hezbollah ainda pode convocar cerca de 25 mil combatentes de reserva.

A Resistência Islâmica é a força paramilitar mais avançada tecnologicamente no mundo. Seus combatentes estão equipados com avançados equipamentos de visão noturna e de comunicações. Suas forças utilizam avançada tecnologia para coletar inteligência, tais como os UAVs “Mirsad-1”, equipados com câmeras infra-vermelho e navegação GPS. Durante a guerra, soldados israelenses encontraram salas cheias de equipamento de fabricação iraniana, incluindo dispositivos de escuta, computadores e dispositivos de comunicação.

O suprimento de armas e equipamentos do Hezbollah provém, principalmente, do Irã. O Hezbollah utilizava um complexo sistema de túneis e bunkers para armazenar armas, munição, alimentos, água e suprimentos médicos. A intenção dos comandantes da Resistência era que, cada sistema de bunkers fosse, totalmente, auto-suficiente.

O Hezbollah tinha instalado um efetivo sistema de comando, controle e comunicações, antes da guerra. A Resistência dividiu o sul do Líbano em diferente setores, cada um consistindo entre 12-15 aldeias. Suas forças utilizavam sofisticados equipamentos de comunicação por fibra óptica, que resistiram às contramedidas e interferências eletrônicas israelenses. Combatentes individuais utilizavam rádios Motorola criptografados para se comunicarem uns com os outros. Portanto, cada escalão de comando tinha controle da luta em andamento, e sabia da situação das posições de combate adjacentes. O Hezbollah, também, fez extensiva utilização da Internet para guerra de informações e propaganda, de modo a promover sua mensagem e ganhar apoio por todo o mundo árabe.

O Hezbollah mantinha um avançado aparato de inteligência. Ele coletava inteligência humana, principalmente de árabe-israelenses e druzos, que tinham servido nas FDI. Portanto, as forças da Resistência Islâmica sabiam, exatamente, as localizações de determinadas instalações militares por todo o Israel, e as alvejaram durante a guerra. O Hezbollah, também, utilizou grandes somas de dinheiro e drogas para recrutar informantes dentro de Israel. Finalmente, as forças da Resistência utilizaram UAVs para coletar inteligência contra Israel.

O COMBATE.

Em 12 de julho, o dia da emboscada, a Força Aérea Israelense respondeu com incursões aéreas visando cortar as linhas de suprimento da Resistência Islâmica. As operações terrestres das FDI começaram em 17 de julho, na vizinhança de Maroun Al-Ras. Forças da Resistência supreenderam as FDI com uma eficaz defesa consistindo de bunkers, túneis e posições de tiro. Levou seis dias de intenso combate aproximado para as FDI assegurarem a cidade de Maroun Al-Ras. A batalha custou às FDI seis mortos e 18 feridos. Uma vez segura, Maroun Al-Ras tornou-se o local de lançamento das operações de combate de seguimento das FDI, contra a cidade de Bent Jbail, uma grande cidade xiita bordejando Israel. Antes da entrada em Bent Jbail, a artilharia israelense atingiu alvos nas suas vizinhanças com, aproximadamente, 3 mil granadas. Apesar da preparação de artilharia, as FDI encontraram uma dura resistência. Combatentes da Resistência conduziram numerosas emboscadas antitanque e com IEDs, enquanto permaneciam ocultos nas ruínas da cidade. Eles tiveram sucesso ao destruírem um tanque “Merkava”, matando dois homens da guarnição. A 35ª Brigada Aeroterrestre foi encarregada de estabelecer posições de bloqueio ao noroeste da cidade, mas foi incapaz de alcançar seu objetivo. A Brigada “Golani” movimentou-se para o leste da cidade, mas caiu debaixo de intenso fogo de mísseis antitanque, rojões RPG e fogo de morteiros, que provocaram 30 baixas. As ruas estreitas tornavam difícil e perigoso, para as viaturas blindadas israelenses manobrarem.

Após oito dias de intenso combate, a cidade de Bent Jbail ainda não estava, completamente, segura. Por conseguinte, os comandantes terrestres das FDI detiveram a luta em Bent Jbail e mudaram seu foco para a cidade de Aita el-Shaab. Aí, também, as tropas das FDI foram confrontadas com uma sólida defesa da Resistência Islâmica. Desta vez, no entanto, os soldados da Resistência, dentro da cidade, utilizaram táticas de bater-correr, enquanto outros de seus soldados, nas colinas circunvizinhas, conduziam emboscadas, aproximadas e distantes.

Em 11 de agosto, as FDI lançaram uma grande ofensiva contra a aldeia de al Ghandourieh, de modo a tomar uma estratégica junção rodoviária, ao sul do rio Litani. A Brigada de Infantaria “Nahal” conduziu uma missão de assalto aéreo na vizinhança para fornecer segurança para uma força blindada que se aproximaria do leste, através do Wadi Saluki. A missão da força blindada era destruir os foguetes, posições de tiro e bases ocultas da Resistência Islâmica. As forças desta última, rapidamente, desdobraram-se nas proximidades e prepararam posições de emboscada no mato denso. Uma vez em posição, as forças da Resistência detonaram uma IED que destruiu o tanque do comandante israelense. A detonação iniciou uma maciça emboscada antitanque, com combatentes islâmicos disparando mísseis antitanque, rojões RPG e morteiros. A emboscada matou 12 soldados israelenses e danificou 11 tanques. Apesar destes reveses, as FDI, eventualmente, foram capazes de assegurarem al Ghandourieh, que se mostrou de pouco valor tático. Em 14 de agosto, todas as operações de combate, de grande porte, foram encerradas, e Israel começou a redesdobrar suas tropas, de volta ao seu território, em 16 de agosto.

Durante a maioria das batalhas no Líbano, as tropas das FDI operaram com limitado apoio aéreo aproximado (CAS) à sua disposição. A Força Aérea Israelense (FAI) decidiu, desde o início, a limitar a utilização dos helicópteros de ataque AH-64 “Apache” e AH-1 “Cobra”, no Líbano. Isto se deveu à crença entre a liderança superior da FAI de que a Resistência Islâmica tinha a capacidade para abater os helicópteros com os SA-18 “Grail”. Ao invés, a FAI utilizou maior número de UAVs armados para apoiar as tropas no terreno. A FAI utilizou caças contra alvos profundos.

O FRACASSO ESTRATÉGICO DAS FDI.

É importante observar que Israel nunca percebeu o Hezbollah como uma ameaça à sua existência. Ao contrário das guerras anteriores, onde grandes exércitos ameaçavam de invasão, o único objetivo do Hezbollah era assolar Israel ao disparar mísseis em seu território. Portanto, os militares israelenses adotaram uma estratégia de suave escalada de força.

Inicialmente, Israel tentou forçar o governo libanês a cuidar do problema do Hezbollah. A FAI fez isto, bombardeando a infra-estrutura fundamental do Líbano. Esta tática, pelo menos, garantiu menos baixas israelenses, já que as tropas terrestres não estavam envolvidas.

No entanto, ficou bem claro que o governo libanês não estava em posição de confrontar o Hezbollah.

O próximo movimento da FAI foi bombardear, pesadamente, os alvos da Resistência Islâmica. Esta tática, também, iria minimizar a exposição das tropas israelenses. Infelizmente, dias de pesados bombardeios provaram-se fúteis. Os danos causados levaram muitos países a perderam a simpatia por Israel.

Após dias de resultados fracassados, as FDI decidiram iniciar operações terrestres limitadas, utilizando elementos de combate de valor batalhão. Mas, a falta de treinamento dos soldados e de preparação para uma guerra de alta-intensidade, juntamente com o pequeno tamanho das unidades, solapou o sucesso destas operações. Foi, somente, próximo ao fim do conflito, que as FDI decidiram utilizar grandes elementos de combate, com mais poder de fogo, no Líbano. No entanto, nesta altura, era muito pouco, e muito tarde para Israel. O mundo não permitiria mais luta, e Israel foi pressionado a aceitar um cessar-fogo patrocinado pela ONU.

Em suma, a estratégia total israelense foi de escalada de forças. A escalada israelense foi lenta e gradual, o que concedeu aos combatentes da Resistência Islâmica muita flexibilidade e liberdade para levar à cabo suas operações. Ironicamente, ao ser tão cuidadosa em impedir baixas amigas, a débil estratégia de Israel, provavelmente, causou mais baixas do que uma robusta estratégia o teria feito.

Em retrospectiva, tivessem as FDI assegurado uma área de 40 Km ao norte da fronteira libanesa, teria sido muito mais fácil varrer esta área e destruir alvos da Resistência Islâmica dentro dela. Os combatentes da Resistência teriam ficado encurralados, sem a habilidade de escaparem para o norte.

O FRACASSO TÁTICO DAS FDI.

Inicialmente, as FDI pensaram que a linha principal de resistência da Resistência Islâmica estaria à direita da fronteira com Israel, quando, na realidade, ela estava, muito mais à retaguarda, no interior do território. As forças da Resistência lançaram um engodo, atraindo as FDI para entrar mais fundo no Líbano. As FDI caíram direto na armadilha da Resistência Islâmica. Uma vez lá, as forças islâmicas desfecharam a ação de suas defesas preparadas.

As tropas terrestres israelenses ficaram, com freqüência, participando de um jogo de gato-e-rato com os combatentes islâmicos. As forças israelenses iriam, várias vezes, capturar uma posição de combate islâmica, apenas para descobrir que seus defensores tinham escapulido para outra posição. Os combatentes islâmicos movimentavam-se em torno do campo de batalha, muito livremente.

Durante a guerra, os comandantes superiores das FDI decidiram utilizar os blindados israelenses numa função de apoio de serviço ao combate, ao invés de numa função de combate direto. Desta forma, tanques “Merkava” foram, com freqüência, encarregados de escoltar viaturas de suprimento ou médicas, à baixa velocidade. Isto transformou os tanques israelenses em alvos muito fáceis de serem destruídos. Por esta razão, as FDI perderam um significativo número destes.

Em retrospectiva, tivessem as FDI gasto o tempo apropriado para identificar as posições defensivas principais da Resistência Islâmica, elas poderiam ter flanqueado os pontos-fortes e, ao fazerem isso, os avassalado com fogo de precisão.

Ao falharem em fazer isto, os israelenses caíram no jogo da Resistência Islâmica e experimentaram um repeteco da Batalha de Verdun!

As forças da Resistência Islâmica obtiveram sucesso em infligir tantas baixas nas FDI por serem criativas e flexíveis em suas táticas e técnicas. A Resistência não tentou enfrentar as FDI de frente, com batalhões e brigadas blindadas e de infantaria. Cinco guerras árabe-israelenses provaram que este conceito era uma tolice. Ao invés, a Resistência Islâmica escolheu lutar a partir de uma defesa preparada, em profundidade. Sabendo das fraquezas israelenses, a defesa preparada parecia como a melhor tática a usar. As fraquezas israelenses eram:

1) A relutância de Israel em infligir muitas baixas civis.

2) A relutância de Israel em sofrer muitas baixas amigas.

3) A falta de experiência recente de Israel em operações em terreno regular ou de montanha.

Vários fatores-chave contribuíram para o sucesso da Resistência Islâmica no campo de batalha. Primeiramente, os seus comandantes emitiram missões claras e factíveis aos seus combatentes de linha de frente. O único objetivo deles era sobreviver e continuar disparando mísseis contra Israel. Os soldados da Resistência cumpriram bem suas missões, enquanto infligiam baixas às FDI. Segundo, os soldados da Resistência tinham excelente conhecimento do terreno e estavam mais empenhados em lutar e vencer do que o soldado israelense mediano. Terceiro, a Resistência Islâmica enfrentou as Forças de Defesa Israelenses com o mínimo de combatentes necessário. Finalmente, as forças islâmicas foram capazes de dominarem e controlarem a batalha, ao manterem as FDI, constantemente, desequilibradas. Elas obtiveram isto, emboscando os soldados israelenses, implacavelmente.

CONCLUSÃO.

Israel confiou demais no poder aéreo sozinho, para conseguir fazer o trabalho. Após dias bombardeando o sul do Líbano, centenas de mísseis ainda estavam chovendo sobre Israel. Quando o alto-comando das FDI compreendeu que a força terrestre era necessária, eles a lançaram sem os treinamento, equipamento e inteligência apropriados. Essencialmente, as FDI estavam preparadas para o fracasso. Elas tinham estado focalizadas, exclusivamente, em contra-insurgência, pelos últimos 16 anos. Agora, era a hora para manobrar em terreno regular, exceto que as FDI não mais estavam adestradas para esse tipo de combate.

As Forças de Defesa Israelenses descobriram que organizações e exércitos terroristas ajustam suas táticas e doutrinas, baseados nas forças e fraquezas do adversário. As FDI, agora, compreendem que poder aéreo, sozinho, não ganha uma guerra e que seus soldados precisam ser, totalmente, treinados em guerra de manobra, tanto quando em operações de contra-insurgência.

Israel enfrentou um exército sem-estado, não uma força guerrilheira. E foi surpreendido ao encontrar um inimigo versátil que estava confortável em lutar na defensiva. A guerra foi um definitivo despertar para Israel. Ela iluminou os perigos de se especializar em certas habilidades bélicas, enquanto se negligencia outras. Enfatizar, somente, um tipo particular de treinamento pode ser desastroso em combate. Os líderes militares não devem focar todo o treinamento para satisfaze a ameaça de hoje, pois, amanhã, a ameaça pode mudar.

Os soldados israelenses podiam ter sido mais bem-sucedidos no campo de batalha, se tivessem sido treinados apropriadamente. O custo imediato para Israel foi trágico: 117 soldados e 41 civis morreram e Israel sofreu um enorme golpe psicológico. Mais perigoso, a Segunda Guerra do Líbano deu aos estados e organizações terroristas, renovadas esperanças de que exércitos modernos, como as Forças de Defesa Israelenses, podem ser derrotados.


_________________________________

O capitão Jonathan O. Zagdanski, atualmente, é um candidato à capelão, num seminário em Israel. Ele começou sua carreira militar em 1996, quando se alistou e cursou a Escola Aeroterrestre de Treinamento de Combate Básico, em Fort Benning. Então, serviu três anos com o III Batalhão do 75º Regimento Ranger. Após se graduar na Escola Ranger, ele cursou a Escola de Candidatos a Oficial, e foi designado para a Força-Tarefa do I Batalhão do 30º Regimento de Infantaria, 3ª Brigada, 3ª Divisão de Infantaria.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#48 Mensagem por Moccelin » Qua Set 24, 2008 11:50 pm

Muito exclarecedor o artigo.

Mas a situação do alto comando das FDI era pra lá de ruim...

Um dos defeitos citados pelo texto foi subir muito lentamente a intensidade da guerra. Porém se eles tivessem ido com tudo o mundo ia cair de pau nos Israelenses muito mais rápido, e eles, ao contrario dos Árabes, precisam TOTALMENTE de apoio externo. Israel não vive sem o mundo exterior, já os Árabes, mesmo que sofram sanções do chamado "mundo ocidental", conseguem permanecer "em condições de" por muito mais tempo, simplesmente porque possuem mais território... Mais países apoiando e tal...

Outra coisa, Israel teve que tomar cuidado com as baixas civis, afinal tem que dar satisfação depois... Já o Hezbollah estava cagando e andando pras baixas civis Israelenses derivadas dos seus ataques por foguetes, e ainda possuiam um apoio muito grande da população libanesa, e enquanto isso o governo libanes se fingia de morto.

Enfim, foi uma experiência pra FDI... Agora eles devem estar se preparando de uma forma mais equilibrada entre guerra total + guerra assimétrica.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#49 Mensagem por Clermont » Seg Out 06, 2008 9:32 pm

OPERAÇÕES URBANAS: APRENDENDO DAS BATALHAS DO PASSADO.

Por Eric Mailman – Infantry Magazine – março/abril 2008.

A necessidade de treinar soldados em guerra de rua, algo que o Exército dos Estados Unidos descobriu ser, cada vez mais, necessário, desde os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, tem recebido, ainda mais, atenção, nas últimas três décadas. É um fato de que muitos dos conflitos nos quais os Estados Unidos tem se envolvido, incluem a necessidade de derrotar forças insurgentes dentro de áreas construídas. A história das operações urbanas é interessante, e cada batalha oferece lições de relevância para os soldados de hoje. “City Fights: Selected Histories of Urban Combat from World War II to Vietnam”, editado pelo coronel John Antal e o major Bradley Gericke, focaliza a guerra de rua, e seus relatos detalhados de algumas das proeminentes lutas em cidades na história, oferece valiosa compreensão das lições aprendidas, à custo horrível em homens e material, e vale a pena ser lido. Neste artigo, quero discutir cinco batalhas históricas, em terreno urbano, cada uma das quais oferece suas próprias lições.

STALINGRADO, 1943.

Em “City Fights”, o coronel Eric M. Waiters, apresenta um detalhado estudo da Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial. Em 21 de agosto de 1942, o 6º Exército alemão sob o comando do coronel-general Friedrich Paulus, e o 4º Exército Panzer, sob o coronel-general Hermann Hoth, desfecharam uma ofensiva para capturar a cidade de Stalingrado, sobre o rio Volga, no sul da Rússia. As forças alemãs conseguiram ocupar a maior parte da cidade, a oeste do Volga, em meados de novembro. Em 19 deste mês, o Exército Vermelho iniciou um ataque de codinome Operação URANO, por três exércitos completos, sobre os flancos do 6º Exército, e, em 22, conseguiram romper as linhas de comunicação alemãs. Os germânicos continuaram a lutar até se renderem, em 2 de fevereiro de 1943.

Adolf Hitler e seu estado-maior subestimaram a vontade do Exército Vermelho, mesmo quando seus comandantes de campanha já sabiam estar confrontando um adversário tenaz e implacável. A principal força atacando do leste, era o 62º Exército, liderado pelo major-general Vasili Ivanovich Chuikov, que era descrito, tanto como fatalista quanto como uma inspiração para suas tropas. Ele comprou tempo, ao permitir que o 6º Exército tomasse áreas-chave da cidade, mas cada vez que os alemães conquistavam uma área disputada, era por alto custo em homens e equipamento. Para compensar, os alemães foram obrigados a transferir tropas de seus flancos para o centro, enfraquecendo suas defesas contra a planejada contra-ofensiva do Exército Vermelho. Durante operações urbanas, o tempo é um fator crítico, e um problema da campanha para os alemães era a forma como os soviéticos percebiam o tempo. Os alemães queriam, rapidamente, alcançar seus objetivos, mas os defensores soviéticos estavam mais interessados em prolongarem o conflito por tanto tempo quanto possível, para exaurir os alemães, tanto física como psicologicamente.

De 23-25 de agosto até 3 de setembro de 1942, a Luftwaffe martelou a cidade, mas os escombros resultantes, por fim, vieram assombrar as forças terrestres encarregadas de limpar e assegurar a cidade. Isso devendo-se aos edifícios desabados tornarem difícil manobrar os tanques e as peças de artilharia que deviam fornecer apoio aproximado para a infantaria alemã. Os destroços resultavam em impressionantes fotografias para propaganda na frente interna, mas, uma vez que a infantaria inimiga reocupava as ruínas, o custo de desalojá-la era alto em termos, tanto de vidas quanto das vastas quantidades de munição que a guerra de rua demanda. Uma vez que as forças soviéticas fossem capazes de interditar as distendidas linhas de suprimento das quais os alemães dependiam, o resultado da batalha de Stalingrado e o destino do 6º Exército já não eram mais dúvidas.

O LEVANTE DO GUETO DE VARSÓVIA, 1943.

O Levante do Gueto de Varsóvia, que se iniciou em 18 de janeiro de 1943, ilustra outra dimensão da guerra de rua, aquela, na qual, uma população, ostensivamente indefesa, confrontada com a morte certa, se levanta contra seus captores. Enquanto o Holocausto começava a ser desdobrado por toda a Europa Oriental, as forças alemãs começaram a concentrar os, aproximadamente, 3 milhões de cidadãos judeus da Polônia nos guetos de cidades selecionadas, e, então, a deportá-los para o leste, para os campos de extermínio. Um dos piores destes era Treblinka, onde perto de 300 mil vítimas tinham sido assassinadas nos dois meses anteriores a setembro de 1942. A primeira onda de deportações foi levada a cabo de forma, relativamente, pacífica, já que os líderes da resistência judaica e seus seguidores, inicialmente, acreditavam na explicação alemã, de que estavam sendo levados para campos de trabalho. Quando as notícias dos campos de extermínio vazaram, aqueles judeus, ainda no Gueto de Varsóvia, compreenderam que a resistência era sua única escolha. Em “Citys Fights”, David M. Toczek descreve as técnicas utilizadas pelos judeus de Varsóvia, em 1943. Dois grupos, a Organização Judaica de Combate (ZOB) e a União Militar Judaica (ZZW), assumiram e prepararam-se para conduzir operações no interior do Gueto de Varsóvia. Em acréscimo à fortificação de pontos-chave no Gueto, eles, rapidamente, executaram aqueles, entre eles, que eram colaboracionistas nazistas, incluindo membros da polícia judaica e agentes da polícia secreta alemã (Gestapo). Então, aguardaram que os alemães tentassem deportá-los.

De acordo com Toczek, quando os alemães tentaram isto, em 18 de janeiro de 1943, membros da ZOB sacaram das pistolas e começaram a atirar, causando várias baixas alemãs. Embora a Resistência judaica estivesse limitada, em sua maior parte, ao fogo de armas leves, o simples fato de reagirem deixou os alemães em estado de choque, e eles fizeram planos para esmagar o Gueto. Sua ofensiva começou em 19 de abril de 1943, e as forças lideradas pelo SS-Oberführer Ferdinand von Sammern-Frankenegg, incluíam 16 oficiais e 850 praças de unidades das Waffen-SS, polícia e Wehrmacht, dois carros blindados, um tanque e 2 mil soldados de reserva. Toczek aponta que, tão logo eles se abriram em leque, para arrebanhar os habitantes, a ZOB, novamente, abriu fogo, com pistolas, e, também, com granadas caseiras e coquetéis molotov. Os alemães se retiraram e reagruparam-se. O superior de Von Sammern-Frankenegg, SS-Brigadeführer Jurgen Stroop, assumiu o controle da operação. Ele surgiu com a solução para seu problema: eles iriam utilizar fogo ou explosivos para se livrar dos insurgentes. Esgotos foram enchidos com gás venenoso ou armadilhas para impedir os membros do ZOB de os utilizarem como meios de fuga. A operação se arrastou até maio, sem nenhum fim à vista. Em 8 de maio, o comando tático da ZOB foi destruído, mas eles ainda lutavam. A operação desacelerou, em 16 de maio, após a destruição da principal sinagoga de Varsóvia.

O LEVANTE DE VARSÓVIA, 1944.

Toczek aponta que o Exército Metropolitano Polonês, (AK, ou Armia Krajowa) comportou-se de modo similar ao ZOB e que os alemães repetiram seus equívocos passados. O líder do AK, Tadeusz Komorowski, acreditava que a presença alemã, em Varsóvia, era fraca o bastante para ser derrotada. Ele, também, estava temeroso de que, se o Exército Vermelho libertasse a cidade, colocaria no lugar, um governo controlado pelos soviéticos, ao invés do governo da Polônia no exílio. O moral para o AK era elevado, embora, as armas e suprimentos fossem baixos, pois eles acreditavam que tinham uma chance, após cinco anos de ocupação. O plano, de codinome Operação BURZA (Tempestade), era coordenar um ataque simultâneo, sobre seis distritos da cidade: Cidade Velha/Centro da Cidade, Zoliborz, Wola, Ochota, Mokotow e Praga. O ataque deveria ter início durante a hora do “rush”, às 17:00h, para ocultar seus movimentos, tanto como para dar aos operativos do AK umas poucas horas de luz do dia, para completar suas missões. Eles dependiam de rapidez e surpresa para conseguir a vantagem sobre os alemães.

Estes últimos sabiam, por informantes, que um levante estava vindo, mas ainda assim, foram pegos, de surpresa, quando a ação, realmente, começou. Eles, rapidamente, recuperaram o equilíbrio, e enviaram notícias do ataque por toda a Varsóvia. Quinze minutos mais tarde, tanques e viaturas blindadas, começaram a entrar na cidade. O AK descobriu que era incapaz de assegurar as localizações que eram necessárias para o sucesso, mas, apesar de tudo, fizeram algum progresso. Toczek descreve como, no segundo dia, o AK conseguiu assegurar vários distritos da cidade, ganhando controle sobre instalações de gás, elétricas e hídricas, no processo. Utilizando quaisquer recursos limitados que tivessem, o AK, também, conseguiu destruir, pelo menos, 12 tanques. A guarnição alemã estava em pânico. O Reichsführer-SS Heinrich Himmler, não estava contente.

Himmler recebeu permissão, de Adolf Hitler, para concentrar uma força para “erradicar” Varsóvia. Ela foi composta de toda a força policial de Posen, reforçada com alguma artilharia e duas brigadas ("Dirlewanger’ e “Kaminski”, batizadas com os nomes de seus comandantes). As unidades foram postas sob o comando do SS-Gruppenführer Heinz Reinefarth. Suas instruções eram para: “... destruir Varsóvia, completamente... atear fogo em cada quarteirão de casas, e explodi-las,” de acordo com Toczek. Em 5 de agosto, as unidades de Reinefarth entraram em Varsóvia. O plano era dividir a cidade em duas, atacando a partir do oeste, através de Wola, e do sudoeste, através de Ochota. A luta foi brutal, especialmente com as duas unidades SS. Toczek nos diz que a Brigada “Dirlewanger” estava cheia de criminosos condenados e prisioneiros políticos, sendo comandada por um homem que havia cumprido pena, por violentar uma menina alemã de 13 anos. Ele, também, aponta que a Brigada “Kaminski” era cheia de ucranianos e russos indisciplinados, conhecidos pelos seus excessos durante operações antiguerrilha na União Soviética. Pelo fim do dia, vários milhares de poloneses estavam mortos, mas este ato de genocídio não desencorajou o AK. Fez o oposto, reforçando sua vontade. Eles queriam vingança pelos horrores perpetrados sobre seus cidadãos.

As forças alemãs receberam um novo oficial; um que Himmler acreditava poder controlar a cidade. O homem foi o SS-Obergruppenführer Erich Von dem Bach-Zelewski, chefe das unidades antiguerrilha de Hitler. Ele recebeu ordens para utilizar quaisquer meios necessários para findar a insurreição. Toczek diz que, ao invés de seguir suas ordens, ele divisou um plano com “uma componente política e uma militar”. Von dem Bach, lentamente, parou com as execuções e concedeu ao Exército Metropolitano Polonês, o estatuto de combatente, para atrair os poloneses à rendição. Ele mudou as táticas ad hoc, que estavam sendo utilizadas para debelar o levante, para táticas que eram mais sistemáticas e organizadas.

Os poloneses, entretanto, continuavam a lutar. As maiores ameaças que eles enfrentavam, incluíam os edifícios fortificados que os alemães utilizaram como quartéis e os tanques “Panther” e “Tiger” dentro, e nos arredores da cidade. Embora carecessem do poder de fogo necessário para lidar com as posições fortificadas alemãs, eles tiveram algum sucesso ao enfrentar os tanques. Eles tinham alguns PIATs (Projetor de Infantaria Antitanque) britânicos, uma arma que disparava um projétil de carga moldada, a cerca de 100 m; mas, principalmente, eles confiavam nas “filipinki” (granadas caseiras) e nos coquetéis molotov. Atando várias “filipinki” juntas, e as arremessando nas lagartas dos tanques, causava uma explosão, forte o bastante para, ou danificá-la ou destruir a suspensão do tanque. Tão logo uma granada era lançada, outras se seguiam. Com este método, os poloneses conseguiram capturar certo número de tanques, formando o 1º Esquadrão Blindado Insurgente, como resultado.

Toczek observa que os coquetéis molotov, garrafas cheias com um líquido inflamável, que, ao serem acesas e quebrarem, colocavam tudo o que atingiam, em chamas. O porém da arma era seu tamanho volumoso. Vários tinham de ser utilizados em um só tanque, para aumentar as chances de pô-lo em chamas. Muitos poloneses tinham de carregar vários molotovs de uma vez, e tinham de se locomover com os líquidos inflamáveis sacolejando. Um grupo de escoteiros descobriu a solução para o problema. Ao colocar garrafas cheias, nas barricadas e ao longo das rotas conhecidas das viaturas, tudo o que os poloneses tinham de carregar com eles era a fonte de ignição. Através do uso de granadas caseiras e coquetéis molotov, os insurgentes poloneses conseguiram incapacitar ou destruir cerca de 50 tanques, nos primeiros dias do levante.

Os poloneses também construíram barricadas, para retardar o avanço alemão rumo a cidade. Toczek observa que estas barricadas eram feitas de qualquer coisa à mão, de viaturas abandonadas e mobília, até pedras do pavimento, reforçadas com sacos de areia. Nas ruas estreitas de Varsóvia, as barricadas foram muito bem-sucedidas em conter o progresso alemão na cidade. Com freqüência, as barricadas agüentavam firmes, mesmo quando abalroadas por tanques alemães. Mas estes divisaram modos de ultrapassar estes obstáculos.

Quando enfrentando uma barricada, o método favorito era utilizar pequenas viatura sobre lagartas, de controle-remoto, carregadas de explosivos, chamadas de “Goliath”. Este era conectado ao tanque-líder através de um fio. Quando uma barricada era encontrada, o tanque-líder, numa coluna, pararia, movimentaria o “Goliath”, rumo à barricada, e usaria os explosivos nele para limpar o caminho. Os poloneses aprenderam a visar o fio conectando o “Goliath” ao tanque, com “filipinki”, esperando romper a conexão. Toczek explica que os insurgentes do AK iriam, então, tomar os 500 Kg de explosivos do “Goliath” incapacitado, para seu próprio uso.

Outro método que os alemães utilizaram para lidar com barricadas era utilizar civis poloneses como escudos humanos. A crença era de que os insurgentes, guarnecendo os bloqueios, não iriam atirar contra seus próprios compatriotas. A maioria das vezes, os alemães estavam corretos nesta suposição; no entanto, algumas vezes, as coisas não terminavam como planejado. Durante a primeira semana do levante, um guarnição de metralhadora do AK, protegendo uma barricada, ao longo da rua Powazkowska, viu um grupo de civis, movendo-se em sua direção. Os civis estavam na frente de uma unidade Feldgendarmerie alemã. A guarnição do AK disparou um tiro de aviso e, então, perceberam por quê os civis não estavam se dispersando. Os membros do AK escolheram abrir fogo sobre a multidão, para deter o avanço alemão. Táticas como estas, apenas enraiveciam os poloneses, levando-os a lutar mais encarniçadamente.

O AK utilizou os esgotos como caminho seguro para viajar, muito como os defensores russos tinham feito em Stalingrado. Os esgotos eram uma forma de movimentar suprimentos, homens e informações. Os alemães não utilizaram o que haviam aprendido durante a insurreição do ZOB e, somente ficaram cientes do uso de esgotos pelo AK, por acidente. Logo irrompeu uma luta para saber quem iria assumir o controle das redes de túneis. Os alemães começaram a armadilhar porções dos esgotos. Arame farpado foi estirado em alguns túneis. Um método utilizava granadas, presas em arames de tropeço, estendidos pelos caminhos. Com muita freqüência, a concussão da explosão era mais mortífera do que os estilhaços. Outra técnica era bombear combustível pelos esgotos, e acendê-lo, incinerando ou asfixiando qualquer um dentro. Embora fossem grandes os riscos, os poloneses continuaram a utilizar os esgotos até o fim do levante.

Carecendo de rádios portáteis, os poloneses se baseavam em grupos de mensageiros. Para permitir que os homens continuassem lutando, estes mensageiros eram, normalmente, mulheres e crianças. Os rádios que eles possuíam não tinham capacidade de trocar mensagens entre si, mas podiam manter contato com Londres, que se tornou uma espécie de estação de relé, enviando mensagens indo de relatos de situação até rotas viáveis de esgotos.

Os problemas de comunicações foram umas razões principais para a base de operações do AK ser transferida tantas vezes. Muitos problemas logísticos começaram a aumentar, enquanto seus suprimentos escasseavam e suas unidades começavam a ser isoladas pelas forças alemãs. Devido ao AK ter sido incapaz de assegurar uma pista de pouso, o ressuprimento aliado vinha na forma de lançamentos aéreos. Estes lançamentos, pelos britânicos e americanos, não eram muito precisos e poucos dos 288 contentores de suprimento lançados, realmente, chegaram às mãos daqueles que precisavam deles. Lançamentos aéreos soviéticos eram mais precisos, porém, devido aos seus pacotes não terem pára-quedas, o AK, com freqüência, recebia equipamento danificados neles, deixando armas e munições inúteis.

Os poloneses acreditavam que o Exército Vermelho iria vir em seu socorro, a qualquer momento. Este havia capturado um subúrbio de Praga, e o AK, constantemente, tentava fazer com que eles atravessassem o rio Vístula, para ajudar na luta. Embora os soviéticos tenham mandado mais de dois batalhões de recrutas poloneses, eles tinham pouco ou nenhum treinamento, e se tornaram mais um empecilho, quando sua munição e alimento acabaram. Quando o AK estava considerando render-se aos alemães, próximo do fim de setembro, ainda havia tentativas de fazer com que o Exército Vermelho respondesse aos seus apelos. Não receberam resposta alguma. Com a desaparição de sua última esperança, o Exército Metropolitano Polonês, assinou um armistício, em 2 de outubro, com toda a resistência organizada acabando dois dias depois. Mais de 200 mil soldados e civis do AK foram mortos, ou feridos, durante o levante, enquanto as baixas alemãs foram estimadas em cerca de 20 mil a 26 mil soldados. Após, quase dois meses de luta, os alemães estavam, de novo, no controle de Varsóvia.

De acordo com Toczek, os poloneses estavam tão dispostos a lutar tão duramente contra os alemães, superiores em número e tecnologia, porque achavam que nada tinham a perder. Os cinco anos de ocupação e atrocidades, que as forças alemãs tinham cometido, apenas os incitavam. Seus inimigos não iriam oferecer quartel, portanto, os poloneses deixaram claro que iriam morrer antes de se render ou ceder terreno. Mesmo quando Von dem Bach-Zelewski lhes concedeu o estatuto de combatentes, em agosto, eles continuaram a lutar porque não acreditavam nisto. Apenas quando o Exército Metropolitano Polonês compreendeu que os esforços aliados de ressuprimento não poderiam mantê-los, e que o Exército Vermelho não iria cruzar o Vístula, foi que eles consideraram a rendição.

O Armia Krajowa tinha uma forte infra-estrutura. Toczek mostra que, em toda parte onde as forças polonesas venciam, elas começavam a organizar a movimentação, tanto de combatentes quando de civis, através da área. Os membros conheciam suas funções e, quando as baixas começaram a se elevar, novos líderes podiam ser encontrados, rapidamente, mantendo um senso de unidade, durante todo o levante. Mulheres e crianças desempenhavam importantes papéis, movendo suprimentos e informações, guiando outras forças através da cidade, e, com freqüência, atuando como combatentes.

Os alemães estavam super-confiantes em suas habilidades. Muitos não perceberam do que os poloneses
eram capazes, até ser tarde demais. Sem um plano de ataque organizado, os alemães, com freqüência, se viam em situações muito ruins. Quando seus esforços se tornaram mais sistemáticos, eles começaram a fazer progressos. Destruindo e incendiando edifícios possibilitava algum progresso, mas dava aos poloneses a oportunidade para envolvê-los e ocupar posições por trás das unidades de ponta. O autor salienta que, uma vez que pequenas patrulhas de combate eram deixadas entre cada unidade, os alemães começaram a se livrar da ameaça de tocaieiros poloneses.

A luta em Varsóvia foi similar a luta ocorrendo, hoje, no Oriente Médio. Uma força tecnologicamente superior tem de lidar com uma força insurgente, pobremente equipada, bem-organizada e inspirada que, com freqüência, irá morrer antes do que se render. A luta se dá nas ruas e nos esgotos. Toczek diz que as duas técnicas de desorganizar os esforços de ressurprimento do inimigo, e de destruir sua esperança em assistência dos aliados são tão viáveis, hoje, como foram durante o levante em Varsóvia.


(continua...)




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Clermont
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#50 Mensagem por Clermont » Seg Out 13, 2008 9:47 pm

(continuando...)

AACHEN, 1944.

Como descrito em “Block By Block – The Challenges of Urban Operations”, editado por William G. Robertson e Lawrence A. Yates, a Batalha de Aachen foi única, de vários modos. De acordo com o autor do artigo sobre Aachen, Christopher R. Gabel, ela foi parte da Operação OVERLOAD, mas a cidade, em si, não era um grande alvo industrial. Ela era parte da Westwall, também conhecida como Linha Siegfred. A cidade se encontrava entre dois cinturões de bunkers e obstáculos à leste e à oeste, mas a cidade mesma, não era defendida. Ela estava num vale, circundada por terreno elevado. O plano original era irromper através das barreiras defensivas e continuar até o rio Reno, mas a cidade era mais importante para a ideologia nazista. A povoação de Aachen datava dos tempos romanos, e a cidade foi a capital do império de Carlos Magno, na Alta Idade Média. Ela também era o local de coroação dos soberanos do Sacro Império Romano-Germânico, de 813 a 1531. Já que Hitler acreditava que o Sacro Império Romano-Germânico, fundado por Carlos Magno, tinha sido o “Primeiro Reich”, sua captura por americanos seria um golpe para o moral do regime nazista.

Se tudo tivesse saído de acordo com o plano, a Batalha de Aachen nunca teria tido lugar. Ela começou em 12 de setembro, quando a força aliada, o VII Corpo, consistindo das divisões 1ª de Infantaria e 3ª Blindada, deram início a penetração da Westwall, numa seção ao sul da cidade. Por volta do dia 15, as divisões tinham logrado penetrar algumas das defesas da muralha, a um elevado custo em baixas. O processo era lento. A chuva obstruía a mobilidade fora de estrada, dos aliados, e a cobertura do nevoeiro deu, aos alemães, tempo o suficiente para reforçarem o setor sem terem de se preocupar com aviões aliados. Por volta de 17, os alemães tinham potencial humano, o bastante, para iniciar uma contra-ofensiva. Com as forças aliadas confrontando um inimigo renovado, e tendo de lidar com falta de suprimentos, o plano mudou, em 24 de setembro. As forças deviam, agora, envolver a cidade.

Outra força aliada, o XIX Corpo, começou um ataque, sobre uma parte da Westwall, ao norte da cidade. Após um bombardeio, envolvendo 26 batalhões de artilharia e 432 aviões táticos, a 30ª Divisão de Infantaria atravessou o rio Wurm, e rumou para a Westwall. A artilharia teve pouco efeito sobre as fortificações alemãs, portanto, pequenos grupos de infantaria tiveram de irromper, por meio de uma combinação de granadas, cargas explosivas e lança-chamas. A 30ª Divisão atravessou as defesas em 3 de outubro. Para assegurar o flanco esquerdo daquela divisão, a 2ª Divisão Blindada se posicionou à leste de sua localização.

À 7 de outubro, a 1ª Divisão de Infantaria foi ordenada a se mover para o norte, para se encontrar com a 30º Divisão, e envolver a cidade. O 18º Regimento de Infantaria (1ª Divisão) recebeu o encargo de ser o elemento de ponta. O 18º de Infantaria formou grupamentos especiais para assaltar casamatas, constituídos por lança-chamas, torpedos bangalore e cargas de demolição. O regimento, também, tinha acesso a uma bateria de canhões autopropulsados de 155 mm, uma companhia de caça-tanques autopropulsados (tank-destroyers) e uma companhia de tanques M-4 “Sherman”. Cada batalhão era acompanhado por um oficial de ligação da força aérea.

O 18º de Infantaria recebeu o objetivo de assegurar três colinas, ao longo do caminho. Ele capturou a colina Verlautenheide, na manhã de 8 de outubro, após pesado ataque de artilharia. Nesta tarde, a Colina do Crucifixo caiu, de maneira similar, após amargo combate. Ele alcançou a crista da Colina do Corvo na noite de 9 de outubro. Após limpar casamatas que ele tinha ultrapassado, entrincheirou-se e aguardou pela chegada da 30ª Divisão. Enquanto isso, os alemães continuaram a receber reforços. Estes incluíam a 3ª Divisão Panzergrenadier e a 116ª Divisão Panzer. O homem encarregado de dispor estas tropas, general Friedrich J. Koechling, foi obrigado a utilizá-las onde eram mais necessárias, de imediato, ao invés de organizá-las para uma contra-ofensiva. Ambas, as 1ª e 30ª Divisões americanas conseguiram defender-se contra os contra-ataques alemães, com maciço apoio aéreo e de artilharia. Isto retardou a 30º Divisão por mais outra semana.

O 1º Exército dos Estados Unidos decidiu proceder com a tomada de Aachen, mesmo embora, o envolvimento da cidade estivesse incompleto. Acreditava-se que, estando Aachen em mãos americanas, os homens cercando a cidade, estariam livres para conter a resistência alemã vinda do leste. As únicas forças disponíveis para a tomada da cidade, eram os II e III Batalhões do 26º Regimento, da 1ª Divisão de Infantaria.

O II/26º recebeu a tarefa de limpar o interior de Aachen, enquanto o III/26º recebeu a tarefa de assegurar duas colinas no lado norte da cidade, Salvatorberg e Lousberg. Todos os civis deveriam ser evacuados da área.

Não havia muito a que os dois batalhões pudessem recorrer em termos de doutrina publicada sobre luta de rua. Os manuais, apenas, tinham umas poucas páginas sobre como lutar em aldeias e vilas, sem nada mencionar sobre luta em cidades. No melhor dos casos, eles davam uma idéia do que esperar. Os manuais previam que o inimigo defenderia a cidade, através de todos os bairros, e que alguns edifícios, em especial, aqueles com porões, seriam transformados em fortalezas, capazes de defesa circular. Outro pedaço de informação, salientava que as ruas seriam varridas de tiros, e que a maneira mais segura de se mover de um edifício para outro, seria explodindo buracos nas paredes.

Além disso, o combate envolveria uma aproximação metódica, de intensivo poder de fogo. Deveria se lidar com os pontos-fortes na cidade, através de fogo direto de artilharia, seguido por infantaria. Paradas freqüentes seriam necessárias para restabelecer contato com outras unidades. Quando se tratava de apoio blindado, o manual era vago sobre como os tanques deveriam auxiliar em uma situação de luta de rua, apenas que “oportunidades se apresentariam, com freqüência, onde o apoio de tanques se tornará desejável.”

Entre 8 e 12 de outubro, os dois batalhões abriram caminho até suas posições de partida. O II/26º estava posicionado aos pés do talude da ferrovia Aachen-Cologne. O III/26º assegurou sua posição na área industrial, à leste da cidade.

Em 10 de outubro, o comandante da 1ª Divisão de Infantaria, major-general Clarence R. Huebner, enviou um ultimato à guarnição de Aachen, declarando que a cidade tinha vinte e quatro horas para se render. Quando o prazo venceu, sem resposta, os americanos começaram um bombardeio de dois dias sobre a cidade. As artilharias do VII Corpo e da 1ª Divisão dispararam 4.800 projéteis contra a cidade, juntamente com 62 toneladas de bombas, no primeiro dia. No segundo dia, mais 5 mil projéteis e 99 toneladas foram utilizadas na cidade. Devido aos alemães, na cidade, terem acesso a posições como porões e abrigos antiaéreos, a exibição de poder de fogo teve pouco impacto na população.

Os dois batalhões começaram suas operações, ao mesmo tempo. O II/26º iniciou seu assalto com fogo de artilharia, seguido pelo arremesso de granadas sobre o talude. Quando atingiram o topo, descobriram que ele não estava defendido. O talude era um obstáculo para a passagem de tanques. Dois destes conseguiram ultrapassá-lo, ao atravessarem uma estação ferroviária, construída sobre o elevado.

Antes da operação começar, o tenente-coronel Derril M. Daniel, o comandante do II/26º, preparou-se para ela. Ele começou por reconfigurar seu batalhão, integrando as armas de combate, ao nível de subunidade. Cada companhia de fuzileiros tornou-se uma força-tarefa, reforçada por dois canhões antitanque, da companhia antitanque regimental; duas peças de bazuca, um lança-chamas, três tanques ou caça-tanques, e duas metralhadoras pesadas. Isto deu a cada companhia acesso a uma ampla variedade de sistemas de armas, para cada situação.

Para auxiliar na comunicação, Daniel estabeleceu um sistema no qual todos os cruzamentos e edifícios proeminentes eram numerados, para acelerar a comunicação e ajudar a coordenar os elementos do batalhão. Daniel determinou uma forte ligação entre as subunidades, em todos os momentos. Foram estabelecidos paradas obrigatórios, em pontos de controle designados, para o restabelecimento do contato, ao longo da linha. Operações ofensivas foram interrompidas à noite, ao longo de ruas principais designadas, para evitar o combate noturno.

Logisticamente, Daniel improvisou um depósito móvel de munição do batalhão. De modo a transportar soldados feridos, ele conseguiu obter alguns transportes de carga M-29, conhecidos como “Weasels”, cujas lagartas podiam atravessar, facilmente, ruas cheias de detritos.

O lema para a operação era “Derrubem tudo”. Não houve preocupação com danos colaterais. Daniel acreditava que o inimigo não seria capaz de lutar, eficazmente, se os edifícios, de onde combatiam, desabassem em volta deles. O plano era forçar os alemães para os porões, onde a infantaria aliada poderia acabar com eles, com baionetas ou granadas.

A estratégia se iniciou com artilharia pesada atingindo as linhas de comunicação alemãs. Artilharia média foi utilizada sobre a linha de frente. A maioria dos projéteis eram dotados de fusos de ação retardada, para explodirem, de preferência, no interior dos alvos. A maioria da artilharia de divisão e de corpo, estava ao sul da cidade. Os grandes canhões foram uma importante ajuda para a infantaria no interior da cidade, mas esta não podia contar com apoio de artilharia, o tempo todo. Esta última tinha de travar duas batalhas: a luta na cidade, e a luta para cercá-la.

Os tanques e caça-tanques eram utilizados em tandem, com a infantaria. O objetivo desta última, nas operações, era impedir os alemães de disparar Panzerfausts, armas antitanque, de curto alcance (30-80 m), enquanto utilizava os tanques para liquidar pontos-fortes na cidade. Os pelotões, normalmente, mantinham o tanque numa rua, atrás daquela que eles estavam limpando. O tanque, cuidadosamente, virava a esquina, e começava a disparar contra um edifício específico. A infantaria, então, limpava o edifício, e o tanque voltava a disparar sobre a próxima estrutura em linha. Quando o quarteirão estava limpo, a infantaria começava a atirar contra todo local possível, de onde pudessem ser disparados Panzerfausts, e o tanque se movia para a rua recém-limpa.

Os pelotões de fuzileiros faziam tudo o que podiam para ficar fora das ruas. Fogo de metralhadora pesada limitava o movimento nelas. A infantaria movia-se, de casa em casa, abrindo buracos nas paredes, com bazucas e cargas de demolição. O método favorito para limpar um edifício era, de cima para baixo, com uso liberal de granadas.

O II/26º liquidou toda fortaleza alemã, com a qual tenha entrado em contato. Eles, também, bloquearam todas os túneis, de forma a impedir os alemães de retomarem território perdido. Todos os civis que o batalhão encontrou, foram evacuados da cidade.

Tendo a luta continuado, através do dia 14, os II e III Batalhões do 26º de Infantaria, receberam uma nova arma do VII Corpo: um canhão 155 mm autopropulsado. A arma era capaz de disparar um projétil perfurante de blindagem, de 92 libras (42 Kg), com força o suficiente para varar todo um quarteirão de edifícios. Em “Block by Block”, Gabel salienta como Daniel estava “satisfeito em tomar conta do novo elemento.”

O dia terminou num ponto designado, mas uma brecha tinha se formado entre o flanco direito do II Batalhão e o flanco esquerdo do III Batalhão. Daniel culpou este último, por parar no marco errado. Os alemães não exploraram a abertura, mas Daniel perdeu um canhão de 57 mm, para fogo inimigo oriundo de seu flanco direito.

No dia 15, a brecha foi tapada, quando o II ligou-se ao III Batalhão. Gabel menciona que o II encontrou um edifício de três andares fortificado. Ele estava acima de um abrigo anti-bombas. Um jato de fogo do lança-chamas da companhia, levou os 200 soldados alemães e 1.000 civis, no interior, a se renderem. O anoitecer marcou o começo de um contra-ataque. De acordo com Gabel, os americanos perderam um caça-tanques, um canhão antitanque e uma metralhadora pesada. Gabel, também diz que os alemães perderam um tanque e infantaria no valor de um pelotão.

Gabel descreve como, na manhã do dia 16, as 1º e 30º Divisões se ligaram, à leste de Aachen, cercando, completamente, a cidade. Os alemães responderam ao sucesso delas, com um contra-ataque. Todas as operações subseqüentes da 1ª Divisão foram interrompidas, enquanto o II/26º gastava tempo, para assegurar sua posição. O Grupo 1106 de Engenharia, localizado no flanco esquerdo do II Batalhão, pivotou seu flanco direito à frente, para ligar-se com ele. Neste momento, Daniel empregou um canhão 155 mm autopropulsado contra uma casamata. Para proteger a peça, ele enviou caça-tanques para disparar contra as ruas transversais. A infantaria foi enviada para limpar cada ponto dentro do alcance de Panzerfaust do blindado. O canhão 155 mm demoliu seu alvo, que, depois de inspeção aproximada revelou ser, não uma casamata, mas um tanque camuflado.

Em 17 e 18 de outubro, o II/26º continuou na direção de seu objetivo. O 1106 de Engenheiros, continuou a se deslocar para cobrir o flanco do batalhão. Enquanto o II/26º avançava, sua frente se alargou, e a Companhia C (I Batalhão do 26º de Infantaria), foi anexada ao comando de Daniel, pela 1ª Divisão e, mais tarde, seria responsável por uma zona no flanco direito do batalhão. Durante este período, o II/26º caiu debaixo de fogo de um campanário de igreja, que os alemães tinham reforçado com concreto. Fogo de armas leves e dos caça-tanques era ineficaz. O canhão 155 mm foi levado à frente, e obteve sucesso em botar a estrutura no chão. O autor acredita que esse foi um exemplo primordial da estratégia “Derrubem tudo”.

Em 19 de outubro, o II/26º foi apoiado pelo II Batalhão do 110º Regimento (28ª Divisão de Infantaria) para tapar uma brecha na linha. Parte do II/26º foi mandada em apoio ao III/26º, para assegurar Salvatoberg. Gabel menciona que a ala direita do batalhão atingiu pesada resistência em 20 de outubro, na Escola Técnica. Ela caiu no dia seguinte, com o II/26º fazendo várias centenas de prisioneiros. Depois de descobrir outro talude ferroviário, o batalhão repetiu a mesma técnica com granadas-de-mão, empregada no início da operação. Enquanto assegurava o outro lado do aterro, o II/26º recebeu a notícia de que o coronel Wilck, o comandante alemão, tinha se rendido ao III Batalhão.

Os dois ambientes nos quais os dois batalhões combateram eram, enormemente, diversos. Enquanto o II Batalhão travou, principalmente, combate urbano, o III Batalhão iniciou suas operações na área industrial de Aachen, movendo-se rumo aos muitos hotéis e estâncias, no lado norte da cidade. Ele, também, teve de confrontar as melhores tropas que o coronel Wilck tinha à mão. O coronel sabia que não podia se permitir perder o controle das colinas e, portanto, tornou o trabalho do III/26º tão duro quanto possível.

O III/26º deu início a sua operação, em 13 de outubro, movendo-se através dos apartamentos e fábricas, no nordeste de Aachen. Ele fez rápido progresso, até a Jülicher Strasse, e caiu sob o fogo de um canhão de 20 mm. Gabel mostra que isso forçou a infantaria a sair da rua. Como resultado, dois tanques foram deixados expostos ao fogo de Panzerfaust; um deles foi destruído e, o outro, danificado.

O III/26º concentrou suas forças na tomada de um ponto-forte alemão, mantido na Igreja de Santa Isabel, em 14 de outubro. Pelo anoitecer, o III Batalhão tinha avançado até as cercanias do Parque Farwick, apenas a uns poucos quarteirões do quartel-general do coronel Wilck, no Hotel Quellenhof. Wilck decidiu transferir seu comando para um bunker antiaéreo, 1.500 metros à oeste do hotel. O coronel recebeu os únicos reforços que puderam abrir caminho até a cidade. Eles eram membros do Batalhão SSRink” e eram, como afirma Gabel, “os melhores e mais fanáticos elementos que a Alemanha tinha a oferecer.” Embora tivessem sofrido perdas significativas ao atravessarem as linhas da 30ª Divisão, a tropa remanescente seria a ponta-de-lança do contra-ataque, no dia seguinte.

O dia 15 sinalizou uma boa quantidade de progresso para o III/26º, graças à alguns morteiros de 4,2 pol, que eles tinham. Quando alcançaram o Hotel Quellenhof, os soldados SS iniciaram seu contra-ataque. O III/26º foi obrigado a recuar. Isso levou a uma alteração nas táticas do III Batalhão, que passaria os próximos dois dias, na defensiva. No dia 18, as operações ofensivas do III/26º foram reiniciadas. O contato foi mantido com a 30ª Divisão, por uma patrulha enviada além do seu flanco direito. Logo depois, eles reconquistaram o terreno perdido no dia 15, e iniciaram um assalto sobre o Hotel Quellenhof. Os americanos lutaram, de sala em sala, e conseguiram forçar os alemães para o porão, onde granadas e fogo de metralhadora, finalmente, compeliram os sobreviventes à rendição. O Parque Farwick estava, agora, nas mãos do III/26º. Gabel acrescenta que, a derrota do Batalhão SSRink”, danificou o restante da defesa alemã.

Para o assalto final, o III/26º recebeu assistência do VII Corpo, na forma da Força-Tarefa Hogan. Esta consistia de um batalhão de infantaria blindada e de um batalhão de tanques (menos uma companhia) da 3ª Divisão Blindada. A FT-Hogan devia atacar o canto noroeste de Lousberg, enquanto o III/26º atacava do leste. A resistência alemã estava enfraquecendo, já que o III/26º, rapidamente, tomou Salvatoberg. Por volta do meio-dia, a FT-Hogan e o III/26º se ligaram no Lousberg.

Wilck sabia que era, apenas, questão de tempo. Ele emitiu uma ordem para lutar até o último homem e a última bala, embora Gabel menciona que não se sabe quantas de suas tropas, realmente, receberam esta instrução. Por volta de 20 de outubro, a FT-Hogan e o III/26º conseguiram eliminar a última resistência inimiga. A Batalha de Aachen terminou, em 21 de outubro. Uma fração do III/26º estava se dirigindo para um bunker antiaéreo nas proximidades, sem saber que era o QG de Wilck. O comandante do III Batalhão, tenente-coronel John T. Corley, estava para mandar disparar o canhão de 155 mm, contra a estrutura, quando uma bandeira branca foi hasteada. Wilck tinha enviado alguns prisioneiros americanos, para se render. Antes, ele realizou uma última transmissão pelo rádio, declarando sua dedicação à Hitler e à Alemanha, rendendo-se ao III/26º.

Um dos problemas que confrontaram as forças americanas, após a batalha, foi coletar todos os soldados alemães. Com as principais linhas de comunicação alemãs destruídas, os americanos foram forçados a pegar alguns dos oficiais de estado-maior de Wilck, e conduzi-los pelos arredores, num carro blindado, para levar as tropas alemãs, remanescentes, a se renderem. Outro problema que os aliados enfrentaram, foram os 7 mil civis ainda dentro da cidade. Durante a operação, os civis foram transferidos para um campo aberto, onde o Corpo de Contra-Inteligência começou a avaliá-los, em busca de espiões alemães e funcionários de alto-cargo. Eventualmente, estes evacuados foram realocados em quartéis do Exército alemão, localizados a oito quilômetros de Aachen. Era um lugar onde os civis podiam aguardar, enquanto o processo de registro e avaliação ocorria.

Aachen foi capturada pelos americanos, que não tinham experiência anterior em luta de rua, mas que utilizaram lições aprendidas durante as primeiras fases da Operação OVERLORD, para auxiliá-los. Pequenos destacamentos de armas combinadas foram, extremamente, eficazes. Gabel acrescenta que, de alguns modos, a batalha foi travada, muito como outras batalhas na Segunda Guerra Mundial, com artilharia e bombardeios aéreos enfraquecendo uma posição, e a infantaria movimentando-se, logo após. Uma das lições mais importantes da batalha, surgiu do número de civis, encontrados na cidade. Embora tenha ocorrido uma evacuação obrigatória, pelos alemães, antes da luta, e outra pelos americanos, durante ela, cerca de 1 mil civis ainda restavam, após a rendição de Wilck. A lição aqui, é que nunca se deve pressupor que todos os civis tenham deixado uma área em disputa.

SEUL, 1950.

Seguindo-se a eclosão da Guerra da Coréia, em 25 de junho de 1950, forças norte-coreanas aproveitaram o elemento-surpresa, para avassalar as unidades sul-coreanas, e capturar Seul, em três dias. Em “City Fights”, o major Thomas A. Kelley, relembra e analisa as ações, antes e durante a Batalha de Seul, nas quais a cidade foi, por fim, libertada, em 29 de setembro de 1950. Kelley observa que um dos primeiros problemas em tentar libertar a cidade, era determinar como colocar as tropas, lá. O general Douglas MacArthur, elaborou um plano para desembarcar uma força anfíbia, no porto de Inchon, no Mar Amarelo, ocupado pelos comunistas. Como Inchon, dificilmente, pareceria um local adequado para desembarque, MacArthur acreditava que suas tropas teriam o elemento-surpresa, e estava certo. O Exército do Povo Norte-Coreano não tinha uma força, grande o suficiente, na área, para rechaçar o assalto anfíbio, e retirou-se, face aos desembarques.

A principal força combatente era o X Corpo americano, comandado pelo major-general Edward A. Almond, compreendendo a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, a 7ª Divisão de Infantaria, batalhões de artilharia de corpo, uma brigada de engenharia e um batalhão de tanques e tratores anfíbios. O desembarque em Inchon teve lugar em 14 de setembro de 1950, e foi somente no dia 25, que as forças tiveram sucesso em abrir caminho, combatendo, até Seul. Entre os primeiros objetivos, estava cortar as estradas principais que levavam à cidade. Unidades da 1ª Divisão de Fuzileiros obtiveram sucesso em tomar o aeródromo de Kimpo, cortar a linha ferroviária de Seul, e tomar várias colinas-chave. O 17º Regimento de Infantaria sul-coreano e o 32º Regimento de Infantaria do Exército americano avançaram sobre Seul, vindos do sul.

O 8º Exército dos Estados Unidos, comandado pelo tenente-general Walton H. Walker, estava tendo problemas em irromper através das defesas norte-coreanas. A ruptura era importante para o plano de MacArthur de retomar Seul, e empurrar os norte-coreanos para trás, através da fronteira internacional. Por isso, MacArthur instruiu seus planejadores para começar a buscar por alternativas. Antes que um plano detalhado pudesse ser preparado, o 8º Exército, com a ajuda dos bombardeiros e aviões de ataque das Forças Aéreas do Extremo Oriente, obteve sucesso em irromper através das linhas norte-coreanas. A ruptura começou em 22 de setembro e, no dia seguinte, o 8º Exército estava em perseguição das forças inimigas em retirada.

Enquanto o 8º Exército estava executando sua ruptura, o movimento do X Corpo, na direção de Seul, desacelerou. Os norte-coreanos foram capazes de se recuperar do choque do ataque inicial, e começaram a movimentar reforços para a área. A 1ª Divisão de Fuzileiros, conseguiu infligir severas baixas sobre os norte-coreanos, enquanto forças das Nações Unidas avançavam sobre três eixos. O 1º Grupamento de Combate Regimental de Fuzileiros Navais (1º GCRFN), devia limpar o subúrbio de Yungdungpo, atravessar o rio Han e, então, capturar a Montanha do Sul. O 5º GCRFN devia se ligar ao Regimento de Fuzileiros Navais sul-coreano, para retomarem a cidade. A 7ª Divisão de Infantaria americana devia proteger o flanco sul, e enviar uma força-tarefa na direção sul, para Suwon. O Exército norte-coreano tinha cavado posições defensivas, numa série de colinas a oeste de Seul e Yongdungpo, onde ofereceram resistência obstinada; as forças da ONU não puderam abrir caminho até a cidade, até 25 de setembro.

Quando a alcançaram, as forças da ONU escolheram não cercá-la. Kelley explica que isto pode ter sido um fator na libertação da cidade, tão rapidamente. Ao deixar aos inimigos a opção de se retirar, isto os impediu de acreditar que tinham de lutar pela cidade, até a morte, ou até que recebessem ordens para se retirar.

Mesmo embora isto possa ter ajudado as forças da ONU em retomar a cidade, mais rapidamente, não fez as coisas mais fáceis. A luta nas ruas foi brutal. Os norte-coreanos tinham cometido incontáveis atrocidades, incluindo tortura, mutilação e genocídio. Forças da ONU, com freqüência, acharam evidências destes crimes de guerra e se horrorizaram que não-combatentes civis e prisioneiros de guerra militares pudessem ser tratados deste modo. Os soldados de hoje encontram atos de violência similares, cometidos contra civis por terroristas e, embora alguns soldados possam ser capazes de lidar com isto, emocional e psicologicamente, há outros que acham tal coisa difícil. Este foi o caso com soldados americanos e aliados, que testemunharam as conseqüências da brutalidade comunista e, como resultado, alguns destes tiveram de ser evacuados para receber tratamento apropriado para estes ferimentos invisíveis, ou exigiram posterior tratamento, após voltarem para casa.

Incêndios foram outro problema durante a libertação de Seul. Unidades norte-coreanas, em retirada, atearam fogo a grandes áreas da cidade, para criar obstáculos, negar acesso das forças da ONU à infraestrutura, destruir suprimentos ou, apenas, para ocultar a extensão de seus crimes de guerra e contra a humanidade. Edifícios em chamas, fumaça, gases tóxicos liberados por incêndios químicos e calor insuportável, tornaram difícil para os soldados atuarem, de forma apropriada. O uso de incêndios pelo inimigo, como arma para obstruir o movimento, para produzir refugiados ou para destruir instalações, a fim de impedir sua captura, é uma consideração para futuros líderes, quando contemplarem a luta urbana.

Seul foi libertada em 28 de setembro de 1950. Mais de 65 porcento da cidade foi destruído. De acordo com o raciocínio do Exército norte-coreano, a destruição da cidade era o melhor curso de ação, sem levar em consideração o estarrecedor custo para os cidadãos e propriedades de Seul, mas poderia ter sido ainda pior. Kelley aponta que, tomar a cidade dispondo cerco a ela, poderia ter resultado “numa batalha ainda mais prolongada, defesas mais fortes e baixas civis mais elevadas.” Ao utilizar uma judiciosa combinação de artilharia e apoio aéreo, o Exército e o Corpo de Fuzileiros Navais americanos cumpriram suas missões e salvaram as vidas de muitos, de ambos os lados.

Uma vez que Seul tinha sido libertada, o governo sul-coreano, rapidamente, retornou a ela. Se o governo não tivesse restabelecido o controle sobre sua capital, as forças da ONU se veriam forçadas a parar de empurrar os norte-coreanos para trás e, ao invés disso, ter de lidar com esforços humanitários para os muitos refugiados na área. Quando a cidade foi libertada, as conseqüências, com freqüência, envolviam restaurar ordem, alimentação, água, roupas e abrigo para a população civil e, isto, pode colocar onerosas demandas sobre uma força militar que esteja, ao mesmo tempo, tentando conduzir operações de combate.

HUE, 1968.

A batalha da Cidade de Hue ocorreu em 1968, e foi uma das batalhas marcantes da Guerra do Vietnam. As forças comunistas vietnamitas lançaram sua ofensiva do ano novo lunar, em 30 de janeiro de 1968, numa série de ataques coordenados por sapadores do Viet Cong (VC) e forças regulares do Exército norte-vietnamita, por toda a extensão do Vietnam do Sul. A antiga capital imperial, Hue, foi uma das primeiras cidades atacadas. Dois regimentos norte-vietnamitas e vietcongs, com um total de 7.500 soldados, avançaram sobre Hue, no final da noite de 29 de janeiro, e estavam em posição de ataque, na manha do dia 31. Por volta das 2 da madrugada deste dia, o 6º Regimento norte-vietnamita ligou-se com seus guias e tomou uma cabeça-de-ponte na Cidadela, uma estrutura semelhante a um castelo, que tinha sido a residência para os imperadores anamitas, desde inícios dos anos 1800. O 4º Regimento norte-vietnamita juntou-se ao 6º Regimento, e eles hastearam sua bandeira comunista sobre o Palácio Imperial. Os dois principais objetivos deles eram tomar o controle do quartel-general da 1ª Divisão do Exército da República do Vietnam, no canto nordeste da Cidadela, e o QG do Comando de Assistência Militar Vietnam (MACV), localizado no lado sul do rio Perfume. Ao tomar a Cidadela, o VC tinha obtido sucesso em dividir as duas forças, uma da outra.

Após receber informações incorretas sobre o ataque, a Força-Tarefa X-Ray, um QG avançado da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais americana, enviou uma companhia de fuzileiros navais – Companhia A do I Batalhão, 1º Regimento de Fuzileiros Navais (I/1º) – para auxiliar as forças americanas e do Exército sul-vietnamita que estavam sendo avassaladas. A companhia encontrou quatro tanques M-48, no caminho. Como as forças vietcong fracassaram em destruir a Ponte An Cuu, o I/1º conseguiu se aproximar das instalações do MACV, antes de ser aferrado pelo fogo inimigo. Sabendo que força de socorro estava aferrada, o brigadeiro-general Foster C. LaHue, enviou o tenente-coronel Marcus J. Gravel, comandante do I/1º, juntamente com a Companhia G, II Batalhão do 5º de Fuzileiros Navais, para auxiliá-la.

Quando os dois batalhões se ligaram, abriram caminho, lutando, até a instalação do MACV, onde estabeleceram posições defensivas ao redor do QG, um atracadouro de embarcações da Marinha, no rio e a base da Ponte Nguyen Hoang. Esta, conectada a Autoestrada 1, era seu caminho para a Cidadela. Os batalhões de fuzileiros navais receberam novas ordens da III Força Anfíbia de Fuzileiros Navais (III MAF, ou III Marine Amphibious Force), para alcançar o QG do Exército sul-vietnamita e se ligar com seu oficial-comandante, general Ngo Quant Truong. O major Norm Cooling, autor do relato da batalha de Hue em “City Fights”, observa que os navais, nesta situação, acreditavam que a III MAF não estava, totalmente, ciente da situação e, portanto, tal decisão não era boa. Gravel enviou a Companhia G, para assegurar a ponte; ela conseguiu tomá-la, após duas horas de tiroteio, mas foi forçada a recuar até a instalação do MACV, três horas depois, em face de um contra-ataque vietcong.

A III MAF enviou o II Batalhão do 12º Regimento de Cavalaria do Exército americano, para uma zona de desembarque, próxima a Autoestrada 1. Os norte-vietnamitas conseguiram receber reforços e reforçar seu controle da cidade. O clima começou a obstruir o apoio aeroterrestre, mas a Companhia F do II/5º de Fuzileiros, foi capaz de completar uma inserção numa zona de desembarque, próxima a instalação do MACV, no segundo dia. No dia seguinte, a Companhia H, do II/5º de Fuzileiros, juntou-se as forças no MACV.

No quarto dia, o tenente-coronel Earnest C. Cheatham Jr., oficial-comandante do II/5º, recebeu a ordem de mover um comboio para dentro de Hue, e assumiu o comando das forças sob Gravel. O coronel Stanley S. Hugues, ordenado a assumir o comando supremo de todas as forças dos Fuzileiros Navais americanos na área, por LaHue, também estava no comboio. Este foi emboscado, durante o avanço para a instalação do MACV. Hughes assumiu o comando de Gravel e deu ordens para dar início a eliminação dos combatentes inimigos, no seu lado do rio. Cheatham devia mover seus homens para oeste da instalação, rumo ao Canal Phu Cam. Os homens de Gravel deveriam se mover com o II/5º, ao longo do Phu Cam, limpando-o de hostis e tentando manter a Autoestrada 1 aberta para até o QG MACV. Tropas sul-vietnamitas que estavam no MACV, no começo do ataque, deveriam lidar com tocaieiros e bolsões de resistência remanescentes. Também deveriam cuidar de quaisquer refugiados civis encontrados durante o avanço americano.

Os Fuzileiros Navais estavam acostumados ao combate rural e de selva. Guerra de rua era um conceito estranho para eles. Foram aprendidas lições que os ajudariam, mais tarde, em combate urbano, mas as baixas foram altas, à princípio. A única vantagem que os Fuzileiros tinham eram seus blindados, e mesmo assim, os vietcongs e norte-vietnamitas tinham rojões antitanque B-40. Devido às restritivas regras de engajamento (ROE), as forças americanas estavam impossibilitadas de empregar fogo de artilharia (terrestre e naval) e munições aéreas. Semelhante às forças americanas atacando Aachen, em 1944, que descobriram grande número de civis, ainda na cidade, também os Fuzileiros se viram tentando limpar de inimigos, edifícios cheios de não-combatentes. Enquanto os Estados Unidos estavam debaixo de estritas ROE, o VC e o Exército norte-vietnamita não estavam. O inimigo não hesitava em utilizar não-combatentes, como escudos humanos. No quinto dia de ataque, o subcomandante do II/5º, major Ralph J. Silvati, conseguiu vários lança-granadas lacrimogêneos para as forças combatentes. Estas armas não-letais, tornaram mais fácil desentocar os norte-vietnamitas e vietcongs dos edifícios, enquanto mantinham as baixas civis no mínimo.

Os Fuzileiros Navais fizeram constante progresso na limpeza das forças inimigas. As áreas limpas incluíam a tesouraria, a universidade e a Escola Joana D’Arc. Por volta de 6 de fevereiro, a maioria da capital tinha sido limpa de combatentes comunistas. Por volta do dia 10, o lado sul de Hue estava seguro. Levou mais vários dias, para os Fuzileiros terem certeza da eliminação das forças comunistas da área. Os Fuzileiros Navais, também, começaram a descobrir sepulturas coletivas, cheias com sul-vietnamitas que tinham sido, sumariamente, executados, durante o controle comunista da cidade.

No outro lado do rio, o brigadeiro-general Truong e sua 1ª Divisão sul-vietnamita começaram a tentar retomar a Cidadela. Após quatro dias de contra-ofensivas, ele requisitou auxílio americano . O major Robert H. Thompson e seu I Batalhão do 5º de Fuzileiros Navais (I/5º), recebeu a missão. Suas ordens eram para substituir a 1ª Força-Tarefa Aeroterrestre sul-vietnamita, ao longo da muralha do nordeste, e continuar o processo de limpeza. Eles entraram na Cidadela, e 13 de fevereiro, e descobriram que a FT Aeroterrestre sul-vietnamita tinha abandonado a área, e que os norte-vietnamitas estavam se movendo para as posições abandonadas. Estes últimos engajaram os navais e deixaram a Companhia A do I/5º incapacitada para combate. Agora estava claro que as forças comunistas no interior da Cidadela, estavam bem-fortificadas e camufladas. Hughes começou a argumentar por um relaxamento das ROE, para que armas mais poderosas e eficazes pudessem ser empregadas para desbaratar o inimigo. A requisição foi aprovada e Thompson começou a empregar canhões navais de 5 e 6 pol, artilharia terrestre de 8 pol e 155 mm, e foguetes “Zuni” de aeronaves de asa fixa, ao longo da muralha. Gás de controle de tumulto foi, também, utilizado. Cooling escreve que uma possível explicação para o relaxamento das ROE para as operações americanas em Hue, foi de que o general Creighton W. Abrams, o vice-comandante do teatro, tinha estabelecido um posto de comando avançado do MACV, em Phu Bai, dezesseis quilômetros ao sul de Hue.

Mesmo com o aumento no poder de fogo, agora disponível, não foi até 21 de fevereiro, que o I/5º conseguiu ter sucesso em tomar a muralha noroeste da Cidadela. O Exército sul-vietnamita tinha problemas em tomar a muralha de sudeste e o palácio imperial. Thompson teve de girar seu batalhão e continuar a luta. Sua força de combate estava exaurida, portanto, ele se voltou para um grupo de navais que tinha chegado, recentemente, a Companhia L do III Batalhão do 5º de Fuzileiros Navais (III/5º). Durante o assalto do III/5º, quatro batalhões da 1ª Divisão de Cavalaria do Exército americano, deram início a um assalto contra uma instalação de suprimentos norte-vietnamita no Bosque La Chu, a oeste da cidade. Com as linhas de comunicação comunistas rompidas, e pouca esperança para apoiar as forças remanescentes na Cidadela, o 6º Regimento norte-vietnamita começou a retirada no dia 23. Neste mesmo dia, Thompson tomou a muralha de sudoeste, e começou a focalizar a atenção no palácio imperial. Um grupamento de elite sul-vietnamita, a Companhia “Pantera Negra”, executou o último assalto e retomou o palácio. As operações finais de limpeza começaram no dia 26, com a operação terminando na meia-noite de 27.

Há muitas lições a serem tiradas desta batalha. Primeiro, a coisa mais importante que uma força combatente pode fazer é assegurar suas linhas de comunicação. Ao assegurar um heliponto e um atracadouro perto ao QG do MACV, as unidades dos Fuzileiros Navais e do Exército na área, asseguraram que os combatentes teriam suprimentos para si e para o crescente número de refugiados civis. As regras de engajamento foram estritas, na esperança de preservar a cidade histórica e evitar baixas civis. Estas ROE, com freqüência, impediam os Fuzileiros de eliminarem, por completo, a presença inimiga. Um exemplo disto foi um grupo de norte-vietnamitas ocultando-se no interior de um pagode. Os Fuzileiros tiveram de contatar seus QGs para requisitar permissão para disparar contra a estrutura. Pela altura em que receberam resposta, os norte-vietnamitas já tinham escapado. O Exército sul-vietnamita, no entanto, tinha diferentes regras de engajamento e pediam por ataques aéreos no interior da Cidadela. As ROE em qualquer ambiente urbano precisam assegurar a segurança de civis e edifícios de importância histórica, embora tendo flexibilidade o bastante para permitir aos combatentes fazerem o que é preciso para impedir o inimigo de se retirar e reagrupar.

Informações sobre a situação estiveram ausentes por toda a luta. Uma razão pode ter sido de que havia pobreza de comunicações e de disseminação de informes por toda a área. Os Estados Unidos tinham sabido que havia uma crescente presença militar na zona desmilitarizada e ao longo da fronteira laociana, mas não compreenderam o que isso significava até ser tarde demais. As forças comunistas conseguiram obter o elemento-surpresa. Também, havia problemas com a estrutura burocrática para a disseminação da informação. Uma transmissão de rádio norte-vietnamita foi captada em 30 de janeiro, por uma estação de interceptação de campanha do Exército, mencionando um possível ataque sobre Hue. Ao invés de ir para o MACV, a informação foi enviada para Da Nang, para análise. O MACV não obteve esta informação, até depois da batalha ter começado.

O dito de George Santayanna de que “aqueles que não aprendem com a história, estão condenados a repeti-la”, se aplica ao combate urbano de hoje. Muito do que os soldados aprendem sobre ele foi obtido nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, da Guerra da Coréia e da Guerra do Vietnam. Hoje, estamos aprendendo valiosas lições, tanto no Iraque quanto no Afeganistão. A arma mais importante em qualquer campo de batalha é o conhecimento de como as gerações anteriores operaram em ambientes similares. Ao lembrar e aplicar este princípio, podemos preparar melhor os soldados para os desafios que irão enfrentar nos futuros campos de batalha.


____________________________________________

Eric Mailman é um dos dois internos da Universidade de Columbus, trabalhando para a Infantry Magazine, durante o semestre da primavera de 2008.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#51 Mensagem por marcolima » Ter Out 14, 2008 10:55 am

Clermont escreveu:OPERAÇÕES URBANAS: APRENDENDO DAS BATALHAS DO PASSADO.


STALINGRADO, 1943.


Ele comprou tempo, ao permitir que o 6º Exército tomasse áreas-chave da cidade, mas cada vez que os alemães conquistavam uma área disputada, era por alto custo em homens e equipamento. Para compensar, os alemães foram obrigados a transferir tropas de seus flancos para o centro, enfraquecendo suas defesas contra a planejada contra-ofensiva do Exército Vermelho. Durante operações urbanas, o tempo é um fator crítico, e um problema da campanha para os alemães era a forma como os soviéticos percebiam o tempo. Os alemães queriam, rapidamente, alcançar seus objetivos, mas os defensores soviéticos estavam mais interessados em prolongarem o conflito por tanto tempo quanto possível, para exaurir os alemães, tanto física como psicologicamente.

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(continua...)



Clermont, será que eu poderia comparar essa ação militar estratégico-operacional do combate urbano ao que é feito na guerra convencional, num combate linear, pelas linhas defensivas de 2º e 3º escalão dos exércitos e grupos de exércitos, ou seja permitir que o inimigo penetre lentamente nas linhas defensivas pagando um alto preço em tempo, homens e equipamentos?

[]s marco.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#52 Mensagem por Clermont » Ter Out 14, 2008 8:25 pm

marcolima escreveu:Clermont, será que eu poderia comparar essa ação militar estratégico-operacional do combate urbano ao que é feito na guerra convencional, num combate linear, pelas linhas defensivas de 2º e 3º escalão dos exércitos e grupos de exércitos, ou seja permitir que o inimigo penetre lentamente nas linhas defensivas pagando um alto preço em tempo, homens e equipamentos?
Não saberia responder a isso. Mas, talvez, se possa dizer que o princípio seja o mesmo. Aliás, acho que foi o general Patton quem disse que, em essência “a guerra se reduz a segurar o inimigo pelo nariz, através do fogo e chutar-lhe a bunda, através do movimento”. Ou algo parecido...

Acho que foi isso que aconteceu em Stalingrado. E, só pra lembrar, o comandante do 6º Exército foi avisado desse perigo, pelos seus comandantes subalternos, em especial, os da Arma Panzer: “Há alguma coisa acontecendo nos nossos flancos. É melhor reforçá-los com tropas do centro”. Mas o comandante alemão não deu ouvidos à advertência.

Melhor para os soviéticos, não?




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#53 Mensagem por marcolima » Qua Out 15, 2008 7:58 am

Clermont escreveu:
marcolima escreveu:Clermont, será que eu poderia comparar essa ação militar estratégico-operacional do combate urbano ao que é feito na guerra convencional, num combate linear, pelas linhas defensivas de 2º e 3º escalão dos exércitos e grupos de exércitos, ou seja permitir que o inimigo penetre lentamente nas linhas defensivas pagando um alto preço em tempo, homens e equipamentos?
Não saberia responder a isso. Mas, talvez, se possa dizer que o princípio seja o mesmo. Aliás, acho que foi o general Patton quem disse que, em essência “a guerra se reduz a segurar o inimigo pelo nariz, através do fogo e chutar-lhe a bunda, através do movimento”. Ou algo parecido...

Acho que foi isso que aconteceu em Stalingrado. E, só pra lembrar, o comandante do 6º Exército foi avisado desse perigo, pelos seus comandantes subalternos, em especial, os da Arma Panzer: “Há alguma coisa acontecendo nos nossos flancos. É melhor reforçá-los com tropas do centro”. Mas o comandante alemão não deu ouvidos à advertência.

Melhor para os soviéticos, não?

Fiquei pensando, como os alemães utilizavam a artilharia em ambiente urbano, num combate não linear. Como preveniam o fraticídio?

[]s marco




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#54 Mensagem por Piffer » Seg Out 27, 2008 10:46 pm

SGT GUERRA escreveu:DEFESA ELÁSTICA
A defesa elástica é uma técnica que admite a penetração do inimigo em região selecionada para emboscá-lo e atacá-lo pelo fogo ao longo de todo seu dispositivo. A posição é ocupada por tropas desdobradas em profundidade, para permitir o ataque em toda a extensão da formação inimiga.

Exemplo da aplicação dessa técnica no escalão unidade.


Imagem

Esta tática especial assemelha-se a uma grande emboscada.


O plano do comandante do batalhão prevê enfraquecer as forças inimigas à frente da área de defesa avançada e, depois, destruir essas forças enfraquecidas quando progredirem para o interior de sua zona de ação. As 1ª e 2ª Cia Fzo são empregadas na área de defesa avançada (ADA), como mostra a figura. Sua missão é destruir elementos de comando e controle, apoio ao combate e apoio logístico, com a finalidade de retardar, enfraquecer e desorganizar o ataque, empregando várias operações de pequenas frações para esse fim. A 3ª Cia Fzo ocupará os núcleos de aprofundamento, para deter o ataque e destruir pelo fogo as forças remanescentes.
O elemento de reconhecimento do BI é empregado, inicialmente,para vigiar à frente da zona de ação, informando o valor, dispositivo e direção do ataque inimigo e ajustando o fogo indireto. Quando o inimigo penetra na ADA, o elemento de reconhecimento ocupa posições desenfiadas e continua a informar sobre o segundo escalão e reservas inimigas.
As armas AC são, inicialmente, instaladas em posições avançadas próximas ao limite anterior da área de defesa avançada (LAADA), engajando o inimigo desde seu alcance máximo e procurando retardá-lo, desorganizá-lo e forçar o desembarque das tropas. O uso de obstáculos reforça a posição defensiva e assegura a máxima eficácia dos fogos AC. Mediante ordem, as armas AC deslocam-se para as posições já reconhecidas de onde participarão da destruição do inimigo na Área de Engajamento (AE) PATRÍCIA. O batalhão tira proveito do terreno compartimentado para reduzir a impulsão do inimigo. Isso o torna vulnerável a ataques múltiplos nos flancos, que o enfraquecem antes de chegar à área selecionada para sua destruição final pelo fogo (AE).

Chama-se área de engajamento a região selecionada pelo defensor onde a tropa inimiga, com sua mobilidade restringida pelo terreno e pelo sistema de barreiras, é engajada pelo fogo ajustado, simultâneo e concentrado de todas as armas da defesa. Tem a finalidade de causar o máximo de destruição, especialmente nos blindados inimigos, e de provocar o choque mental e físico pela violência, surpresa e letalidade dos fogos aplicados.
Os detalhes do planejamento de uma Área de Engajamento, na Armchair General: http://www.armchairgeneral.com/tactics- ... t-area.htm

No mês que vem, o artigo será sobre a organização do terreno (como posicionar os obstáculos para conduzir o inimigo até a AE).

Abraços,




Carpe noctem!
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#55 Mensagem por marcolima » Qua Out 29, 2008 1:57 pm

Piffer escreveu:
SGT GUERRA escreveu:DEFESA ELÁSTICA
A defesa elástica é uma técnica que admite a penetração do inimigo em região selecionada para emboscá-lo e atacá-lo pelo fogo ao longo de todo seu dispositivo. A posição é ocupada por tropas desdobradas em profundidade, para permitir o ataque em toda a extensão da formação inimiga.

Exemplo da aplicação dessa técnica no escalão unidade.


Imagem

Esta tática especial assemelha-se a uma grande emboscada.


O plano do comandante do batalhão prevê enfraquecer as forças inimigas à frente da área de defesa avançada e, depois, destruir essas forças enfraquecidas quando progredirem para o interior de sua zona de ação. As 1ª e 2ª Cia Fzo são empregadas na área de defesa avançada (ADA), como mostra a figura. Sua missão é destruir elementos de comando e controle, apoio ao combate e apoio logístico, com a finalidade de retardar, enfraquecer e desorganizar o ataque, empregando várias operações de pequenas frações para esse fim. A 3ª Cia Fzo ocupará os núcleos de aprofundamento, para deter o ataque e destruir pelo fogo as forças remanescentes.
O elemento de reconhecimento do BI é empregado, inicialmente,para vigiar à frente da zona de ação, informando o valor, dispositivo e direção do ataque inimigo e ajustando o fogo indireto. Quando o inimigo penetra na ADA, o elemento de reconhecimento ocupa posições desenfiadas e continua a informar sobre o segundo escalão e reservas inimigas.
As armas AC são, inicialmente, instaladas em posições avançadas próximas ao limite anterior da área de defesa avançada (LAADA), engajando o inimigo desde seu alcance máximo e procurando retardá-lo, desorganizá-lo e forçar o desembarque das tropas. O uso de obstáculos reforça a posição defensiva e assegura a máxima eficácia dos fogos AC. Mediante ordem, as armas AC deslocam-se para as posições já reconhecidas de onde participarão da destruição do inimigo na Área de Engajamento (AE) PATRÍCIA. O batalhão tira proveito do terreno compartimentado para reduzir a impulsão do inimigo. Isso o torna vulnerável a ataques múltiplos nos flancos, que o enfraquecem antes de chegar à área selecionada para sua destruição final pelo fogo (AE).

Chama-se área de engajamento a região selecionada pelo defensor onde a tropa inimiga, com sua mobilidade restringida pelo terreno e pelo sistema de barreiras, é engajada pelo fogo ajustado, simultâneo e concentrado de todas as armas da defesa. Tem a finalidade de causar o máximo de destruição, especialmente nos blindados inimigos, e de provocar o choque mental e físico pela violência, surpresa e letalidade dos fogos aplicados.
Os detalhes do planejamento de uma Área de Engajamento, na Armchair General: http://www.armchairgeneral.com/tactics- ... t-area.htm

No mês que vem, o artigo será sobre a organização do terreno (como posicionar os obstáculos para conduzir o inimigo até a AE).

Abraços,




O texto não é meu, só dei uma traduzida e uma ajeitada:

Correlação de forças global:

Cálculo da CF( correlaçao de forças) global em uma zona de acção envolve as seguintes etapas:
1. Determinar o número de cada tipo de armas em um sistema unitário.
2. Multiplique o número de armas instituído pela VPC ( valor potencial de combate) armas específicas para esse sistema.
3. Adicione a arma VPC totais para cada unidade ou formação.
4. Juntar unitários do Cvpctotais para cada lado (OPFOR e inimigos).
5. Divida a VPC total pelo VPC total DO INIMIGO.

Exemplo de como e calculado o VPC para uma brigada infantaria mecanizado.

Para um exemplo de cálculo para a COF global de uma situação hipotética. Os valores utilizados para fazer estes cálculos são apenas exemplos.


Sistema Arma VPC * x número de armas = arma VPC Total


Tanque 10 31 310
IFV 4 143 572
SP obus 2 18 36
Morteiro 3 18 54
SP armaAA
de tubo 1 6 6
SAM 2 6 12
MANPADS SAM- 1 48 48
ATGM Veículo 2 9 18
ATGM PORTATIL 1 18 18
Lança Granada
AT
1 140 140

Unidade CPV total 1214

• O objetivo desses exemplos é apenas para ilustrar o processo de cálculo. Os valores reais seriam diferentes de acordo com o modelo de equipamento específico


Normas para Correlação das Forças vantajosa

OS comandantes acreditam que é possível alcançar uma vitória com uma correlação de forças (CF) pouco superior, igual, ou mesmo inferior em relação ao inimigo.
A tarefa crítica é a de criar um tal CF vantajoso decisiva em determinados sectores onde foi atribuída a missão que tenha uma alta probabilidade de sucesso.
Chegou-se à conclusão de que uma dado setor com CF 4:1 dá apenas uma probabilidade 75 por cento de atingir a missão, enquanto uma vantagem 5:1 levanta a probabilidade de mais de 90 por cento.
Geralmente, ela gostaria de ter um setor com CF entre 4:1 e 6:1.
Embora possa procurar tanto uma superioridade 7:1 a reduzir taxas de acidente, o valor de referência parece ser 5:1.
Normalmente se esta disposto a defender nos setores restantes (nonstrike), com não mais do que uma 1:1 CF, e acredita-se que é possível defender com sucesso até mesmo em uma correlação negativa 0.5:1.
Planejadores não limitam os seus cálculos apenas para as forças conduzindo CPVs da defesa e contra o ataque inicial. Eles incluem todas as forças de ambos os lados envolvidos na continuação da ofensiva a toda a profundidade da operação planeada, isto é, para a posterior missão da organização planeamento do ataque.
Portanto, cálculos de CF devem levar em consideração prováveis mudanças na disposição dos lados, e sua composição em conexão com prejuízos, a sua substituição, bem como a chegada de reforços de outros escalões e reservas.
Os comandantes tentam encontrar um esquema de manobra e de fogo que irá manter um apoio favorável COF durante todo o decorrer da operação.


[]s marco




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#56 Mensagem por marcolima » Qua Out 29, 2008 2:02 pm

Vou tentar ordenar essa tabela de novo:

Sistema Arma VPC * x número de armas = arma VPC Total


Tanque 10 31 310
IFV 4 143 572
SP obus 2 18 36
Morteiro 3 18 54
SP armaAA
de tubo 1 6 6
SAM 2 6 12
MANPADS SAM- 1 48 48
ATGM Veículo 2 9 18
ATGM PORTATIL 1 18 18
Lança Granada
AT
1 140 140

Unidade CPV total 1214

• O objetivo desses exemplos é apenas para ilustrar o processo de cálculo. Os valores reais seriam diferentes de acordo com o modelo de equipamento específico


Ptz não deu... é só colocar os números em baixo das colunas.

[]s marco




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#57 Mensagem por Clermont » Qui Jan 08, 2009 9:57 am

AUFTRAGSTAKTIK.

Capitão M.M. O’Leary, Real Regimento Canadense.

“O conceito de Auftragstaktik ou “táticas orientadas para missão”... tornava responsabilidade de cada oficial ou sargento alemão... atuar sem questões ou dúvidas, onde quer que a situação o exigisse, como ele a enxergava, pessoalmente. Omissão ou inatividade eram considerados piores do que uma escolha errada de método. Até mesmo a desobediência de ordens não era inconsistente com esta filosofia (John A. English, A Perspective on Infantry, 1981).”

Auftragstaktik” – uma obscura palavra alemã relacionada a um método de conduta da guerra, quase intraduzível para o inglês, difícil de explicar, provavelmente, ainda mais difícil de compreender.

Mas, a Auftragstaktik é, realmente, um conceito estranho para a mentalidade militar canadense? Eu sustentaria que seu princípio básico, não é – pelo menos, não para o soldado em nosso Exército. Mesmo assim, eu acredito que a Auftragstaktik é um conceito, totalmente, inassimilável, para a mente do carreirista burocrático, que, pelo que se vê, continua a ser favorecido pelo sistema.

Auftragstaktik ganhou o dia na Serra de Vimy. Auftragstaktik levou aos sucessos canadenses na Normandia. Auftragstaktik sustentou a linha na Coréia. Ela fez estas coisas porque, em cada caso, o objetivo – “a Intenção do Comandante – estava, claramente, definido para cada oficial, sargento e praça. Cada um conhecia seu trabalho, e os trabalhos dos outros em volta dele, e estava preparado para cumprir a missão da unidade com força reduzida, mesmo depois da perda de seu próprio superior. Um aspecto importante da Auftragstaktik é a iniciativa, a expectativa de que os subordinados a aplicarão e a exigência para todos os níveis de posto terem confiança para fazer isto.

”...iniciativa é uma característica desejável num soldado, apenas quando seu esforço é concêntrico, antes do que excêntrico: o fuzileiro que vai em frente, e captura um ponto elevado do terreno, que o senso comum diz que não pode ser mantido, pode trazer um risco maior para uma companhia do que qualquer simples malfeitor. (S.L.A. Marshall, MEN against FIRE, 1947)”


Para uma aproximação simplista, pense num aspecto da Auftragstaktik em termos da “concentricidade de iniciativa” de S.L.A. Marshall. A iniciativa aplicada na direção de um estado-fim definido, contribuirá para o sucesso, tanto como a iniciativa para não executar uma tarefa designada, que não mais apoia a obtenção daquele objetivo. Os sargentos e praças do Exército do Canadá estão preparados e capacitados para compreenderem e aplicarem isto. As deficiências na preparação do Exército para adotar a Auftragstaktik, como conceito tático, jazem, não com nossos praças, mas com nossos oficiais.

A Auftragstaktik requer uma mudança fundamental do auto-protecionismo carreirista, que nós imprimimos sobre nossos oficiais, recompensando-os por exibir isso e punindo-os por não o seguirem. Os oficiais do Exército precisam compreender e viver dentro dos preceitos da Auftragstaktik. Eles precisam estar preparados para explicar as expectativas da Auftragstaktik para seus sargentos e praças, como instruí-los em sua aplicação e, talvez, mais importante, como aceitar o sucesso parcial, no treinamento, como sucesso – não como fracasso. Mesmo quando este sucesso parcial é, apenas, a coragem de um subordinado em aplicar aquilo que, ele ou ela, percebe como iniciativa concêntrica.

O Exército canadense sofre de uma sintomatologia clássica de hierarquismo. Estamos tão cegos para nossas deficiências que precisamos que o Dr. Jack Granatstein e Desmond Morton as descrevam para nós, antes de sermos capazes de reconhecê-las? Laurence Peter poderia ter um dia no campo, reescrevendo The Peter Principle, baseado num estudo de nossa atual estrutura de carreira. O foco na conformidade, padrões mensurados de comportamento e desempenho, estagnação dos incompetentes antes do que sua remoção, e colocar de lado os “super-competentes” são, todos, indicadores clássicos desta doença. Os super-competentes são aqueles elementos que podem executar qualquer tarefa designada, mas falham em se conformarem com as expectativas hierárquicas de normalidade. Eles são tolerados (dentro de limites) mas não promovidos pela hierarquia, e eles pegam os trabalhos “sujos”, estes com riscos associados à carreira, porque: (a) eles vão fazê-lo; (b) eles são considerados dispensáveis pelos seus superiores conformistas. Nossa estrutura de carreira é baseada na promoção do conformismo, não na competência. De fato, nós, até mesmo, chegamos ao ponto no qual:

“... super-competência é mais questionável do que a incompetência. Ordinária incompetência.. não é causa para demissão: é, simplesmente, um obstáculo para a promoção. Super-competência, freqüentemente, leva à demissão, porque ela desorganiza a hierarquia, e, portanto, viola o primeiro mandamento da vida hierárquica: a hierarquia precisa ser preservada.” (Laurence J. Peter & Raymond Hull, The Peter Principle, 1969.)


Auftragstaktik não pode prosperar dentro de um tal hierarquismo absoluto. Ela exige uma linha de frente dos ousados, atrevidos e inteligentes. As hierarquias temem estas mesmas características porque desorganizam a estabilidade da hierarquia. Não confundam estabilidade da “hierarquia” com estabilidade do Exército como instituição. As estruturas e quadros mentais do Exército são destinados a enfrentar e sobreviver à crises. Porém, a matéria inerente que permite isto, seu esprit, o sistema regimental, seu equilíbrio de dever e bem-estar do pessoal, não podem ser permitidas a se atrofiarem até a estagnação, em tempos de paz, através da burocratização.

Um exército sobrevive e cresce, física, intelectual e espiritualmente, por meio destes que correm riscos. Eu não estou, aqui, apoiando a quebra de regulamentos ou colocar os soldados, em treinamento, sob riscos desnecessários, ou injustificáveis. Nós, entretanto, perdemos nossa capacidade de buscar o limiar do cenário permitido. Peguem, por exemplo, a infantaria. Eu tenho encontrado, através dos anos, muitos dos meus próprios pares que evitam ter qualquer coisa a ver com disparo de campo (field firing, o treinamento dos soldados com fogo real, em cenários táticos. Eles conseguem isto, permitindo que suas próprias habilidades se degradem e deixando os poucos, desejosos e capazes, assumirem. Disparo de campo, “pelo manual”, não é perigoso; ele pode ser o melhor treinamento que um soldado experimentará. Estes oficiais evitam o desafio, não devido ao risco para os soldados, mas devido ao risco para suas próprias carreiras, se alguma coisa der errado. Os que assumem riscos desafiam o aconchego confortável do status quo; eles estão dispostos a trocar seu potencial dentro da hierarquia pela aceitação de um grau de responsabilidade que a burocracia decidiu considerar desagradável. Os que assumem riscos perturbam a hierarquia, porque recusam-se a “ficar no armário”. E não há riscos, ou Auftragstaktik, dentro do armário.

Burocracias mantém hierarquias ao cortar ou restringir o crescimento do não-familiar, o novo e o original, até que, semelhante à arte da topiária (arte de esculpir arbustos, árvores e plantas, dando-lhes formas fantásticas), eles passem a agradar o observador de fora, porém, não tendo mais semelhança alguma com seu estado natural de evolução. E, neste caso, este formato é mantido, de ano para ano, sem consideração pelo dano causado às partes componentes do organismo de base – nossos praças, sargentos e oficiais subalternos. A Auftragstaktik exigirá uma tal mudança fundamental ao Exército que, apenas, por cuidadosa preparação do terreno para a mudança, poderemos nos aproximar dela com alguma esperança de sucesso. Nós devemos considerar o Exército canadense como um organismo dinâmico único, não diferente da descrição de Churchill do regimento britânico, da virada do século:

”Regimentos não são como casas. Eles não podem ser derrubados e alterados, estruturalmente, para se adequar às conveniências do ocupante ou o capricho do dono. Eles são mais como plantas; eles crescem, lentamente, se é para se tornarem fortes... e se eles são podados ou transplantados, estão prontos para murcharem.”


O Exército precisa ser tratado com cuidado; não podemos, de súbito, mudar o formato ou as condições de crescimento, de apenas, uma parte, sem afetar as outras ao negar tratamento similar ou compensatório. Auftragstaktik é uma tal mudança, que ensinar os oficiais não é o suficiente, nós devemos estar preparados para prover a árvore inteira com este fertilizante. E a mudança precisa ser tratada com cuidado, sob o risco de a estrutura inteira ser, irreparavelmente, danificada.

Mas, como podemos esperar que a Auftragstaktik, ou iniciativa concêntrica, sobreviva numa estrutura hierárquica como nosso atual sistema de carreiras? Não devemos esperar isto, porque é impossível. Nosso sistema de carreira permanece dependente da alocação de tarefas e a percebida necessidade por “indicadores mensuráveis de desempenho”, isto é, a finalização de tarefas designadas pelo manual. Isto e dar maior crédito ao potencial subjetivo para uma futura patente, do que damos para o desempenho objetivo na patente atual, continuará a derrotar o propósito da mudança para Auftragstaktik. Até que estas características indesejáveis sejam enfrentadas, a Auftragstaktik estará sendo semeada em terreno estéril. É muito bom que tenhamos iniciado o ensino de nosso oficiais sobre os conceitos da Auftragstaktik, mas isto é só arranhar a superfície. Até que as expectativas do sistema mudem, os oficiais falarão, com entusiasmo, da Auftragstaktik, enquanto nos cursos, então, rapidamente, se retirarão para as menos ousadas expectativas do status quo, ao retornarem a seus deveres. Nós devemos escolher nossas próximas linhas de avanço, cuidadosamente.

O Exército precisa mudar seu foco fundamental sobre o desempenho e expectativas, se esperamos que uma alteração na metodologia de comando, envolvendo a Auftragstaktik, seja bem-sucedida. Nossos oficiais precisam ser ensinados – ou re-ensinados – que a iniciativa é uma característica pessoal e profissional, tão forte quanto a lealdade, e que a iniciativa concêntrica pode ser uma exibição mais forte de lealdade para com um superior, e para com o Exército, do que a obediência cega.

Nossos soldados, mesmo antes de serem treinados e promovidos para posições de supervisão, precisam estar imbuídos com o espírito da Auftragstaktik. Nós precisamos ensiná-los o conceito da iniciativa concêntrica, e recompensá-los por qualquer tentativa razoável de aplicá-la. A tendência de se começar uma crítica com a frase “boa iniciativa, porém...”, não pode mais considerada como aceitável. Achem a culpa na lógica utilizada para selecionar o método e a corrijam, através do treinamento, mas nunca culpem a disposição do soldado para tentar. Nós precisamos nos esforçar para treinar a mente, tanto como o corpo, de todos as patentes. Desta maneira, os adestramentos de batalha poderão se tornar o que deveriam ser, um ponto de início comum, a partir do qual se desenvolve um plano, antes do que uma solução por si mesmos.

”Fetichismo por adestramentos de batalha tem sido, em grande medida, o responsável pela esterilização da imaginação, da criatividade e da agilidade mental nas fileiras da infantaria. Adestramentos de batalha são... um conjunto de reações... De modo oposto, táticas são planos divisados para dominar uma ameaça, os dois são, portanto, diferentes.” (Coronel Arjun Ray, citação no RUSI Journal, outono de 1989).


Aqueles de nossos elementos que não se tornaram escravos do sistema oferecem terreno fértil para os conceitos da Auftragstaktik. Esta se adequa à mentalidade canadense. Nossos jovens praças, sargentos e oficiais devem prosperar sob ela. Mas, precisamos desviar a hierarquia estabelecida de suas atuais tendências. O existente sistema de mérito e nossos meios incorporados de avaliação de desempenho são venenosos para a Auftragstaktik – e se não adubarmos o solo, a planta morrerá.

A efetiva aplicação da Auftragstaktik depende da disposição individual e capacidade para aplicar soluções únicas e não-conformistas, quando surge uma crise. A prontidão de todas as patentes para se distanciarem “do plano”, uma vez que ele não mais apoie o estado-fim desejado pelo Comandante, é essencial e precisa ser assumida por cada nível de comando. O Exército precisa aceitar esta continuada doutrinação de seus oficiais e sargentos de que a obediência bovina às tarefas ordenadas não é mais aceitável, pois não se coaduna com uma evolução na direção da Auftragstaktik.

Como nota final, gostaria de mencionar os títulos de várias obras iluminando nossa atual doença e que estão por aí, já há algum tempo. Mesmo como um jovem oficial subalterno, eu fui aconselhado de que deveria familiarizar-me com Crisis in Command (Gabriel, Richard A. and Savage, Paul A., Crisis in Command, Mismanagement in the Army, 1978), e, apenas uns poucos anos mais tarde, descobri On the Psychology of Military Incompetence (Norman F. Dixon, On the Psychology of Military Incompetence, 1976), mais tarde, descobrindo que ele era mais bem-conhecido do que eu poderia esperar. Estas obras oferecem diagnóstico e orientação, se estivermos dispostos a abraçá-las, de coração.

Considere os atributos de um bom oficial combatente, por Gabriel e Savage, estas são as mesmas características que precisam se tornar aceitáveis e desejáveis, se pretendemos nos ajustar à Auftragstaktik:

Indicadores discretos de um bom oficial combatente.

Desconfie de qualquer oficial com um registro perfeito, ou quase perfeito, de relatórios de eficiência. Ele está conformado com o sistema existente de valores, e não terá interesse algum em mudá-lo.

Preste atenção num homem que obtém índices baixos em “tato” e que “se desvia da doutrina aceita.” Ele pode ser criativo.

Um oficial que obtém índices baixos em lealdade é, especialmente, valioso, pois ele não está disposto a aquiescer com as políticas de seus superiores, sem debater. Provavelmente, ele tem uma mentalidade independente.

Suspeite de qualquer oficiai que tenha acumulado condecorações por valor, sem ter sofrido ferimentos físicos. Confie num portador da Purple Heart.

Desconfie de qualquer oficial que tenha “todas as passagens carimbadas” e que exiba um conjunto de condecorações de estado-maior no peito. Ele, provavelmente, é um administrador, jogando pelo sistema.

Desconfie de todos os oficiais que utilizem o “jargão da moda” e tenham um vocabulário pobre. Eles tendem a ser administradores do tipo mais subserviente. Liderança autêntica, provavelmente, é alheia a eles.

Confie num homem que avançe na direção do som dos canhões e tenha repetidas temporadas de combate e de missão de comando, em todos os escalões de unidades; é preferível que ele tenha tido, apenas, uma exposição mínima ao trabalho de estado-maior.

Confie num oficial que tenha sido visto em combate, pelos seus homens, e cujo escalão de comando tenha se desempenhado bem, e exibido baixos índices de uso de drogas, ataques contra oficiais, contagem de corpos, etc.

Procure pelo oficial cujos relatórios de prontidão indiquem que uma elevada percentagem do equipamento é deficiente. Ele é um homem viciado na verdade.”


“Só pode comandar aquele que tem a coragem e a iniciativa de desobedecer.” (William McDougall, 1871-1938, psicólogo britânico). Da mesma forma, apenas aqueles oficiais e sargentos, com a mesma coragem, podem fazer com que a Auftragstaktik funcione no Exército canadense. A questão permanece – o sistema terá a coragem de deixá-los tentar?




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#58 Mensagem por Guerra » Qui Jan 08, 2009 12:27 pm

Clermont escreveu: Mas, a Auftragstaktik é, realmente, um conceito estranho para a mentalidade militar canadense? Eu sustentaria que seu princípio básico, não é – pelo menos, não para o soldado em nosso Exército. Mesmo assim, eu acredito que a Auftragstaktik é um conceito, totalmente, inassimilável, para a mente do carreirista burocrático, que, pelo que se vê, continua a ser favorecido pelo sistema.
Essa mentalidade é toda baseada na capacidade dos cmt (em todos os niveis) em assumir riscos. Dificilmente no nosso sistema de avalaiação atual vai expor dessa forma. E pelo jeito esse é o problema de todo exército.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#59 Mensagem por Clermont » Dom Mar 01, 2009 5:04 pm

O PREÇO DE TÁTICAS RUINS.

Por William Lind – 24 de fevereiro de 2009.

Pela enésima vez, os militares americanos no Afeganistão tiveram de anunciar, semana passada, que um ataque aéreo americano matou civis. O incidente seguiu um padrão familiar. Primeiro, anunciamos que quinze insurgentes foram mortos, então, tivemos de reduzir, descobrindo, após uma investigação oficial, que apenas três dos mortos eram combatentes, enquanto treze civis tinham morrido.

Durante testemunho no Congresso, o secretário de defesa Gates disse que, a menos que paremos de matar civis afegãos em ataques aéreos, “estaremos perdidos”. Então, por quê continuamos a efetuar ataques aéreos?

A resposta é, porque as táticas da infantaria americana são ruins. Elas equivalem a um pouco mais do que tropeçar no inimigo e pedir apoio de fogo. O modo mais fácil de fornecer o avassalador apoio de fogo do qual nossas táticas ruins de infantaria dependem, é por meio de ataques aéreos. Portanto, para vencer taticamente, nós temos de perder estrategicamente. Pelo menos, desde a Guerra do Vietnam para frente, que esta equação veio a definir o modo americano de fazer guerra. Este é o preço de táticas ruins.

Por quê a infantaria americana continua a empregar táticas ruins? Alternativas superiores estão, prontamente, disponíveis. As “táticas de infiltração” utilizadas pela infantaria alemã na Kaiserschlacht de 1918 (a última ofensiva alemã na Frente Ocidental) são, de longe, superiores. Melhor ainda são as autênticas táticas de infantaria ligeira, ou jäger, que influenciaram o desenvolvimento das táticas de infiltração. Táticas de infantaria ligeira baseiam-se menos em poder de fogo, e mais em furtividade, surpresa, emboscada e envolvimento. Sua história é bem-conhecida, e recua tão longe quanto o século XVIII. A literatura sobre elas é extensa.

Há três razões básicas porque os militares americanos continuam empregar táticas ruins de infantaria, quando alternativas superiores estão ao alcance da mão. A primeira é a infeliz combinação de vaidade e preguiça intelectual que caracteriza a maior parte do corpo de oficiais americano – e os oficiais de infantaria em particular. A maioria não lê nada, muitos confinam seus estudos a manuais doutrinários – o Exército dos Estados Unidos está em situação deplorável, reutilizando material francês, o Corpo de Fuzileiros Navais está um pouco melhor – ou histórias de vitórias americanas. O número dos que, realmente, estudam táticas, aprendendo sobre táticas de infiltração, táticas jäger, táticas de infantaria orientais, etc, através da leitura é mínimo.

Esta ignorância é reforçada pela vaidade, falso orgulho. Os militares americanos dispendem uma grande parte de seu tempo e esforço dizendo a si mesmos o quão maravilhosos são. Inchados com sua própria futilidade, eles pensam, “Como poderíamos aprender alguma coisa com qualquer outro? Afinal de contas, nós somos os fodões.” Sendo assim, não há necessidade de qualquer estudo além de nós mesmos. Vaidade justifica o sistema fechado que a ignorância cria.

A segunda razão porque persistimos com táticas ruins de infantaria é o mau treinamento. Quase todo o treinamento americano está focado em procedimentos e técnicas, ensinadas de cor, em exercícios roteirizados, enlatados, onde o inimigo, sempre, é um bundão irrecuperável. Treinamento de livre interpretação, contra um inimigo ativo, criativo, geraria táticas imaginativas, porque qualquer um que empregue tais táticas vence. Mas treinamento de livre interpretação é tão raro nas forças armadas americanas que a maioria dos infantes americanos não recebe nenhum, no final das contas. Eles se tornam especialistas em técnicas para pedir fogo, mas não sabem mais nada. Com efeito, muitas unidades de infantaria americanas não têm tática alguma, elas, apenas, têm técnicas.

A terceira razão para as táticas americanas serem ruins é um mau sistema de pessoal. As unidades de infantaria americanas só tem permissão para manter a estabilidade do pessoal, somente por períodos curtos, e, algumas vezes, nem isto. Elas, sempre, estão recebendo novos soldados, em grande medida, destreinados, que tem de aprender “o básico”, que se presume querer dizer técnicas e procedimentos. Mesmo se elas tentarem – e poucas unidades tentam – elas não podem ir além de tropeçar no inimigo e pedir fogo, porque isto é tudo com que os bisonhos podem, possivelmente, lidar.

Um artigo no Washington Post de 19 de fevereiro cita o comandante americano no Afeganistão, general McKiernan, como tendo dito que o planejado acréscimo de tropas americanas poderá permitir a utilização de menos ataques aéreos. Ao contrário, as táticas ruins que estas tropas empregarão, porque não conhecem nenhuma outra, garantirão que a exigência por ataques aéreos subirá. E, também, as baixas de civis afegãos, e com elas, a velocidade com iremos perder a guerra afegã.

Quantas guerras a América perderá antes que os oficiais de infantaria americanos levem à sério o estudo de táticas?




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#60 Mensagem por Clermont » Qui Mar 05, 2009 6:11 pm

A GUERRA BLINDADA parte 1.

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

O NASCIMENTO DA BLITZ, 1916-1933.

O tanque nasceu dos horrores da Grande Guerra. Em 1914, as potências européias marcharam rumo à guerra esperando que a vitória estivesse assegurada em uns poucos meses de intensa campanha. Ao invés, os efeitos cumulativos da Revolução Industrial (exércitos de massa, metralhadoras, artilharia de tiro rápido, arame farpado e a contínua produção de suprimentos e munição) levou à prolongada agonia da guerra de trincheiras. Por mais que tentassem, os comandantes táticos não podiam achar um modo de findar este impasse, que, iniciando-se próximo ao fim de 1914, durou até o início de 1918. Repetidas tentativas para lançar ainda maiores massas de homens e material contra, até mesmo, trincheiras relativamente mal-defendidas, nada produziam, além de intermináveis listas de baixas. Embora muitos destes generais possam ter merecido o apelido coletivo de “os Burros”, pela determinação obstinada como tentavam mais do mesmo em face de cada vez maiores baixas, nem todos eram tão cabeças-duras. Uns poucos soldados e pensadores colocaram seus miolos para tentar descobrir soluções verdadeiramente novas, a maioria das quais ou era totalmente impraticável (como armaduras para os soldados) ou, simplesmente, tornavam as coisas piores (como o gás venenoso). Mas, uma idéia, realmente, deu certo: o tanque.

Desenvolvidos por sugestão de Winston Churchill, Primeiro Lorde do Almirantado durante o início da guerra, o tanque era uma solução tão óbvia que os italianos, franceses e russos estavam trabalhando, essencialmente, ao longo das mesmas linhas e, de fato, alguns anos antes, um oficial austríaco, Gunther Burstyn, contemplando o futuro da guerra, tinha proposto, precisamente, a mesma viatura. A idéia básica do tanque era muito simples, pegue um trator com lagartas (eles estavam sendo utilizados na agricultura) e os equipe com blindagem e armamentos. Com suas lagartas a viatura (denominada de “tanque”, isto é, “cisterna”, por razões de segurança) poderia se mover, prontamente, através do terreno enlameado, pontilhado de crateras e entrincheirado da “terra-de-ninguém”, esmagando obstáculos como arame farpado. Sua blindagem lhe permitiria ignorar o fogo de metralhadora e suas próprias armas lhe possibilitariam desfechar fogo contra o inimigo. O tanque era um dispositivo que daria condições para a infantaria se libertar do impasse das trincheiras. E deu certo. O primeiro teste sério veio na Batalha de Cambrai, em 1917, quando várias centenas de tanques em três brigadas britânicas, atacaram sem bombardeio preliminar de artilharia, em apoio à seis divisões de infantaria. Os resultados foram estarrecedores. Em menos de seis dias, os alemães tinham sido jogados para trás, 6,5 quilômetros, talvez o mais significativo avanço na Frente Ocidental desde o início de 1915. Entretanto, a fragilidade mecânica dos tanques, a par com uma carência de recompletamentos de infantaria e uma série de habilidosos contra-ataques alemães, forçou os britânicos a cederem a maior parte de seus ganhos, nas semanas seguintes. Mas, até mesmo os mais obtusos generais ficaram impressionados. Como resultado, os aliados, mais ou menos, impuseram uma cessação às operações ofensivas, até o verão de 1918, quando tanques (e um bocado de infantaria americana) estariam disponíveis. Utilizando seus milhares de tanques e centenas de milhares de soldados americanos para liderar uma série de ofensivas no verão e outono de 1918, os aliados foram capazes de assegurar um armistício em 11 de novembro. Portanto, a equipe tanque/infantaria se mostrou capaz de ganhar a guerra.

Havia algumas pessoas insatisfeitas, entretanto, entre elas, o major-general britânico J.F.C. Fuller, um oficial de estado-maior que serviu com os tanques em Cambrai e outros lugares. Fuller acreditava que, longe de, simplesmente, apoiar a infantaria (isto é, ajudá-la a dominar obstáculos locais), os tanques poderiam desempenhar um papel de liderança na guerra. Sendo um dos oficiais encarregados com o planejamento das operações aliadas para 1919, Fuller divisava os tanques tendo um papel estratégico, e não apenas tático. No Plano 1919, Fuller previa ataques emassados por tanques pesados liderando uma ofensiva, irrompendo através das linhas alemãs. A partir daí, tanques leves, mais rápidos, iriam se despejar através da abertura, seguidos por infantes carregados por tanques especiais de transporte e caminhões, que seriam capazes de manter o passo com os tanques leves. Estas forças móveis acelerariam profundamente para a retaguarda do inimigo, desorganizando suas linhas de comunicações, suprimentos, reforços e retirada. Uma tal ofensiva permitiria aos Aliados envolver grandes áreas mantidas pelo inimigo a, relativamente, baixo custo. A proposta de Fuller despertou considerável interesse. O próprio Ferdinand Foch, o generalíssimo aliado, expressou aprovação. Mas a guerra acabou, em 1918, e o plano de Fuller tornou-se uma curiosidade acadêmica, logo esquecida, enquanto a combinação “ganhadora de guerras” de infantaria apoiada por tanques se tornava a doutrina.

Mas, se os exércitos estavam convencidos de que o tanque era, nada além de um suplemento tático para a infantaria, certo número de teóricos militares continuavam a divergir. Durante os anos 1920 e 1930, homens como Fuller, B.H. Liddel Hart e Guiford LeQ. Martel da Grã-Bretanha; Maxime Weygand e Charles De Gaulle da França; Adna Chafee da América; Mikail Tukachevsky da Rússia e Heinz Guderian da Alemanha escreveram e palestraram sobre como eles viam os tanques sendo utilizados numa futura guerra. Enquanto os detalhes específicos de suas idéias variavam, todos estes teóricos viam os tanques como mais do que apenas uma arma de apoio para a infantaria.

Apesar de toda esta teorização e não pouca experimentação, foi na Alemanha que o maior sucesso foi obtido. A Alemanha tinha sido proibida de possuir tanques pelo Tratado de Versalhes, em 1919. Como sempre, isto não impediu o Exército alemão de experimentá-los, fazendo uso de viaturas falsas (e umas poucas reais, em campos de testes secretos na União Soviética). Pelo começo dos anos 1930, Heinz Guderian, um oficial, relativamente, moderno, tinha sido encarregado do desenvolvimento dos tanques. Atuando independentemente, e inspirado pelas, altamente bem-sucedidas táticas de “infiltração” com as quais a Alemanha quase ganhou a Grande Guerra, na primavera de 1918, Guderian começou a divisar um papel para o tanque, muito igual ao que J.F.C. Fuller tinha desenvolvido, uma força de armas combinadas, capaz de emprego estratégico. Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, ele começou a examinar o estabelecimento militar e o potencial da Alemanha. Guderian foi solicitado a demonstrar suas idéias sobre o emprego de tanques. Dentro de uns poucos dias, Guderian tinha reunido um destacamento de reconhecimento, consistindo de alguns infantes motociclistas, alguns canhões anti-tanque, alguns carros blindados e um pelotão de tanques-protótipos Panzer I e liderou seus movimentos.

Hitler ficou impressionado e a força panzer alemã tinha nascido.




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