ETIOS PATINANDO. E AGORA, TOYOTA?
Postado por Carlos Mauricio Farjoun
Fonte:
http://autoentusiastas.blogspot.com.br/ ... oyota.html
Quando do lançamento do Toyota Etios, concomitante ao do Hyundai HB20, era inevitável uma comparação dos dois carros, dado que eles se propunham a disputar o mesmo segmento de mercado. Com seu design mais arrojado tanto por dentro quanto por fora, o HB20 começou com boas vendas logo nos primeiros meses.
Pouco mais de um mês depois era lançado o Onix, o concorrente da Chevrolet para este mesmo segmento de compactos Premium. A coisa ficou mais feia para o Etios, pois o Onix, a exemplo do Hyundai, também traz um design caprichado tanto por dentro quanto por fora, refletindo a evolução da exigência do consumidor brasileiro. Como o HB20, as vendas do Onix logo ficaram em alta.
Neste meio, o Etios ficou algo estranho, com um interior despojado e com um painel que decididamente não agradou, competindo com concorrentes bem mais atraentes. Destoa demais da nova dupla. Isto se explica pelas origens dos três carros: HB20 e Onix foram feitos visando diretamente o mercado brasileiro, já o Etios era um modelo de baixo custo feito inicialmente para o mercado indiano, onde foi lançado em 2010, um mercado sabidamente menos maduro e menos exigente que o nosso em questão de acabamento e de estilo.
As vendas traduziram estas diferenças: 8.077 HB20, 7.407 Onix e 1.322 Etios (somados hatch e sedã, sendo que seus concorrentes só têm versão hatch) licenciados em novembro. Em dezembro, até dia 13, a coisa se repete: 4.888 Onix, 4.497 HB20 e 683 Etios. Para piorar, enquanto o Chevrolet e o Hyundai têm mais procura que oferta, o pequeno Toyota pode ser encontrado a pronta entrega pelo preço de tabela em boa parte do país.
HB20: design arrojado para tentar tirar mercado do Gol
Na prática, o Etios acaba tendo o nível de acabamento similar a Mille, Celta e Gol G4, projetos das décadas de 1980 e 1990. Se tivesse sido posicionado nesta faixa de mercado, teria sido um estrondoso sucesso, até porque atacar a concorrência nesta faixa não é difícil. Só que ele é construído para ocupar um segmento acima destes carros citados.
Fora seu visual, ele é um compacto que pode ser considerado Premium, tanto nas dimensões quanto na motorização e atualidade de projeto.. Os carros de entrada são todos de 1 litro com motores de 8 válvulas, o Etios traz um 1,3-litro de 16 válvulas e é mais espaçoso que eles.
Apesar de o Etios ser todo compacto Premium, sua aparência o remete mais aos modelos de entrada. Por causa disso, o mercado acaba enxergando-o como tendo acabamento de Celta a preço de Onix, daí uma rejeição do consumidor, que corre para o Onix e o HB20. Então pode-se dizer que o Etios foi um fracasso? Por mais que os números levem a este caminho, ainda é muito cedo para se chegar a esta conclusão. E há motivos para isso.
Inegavelmente, o Etios teve o azar de chegar junto justo do HB20, que veio para elevar o nível dos compactos Premium, como a GM fez com o Onix. Mas seu desenho não é muito distante do Logan, e este prosperou no nosso mercado, tudo bem que em outra época (2007). De lá para cá, o mercado brasileiro evoluiu, passou a comprar menos carros com motores 1 litro em favor de modelos maiores e mais potentes.
O Onix veio com a mesma receita e com o mesmo objetivo do HB20
O Logan inaugurou um novo segmento, o dos “sedãs compactos”, nome que considero errôneo, pois eles são para lá de espaçosos.
O Cobalt, por exemplo, tem o porte de um Vectra, que só seria considerado “compacto” no mercado dos carros espichados dos EUA. Com esta evolução, chegaram chineses e mexicanos trazendo modelos mais recheados a preços convidativos. O Etios teria se dado muito bem no nosso mercado de 2005, mas não no atual.
Porém, julgar apenas pela aparência e acabamento me parece muito pouco para se condenar um carro como o Etios. Antes de tudo, ele é um Toyota, e a Toyota não faria algo inferior. O carro pode ser barato, feio e despojado, mas nunca o grande fabricante japonês (e maior do mundo novamente) faria um carro mal projetado ou mal construído. Ele foi feito para ter boa resistência, confiabilidade mecânica e boa segurança passiva, tanto que foi o único carro de seu segmento a conquistar 4 estrelas no LatinNCAP.
Quem dirigiu o Etios (Bob Sharp e Arnaldo Keller) elogiou seu comportamento e dirigibilidade, o carro foi muito bem acertado. Mesmo seu motor tendo sido desprovido dos variadores de fase no comando de válvulas, evidentemente com vistas a baixar custos, ainda é um motor de concepção bem atual e possui notável elasticidade, levantando giro em quinta marcha praticamente desde a marcha-lenta. É uma injustiça para com ele compará-lo aos carros de entrada do nosso mercado, que foram mal nos testes de impacto a 64 km/h LatinNCAP, evidenciando toda a idade de seus projetos.
Por conta de suas qualidades, o Etios é um produto muito bom para ser simplesmente jogado fora. Por outro lado, com estas vendas, o modelo não se sustenta. A Toyota construiu uma nova fábrica apenas para produzi-lo, em Sorocaba (SP). É uma fábrica com capacidade para 70 mil carros por ano, podendo ser expandida para 100 mil carros. Para que esta fábrica se justificasse, o Etios deveria estar vendendo perto de 6 mil unidades por mês; está vendendo um quarto disso. Alguma coisa a Toyota precisa fazer para reverter esta situação.
Lançado às pressas com problemas ainda não resolvidos, o "Dodginho" nunca se recuperou
Primeiro, deve-se providenciar urgente uma reestilização do carro, tanto interna quanto externa. Felizmente, reestilizar é a forma mais fácil de se consertar um carro. Uma frente nova aqui, uma traseira nova ali (a traseira atual é até passável), um painel mais chamativo, novos bancos, (sem esquecer de um novo local para o macaco!). Esta reestilização deveria mirar o hatch para o nível dos concorrentes e o sedã mirando o segmento dos “sedãs compactos”. Acho que os 2.550 mm de entreeixos são suficientes para encaixá-lo neste mercado. O generosíssimo porta-malas do sedã sem dúvida é um ponto positivo. E o entreeixos de 2.460 mm do hatch não está errado, seu espaço interno é bom e o porta-malas, razoável, 270 litros
O problema é que apesar de ser fácil, reestilizar leva tempo. Além disso, uma reestilização nos primeiros meses do carro pode pegar mal. Neste meio tempo, a Toyota poderia reposicionar o Etios para que ele custasse menos que seus concorrentes diretos. Pode fazer isso reduzindo o preço ou então equipando as versões mais baratas com os itens das mais caras, a tal da promoção do “ar-condicionado e direção hidráulica grátis”.
O antigo motor 6-cilindros teve sua parte de culpa nas vendas abaixo do esperado pela Ford
A segunda hipótese é mais interessante, pois tem mais cara de promoção, de algo temporário. Além disso, não mexe diretamente no preço do carro, que uma vez diminuído pode se revelar difícil de voltar aos patamares anteriores.
Pode-se argumentar que a Toyota terá prejuízo se reduzir o preço do carro por qualquer uma das formas. Ora, se não reduzir, o prejuízo já é certo por conta das baixas vendas. O problema adicional de deixar a coisa como está é que, vendendo pouco, o Etios possa injustamente acabar pegando a pecha de “mico” e depois desta imagem consolidada, pode ser que nem a reestilização salve o carro. Nesta hora, é melhor temporariamente ter prejuízo por unidade vendida, mas conservando a imagem do carro como um sucesso.
Além disso, em se confirmando a tradicional resistência mecânica da Toyota no Etios, a grande quantidade de carros na rua, aliada a esta fama, pode trazer uma imagem muito positiva ao carro, abrindo caminho para uma eventual versão reestilizada entrar no mercado já de forma triunfal, algo como "o carro tem tudo, só faltou ser bonito... Ops, não falta mais!".
Em destaque na propaganda, o motor que quase assassinou o Gol. A VW reagiu a tempo
Maus lançamentos podem matar um carro, mas o Etios não merece isso, seria uma pena um carro como ele sucumbir por causa de um erro de avaliação do mercado brasileiro. Há casos anteriores de fracassos, como o Dodge 1800, que nunca se recuperou totalmente da má imagem dos primeiros modelos e nunca gozou de boa fama no mercado, nem mudando de nome para Polara. O motor 6-cilindros do Maverick também atrapalhou bastante as vendas deste carro, mesmo após a adoção do bom motor de 4 cilindros de 2,3 litros, moderno para a época.
Mas também há casos de maus lançamentos que se reverteram em sucesso, como o Gol, quando foi lançado, trazia o motor 1300 a ar do Fusca com seus subnutridos 42 cv, que quase matou o carro, sendo rapidamente substituído, primeiro pelo 1600 a ar (51 cv), e depois pelo 1600 a água (81 cv no MD270 e 90 cv no AP600) do Passat que o consagrou como campeão de vendas por décadas, lugar que nunca mais perdeu.
Motor fraco, carroceria hatch e interior simples: corrigidos estes problemas, o Monza se salvou
O Monza foi lançado com motor fraco, interior simples e com carroceria errada para o momento do nosso mercado, tendo sofrido uma “correção de rumo” com o 1,8-litro, carroceria três volumes e a reestilização do interior em 1985, que o colocaram na rota do merecido sucesso, pois qualidade de seu projeto era inegável.
Para o Etios, não precisa fazer muito, bastaria corrigir o design e o acabamento que ele tem tudo para ser um carro de sucesso no Brasil. Não é difícil de se fazer uma correção de rumo, é muito mais fácil reestilizar um carro de bom projeto do que consertar um projeto mal feito (isto sim uma tarefa hercúlea). Devidamente reestilizado, aí sim ele ocuparia honrosamente seu pretendido lugar dentre os compactos Premium.