Antes de mais nada, ressalto que o que descreverei abaixo NÃO É OFF TOPIC. Explica, mas não justifica, o que houve em Beijing em 1989 e dá uma pista de como funciona o processo decisório no PCC (o da China, não o de São Paulo). Em 1968, chegou-se muito perto do que houve na Praça da Paz Celestial. De Gaulle chegou a colocar as forças de ocupação na Alemanha de prontidão para retomar Paris. Graças a Deus, o movimento estudantil refluiu. Seriam usados tanques contra os manifestantes.
Repito, prefiro o nosso imperfeito modelo político, mas procuro entender as diferenças de cada sociedade. O que não aceito é quando uma democracia rompe os alicerces de sua fundação, como ocorreu nos EUA, graças à camarilha republicana do Texas. O PATRIOT Act e Guantánamo representam tudo o que é antiamericano e contrariam uma Constituição escrita por gênios, como Benjamin Franklin.
Há livros sensacionais que merecem ser lidos, como
A China de Deng,
Em busca da China moderna e
China S/A. Quem quiser entender o processo chinês precisa lê-los. Boa parte do que está abaixo é fruto de observações pessoais e do que aprendi em livros sobre a China, como os que citei acima.
A Praça da Paz Celestial é o equivalente chinês da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes (a área equivale a 70% da ocupada pelo Governo Federal em Brasília). Exatamente diante dela está a Cidade Proibida, onde se localiza a liderança do Executivo e do Partido Comunista. Olhando-se da Cidade Proibida, o Congresso Nacional do Povo está à direita. À esquerda encontram-se ministérios e o Museu Nacional da China. No ataque, não se usaram carros de combate, mas transportes de tropa, que romperam as barricadas. A parte de trás da praça, onde se encontra o túmulo de Mao, NÃO FOI FECHADA, para que os manifestantes saíssem. O avanço ocorreu em três lados e a ideia era forçar os manifestantes para fora, só que uma grande parte, contra todas as expectativas do governo, fincou pé, resistiu e morreu. Muitos dos feridos foram pisoteados pelos que fugiram em pânico.
Dois dias antes do episódio, os líderes estudantis foram chamados por Zhao Zyiang para conversar. Havia uma predisposição para negociar. Um deles, diante da TV, acusou lideranças do Partido Comunista de corrupção. Citou, explicitamente, o filho de Deng Xiaoping. Em suma, colocaram, publicamente, o governo numa situação delicada. O encontro foi interrompido bruscamente.
Depois disso, houve uma reunião do partido que durou cerca de 12 horas. Deng e Zhao foram votos vencidos e o PLA foi chamado para intervir. Ou os dois aceitavam ou seriam depostos, com sérias consequências para o processo de abertura econômica. Zhao Zyiang, um cara excepcional, caiu depois do ataque. Deng se manteve e, aos poucos, conseguiu afastar a linha mais dura. Uma turma mais moderada levou as reformas, inclusive das Forças Armadas, adiante.
Os chineses, hoje, não querem confusão. Há uma busca intensa pela prosperidade e o sistema funciona bem nesse sentido. A China prefere enriquecer e é praticamente nula a possiblidade dela iniciar uma guerra. Se for atacada, tem meios para se proteger e causar grandes perdas aos adversários. Não existe uma predisposição agressiva. Boa parte do seu processo de "REARMAMENTO" não passa de modernização necessária, a exemplo do PROSUPER tupiniquim. Em suma, vão substituir navios velhos e ultrapassados por outros de primeira linha, sair da década de 1960 e se jogar no século 21.
Sua marinha dispõe de 15 contratorpedeiros da classe Luda, barcos tecnologicamente obsoletos. Nesse exato momento, 12 contratorpedeiros novinhos em folha estão em construção, quatro cada das classes 52B, 52C e 52D. Há, também, 12 fragatas da classe 54 e 54A nos estaleiros. Entrarão no lugar das velhas Jianghu, que devem ir para a Guarda Costeira.
Brasil e China têm muito em comum. Intrometem-se pouco em assuntos externos e necessitam modernizar suas forças navais (eles saíram na frente). Num primeiro momento, construiram dois protótipos de cada classe. Verificaram operacionalmente méritos e problemas antes de partirem para a construção seriada. Ao final do processo, terão entre 18 e 24 contratorpedeiros (de 6.000t) e entre 12 e 15 fragatas (de 4.200t) de projeto e construção nacional; apoiados por 70 lanchas de ataque stealth armadas com mísseis dotados de datalink e alcance de 200 km e cerca de 75 submarinos (uma nova classe, de grande porte, acaba de ser revelada). O total de navios-aeródromos previsto é de dois, com mais quatro NDDs, hovercrafts de desembarque e, pasmem, viaturas transporte de tropas capazes de desenvolver 20 nós, semelhantes aos EFV norte-americanos -- cancelados porque custariam US$ 20 milhões cada (os xingling estão disponíveis por US$ 200 mil a unidade).
Observem bem que os números são muito próximos aos do PROSUPER. Teremos, ao final do processo, 18 fragatas de 6.000t (não 30, como vivem dizendo aqui), dois porta-aviões e quatro NDDs. Muita gente dentro da Marinha insiste em oito Barrosos. É o suficiente para manter problemas longe de casa mas não para criá-los...
Aqui temos uma base real para discutir. Neste blog, há avaliações bem interessantes:
http://www.militaryphotos.net/forums/sh ... aval-Power
Abraços
Pepê