MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4201 Mensagem por Sterrius » Ter Jan 07, 2014 3:48 pm

Que a administração do país tem que mudar se sabe desde 1988, mas infelizmente não vejo isso ocorrendo.




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Bourne
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4202 Mensagem por Bourne » Ter Jan 07, 2014 5:36 pm

É claro que tem que mudar.

Por exemplo, é assustador conversar com alguns servidores e descobrir que um órgão comprou algumas dezenas de notbooks, direto do distribuidor, e pagou cerca de 50% a mais do que modelos similares oferecidas em lojas de varejo. Nada de ilegal. O processo é tão arrastado e a legislação força um desenho ruim que leva a aumento de custos com as empresas se aproveitando. O mesmo caso em obras de infraestrutura. Para trabalhar para o governo custa X com necessidade de novos prazos e recursos. Porém, se for para de interesse delas, o planejamento funciona com custos menores.

Não quer dizer que não possam existir municípios e estados deficitários. Na verdade é esperado que existem e necessitem de ajuda. A fusão não é o caminho por que a estrutura e burocracia vão continuar presentes. O ponto central é como redesenhar a administração para custar e menos e ser efetiva. Por exemplo, pode ser bem questionável ter uma câmera de vereadores remunerada em uma pequena cidade.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4203 Mensagem por J.Ricardo » Ter Jan 07, 2014 6:29 pm

Esse papo de gastar mais do que arrecada é complicado, vejamos, nem tudo o que é arrecadado fica no município, por exemplo, se tudo o que a cidade de SP arrecada ficasse no município aquilo lá seria uma Dubai...




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4204 Mensagem por LeandroGCard » Ter Jan 07, 2014 10:07 pm

Bourne escreveu:Não quer dizer que não possam existir municípios e estados deficitários. Na verdade é esperado que existem e necessitem de ajuda. A fusão não é o caminho por que a estrutura e burocracia vão continuar presentes. O ponto central é como redesenhar a administração para custar e menos e ser efetiva. Por exemplo, pode ser bem questionável ter uma câmera de vereadores remunerada em uma pequena cidade.
É de fato esperado que existam muitos municípios deficitários em um país tão grande e desigual como é o Brasil, mas não é admissível que sejam tantos como acontece hoje. E nos últimos anos houve uma verdadeira orgia de criação de novos municípios através da divisão de outros já existentes anteriormente, sendo que a infra-estrutura praticamente não foi aumentada em nenhum deles, mas a burocracia foi simplesmente duplicada, sem nenhum benefício além de criar mais cargos eletivos e comissionados para os partidos e seus apoiadores.

Este tipo de coisa é um abuso e precisaria sim ser revertida, o que pode ser feito através de uma alteração da legislação com relação aos requisitos mínimos para a criação e existência de municípios.


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4205 Mensagem por Pedro Gilberto » Ter Jan 07, 2014 10:20 pm

Seria interessante ter mais dados sobre essa pesquisa.

Pela noticia dada, foram considerados apenas arrecadação de impostos e contribuições incidentes sobre produção (IPI, ICMS, PIS/COFINS). Assim entendo que os impostos sobre rendimentos (IRPF, IRPJ, CSLL) e propriedade (IPTU, IPVA, ITR) não entraram nesse balanço.

Outro ponto é se a metodologia apresentou algum mecanismo para apurar distorções na arrecadação como por exemplo os casos da prestação de serviço ser em um município mas a arrecadação ser da no domicilio da empresa prestadora.

Mas fora isso é bom ressaltar que esse número tende a piorar se não houver incentivo a desconcentração econômica com incentivo a essas áreas. A tendência é que os gastos de custeio aumentem cada vez mais devido a necessidade de melhoria da educação, saúde e segurança o que implicará em contratação de mais professores, médicos, enfermeiros, policiais com respectivos incrementos salariais.

Creio que uma tentativa de induzir essa desconcentração é simplificação burocrática para formalizar as atividades que hoje devem ser predominantemente informais.

[]´s




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4206 Mensagem por Bourne » Dom Jan 12, 2014 7:22 pm

Debate sobre inflação é mais político que técnico, diz ex-diretor do Ipea

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/econo ... -4507.html

Para o economista João Sicsú, governo precisa adotar mecanismos 'mais inteligentes' do que a taxa de juros para conter alta de preços
por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 10/01/2014 15:29, última modificação 10/01/2014 17:32

Em 2013, tomate chegou a ser considerado o 'vilão' da inflação dos alimentos

São Paulo – "Não temos uma inflação alta, temos uma inflação moderada e controlada", diz o professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, hoje há uma discussão "mais política do que técnica" em torno do tema. Ele lembra que o país está completando uma década de inflação dentro da meta, que vai até 6,5%. “Mas temos de buscar uma inflação cada vez menor, porque é um elemento que dificulta a distribuição de renda”, observa.

Nesse sentido, Sicsú afirma que não adianta aumentar os juros como forma de reduzir a inflação. "Acho que cabe, mais que ao Copom (Comitê de Política Monetária), cabe ao governo, elaborar elementos mais sofisticados do que os juros para o combate à inflação. A taxa de juros tem custo fiscal e de desaceleração do crescimento. É o samba de uma nota só. Inflação deve ser tratada com inteligência. É preciso buscar a causa e atacá-la."

Nos últimos anos, o economista e pesquisador lembra que o custo de vida vem sendo pressionado, basicamente, pelos itens ligados ao grupo de Alimentação e Bebidas – que subiu 9,86% em 2012 e 8,48% em 2013, respondendo respectivamente por 38% e 34% do IPCA. "Isso vem de causas climáticas, de especulação no mercado internacional de commodities. A taxa de juros não é capaz de conter essa inflação. Não terá nenhum impacto sobre o tomate ou o trigo", diz Sicsú.

Outro item de pressão é o custo com serviço doméstico, com influência do salário mínimo. "Mas o salário mínimo tem cumprido um papel muito mais positivo, em termos de distribuição de renda, do que a inflação que provoca em algum nível."

sicsu.jpgTambém se reflete um momento de transição pelo qual o país passa. “Há uma mudança estrutural no Brasil, que era um país estagnado e entrou na rota do desenvolvimento. Estamos sofrendo esse tipo de pressão inflacionária, estamos nessa transição, que traz variação maior de preços em serviços”, lembra o economista, citando casos como manicure, pedreiro e porteiros de prédio. E o período é de desemprego em nível baixo e renda em alta. "Todo país que melhora seu nível de renda tende a ter serviços mais caros."

Para o problema atual, mais concentrado nos preços dos alimentos, ele sugere mudanças fiscais e controle de estoques. "Isso requer muito investimento do governo e muita inteligência", observa Sicsú, para quem se deve dar mais atenção a variações "exageradas" nos preços dos alimentos. "O caso do tomate é emblemático. Custou 13 reais e custou 99 centavos. É preciso diminuir essas oscilações bruscas."

Inflação sob Dilma deve ter resultado próximo de Lula e melhor do que FHC
Ele lembra que o país já superou, por exemplo, a inflação causada pelos chamados preços administrados (monitorados pelo governo). "Manter o contato com base no IGP era um tiro no pé, por ser um índice muito sensível à variação cambial. O que derrubou a inflação em 2007/2008 não foram os juros, mas a mudanças nos contratos dos preços administrados."

Para este ano, a inflação de 2014 não deverá mostrar resultado muito diferente dos últimos anos, "a não ser que aconteça algo extraordinário no mundo", e se manter abaixo de 6%. "Mas toda a ênfase vai ser dada aos preços de alimentos e bebidas. A discussão vai ser política-eleitoral", lembra. "O embate vai ser difícil, porque será concentrado no que mais tem variado (custos com alimentação) e que é muito sensível. E quando menor a renda, maior a parcela gata com alimentos."




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4207 Mensagem por irlan » Seg Jan 13, 2014 7:30 pm

Quanto o país cresceu no ano passado?, já fizeram a estimativa?




Na União Soviética, o político é roubado por VOCÊ!!
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4208 Mensagem por Bourne » Seg Jan 13, 2014 9:47 pm

Para quem acha que economista é só sobe e desce da mídia golpista ou governista.
Confira o que estudam os novos economistas

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/20 ... stas.shtml

DE SÃO PAULO

Educação na pré-escola, crime, saúde e informalidade são alguns dos temas que estão no radar dessa nova geração de economistas listada pela Folha.

A seguir um pouco sobre o que estudam, o que pensam sobre trabalhar no governo e sobre os atuais problemas do país
-
Estudos sobre a informalidade no mercado de trabalho acompanham o economista Gabriel Ulyssea desde o mestrado, na PUC-Rio. No ano passado, sua tese de doutorado (também sobre o tema) foi premiada pela Anpec (associação que reúne alunos de pós-graduação em economia). Concluiu os estudos na Universidade de Chicago, orientado pelo Prêmio Nobel James Heckman.

GABRIEL ULYSSEA

Coordenador da área de mercado de trabalho do Ipea
Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago
Aos 34 anos, Ulyssea tem uma vivência de governo que o diferencia dos economistas de sua idade. Participou da formulação do Fundeb (fundo que provê recursos para o pagamento de professores do ensino básico), quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ainda era secretário de Tarso Genro, então ministro da Educação. "Foi interessante ver a política sendo feita", diz. "É a maneira mais direta de impactar a realidade. Isso me motiva muito."

Entrou para o Ipea (instituto governamental de pesquisa econômica) e foi trabalhar com Ricardo Paes de Barros, referência nos estudos sobre desigualdade. Em 2006, escreveu capítulos e ajudou Paes de Barros a organizar o livro "Desigualdade de Renda no Brasil: uma Análise da Queda Recente", reunião dos principais estudiosos do tema no país. Isso tudo antes dos 27 anos, quando partiu para a Universi-dade de Chicago. Estudou como a informalidade afeta a rotina das empresas.

Constatou que a redução dos impostos na folha de pagamentos pode aumentar a formalização das empresas, mas pouco afeta a vida dos trabalhadores. "Com o ganho de margem, elas podem contratar mais funcionários informais e há pouco impacto sobre os salários."

-
Monica Baumgarten de Bolle tem se destacado no debate público no país. Herdou o interesse pela economia do pai, Alfredo Luiz Baumgarten, ex-presidente da Finep, morto em 1990.

MONICA DE BOLLE

Professora da PUC-Rio
Graduação e mestrado em economia na PUC-Rio e doutorado na London School of Economics
Depois do doutorado, foi trabalhar no FMI, no qual desenvolveu na prática seu interesse teórico por crises financeiras.

Estava no Fundo quando a Argentina entrou em default, em 2001. Antevendo os efeitos no Uruguai, pediu que ficasse responsável pelo país, que despertava pouco interesse na época.

Quando estourou a crise uruguaia, de Bolle foi uma das principais responsáveis pela bem-sucedida reestruturação da dívida do país, que serviria mais tarde de modelo para o caso da Grécia. "Quando começou a crise, pensei: 'Que maneiro, lá vou eu'."

Seu chefe era Tim Geithner, posteriormente secretário do governo Obama. De volta ao Brasil, passou pelo mercado financeiro e foi trabalhar com Dionísio Carneiro na Galanto. Depois da morte de Carneiro, assumiu a consultoria e dá aulas na PUC-Rio.

-
O que mais preocupa o economista Bernardo Guimarães, 41, é o Brasil estar entre os piores do mundo para fazer negócios. O mais recente "Doing Business", do Banco Mundial, colocou o país em 116º entre 189 economias.

BERNARDO GUIMARÃES

Professor da FGV-SP
Graduação em engenharia na USP, com mestrado em economia na USP e doutorado em Yale
"A inflação chegar a 6,5% não é uma tragédia. O pior é não termos, há anos, reformas que melhorem o ambiente de negócios", diz. "O que faz diferença em uma economia é produzir e contratar."

Em 2003, escreveu um artigo com Nouriel Roubini sobre países que recebem ajuda do FMI.

Depois de lecionar por seis anos na London Business School, decidiu voltar ao Brasil. Não tem pretensão de trabalhar no governo. "Eu sinto que ajudo mais o país ensinando as pessoas."
Economista de linha ortodoxa, diz que o termo não faz jus a pesquisadores como ele. "Ninguém quer reproduzir o passado, a ortodoxia. Queremos superá-la."

Dedica-se atualmente a pesquisar a relevância das instituições no desenvolvimento e a relação entre as expectativas e o desempenho econômico.

-
Estudar eventos que aparentemente nada têm a ver com economia é a rotina de João Manoel Pinho de Mello, 40. Em seus artigos recentes, há medições sobre os efeitos do Bolsa Família nos índices de criminalidade, do desarmamento nos homicídios e até do tempo de exposição na TV, no horário eleitoral, no sucesso dos candidatos nas eleições.

JOÃO M. PINHO DE MELLO

Professor do Insper

Graduação em administração pública na FGV, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Stanford

Sua área de atuação é a economia aplicada às ciências sociais. Atualmente, avalia se reduz a violência o fechamento dos bares às 23h, como manda a lei em algumas cidades do interior paulista.

"Minha área não existia no passado. Todos os economistas estudavam inflação; esse tema sugou a energia de duas gerações. Estudos voltados para assuntos como crime, saúde, economia bancária não existiam."

Em trabalho sobre concorrência, uma de suas especialidades, analisou as consequências da atuação dos bancos públicos no mercado. Constatou que eles tendem a "expulsar" os privados de alguns nichos, o que reduz a competição. "O que indica que a atual ação dos bancos públicos não é muito alvissareira."

Professor e pesquisador, diz ter vontade e trabalhar no governo, "mas depende dos termos". "Se é para aprovar políticas que eu considero fracassadas, não. Mas, se for possível ter um debate inteligente, eu iria", afirma. Mello se intitula um economista "mainstream" e afirma que não entende muito os heterodoxos. "A imperfeição dos mercados está descrita no 'mainstream' há 70 anos."

-
Carlos Eduardo Gonçalves, 40, se dedica ao estudo da macroeconomia, mas com "cara de microeconomia", como diz. O que significa estudar os grandes movimentos econômicos, como taxa de juros e inflação, atento a evidências, causas e consequências.

CARLOS EDUARDO GONÇALVES

Professor da USP
Graduação em engenharia na USP, com mestrado e doutorado em economia na USP e pós-doutorado na London School of Economics
O objetivo é investigar pensamentos aparentemente consensuais, como se o dólar alto ajuda a indústria ou se economias abertas têm mais investimentos. Em artigo publicado em 2008 com o economista João Moreira Salles demonstrou que, em 36 economias que adotaram o regime de metas, a inflação e a volatilidade do PIB se reduziram.

O economista prefere a coluna do meio quando o debate ruma para o confronto entre ortodoxos e heterodoxos. "A ortodoxia do mercado financeiro não entende as falhas de mercado. A inflação baixa nem sempre é boa, na Europa ela é ruim agora. Às vezes o governo tem que intervir na economia", afirma. "Mas não existe tese sem estatística, sem modelo. Não aceito a heterodoxia do blá-blá-blá."

Já escreveu dois livros de economia para não economistas. E prepara um terceiro, em parceria com Bruno Giovannetti, da USP, com verbetes econômicos e financeiros, que deve se chamar "Econopédia". É autor, com outros economistas, do blog "Economista X".

-
A lembrança da hiperinflação e a mudança na realidade provocada pelo Plano Real fizeram André Modenesi, 38, interessar-se pela economia. Com pós-graduação em ciências sociais, seu olhar, porém, foi moldado para a observação das pessoas.

ANDRÉ MODENESI

Professor da UFRJ

Graduação em economia na PUC-Rio e em ciências sociais na UERJ, com mestrado na UFF e doutorado na UFRJ

Macroeconomista de orientação heterodoxa, foi influenciado por pesquisadores de John Maynard Keynes, como Fernando Cardim, na UFRJ. Mas isso não quer dizer que rejeite a estatística, contrariando os críticos dessa escola, que dizem que ela é divorciada da matemática.

"A economia não é uma ciência 'dura' como a física. Mas eu me preocupo em buscar regularidades empíricas", diz. "A diferença é a maneira de olhar." Durante o doutorado passou um ano estudando com o americano Werner Baer, brasilianista na Universidade de Illinois.

"Fiz uma opção, a falta de conexão com a realidade torna a ortodoxia muito abstrata. Isso me incomoda", afirma. "Em geral os modelos estão precisos, mas a hipótese básica não faz sentido."

Atualmente, estuda os mecanismos de funcionamento do sistema de metas de inflação e quais os custos entre escolher mais juros ou menos inflação. "Não quero que a inflação volte, eu estudo isso há anos. Mas isso não impede que se façam balanços de custos e benefícios da política."

Considera que o modelo adotado no Brasil desde 1999 não tem obtido êxito porque os canais de comunicação do Banco Central com a realidade de empresas e consumidores emperraram no sistema bancário.

-
Como um cientista, Marcelo Fernandes, 41, afirma que busca isolar os problemas econômicos para descrevê-los e analisá-los com rigor. A lente do economista são modelos matemáticos sofisticados. "Em vez de pensar na pergunta e buscar os dados, encontre os dados e pense em quais perguntas pode fazer", afirma.

MARCELO FERNANDES

Professor da FGV-SP
Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na FGV, doutorado na Solvay Business School Université Libre de Bruxelles e pós-doutorado no European University Institute
Dessa maneira, ele passou seis anos fazendo um estudo teórico que buscava testar a assimetria em uma distribuição, estatística pura. Depois disso, decidiu se reconciliar com dados reais. É considerado um dos nomes mais promissores da econometria (estatística aplicada à economia) voltada às finanças.

Prepara um estudo, com Walter Novaes, da PUC-Rio, que busca estimar como a interferência do governo afetou as ações de empresas com participação estatal, mesmo minoritária.

Constatou que os papéis com direito a voto (ON), normalmente mais valiosos, perderam vantagem sobre as demais ações. "Houve uma expropriação dos sócios com direito a voto", diz.

De linha ortodoxa, diz que a contraposição com heterodoxos é debate que hoje só se encontra no Brasil.

-
O economista Flávio Cunha tem contribuído para pesquisas que mostram que boa parte da defasagem de desenvolvimento cognitivo existente entre jovens de famílias de baixa renda e aqueles com maior poder aquisitivo é gerada ainda na infância.

FLÁVIO CUNHA

Professor da Universidade da Pensilvânia
Graduação em economia na UFMG, mestrado na FGV e doutorado em Chicago
Publicou importantes estudos sobre esse tema em coautoria com o Prêmio Nobel James Heckman, um dos economistas que Cunha mais admira.

Professor-assistente da Universidade da Pensilvânia, Cunha tem no capital humano seu principal foco de estudo: "O capital humano de um país determina, em parte, o potencial de crescimento de longo prazo de sua economia", afirma. "O conhecimento, a experiência, as habilidades, a personalidade e até mesmo a saúde física e mental que uma pessoa possui são exemplos de diferentes componentes do seu capital humano."

Com base nos resultados de sua pesquisa e de outros economistas que estudam o mesmo tema, Cunha defende uma atenção maior das políticas públicas à pré-escola. Como outros economistas de sua geração, diz que não pensa na divisão de sua área em termos de ortodoxia e heterodoxia.

Vê com otimismo o amplo debate na sociedade brasileira sobre a necessidade de melhorar a qualidade da educação. Mas se preocupa com o pouco esforço para a coleta de dados
necessários para a compreensão do que é necessário para essa empreitada.

Seus planos incluem aumentar sua participação científica no Brasil, já que boa parte do que pesquisa atualmente é baseada em dados dos EUA. "Gostaria de coletar dados,
estudar e implementar programas que venham a melhorar o desenvolvimento de capital humano no Brasil."

-
O nível de criminalidade, a qualidade da saúde pública e as tendências demográficas têm forte impacto no desenvolvimento de um país. A interação entre esses fatores e sua influência na produtividade da mão de obra são alguns dos objetos de estudo de Rodrigo Soares, um dos economistas brasileiros com maior número de pesquisas publicadas.

RODRIGO SOARES

Professor da FGV-SP
Graduação em economia na UFMG, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago
Atualmente professor da FGV-SP, Soares deu aula anteriormente na Universidade de Maryland e na PUC-Rio, depois de cursar doutorado em Chicago. Diz ter encontrado um país diferente, melhor, quando voltou dos EUA, em 2005.

"Eu percebi um progresso grande em áreas como saúde e educação, com queda da mortalidade infantil e aumento das matrículas no ensino básico." Mas acredita que, desde a década passada, o processo de melhorias estancou ou regrediu.

"Acho que a política pública baseada em evidência, em entender o que estava acontecendo, que prevaleceu de meados dos anos 1990 a 2000, foi um pouco deixada de lado." Soares diz que gostaria de participar de um governo no futuro, embora não tenha isso como ambição ou objetivo.

Para ele, as tentativas de tratar a economia de forma ideológica afetam o debate acadêmico de forma negativa no Brasil. "Acho que o debate seria mais produtivo se fosse focado em tentar entender políticas boas e ruins, com base em evidências."

-
Orientado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga no mestrado e pelo Nobel de Economia Christopher Sims no doutorado, Tiago Berriel, 33, dedica-se a analisar os efeitos das políticas monetária e fiscal.

TIAGO BERRIEL

Professor da PUC-Rio

Graduação e mestrado na PUC-Rio, doutorado em Princeton
Professor da PUC-Rio e responsável pela análise macroeconômica da gestora Pacífico, Berriel diz que sua formação é considerada tão ortodoxa que ele "nem sabe direito o que é o outro lado". Tem interesse por questões como a independência do BC e os custos da política monetária.

Concluiu há pouco uma pesquisa em coautoria com Eduardo Zilberman sobre os efeitos macroeconômicos do Bolsa Família, avaliando seu impacto sobre a pobreza, a desigualdade de renda e a oferta de mão de obra. "O Bolsa Família é uma decisão de política fiscal, por isso seus efeitos me interessam."

A recente deterioração das contas do governo o preocupa atualmente. Seu temor é que o mercado passe a apostar que a situação fiscal vai piorar. Isso pode levar a uma forte desvalorização da moeda, com impacto negativo sobre a inflação, forçando o BC a elevar os juros: "Essa é uma situação que pode ocorrer mesmo quando o país está com um nível de endividamento razoável, que é o caso do Brasil, mas a boa notícia é que não é difícil de consertar".

Diz que não tem como meta a vida pública, mas gosta do debate de ideias. "No fim, o objetivo das pesquisas é influenciar a formulação de políticas e o debate."




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4209 Mensagem por Clermont » Seg Jan 13, 2014 10:03 pm

Bourne escreveu:Por exemplo, pode ser bem questionável ter uma câmera de vereadores remunerada em uma pequena cidade.
Até a "Constituição-Cidadã" de 1988, os pequenos municípios não contavam com vereadores remunerados. Só capitais e grandes cidades.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4210 Mensagem por Pedro Gilberto » Seg Jan 13, 2014 11:25 pm

São duas noticias hoje que demostram o porque da baixa tecnologia das empresas de capital nacional. Ou o empresariado entende que agregar tecnologia envolve comprometimento de capital em longo prazo ou continuaremos importar tecnologia.
Grupo argentino adquiriu participação da EBX na Six

Marcelo Portela | Agência Estado
Seg , 13/01/2014 às 16:35

O grupo Corporación America adquiriu a participação da EBX, do empresário Eike Batista, na Six Semicondutores S.A., fábrica de chips que está em construção em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. O presidente do Corporación, Eduardo Eurnekian, não revelou o valor do negócio, mas confirmou nesta segunda-feira, 13, que o grupo argentino assumiu "todos os pontos do contrato" que estavam a cargo da EBX.

A empresa de Eike Batista era dona de 33,02% de participação na Six, já havia feito aporte de R$ 84 milhões e ainda teria que investir mais R$ 166 milhões na planta. Ao todo, a construção da unidade deve consumir investimento de aproximadamente R$ 1,1 bilhão e a previsão é de que a fábrica entre em operação em meados do ano que vem. No local serão produzidos chips para uso em diversos setores.

A Coporación inaugurou há cerca de um ano, em Buenos Aires, a Unitec Blue, também voltada para a produção de semicondutores. "É um projeto de total complementaridade", observou Eurnekian, que visitou as obras ao lado do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e considerou o que viu "muito bonito". O BNDES também tem participação na Six, ao lado da norte-americana International Business Machines (IBM). Segundo Coutinho, todos mantiveram as mesmas participações no negócio, cujo investimento tem 40% de financiamento de longo prazo.

http://atarde.uol.com.br/economia/mater ... ebx-na-six
Itautec fecha venda das áreas de automação e serviços à Oki por R$ 100 mi
13/01/2014 - 12h54

DO VALOR

A Itautec informou nesta segunda-feira (13) que concluiu a transação de venda de suas atividades de automação bancária e comercial e de prestação de serviços à japonesa Oki Electric Industry.

A partir de agora, a Oki Brasil inicia suas operações, com o capital dividido entre 70% à asiática e 30% para a brasileira. O acordo havia sido firmado em 15 de maio e previa o desembolso de R$ 100 milhões à Itautec.

Além disso, o contrato garante remuneração até 2015 à controlada do grupo Itaúsa, caso a nova companhia supere as projeções de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

OKI NO BRASIL

Comunicado divulgado nesta segunda-feira pela Oki Brasil informa que a entrada no Brasil pode facilitar a expansão da empresa japonesa pela América Latina. O grupo tem como objetivo estender os produtos oferecidos para bancos, como caixas eletrônicos e recicladores de notas, ao redor do mundo.

"Estamos muitos felizes com o início das operações da Oki Brasil" , afirmou Yoshiyuki Nakano, presidente do conselho de administração da nova companhia. "Estamos confiantes que o mercado brasileiro representa uma oportunidade valiosa em função de seu tamanho e potencial."

As atividades são iniciadas com os cerca de 4 mil funcionários vindos da Itautec e contam com cobertura de 3,7 mil municípios no país, também originários da companhia brasileira, e 2 mil técnicos próprios para a prestação de serviços.

A Oki Electric traz para a parceria o domínio de modernas e avanças práticas de manufatura , completa a nota.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/20 ... 0-mi.shtml
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4211 Mensagem por LeandroGCard » Ter Jan 14, 2014 8:47 am

Pedro Gilberto escreveu:São duas noticias hoje que demostram o porque da baixa tecnologia das empresas de capital nacional. Ou o empresariado entende que agregar tecnologia envolve comprometimento de capital em longo prazo ou continuaremos importar tecnologia.
Nós temos seríssimos problemas de estabilidade econômica e institucional mesmo no curto e médio prazos, como esperar que os empresários possam tomar decisões no longo? Como estará por exemplo o dólar daqui a 1 ano? Ou os juros? E a inflação? E os impostos? Como um empresário pode tomar uma decisão entre investir em um produto para exportação ou sobre a importação de componentes para fabricar algo para o mercado local se não sabe como serão as condições para exportação ou importação daqui a meros 6 meses? Sabia que as empresas de contabilidade estão evitando pegar indústrias como clientes porque as regras fiscais mudam demais e a responsabilidade delas não vale o custo do serviço? Nestas condições, o que você mesmo faria?

Os empresários brasileiros cansaram de ter montes de dores de cabeça para funcionar e no final terem que contar com a sorte e a boa vontade do governante de plantão, e simplesmente estão desistindo. Acompanhei este processo em várias empresas, que vão das montadoras de automóveis e fornecedoras de autopeças à Tramontina e à Brinquedos Estrela. Agora eles simplesmente gerenciam o que já tem montado para o dia-à-dia e procuram a primeira oportunidade de vende o negócio e ir viver de renda ou de especulação imobiliária. Investimentos, principalmente em tecnologia, nem pensar!


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4212 Mensagem por Paisano » Ter Jan 14, 2014 10:47 pm

irlan escreveu:Quanto o país cresceu no ano passado?, já fizeram a estimativa?
http://economia.estadao.com.br/noticias ... 3375,0.htm

:wink:




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4213 Mensagem por Bourne » Qui Jan 16, 2014 10:10 am

http://www.valor.com.br/opiniao/3382988 ... rescimento

"O Brasil está de volta a taxas de crescimento insatisfatórias. Tudo indica que nos quatro anos do governo Dilma elas serão semelhantes às dos governo FHC e, portanto, inferiores às do governo Lula. Em consequência, os economistas liberais, que até há dois anos estavam calados, voltaram a fazer suas críticas à política que está sendo adotada. A crítica maior refere-se à política industrial, que no governo Dilma foi fortemente ampliada por meio da desoneração de impostos. Outras críticas foram relativas à diminuição do superávit primário e ao ligeiro aumento da inflação. E agora, diante dos resultados medíocres em matéria de crescimento, são os economistas desenvolvimentistas que estão calados.

As críticas dos liberais foram resumidas por Pedro Ferreira e Renato Fragelli em sua coluna neste jornal (20/11/13). Os dois economistas, inicialmente, definiram quais seriam os "quatro pilares" do desenvolvimentismo: (1) política cambial destinada a manter o câmbio desvalorizado; (2) política monetária para promover os juros baixos; (3) política fiscal expansiva para estimular a demanda; e (4) política industrial. Em seguida, argumentaram que o governo Dilma seguiu essas políticas porque depreciou o real, diminuiu a taxa de juros, expandiu o gasto público, e praticou ativa política industrial. E concluem seu silogismo: o resultado das políticas desenvolvimentistas foi "um retumbante fracasso".

Farão sentido essas críticas? Primeiro é preciso observar que os desenvolvimentistas do passado não defendiam uma taxa de câmbio competitiva; em seu lugar eles preferiam taxas múltiplas de câmbio para evitar a remuneração excessiva dos exportadores de commodities e beneficiar os empresários industriais. Dessa forma intuíam a doença holandesa e como neutralizá-la. Segundo, como se comparam esses quatro pilares com os correspondentes pilares da ortodoxia liberal? São precisamente o inverso: câmbio apreciado, juros altos, política fiscal restritiva, e política fiscal contracionista.

O governo da presidente Dilma ficou longe da taxa de câmbio que torna competitivas as boas empresas

Caso a presidente Dilma houvesse seguido os preceitos liberais ao começar seu governo, os resultados, em termos de crescimento, seriam piores, porque o real estaria ainda mais apreciado do que está (já que o governo Dilma logrou desvalorizá-lo ligeiramente), a taxa de juros estaria muito maior do que a atual (a baixa alcançada inicialmente foi a grande vitória do governo), a política fiscal seria mais contracionista, e não haveria a política industrial por meio da qual o governo Dilma tentou compensar o câmbio ainda altamente valorizado.

Já em termos de inflação os resultados seriam apenas um pouco melhores, porque sua política fiscal seria mais restritiva e seus juros seriam mais altos. Mas a melhoria seria pequena, porque o governo não mais contava com a arma que tanto liberais quanto desenvolvimentistas geralmente não resistem em usar para combatê-la: a apreciação cambial, a transformação da taxa de câmbio em âncora contra a inflação. Não mais contava com essa arma perversa porque o governo Lula deixou para sua sucessora uma taxa de câmbio incrivelmente apreciada: R$ 1,65 por dólar (ou, aos preços de hoje, R$ 1,85 por dólar).

Já o novo desenvolvimentismo que defendo é muito diverso tanto do liberalismo econômico quanto do desenvolvimentismo comum. A diferença fundamental está na tese que só uma taxa de câmbio equilibrada, de "equilíbrio industrial", pode garantir o crescimento acelerado ou o "catching up" - uma taxa que torna competitivas as empresas nacionais de bens comercializáveis (tradables) que usam tecnologia moderna, e não apenas as exportadoras de commodities. Qual é essa taxa? Eu vinha afirmando que, a preço de hoje, estaria em torno de R$ 3,00 por dólar. Entretanto, José Luis Oreiro, Flavio A.C. Basílio e Gustavo J.G. Souza, em trabalho apresentado ao Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, calcularam recentemente a taxa de câmbio de "equilíbrio industrial" em R$ 3,26 por dólar.

Portanto, ainda que tenha logrado alguma desvalorização real, o governo Dilma ficou longe da taxa de câmbio que torna competitivas as boas empresas brasileiras e que leva à aceleração do crescimento e ao "catching up". Com a taxa de câmbio valorizada que continuamos a ter as empresas industriais brasileiras ficam desconectadas tanto do mercado internacional quanto do mercado interno, e, se não fecham, apenas sobrevivem penosamente.

O governo Lula logrou crescimento elevado, baixa inflação e distribuição de renda, mas isso não resultou apenas do aumento do preço internacional das commodities exportadas pelo Brasil e da competente política distributiva que realizou; resultou também dos benefícios de curto prazo da grande apreciação cambial acima referida.

Teria a presidente Dilma podido levar a taxa de câmbio para o equilíbrio industrial em janeiro de 2011, quando começou seu governo? Não creio, porque os custos desta política no curto prazo são altos: aumento temporário da inflação, diminuição temporária dos salários reais, e quebra das empresas muito endividadas em dólares; e porque a maioria dos economistas, tanto desenvolvimentistas quanto liberais, não se mostram convencidos da necessidade de promover uma desvalorização "once and for all" do real, e, em seguida, fazê-lo flutuar em torno do equilíbrio industrial.

Um presidente só pode mudar a matriz macroeconômica do país se tiver apoio na sociedade e nos economistas. Para isto é necessário que haja um acordo social entre empresários e trabalhadores. E que os economistas brasileiros, tanto os liberais quanto os desenvolvimentistas, repensem a alta preferência pelo consumo imediato que revelam ao aceitar o nível da taxa de câmbio atual. Não há, hoje, clima para um acordo dessa natureza. Não nos resta, portanto, senão nos conformarmos com taxas medíocres de crescimento.

Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da FGV. Foi ministro da Fazenda (1987) e ministro da administração federal (1995-98)."




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4214 Mensagem por Sterrius » Qui Jan 16, 2014 12:27 pm

Se real bater 3 reais o dólar o brasileiro médio entra em desespero e liga a desvalorização ao fim da economia.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4215 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jan 16, 2014 12:42 pm

Tendo a concordar como Bresser no texto acima, mas com algumas ressalvas.

A taxa de câmbio de equilíbrio apresentada, entre 3 e 3,25 reais/dólar, é praticamente impossível de alcançar em curto/médio prazos sem um enorme repique inflacionário ou uma explosão do déficit público devido à reduções de impostos e/ou subsídios (por exemplo aos combustíveis, o que já ocorre). E ambos os problemas fariam qualquer tentativa neste sentido ser abortada muito antes de poder mostrar qualquer efeito, o que levaria anos para acontecer de forma adequada já que nossas a indústrias não tem como responder mais depressa do que isso, pois não tem capacidade de desenvolver produtos com mais celeridade. A alternativa seria investir no aumento da produção dos produtos já existentes ou seja, os brasileiros voltariam a ter acesso apenas a produtos ultrapassados e mais caros que os disponíveis no restante do mundo (e a indústria nacional não se tornaria competitiva a nível mundial, ficando novamente refém de um mercado fechado).

Além disso, mesmo que o dólar chegasse a atingir valores mais equilibrados a tentativa de aumentar a produção industrial (e a taxa de crescimento geral da economia) iria esbarrar em outros obstáculos também importantes, como a falta de infra-estrutura, de energia, de insumos locais (os importados teriam preços impeditivos), lentidão para realização dos investimentos devido à burocracia, falta de mão de obra especializada e etc... . Tudo isso também demoraria vários anos para ser resolvido.

Por outro lado, se o nível de competitividade da economia brasileira pudesse ser aumentado, através da redução dos custos burocráticos, da carga tributária, da disponibilização de matérias primas e energia em maiores volumes e mais baratos, e etc..., o valor de equilíbrio do dólar não precisaria ser tão elevado, talvez algo entre 2,25 e 2,75 dólares já fosse suficiente. E este é um nível mais fácil de alcançar.

Minha conclusão é que o ajuste do valor do real frente ao dólar (na verdade frente às moedas internacionais em geral) é sim uma condição necessária para que o país possa entrar em uma trajetória de crescimento mais elevado e sustentável, mas não é uma condição suficiente. Não sem antes uma série de ajustes que incluem uma reforma fiscal e uma reforma do estado (entre outras coisas) que diminua as dificuldades (além dos custos) para as empresas e libere recursos de forma a que o estado brasileiro possa fazer a sua parte nos investimentos necessários para que estes níveis maiores de crescimento possam ser atingidos.

Não adianta mais atacar um único ponto, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar muito, não tem mais remendo e fórmula mágica que dê jeito.

Sterrius escreveu:Se real bater 3 reais o dólar o brasileiro médio entra em desespero e liga a desvalorização ao fim da economia.
Esta seria a reação imediata, mas 6 meses depois o pessoal já teria perdido o costume de passar férias na Disney ou na Europa, de trocar de celular várias vezes por ano e de encher a casa com TV's de plasma e tudo voltaria ao normal. Seriam sacrifícios necessários se a população quisesse que o país um dia fosse mesmo desenvolvido e que se pudesse curtir tanto as viagens e os produtos daqui quanto os lá de fora.


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