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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Seg Nov 11, 2013 1:56 pm
por Túlio
Acho brabo contestarem nossa capacidade de pagar aos credores internacionais:

Reservas Internacionais
Conceito de Liquidez Internacional

Posição em 07 de novembro de 2013: US$ 376.265 milhões.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Seg Nov 11, 2013 6:13 pm
por Bourne
Jovem galdério, o Brasil que é credor liquido, não mais devedor.

Dadas as instabilidades globais recorrentes é um âncora boa.

Porém possui efeitos colaterais como valorizar excessivamente o real pela especulação. E a falta de pulso do governo em discutir e implementar medidas para evitar que o real se valorize e atraia especuladores como controle de capitais, prazos mínimos de permanência. As medidas em prol da mudança de perfil da dívida pública são bem pontuais, falta paudurecência da Presidenta.

No cenário atual, ser rebaixado nas agências internacionais de risco seria interessante para reduzir a entrada de dólares especulativos. Mesmo que aconteça, pouco muda na prática.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Seg Nov 11, 2013 11:42 pm
por Marechal-do-ar
Túlio escreveu:Acho brabo contestarem nossa capacidade de pagar aos credores internacionais:

Reservas Internacionais
Conceito de Liquidez Internacional

Posição em 07 de novembro de 2013: US$ 376.265 milhões.
Acho que ai não incluíram os 80 bi que o BC comprou em dólar futuro.

O problema não é ter condições de pagar ou não suas dívidas, alias, o problema nem é que o pessoal de fora pensa de nós, o problema é a falta de um plano para estabilidade econômica E crescimento futuros.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Ter Nov 12, 2013 6:24 pm
por rodrigo
A maioridade do Proer

Saneamento dos bancos privados e públicos completa 18 anos. Programa custou quase R$ 170 bilhões, mas preparou o sistema financeiro brasileiro para enfrentar as crises

Por Cláudio GRADILONE

O banqueiro Roberto Setubal não se esquece dos primeiros dias de março de 1984. Sem aviso prévio, o governo do presidente José Sarney decretou o Plano Cruzado e reduziu a inflação oficial a zero com uma canetada. Setubal, ao analisar os números do Itaú, percebeu – com uma boa dose de horror – que, pela primeira vez em sua história, as operações do banco estavam dando prejuízo. “Concluímos que nossa maneira de trabalhar era ineficiente após anos de inflação elevada, e precisaríamos fazer mudanças”, disse ele, anos após o fato. Ao longo de um doloroso processo de ajuste, o banco demitiu um terço de seus funcionários, terceirizou outro tanto, investiu pesado em tecnologia e cortou fundo os custos.

Poucos meses após a decretação do Cruzado, o Itaú voltou ao azul. “Se não tivéssemos feito isso, haveria problemas no Plano Real”, disse Setubal. Dez anos depois, houve. Em julho de 1994, o Plano Real acabou de vez com a hiperinflação e tornou explícitas as ineficiências de um sistema viciado em captar dinheiro de pessoas e empresas para emprestá-lo ao governo. Como resultado, duas dezenas de bancos grandes e meia centena de menor porte fecharam as portas, foram vendidos, privatizados ou tiveram de se fundir. A crise foi tão pesada que obrigou o então presidente Fernando Henrique Cardoso a estabelecer, no dia 5 de novembro de 1995, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.

O nome quilométrico foi logo abreviado para Proer, e se tornaria uma das siglas mais incandescentes do debate político e das demandas jurídicas até 2010. “O programa impediu um possível colapso do sistema bancário, e recebeu, posteriormente, elogios do ex-presidente Lula”, disse Fernando Henrique na terça-feira 5. A estridência do debate foi provocada pelo fato de o Proer ter usado recursos públicos para socorrer os bancos. Funcionava assim: um banco iria quebrar, deixando alguns milhões de correntistas e empresas sem dinheiro. Para evitar isso, o Banco Central intervinha, injetava recursos suficientes para fazer as contas fecharem e promovia o casamento com alguma instituição financeira saudável.

O caso mais rumoroso foi o do Banco Nacional. Tradicional casa bancária de origem mineira, o banco da família Magalhães Pinto perdeu muito dinheiro com o Plano Cruzado. Os prejuízos geraram um rombo nas contas que foi escondido durante dez anos. Quando a inflação acabou, não deu mais para manter o problema debaixo do tapete. O banco tinha mais de R$ 6 bilhões a descoberto – cerca de R$ 22 bilhões a dinheiro de hoje – e iria quebrar. Como era o sexto maior banco do País, os riscos eram os de uma crise que vergasse todas as outras instituições.

“O sistema financeiro poderia ter quebrado se não houvesse um programa para impedir a falência do Nacional”, diz o advogado Isaac Sidney Ferreira, procurador-geral do BC. “E, sim, esse programa custou dinheiro.” Para impedir a tragédia, o programa foi estruturado rapidamente pelo BC, e o casamento do Nacional com o Unibanco, que já vinha sendo tratado muito discretamente fazia algumas semanas, foi fechado às pressas. “Muitos bancos casaram na polícia”, diria, posteriormente, Gustavo Franco, ex-presidente do BC. Na época, o Proer obrigou o BC a injetar R$ 15 bilhões nos bancos em dificuldades, ou R$ 45 bilhões, em dinheiro de hoje.

“Mas cabe lembrar que o Banco Central está sendo pago e vai receber cada real de volta”, diz Ferreira. A execução do Proer seguia um ritual. Decretada a intervenção, os ativos de boa qualidade e, principalmente, os depósitos da clientela, simplesmente passavam para outro banco – e a vida seguia seu rumo. Os donos perdiam o controle de seus bancos e tinham de arcar com seu patrimônio pessoal para cobrir os rombos gerados por anos de má gestão, decisões erradas ou, simplesmente, incapacidade de operar em um mercado mais moderno e competitivo. No entanto, o departamento jurídico do BC logo perceberia que resignação e desprendimento não eram características dessa turma.

“O Proer emprestou dinheiro público, que precisava ser cobrado”, diz Ferreira. O problema bancário, porém, não se limitava à iniciativa privada. Os bancos públicos controlados pelos governos estaduais foram outra fonte de dores de cabeça para o sistema. Seus controladores – os Estados – usavam-nos como um caixa informal. O caso mais emblemático foi o do paulista Banespa, que sofreu uma intervenção em 1994 e ficou sob administração do BC até sua venda para o espanhol Santander, seis anos depois. “Quebrei o Banespa, mas elegi meu sucessor”, disse, em 1990, o falecido Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo. Banespa e Banerj – este, vendido ao Itaú em 1995 – custariam R$ 40 bilhões para sanear em recursos corrigidos para 2013.

Os demais bancos levaram outros R$ 30 bilhões, em um programa conhecido como Proes. Na sua grande maioria, as instituições financeiras estaduais foram privatizadas, e Bradesco e Itaú dividiram esse espólio. Os bancos controlados pelo governo federal não ficaram de fora. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e, em menor escala, BNDES, Banco da Amazônia e Banco Meridional tinham vultosos empréstimos de má qualidade, também mascarados pela inflação elevada. Esses bancos receberiam R$ 29 bilhões em um programa conhecido como Proef, estabelecido em 2001. O resultado do programa mudou a configuração do sistema bancário. O Econômico, do baiano Ângelo Calmon de Sá, passaria quase um ano de portas fechadas e por dois controladores antes de ser absorvido pelo Bradesco.

O Nacional foi incorporado pelo Unibanco, que praticamente dobrou de tamanho e passou a disputar a liderança do mercado com Itaú e Bradesco. Já o Bamerindus, do ex-senador paranaense José Eduardo Andrade Vieira, foi a porta de entrada do britânico HSBC para o mercado brasileiro. Mais do que socorrer bancos, o saldo do Proer foi um sistema financeiro sólido e mais fiscalizado do que há 18 anos. “Atualmente, os bancos brasileiros são mais capazes de resistir às crises”, diz Ferreira. “Nos últimos anos, os problemas que ocorreram em bancos de pequeno porte foram provocados por fraudes e atos ilícitos, e não por problemas de solvência no sistema.”

http://www.istoedinheiro.com.br/noticia ... E+DO+PROER

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Nov 13, 2013 6:20 pm
por Bourne
Um pouco de briga de egos: Nelson Barbosa versus Oreiro

Os dois são muito bons. Porém o segundo tem uma puta recalque de não ser chamado para nada no governo. :lol:
Debate econômico no Brasil ainda é preso ao passado

Fonte: http://www.zedirceu.com.br/debate-econo ... o-passado/

21 out 2013/3 Comentários/ Entrevista do mês /Por Zé Dirceu
NelsonBarbosa

O debate econômico no Brasil muitas vezes ainda é preso ao passado, distante da realidade que o país vive hoje. O grande desafio agora é tentar buscar um consenso em relação às diferentes correntes existentes, que pregam receitas divergentes para o Brasil e não dialogam entre si. A avaliação é do economista e professor Nelson Barbosa, que deixou a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda em junho deste ano.

Em conversa com o nosso blog, o pesquisador do IBRE (FGV) e professor da Escola de Economia de Sao Paulo (FGV) e do Instituto de Economia do Rio de Janeiro (UFRJ) diz que é preciso “muita capacidade política” do governo para construir um consenso nacional e superar o debate preso ao passado. “Acontece que às vezes as coisas ficam disfarçadas e nebulosas por conta da mídia, que quer estabelecer um Fla x Flu”, acrescenta.

Barbosa – que esteve no governo desde 2003, inicialmente no Ministério do Planejamento e depois na Fazenda, onde também ocupou as secretarias de Acompanhamento Econômico e de Política Econômica – também fala sobre outros desafios brasileiros. “Como nós conseguimos reduzir o desemprego e melhorar a distribuição de renda, é natural que as demandas sociais se intensifiquem em outras áreas, como saúde, educação e segurança públicas, o que exigirá mais recursos fiscais.”

Leia a seguir a nossa conversa:

[ José Dirceu ] O pessimismo econômico de boa parte da imprensa tem sua razão de ser?

[ Nelson Barbosa ] Não. Existe um pessimismo exagerado. Nos últimos anos houve mudanças no mundo e no próprio Brasil que geraram um crescimento menor e uma inflação maior, mas nada que não possa ser corrigido pelo governo gradualmente. Do ponto de vista de longo prazo, o país continua tendo um grande potencial de crescimento com base no seu mercado interno. Continuamos tendo um grande potencial de aumento de investimentos, de aumento de produtividade e de integração de mais pessoas no mercado de consumo de massa, no mercado de trabalho e no mercado de crédito, que é o que conta para o futuro da nossa economia.

[ Dirceu ] Qual o grande desafio para a economia brasileira atual e qual deve ser o papel do governo?

NelsonBarbosadir[ Barbosa ] Eu vejo dois grandes desafios, um externo e outro interno. Do lado externo, a conjuntura internacional hoje é menos favorável que a do passado. O índice de preço das nossas exportações parou de subir, mas se estabilizou num patamar elevado. Assim, ainda temos um cenário internacional favorável, mas não tão favorável quanto quando os preços de nossas exportações cresciam a cada ano. Nesse novo cenário é muito importante aumentar a produtividade e a competitividade da economia, para que o crescimento da nossa demanda interna gere produção e empregos no país. O aumento da produtividade e competitividade requer uma atuação do governo, ações para diversificar nossa base produtiva e aumentar a capacidade de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos no Brasil. Algumas destas ações não requerem mais recursos públicos, pois envolvem mudanças inteligentes na regulação dos mercados. Mas também será necessário adotar incentivos fiscais e financeiros para o desenvolvimento produtivo, sobretudo para a inovação tecnológica.

Do ponto de vista interno, nosso próprio sucesso nos últimos anos colocou novos desafios à política econômica. Como nós conseguimos reduzir o desemprego e melhorar a distribuição de renda, é natural que as demandas sociais se intensifiquem em outras áreas, como saúde, educação e segurança públicas, o que exigirá mais recursos fiscais. Mesmo aumentando a eficiência do governo e combatendo a corrupção, que é obrigação de qualquer governo, também será necessário aumentar o gasto público por habitante com educação, saúde, segurança pública, transporte urbano, inclusão digital e outras formas de inclusão social.

A necessidade de maior desenvolvimento produtivo e social vai exigir recursos públicos, num contexto de maior restrição fiscal do governo por que o preço de nossas exportações já não sobe tão fortemente quanto antes. Assim, o aumento das demandas produtivas e sociais sobre o governo terão que ser administradas na velocidade que o orçamento fiscal permite. Há espaço fiscal para fazer várias coisas, mas não para atender tudo ao mesmo tempo. Nessa situação nosso maior desafio é político, é saber como construir um consenso nacional capaz de manter o modelo de desenvolvimento para todos e, ao mesmo tempo, atender a essas novas demandas produtivas e sociais. Nosso desafio é criar um consenso político capaz de fazer o Brasil avançar, mas sem renunciar às conquistas obtidas nos últimos anos.

[ Dirceu ] Isso significa que nós precisamos aumentar os investimentos públicos. Como não podemos aumentar os impostos, ou crescemos e temos recursos, ou vem do pré-sal ou fazemos uma reforma tributária. De qualquer maneira, o governo vai ter de participar dos investimentos de infraestrutura. Sem baixar o custo do serviço da dívida interna, nós temos margem para crescer o gasto público em investimentos?

[ Barbosa ] Em primeiro lugar temos que continuar aumentando o gasto social por habitante, como já vem ocorrendo, mas agora com maior foco em outras áreas de atuação social do governo. O gasto com educação já subiu bastante e continuará a crescer. O gasto com saúde começou a subir mais rapidamente nesse ano e deve continuar a subir nos próximos anos. Para acomodar isso é preciso estabilizar as transferências de renda em % do PIB. Dentro do próprio orçamento social é possível fazer isso. Por exemplo, podemos continuar a aumentar gradualmente o salário mínimo – a nova regra de reajuste será decidida em 2015 – com ajustes no programa de abono salarial. É uma questão de discutir qual gasto social vai receber mais recursos dentro do orçamento social.

Na questão mais geral, o Brasil já trabalha com um resultado [superávit] primário mais baixo nos últimos anos e isso não gerou grandes problemas para a economia. Podemos manter o resultado primário na faixa de 1,5% a 2,5% do PIB nos próximos anos e isso já nos dará algum espaço fiscal em 2015-18. Com um primário nessa faixa a dívida líquida do governo tende a ficar estável em % do PIB. O maior problema hoje está na dívida bruta do setor público, no lado financeiro e não no lado primário do orçamento do governo.

Ultimamente eu venho colocando que a taxa real de juros no Brasil caiu – hoje ela está em torno de 4% ao, quando ela era 10% ao ano há quatro anos -, mas o custo da dívida pública ainda não caiu. Continuamos a pagar cerca de 4,5% do PIB na forma de juros sobre a dívida pública. Por quê? Por que o governo teve que emitir títulos públicos para comprar reservas internacionais e emprestar recursos aos bancos públicos, e isso fez com que a dívida bruta do setor público subisse mesmo num contexto de queda da taxa real de juro.

Do lado das reservas, o BC comprou dólares e esterilizou essas operações com aumento da dívida pública, via operações compromissadas. Essa política é correta, por que ela dá autonomia à nossa política econômica. Com um alto estoque de reservas internacionais o Brasil tem mais margem de manobra sobre o seu próprio destino. Quando vem uma crise lá de fora, o real se deprecia e nossa dívida líquida cai e o governo tem espaço fiscal para enfrentar a crise, como ocorreu em 2008. Diferentemente do passado, hoje, quando vem uma crise externa, o Brasil não quebra nem tem que pedir recursos ao FMI. Porém, a política de acumulação de reservas também é muito cara, pois emitimos títulos a 10% ao ano no mercado interno e aplicamos a 2% ao ano no resto do mundo. O custo financeiro de manter reservas internacionais é alto, mas ele é o preço necessário para que o Brasil tenha mais autonomia de política econômica.

Do lado dos bancos públicos, o governo também aumentou a dívida bruta para dar recursos ao sistema financeiro oficial. Isso ocorreu para combater os efeitos da crise de 2008. Houve uma contração muito forte da oferta de crédito. Para manter a economia rodando e sustentar o investimento, a União tomou recursos a taxas de mercado, a 10% ao ano, e emprestou esses recursos a uma taxa subsidiada ao BNDES, a 5% ao ano. Com isso o BNDES teve capacidade de aumentar sua oferta de crédito e sustentar o nível de atividade da economia.

NelsonBarbosa4Assim como no caso das reservas internacionais, os empréstimos da União aos bancos públicos foram corretos, mas com um grande custo financeiro. Diferentemente do caso das reservas internacionais, não é mais necessário continuar aumentando os empréstimos da União aos bancos públicos. O próprio governo já anunciou que vai reduzir seus aportes no BNDES e isso vai gradualmente reduzir o custo financeiro da dívida pública. Com essa atuação haverá uma queda gradual no pagamento de juros por parte do governo, em % do PIB.

Reserva tem de acumular mesmo, talvez não no mesmo volume dos anos passados, se não houver um forte ingresso de capitais no Brasil. Mas no caso dos bancos públicos nós temos que gradualmente reduzir os aportes da União, pois isso vai reduzir a conta de juros do governo e abrir espaço fiscal para aumentar outros gastos, como os gastos sociais que eu já mencionei.

Tudo isso tem de ser feito gradualmente para não virar a economia do avesso, mas esse é um espaço a ser utilizado nos próximos anos.

[ Dirceu ] E o dólar? Nossa indústria aguenta o dólar abaixo de 2,20?

[ Barbosa ] Alguma indústria aguenta, mas o dólar não deve ficar baixo de R$ 2,20 por muito tempo porque mudou o ciclo internacional. Os preços das commodities pararam de subir, mas devem ficar estáveis. Do lado financeiro, não vai ser de imediato, mas tudo indica, que deve ocorrer alguma normalização das taxas de juro nos Estados Unidos. Depois da última confusão [a controvérsia sobre limite da dívida norte-americana], ninguém tem muita certeza como será a evolução da política macroeconômica dos EUA. E na Europa a situação melhorou, mas ainda é frágil. Por essas razões eu não acho que o dólar ficará abaixo dos R$ 2,20 por muito tempo. E R$ 2,20 ainda é uma taxa de câmbio bem apreciada para nossas empresas industriais.

Hoje o custo unitário do trabalho do Brasil está alto em moeda estrangeira. Nossos salários estão relativamente altos em dólares e isso tira a competitividade da indústria. Contra isso despontam três estratégias de ajustes, cada uma com ênfase em um mecanismo. Em primeiro lugar, há a turma que prega uma recessão, um aumento substancial da taxa de desemprego para fazer o salário crescer mais lentamente e, com isso, reduzir o custo unitário do trabalho. Esta é, por exemplo, a solução europeia, o que eles estão tentando fazer na Espanha, na Itália. O problema dessa solução é que ela tem um alto custo social, e demora muito tempo. Esse tipo de estratégia nunca deu certo em países grandes como o nosso. É inviável por definição.

A outra estratégia é promover uma maxidesvalorização do real. Jogar a taxa de câmbio lá em cima e adotar uma política monetária e fiscal restritiva para fazer com que a desvalorização do real não gere muita inflação. O aumento da taxa de câmbio e a política econômica restritiva que a acompanha geram uma recessão, não tão forte quanto na opção anterior, mas ainda assim uma recessão e um aumento no desemprego. Essa estratégia também tem um custo social significativo, não tão alto quanto a primeira alternativa, mas ainda assim um impacto negativo para os trabalhadores, pois a maxidesvalorização do real gera inflação, derruba salário e aumenta o desemprego. Além desse problema, a manipulação da taxa de câmbio é incompatível com o atual sistema brasileiro, com liberdade de movimentação de capitais. Não acho que essa é uma solução boa.

A terceira alternativa é aumentar a produtividade do trabalho, de modo a fazer com o atual nível de salários deixe de ser excessivo quando comparado com o resto do mundo. É isso que o atual governo está vem tentando fazer. Aumentar investimentos em educação e infraestrutura, desonerar impostos e aumentar o crédito para acelerar o crescimento da produtividade. Essas ações estão na direção correta, mas tem um impacto bem lento sobre a economia. Demora para o investimento se materializar e para a produtividade aumentar. Desonerações e incentivos financeiros têm um impacto mais rápido, mas com grande custo fiscal. Na situação atual, não há espaço fiscal para grandes desonerações nem para a continuação de grandes empréstimos subsidiados da União aos seus bancos públicos. As ações tem que se concentrar no aumento do investimento e na melhora do ambiente de negócios, como o governo tem tentado fazer.

Qual ajuste vai acontecer? Será via câmbio ou produtividade? Ao tomar uma medida para aumentar a produtividade, o governo torna menor o ajuste necessário do câmbio se e quando isso acontecer. No nosso regime de câmbio flutuante o mercado dá a tendência e o governo tenta diminuir a volatilidade em torno desta tendência. Assim, se não houver um aumento suficiente da produtividade da economia, cedo ou tarde haverá um ajuste maior via câmbio, mas pelo mercado, não produzido pelo governo. Esse é o melhor regime e, tendo reservas internacionais, o governo garante que o país atravessará flutuações cambiais sem crise financeira.

[ Dirceu ] No primeiro semestre a inflação dominou boa parte do noticiário. O assunto perdeu força, mas ainda aparece. Há motivos para que a inflação ainda cause preocupação?

[ Barbosa ] No final de 2002, o Brasil tinha uma inflação de 12,5% ao ano; em fevereiro de 2003, ela chegou a 17% ao ano, e depois ela caiu. O fato de ela estar agora alta preocupa, mas não é nenhuma tragédia ou problema que não possa ser resolvido no seu devido tempo.

Nós já reduzimos a inflação no passado e somos capazes de fazer isso novamente. O Banco Central já está pilotando a Selic para trazer a inflação para a meta e acredito que chegue à meta de 4,5% em 2015. Temos que trazer a inflação para o centro da meta porque nossa inflação é muito volátil. Qualquer choque joga a inflação para cima ou para baixo muito rápido, então temos que ficar perto do centro da meta para poder administrar os choques de preço que recorrentemente impactam o Brasil.

A maior preocupação atual é que inflação está demorando a cair, mas essa queda mais lenta deve-se a alguns bons problemas e a questões que estão fora do controle da política econômica. Do lado dos bons problemas, nós temos uma baixa taxa de desemprego, políticas sociais que reduzem a pobreza e uma política de salário mínimo que melhorou a distribuição de renda. Essas políticas de transferências de renda podem, em algum momento, causar uma pressão no preço relativo dos serviços, mas isso é o que eu chamo de política civilizatória. Todo país que se tornou desenvolvido, que teve um aumento da renda per capita, experimentou um aumento no preço relativo dos serviços. Até recentemente a inflação mais alta dos serviços era compensada por choques favoráveis em outros preços. O que aconteceu ultimamente foi uma sequência de choques desfavoráveis nesses outros preços.

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O desafio agora é trazer a inflação para a meta, sem abandonar as conquistas sociais dos últimos anos. Por exemplo, recentemente o Brasil adotou uma nova legislação sobre o transporte de carga, sobre as condições de trabalho dos caminhoneiros, o que é um avanço social. Isso tem um custo porque aumentou o custo do frete, mas do outro lado teremos um sistema mais seguro e mais eficiente. Outro exemplo: tivemos, também recentemente, uma nova regulação do trabalho dos empregados domésticos, outra medida civilizatória, que aumenta a inflação no curto prazo, mas que representa um avanço social no longo prazo. Essas medidas civilizatórias são necessárias, mesmo que elas impliquem num aumento temporário da inflação.

No passado esses tipos de choques nos preços dos serviços eram compensados com os outros preços. Caíam os preços dos alimentos, apreciava o câmbio. Agora, nós estamos vivendo o esgotamento da possibilidade de apreciação cambial. O real no começo do governo da presidenta Dilma Rousseff estava no nível mais apreciado dos últimos anos. No início do governo Lula o real estava muito depreciado e havia espaço para apreciação sem prejudicar muito a economia. Agora já não há tanto espaço para apreciar o real. Então, a política monetária não pode mais contar com a ajuda da taxa de câmbio para compensar a inflação maior nos preços dos serviços. Nessa situação é mais difícil trazer a inflação rapidamente para o centro da meta. Este é o desafio, mas ele não é nem de longe parecido com os problemas que enfrentamos em 2002, quando a inflação estava em 12,5% e ninguém sabia se ela iria cair. Eu acredito que já observamos uma moderação do crescimento e do mercado de trabalho. E com esse aumento da taxa SELIC, a inflação vai cair para o centro da meta de inflação, para 4,5%, até 2015.

[ Dirceu ] Como você está vendo esta questão das concessões e, particularmente, do leilão da Libra?

[ Barbosa ] O governo fez um movimento muito importante de viabilizar os investimentos via concessões, porque assim você cria uma parceria entre Estado e mercado, onde o governo coordena o processo, dá as regras, mas a execução ocorre via setor privado. Nas concessões de infraestrutura, cada área tem sua própria sua lógica e algumas têm mais problemas do que outras. Por exemplo, no caso dos aeroportos a concessão é um sucesso. Há uma grande demanda reprimida e receitas comerciais – não reguladas -, que tornam os aeroportos um negócio altamente rentável. A primeira rodada foi um sucesso e tenho certeza de que atual rodada também será um sucesso.

No caso das rodovias as concessões estão progredindo, uma teve êxito; a outra não, mas por características muito peculiares daquela rodovia do Espírito Santo, que não cabe mencionar. A preocupação do governo, legítima, é que os concessionários façam os investimentos mais rapidamente, que ocorra duplicação das rodovias nos primeiros cinco anos da concessão. Esse é um objetivo legítimo, mas como tudo em economia, ele tem um preço. Antecipar os investimentos tem um custo financeiro e logístico que acaba botando a tarifa de pedágio mais alta. Também há incerteza se em algumas rodovias será possível duplicar tudo em apenas cinco anos. O governo sabe destes problemas e está ajustando o modelo, vendo caso a caso, para manter essa prioridade de investir mais rápido e ajustando os editais para tornar os projetos mais atraentes ao setor privado. Em rodovia, o que vamos ver é isso, algumas serão mais rápidas, outras vão precisar de uma revisão, mas vão progredir.

Porto é outro setor onde os investimentos vão deslanchar. Tem muita demanda reprimida, então não tenho dúvidas que tem retorno. Ferrovia é um pouco mais complicado porque tem a incerteza de demanda, e mesmo que o governo garanta que vai pagar, o setor privado não tem segurança. E quando digo governo, não é este governo, mas o governo do Brasil nos próximos 35 anos. Então, existem incertezas intrínsecas no negócio ferrovia que não dependem do governo da ocasião, mas da própria natureza da atividade.

O caso de Libra é o primeiro leilão de partilha, o processo será um aprendizado para todos os envolvidos. Pelas regras que foram colocadas, o governo tem poder suficiente para que a produção desse campo gere desenvolvimento nacional. Por mais justificadas que sejam as preocupações, o modelo de partilha já dá muito poder ao governo para direcionar o ritmo de produção e o conteúdo local dos investimentos para que a exploração de petróleo gere desenvolvimento para o país.

Existe a preocupação manifestada por alguns de que o campo de Libra poderia ser 100% explorado pela Petrobras e não precisaria abrir para participações de outros países. Mas a Petrobras vai ser operadora, vai comandar o processo produtivo e tal. E a produção de petróleo vai ser vendida ao resto do mundo se não houver demanda suficiente para absorvê-la no Brasil. O governo tem todo o controle do processo para garantir que a exploração de Libra vai se reverter em desenvolvimento do país. Se isso vai ser bem ou não utilizado, depende do governo que vai administrar isso. Eu tenho total confiança em que o governo da presidenta Dilma Rousseff vai administrar tudo isso muito bem.

[ Dirceu ] Como você vê o debate econômico hoje no Brasil do ponto de vista técnico, político… É um debate que tem consistência técnica ou está monopolizado pelo debate oposição x governo, do papel que a mídia joga…

NelsonBarbosaesqok[ Barbosa ] Ouvi uma vez de um jornalista e repito sempre: com a mídia, o melhor resultado é o empate, você nunca ganha. Você pode estar diante de um resultado bom, mas sempre terá como destaque um resultado médio ou negativo. Isso é natural, é do jogo, o importante é que agora com a internet você tem outros canais de informações, então fica muito difícil pintar um quadro tendencioso. Ele é rapidamente refutado e esclarecido.

No caso da economia, o que temos é hoje é um debate muitas vezes preso no passado quando a realidade do Brasil é outra. Existem algumas grandes correntes que, na falta de melhor termo, eu chamo de financistas, industrialistas e trabalhistas. O pessoal mais ligado ao mercado financeiro quer câmbio apreciado, juros lá em cima, salários lá embaixo, liberalizar a economia e deixar que o mercado que resolva tudo. Isso já se provou insuficiente, parcial e incompleto, em vários momentos da nossa história, e também no resto do mundo

Há outra ala mais industrialista, que quer cambio lá em cima, juros lá embaixo e salário também lá embaixo; é o pessoal do “crescer para depois distribuir”, que defende que o governo coloque todas suas fichas na indústria, aumentando a margem de lucro das empresas, pois isso eventualmente vai gerar mais produtividade e melhores salário para a população. Do ponto de vista teórico isso pode até acontecer, mas na história brasileira iniciativas que privilegiam somente o capital industrial não tendem a chegar rapidamente aos salários. Para que isso aconteça é preciso que os trabalhadores tenham poder de barganha, tenham diretos e um sistema social que promova o emprego e combata a pobreza. Sem isso, incentivar a indústria pode ser bom para os industriais, mas não necessariamente para o restante da economia.

E em terceiro lugar há a corrente trabalhista, que quer aumentar o salário e distribuir renda para gerar crescimento. O risco desta corrente é adotar medidas populistas que geram crescimento no curto prazo, mas que acabem em problemas fiscais ou monetários no médio prazo. Um foco excessivo e imediato no aumento de salários e do gasto público tende a gerar inflação e comprometer o equilíbrio fiscal. Pode-se criar uma situação de demanda que não é sustentável, que acaba em crise fiscal, crise cambial ou ambas.

Então, no Brasil, você tem esses três grandes polos de interesse brigando com propostas diferentes de política econômica. Nos últimos anos os governos do presidente Lula de da presidente Dilma têm tentado administrar esses interesses conflitantes em torno de um projeto de desenvolvimento que seja bom para a maioria dos trabalhadores. Um projeto mais próximo dos ideais trabalhistas, mas que leva em consideração as preocupações financistas e industrialistas.

As principais economias do mundo estão tendo problemas em chegar a um consenso político sobre estratégia de crescimento e distribuição de renda, basta ver o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa. Onde tem algum consenso, não há muita democracia, como na China. O desafio do Brasil é equacionar os interesses divergentes de financistas, industrialistas e trabalhistas em uma sociedade democrática e aberta. Isso exige muita capacidade política.

Há pontos legítimos em cada um desses grupos. No lado financista, o controle da inflação, porque se não tivermos uma inflação baixa e estável, o desenvolvimento não acontece. Nos industrialistas, a indústria forte, pois sem isso não há grande aumento da produtividade, que por sua vez é o que permite o crescimento sustentável dos salários. E no lado trabalhista, o aumento dos salários e a redução da desigualdade da distribuição de renda, pois os ganhos de produtividade e baixa inflação devem se reverter em melhor qualidade de vida para a maioria da população brasileira. O maior desafio da economia política é compatibilizar estes interesses. Acontece que às vezes as coisas ficam disfarçadas e nebulosas por conta da mídia, que quer estabelecer um Fla x Flu. Mas o sucesso depende da construção de consenso, não de um Fla x Flu, e isso acaba prejudicando.

No debate econômico é muito fácil você propor soluções extremas. A coisa mais fácil em política econômica é escolher um objetivo, persegui-lo a ferro e fogo e ignorar o resto. Eu consigo trazer a inflação rapidamente para baixo se eu não me importar com o que vai acontecer com o emprego e com o crescimento. Consigo elevar o crescimento rapidamente se eu não me importar com o que vai acontecer com a inflação, com as contas públicas e com as finanças externas do país. O mais difícil é você fazer uma estratégia que tenta conciliar objetivos aparentemente incompatíveis, e aí é uma questão de prioridades e habilidade.

Governar é escolher prioridade, escolher o que vai primeiro e o que vai depois. Uma das grandes ações dos governos Lula e Dilma foi dizer “nós vamos administrar os interesses divergentes, mas a prioridade é desenvolvimento para todos”. Esse é o objetivo final. Então temos que reindustrializar o Brasil? Sim, temos que reindustrializar o Brasil. Temos que ter inflação baixa e estável? Sim, temos que ter inflação baixa e estável. Mas reindustrialização e controle da inflação tem que ser compatíveis com o aumento do bem-estar da população. O instrumento não é o fim, ter uma indústria que represente 20% do PIB é um instrumento para melhorar o bem-estar da população. Ter um resultado primário de 2% do PIB é um instrumento para melhorar a qualidade de vida da população, não é o fim em si mesmo. Às vezes, no debate macroeconômico, meios e fins ficam misturados.

[ Dirceu ] Eles acham que o meio determina o fim. Quando começamos a usar a política monetária fiscal e fazer superávit, eles diziam que nós estávamos dando continuidade ao Fernando Henrique. Eu disse que não, “nós estamos usando os instrumentos que existem para segurar a inflação”. Se não tivéssemos feito uma política dos bancos públicos, uma política industrial, não déssemos um novo papel para o Estado, para as empresas estatais, não distribuíssemos renda, nem aumentado o salário mínimo, aí sim nós estaríamos fazendo a mesma coisa que eles. Não fizemos apenas política monetária e fiscal, nós fizemos política de desenvolvimento. Nós retomamos a ideia do desenvolvimento.

[ Barbosa ] Sim, e desenvolvimento vai muito além da macroeconomia. A política macro é importante – sou economista e trabalho com macroeconomia –, mas as questões que temos hoje vão muito além da macroeconomia. Tome a questão dos serviços públicos universais. Esses são serviços que no Brasil são feitos pelos Estados e municípios. O governo federal tem um papel na distribuição dos recursos, mas a execução é regional. Melhorar saúde, educação e segurança exige um grau elevado de coordenação entre as diferentes esferas de governo, porque você tem de estabelecer princípios nacionais de execução local. São poucos países da dimensão do Brasil que conseguem fazer isso. Aliás, nem tenho certeza se um país da dimensão do Brasil consegue fazer isso, pois os EUA deixam a desejar na questão da saúde. Melhorar serviços públicos universais no Brasil não é só um desafio econômico, uma questão de colocar mais recursos, é também um desafio de gestão, um desafio político de cooperação entre presidente, governadores e prefeitos. Vemos as brigas entre governo estadual de São Paulo com o federal. O desafio é você tentar fazer uma coordenação maior, porque no final das contas quem vai executar os programas são os prefeitos e os governadores. O recurso pode ser federal, mas eles que executam.

[ Dirceu ] Em relação à questão de mobilidade, social, formação profissional, foi surpreendente o dado do IPEA de que existe apagão de mão de obra nas profissões sem qualificação, e não o contrário. É surpreendente a mudança educacional que está acontecendo no Brasil, o impacto será grande. Essas mudanças salariais e de distribuição de renda passam a se reverter agora em acesso a educação.

[ Barbosa ] E são mudanças irreversíveis. Houve um reforço no investimento em educação e principalmente no FIES (Financiamento Estudantil). Hoje o governo brasileiro diz para o estudante “se você passar numa boa faculdade e não tiver dinheiro, não tem problema que o governo te financia, com uma taxa de juros de 3,4%, e com carência igual ao período do seu curso. Se o curso tem 4 anos, você tem carência de 4 anos depois que concluir a faculdade. E se você trabalhar para o governo, cada mês trabalhado paga 1% da dívida”. Esperava-se 150 mil matrículas no primeiro semestre deste ano, foram 500 mil. Imagine quando esse pessoal sair da universidade? Imagine o impacto que isso terá no mercado de trabalho? Na sociedade em geral? Levará um tempo, mas a mudança já está em curso.

[ Dirceu ] Os dados da PNAD são impressionantes. As empresas já têm muito estrangeiro trabalhando também.

[ Barbosa ] A questão da imigração está muito pequena ainda. Ainda vai entrar muito estrangeiro no Brasil se nós tivermos sucesso na aceleração do crescimento econômico e do desenvolvimento social. Todos os países ocidentais que tiveram sucesso nessa experiência atraíram muitos estrangeiros.

[ Dirceu ] Em relação a esse impasse norte-americano sobre o limite da dívida. Países como China e Japão e outros países já se manifestaram contra o risco deste contágio e do eventual calote norte-americano.

NelsonBarbosa3[ Barbosa ] O que existe é uma incerteza, porque a maior parte da riqueza mundial é aplicada em títulos do Tesouro norte-Americano. Japão, China, nós, países produtores de petróleo. Existe uma incerteza jurídica muito grande. Por isso que o calote não vai acontecer. Eles vão evitar. Mas é ruim porque fica o clima de incerteza e atrasa a recuperação da economia mundial.

[ Dirceu ] Nossa última questão: os nossos grandes acertos ou grandes erros, ou insuficiências, aquilo que não fizemos e poderíamos ter feitos nos últimos onze anos.

[ Barbosa ] O grande acerto, como já ouvi do ex-presidente Lula, foi mostrar que os pobres e os trabalhadores são solução e não problema. Que pode crescer distribuindo renda, que isso é uma oportunidade de crescimento e que isso gera a possibilidade de investimento, aumenta a produtividade, o tal do círculo virtuoso. Nosso país foi um dos poucos países que conseguiram fazer isso neste início do século XXI. Você olha para a China, para a Europa, Estados Unidos: o contexto é de repressão salarial e piora na distribuição de renda. Aqui é o contrário. Fomos ajudados por um contexto internacional favorável, é verdade, mas nos anos 90 nós também tivemos um contexto internacional favorável, que foi utilizado para fazer o Plano Real, mas depois a economia quebrou.

Então, eu colocaria: um dos grandes acertos foi mostrar que o desenvolvimento social é possível. O segundo, a redução da fragilidade da economia brasileira, isso mostrou que é possível fazer desenvolvimento social reduzindo nossa fragilidade; reduziu a dívida pública, aumentou reservas internacionais, o que nos deixou muito menos expostos aos choques de outras partes do mundo. Antes passava qualquer marola e o país quebrava no dia seguinte. Hoje a marola vem, aumenta a inflação, acontece isso ou aquilo, mas o país não quebra. O país atravessa.

Sobre falhas, a questão é mais de prioridades. Como você não consegue resolver tudo ao mesmo tempo, ficamos um pouco atrasados na questão da infraestrutura e de mais investimentos na educação para a sustentação desse crescimento. Não é bem falha, mas uma questão de escolha de prioridade para usar os recursos limitados do governo. Lembro que no primeiro mandato do Presidente Lula, na fase do ajuste fiscal, quando foi lançado o Bolsa Família, Lula disse: “Muitos dizem que eu não faço estrada, mas se eu tiver de escolher entre 1Km de asfalto e dar comida para quem tem fome, eu vou dar comida para quem tem fome”. Isso é prioridade, eu tenho “x” de orçamento, então vou começar aqui e o resto pode esperar. Prioridade.

[ Dirceu ] Até porque a distribuição de renda fez com que o pais saísse do círculo vicioso que os financistas impunham.

[ Barbosa] Era uma economia frágil do ponto de vista financeiro. Ela crescia, mas não tinha mecanismo de sustentação interna. Vinha uma crise financeira de fora e parava tudo. Agora é o contrário, se você administrar bem, a economia vai crescendo pela sua própria dinâmica interna.
Sobre a entrevista de Nelson Barbosa ao blog do José Dirceu
13quarta-feira nov 2013

Fonte: http://jlcoreiro.wordpress.com/2013/11/ ... se-dirceu/

Publicado por jlcoreiro em Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, Mídia, Opinião ˜ Deixe um comentário


Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

Acabei de ler a entrevista de Nelson Barbosa ao blog do ex-ministro José Dirceu (http://www.zedirceu.com.br/debate-econo ... o-passado/). Barbosa é certamente o melhor quadro técnico do PT e até hoje não consigo entender como a Presidente Dilma Rouseff, a quem considero uma pessoa razoavelmente inteligente, pode preterir o Nelson a dupla dinâmica Mantega-Agustin … A Política tem razões que a Razão desconhece …

Quero, no entanto, me centrar num trecho da entrevista na qual ele define a posição da corrente industrialista (que eu imagino ser a corrente novo-desenvolvimentista, a qual pertenço) como (sic):

“A outra estratégia é promover uma maxidesvalorização do real. Jogar a taxa de câmbio lá em cima e adotar uma política monetária e fiscal restritiva para fazer com que a desvalorização do real não gere muita inflação. O aumento da taxa de câmbio e a política econômica restritiva que a acompanha geram uma recessão, não tão forte quanto na opção anterior, mas ainda assim uma recessão e um aumento no desemprego. Essa estratégia também tem um custo social significativo, não tão alto quanto a primeira alternativa, mas ainda assim um impacto negativo para os trabalhadores, pois a maxidesvalorização do real gera inflação, derruba salário e aumenta o desemprego. Além desse problema, a manipulação da taxa de câmbio é incompatível com o atual sistema brasileiro, com liberdade de movimentação de capitais. Não acho que essa é uma solução boa”

Segundo Barbosa a estratégia novo-desenvolvimentista se baseia na adoção de uma política monetária e fiscal restritiva para então desvalorizar o câmbio, estimulando assim a competitividade da indústria e, dessa forma, acelerar o investimento e o crescimento da economia. Neste ponto, Barbosa, talvez inclinado a fazer um pouco de jogo político com seu interlocutor, apresentou o novo-desenvolvimentismo de forma, no mínimo, equivocada, para “endeusar” a estratégia populista e curto-prazista adotada pelos sucessivos governos do PT, do qual ele foi parte integrante.

Isso posto, vamos esclarecer alguns pontos:

(i) A estratégia novo-desenvolvimentista parte do pressuposto que sem a re-industrialização da economia brasileira não será possível a retomada do crescimento da economia brasileira em bases sustentadas. Isso porque uma economia que possui uma força de trabalho mal treinada e mal-educada – problema esse que só pode ser resolvido num horizonte temporal de 40 anos – não tem outra opção para crescer que não seja via indústria. Acreditar que um país como o Brasil pode crescer com base nos (sic) ganhos de produtividade oriundos de um setor de serviços, em sua imensa maioria, primitivo, é acreditar em contos da carochinha. Ou crescemos com base na indústria ou voltaremos ao passado inglório de país primário-exportador. Assim simples.

(ii) A perda recente de dinamismo da indústria – desde 2005, ou seja, na era do PT – deveu-se a combinação perversa de apreciação da taxa real de câmbio e crescimento dos salários acima da produtividade do trabalho. Isso não quer dizer que a desindustrialização tenha surgido no governo do PT – nesse quesito FHC também tem culpa no cartório – mas ela se aprofundou recentemente. Essa desindustrialização é, sim, o resultado de uma política macroeconômica equivocada que gerou um aumento irreal e não sustentado do salário real no Brasil. O aumento do salário real é irreal e não sustentado porque veio acompanhados pelo aumento do déficit em conta-corrente – hoje em quase 4% do PIB – o qual mostra claramente que o Brasil “vive acima de suas possibilidades”, uma vez que a absorção doméstica é maior do que a produção nacional (ou seja, o país como um todo “consome mais do que produz).

(iii) O próximo governo – seja ele, Dilma, Serra, Aécio, Eduardo ou Marina – terá que fazer um forte ajuste da taxa real de câmbio para reequilibrar as contas externas brasileiras. Se não fizer isso por bem, fará por mal, ou seja, por intermédio de uma crise cambial de grandes proporções. Negar isso antes das eleições é prática comum no Brasil vide FHC em 1998.

(iv) É aritmeticamente impossível fazer uma desvalorização da taxa real de câmbio sem produzir uma redução do salário real e uma elevação temporária da taxa de inflação. Contudo, ao contrário do que afirmado pelo Nelson Barbosa, a queda de salário real é muito menor do que ele afirma. Estimativas que eu e o Nelson Marconi da FGV-SP (ver “Câmbio: adiar o ajuste pode sair caro”, Valor Econômico, 13/05/2011) fizemos para a elasticidade do salário real com respeito a taxa de câmbio mostram que a mesma varia entre -0,18 a -0,24 de tal forma que uma desvalorização de 30% do câmbio real produziria uma redução de, no máximo, 6,5% no salário real. Isso está bem longe do cenário catastrófico pintado pelo Nelson Barbosa ao seu interlocutor.

(v) Numa economia financeiramente aberta é impossível desvalorizar o câmbio e aumentar os juros ao mesmo tempo, ao contrário do que Nelson Barbosa ser a posição “industrialista” (aliás ele como professor de macroeconomia aberta da UFRJ sabe muito bem disso). O novo-desenvolvimentismo defende uma redução permanente da taxa de juros, o que é obtido, não com bravatas e murros na mesa, ao estilo do governo Dilma, mas com mudanças na administração da dívida pública e no grau de indexação da economia brasileira. Eliminar, de uma vez por todas, a parcela da dívida pública indexada a Selic (Por que será que o governo do PT ainda não fez isso?) e reduzir gradativamente a indexação dos preços a inflação passada é a maneira mais certa e rápida de garantir a convergência da taxa de juros brasileira aos níveis internacionais.

(vi) Por fim, fazer um ajuste fiscal não é o mesmo que adotar uma política de austeridade fiscal. Os que defendem o novo-desenvolvimentismo acreditam que o governo brasileiro deve, antes de tudo, mudar a composição do gasto público, aumentando sensivelmente a participação do investimento estatal no PIB (ao invés de arriar as calças para os neoliberais com uma reedição do programa de privatização da era Collor-FHC) e reduzir a participação dos gastos de consumo e de custeio. Isso exige, não um aumento da meta de superávit primário, mas uma mudança do regime fiscal brasileiro em prol da adoção de uma meta de superávit em conta-corrente do governo, ou seja, a introdução da assim chamada “regra de ouro da política fiscal” – defendida, diga-se de passagem por Jonh Maynard Keynes – segundo a qual “só te endividarás para financiar investimento”. Collor, FHC, Lula e Dilma mantiveram a prática do que poderíamos chamar “finanças Jorginho Guinle”, ou seja, emitir dívida pra financiar consumo … E ainda tem gente que não entende porque a taxa de investimento no Brasil não passa de 18% do PIB.

(vii) Durante a transição de um período com taxa de câmbio apreciada para um período com taxa de câmbio competitiva, uma aceleração da inflação será inevitável. Dessa forma, novo-desenvolvimentistas defendem a flexibilização temporária do regime de metas de inflação para que seja possível a implementação de uma taxa de câmbio mais depreciada. Isso está muito longe de ser uma política recessiva ….

(viii) Por fim, mas não menos importante, os novo-desenvolvimentistas são decididamente socialdemocratas por opção. Sendo assim, o bem-estar sustentável da classe trabalhadora é nossa principal preocupação. No entanto, não estaremos assegurando o bem-estar da classe trabalhadora compactuando com políticas populistas que tem por meta apenas garantir um resultado favorável nas urnas. Novo-desenvolvimentistas desejam um crescimento sustentado e robusto do salário real a médio e longo-prazo, o que só é possível com a re-industrialização da economia brasileira. O problema com a (sic) “nova matriz macroeconômica” do governo Dilma é que ela irá apenas aprofundar o processo de desinsdustrialização, condenando o Brasil a ser eternamente um país subdesenvolvido e, portanto, condenando toda a classe trabalhadora a pobreza eterna. Isso não é social-democracia … cheira muito mais o neoliberalismo.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Nov 13, 2013 6:29 pm
por Bourne
Minha opinião

O tal "novo desenvolvimentismo" é uma puta picaretagem. Não levo a sério e não me convence. Os figurões tentam vender uma imagem e modelo firme e coeso que será a saída para o país com medidas macroeconômicas. É o que Oreiro e o grupinho dele defendem. ignoram qualquer discussão institucional ou micro.

O problema brasileiro são reformas microeconômicas, reestruturação das políticas públicas e intervenção estatal. Não é um problema macroeconômico que se resolva com desvalorizar o câmbio ou medidas de curto prazo fiscais e monetárias. Basicamente, o problema de países em desenvolvimento que precisam aprender a crescer, ter um setor produtivo eficiente e fornecer o melhor bem-estar a população.

Creio que o governo acha o mesmo, tanto que as principais medidas vão na direção de reformas microeconômicas com muito dinheiro para pesquisas e projetos nesse sentido. Envolvendo temas de inovação, reformas na legislação, novas estruturações de contratos de concessão e regulação dos setores, avaliação de políticas públicas entre outras. Muitas com resultados reais positivos como a concessão de rodovias, aeroportos e portos.

Outro ponto é que a política macroeconômica é a que está aí com reformulações pontuais. O governo é até leniente com problemas estruturais do modelo e se nega a tomar medidas efetivas. Por exemplo, a especulação em cima do real que força a valorização e prejudica o setor produtivo. No mínimo deveriam ter medidas de controle e restrição a entrada de capitais especulativos e produtivos não desejados. Porém a ação mudar um detalhe ou outro dos impostos e regulação para criar incetivos para direcionamento dos recursos. Nada de mudança radical. Além do mais também acaba sendo um problema microeconômico e institucional.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qui Nov 14, 2013 9:14 am
por Wingate
14/11/2013 - UOL - Folha de São Paulo
Indústria brasileira propõe firmar acordo de livre-comércio com EUA

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Pressionada pela perda de competitividade e pela queda na exportação de manufaturados, a indústria brasileira está defendendo um acordo de livre-comércio com os EUA.

Análise: Proposta de acordo ainda é um tiro distante

Ontem, em discurso para 200 empresários americanos em Denver (EUA), o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, afirmou que o Brasil deveria fechar um acordo de livre-comércio com os EUA e deixar em segundo plano o Mercosul para avançar em outros tratados importantes.

"Defendemos um acordo com os EUA, que compram principalmente manufaturados", disse à Folha Andrade.

Foi a primeira vez desde o enterro da Alca, em 2003, que a indústria discutiu a abertura de mercado com os EUA.

Até setores mais protecionistas, como o de eletroeletrônicos, defendem o acordo.

"Mudamos o posicionamento. Há dez anos éramos refratários, e havia um açodamento para fechar um tratado", disse Humberto Barbato, presidente da associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.

"Agora estamos isolados, o Brasil está fora das cadeias de valor, daqui a pouco estaremos parecidos com países da antiga Cortina de Ferro."

SEM PREVISÃO

Procurado, o Ministério do Desenvolvimento limitou-se a dizer que "não há discussão em curso sobre essa questão". "O governo está focado na troca de ofertas com os europeus para um futuro acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia", diz a nota.

Os EUA são o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Mas, enquanto o Brasil exporta essencialmente commodities à China, vende em grande parte produtos manufaturados e semimanufaturados para os EUA.

Entre 2000 e 2008, o Brasil manteve superavit comercial com os EUA de quase US$ 10 bilhões por ano. Desde 2008, porém, o país tem deficit (foram US$ 5,6 bilhões em 2012).

O novo posicionamento da indústria vem do deficit em manufaturados (a Associação de Comércio Exterior do Brasil projeta US$ 105 bilhões neste ano), da queda no ritmo de exportações e da primarização da pauta.

Além disso, o Brasil sofre cada vez mais concorrência da China na venda de manufaturados no Mercosul. E, como o Mercosul fechou só três acordos comerciais, o país pode ficar mais isolado.

Em setembro, a CNI levou um grupo de 30 empresários aos EUA e propôs reabrir as negociações comerciais. Mas o timing, após revelações de espionagem pelo governo dos EUA, foi infeliz.
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Wingate

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qui Nov 14, 2013 10:30 am
por irlan
Isso iria baixar o preço dos manufaturados americanos?

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qui Nov 14, 2013 11:01 am
por Sterrius
provavelmente. Ja que pra cada beneficio que eles cederem nós teremos que fazer o mesmo em alguma área igualmente lucrativa (no minimo).

Eu vejo um acordo como esse igual eu veria em 2003, O Brasil numa posição melhor mas sinceramente eu não sei, talvez com o acordo da UE ja não faça mais tanto sentido ja que a UE é tão competitiva quanto os USA

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qui Nov 14, 2013 11:08 am
por Bourne
:shock: :shock: :shock:

Agora relacionem a notícia aos posts acima.

Os próprios empresários descobriram que não vivem sem mercado externo, a ausência de produtos globais e integração a estrutura produtiva mundial os tornam prezas fácies a concorrência estrangeira. Não há câmbio ou medida de proteção que os salvem.

Isso quer dizer três coisas:

:arrow: A cruzada brasileira contra os subsídios agrícolas dos últimos 20 anos estava errada. Não o motivo em si, mas sim a excessiva enfase como se salvar o país. Além de esbarrar em tantos países em desenvolvidos que protegem descaradamente o setor agrícola como política de desenvolvimento. Enquanto isso deixava de lado o setor de manufaturados que movimenta o grosso das trocas comerciais e investimentos mundial.

:arrow: Ignorar as relações internacionais passa por ignorar negociações e acordos comerciais de investimento internacionais. Sem isso, não integra a industria a estrutura produtiva internacional e nem eleva a competitividade. Saudades do Lula que lembrava que seria importante traçar uma estratégia desse gênero. Ainda leva nas costas o Mercosul devido a tarifa externa comum e negociações em bloco com uma argentina que é um grande entrave a qualquer acordo. Sempre diz não dá.

:arrow: Existem programas em curso do governo federal e diversas autarquias para desenvolvimento tecnologia e competitividade na onda das reformas microeconômicas. É uma política do governo Lula e mantida com firmeza pela Dona Dilma. parte da ideia é incentivar a exportação e ajudar a mudar a forma de integração do país com o exterior, além de reduzir a dependência da flutuação dos preços das commodities agrícolas e minerais.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Nov 17, 2013 2:14 pm
por Bourne
Queda de Braço (O Estado de São Paulo, 16/11/2013)

Fonte: http://associacaokeynesiana.wordpress.c ... -16112013/

Publicado por associacaokb em Uncategorized Deixe um comentário

Estão para lá de estremecidas as relações entre economistas e Ipea. O instituto negou, pela primeira vez desde 2008, apoio ao seminário anual da Associação Keynesiana Brasileira – presidida por José Luis Oreiroe que tem como patronos nomes como Luiz Carlos Bresser Pereirae Luiz Gonzaga Belluzzo.

A AKB diz ter seguido o mesmo ritual dos anos anteriores: fez pedido de financiamento por meio de um edital do Ipea – negado “por falta de recursos”. “A associação sempre recebeu apoio para seus encontros. Acho muito estranho o fato de que a primeira vez que o financiamento foi negado tenha sido sob a presidência de Marcelo Neri”, disse Oreiro à coluna.

Queda 2

Procurado, o Ipea afirmou que as propostas foram avaliadas segundo sete critérios. “Aquelas com maior pontuação foram financiadas; as demais, não. A proposta da AKB ficou em 47º lugar.”

E mais: “Incentivamos a associação a tentar novamente em 2014, sendo que a banca de avaliadores muda a cada ano”.
Imagem


Se o Oreiro não era ouvido no governo e o grupo de pseudo "neo-desenvolvimentistas" era mal visto. Agora será ignorado e preterido em relação a outros grupos como da Unicamp e UnB. Mais interessante são caras quase se ofendendo por facebook.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Seg Nov 18, 2013 11:17 am
por Bourne
O Brasil na Era Lula: retorno ao desenvolvimentismo?

Pedro Cezar Dutra Fonseca, André Moreira Cunha, Julimar da Silva Bichara

Resumo

O artigo retoma variáveis sobre o desempenho recente da economia brasileira com o propósito de enfocar a questão se, a partir dessa análise conjuntural, pode-se detectar que o país estaria resgatando, sob nova roupagem, uma matriz de políticas desenvolvimentistas. Para ensaiar resposta à questão, parte-se de uma análise sobre o desempenho recente da economia e da contextualização do referido debate para, por fim, elaborar um contraponto entre o governo Lula e os traços estruturais da experiência histórica da economia brasileira no período que ficou conhecido na literatura como “era do desenvolvimentismo”, esta entendida como cinco décadas, a partir de 1930, de elevado crescimento e de modernização do país.

Palavras-chave: economia brasileira, desenvolvimentismo, crise financeira global


http://web.face.ufmg.br/face/revista/in ... /2188/1158

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Seg Nov 18, 2013 10:46 pm
por Wingate
18 de Novembro de 2013•11h49 •

Terra - BBC

Brasil deve ficar isolado após acordo comercial entre EUA e UE

Brasil será a única grande economia do mundo sem um acordo de livre comércio com alguma outra grande economia

BBCBrasil.com

A conclusão de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) é mais urgente do que nunca para o Brasil, que corre o risco de ficar isolado no cenário mundial se o bloco europeu fechar o tratado de livre comércio que está negociando com os Estados Unidos, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil.

"O Brasil será a única grande economia do mundo sem um acordo de livre comércio com alguma outra grande economia", observou Michael Emerson, economista do Centro para Estudos de Política Europeia (CEPS), um grupo de pressão com sede em Bruxelas.

"Isso deveria servir como um alerta para o país que, se não se mexer para fechar um acordo semelhante, ficará isolado no cenário comercial mundial." As negociações entre o Mercosul e a UE se arrastam desde 1995 e as duas partes se comprometeram a dar um passo decisivo em dezembro, com um novo intercâmbio de propostas.

No entanto, tanto Emerson como Ulrich Schoof, analista da Fundação Bertelsmann, um grupo de pressão independente baseado na Alemanha, acreditam que a iniciativa será prejudicada pelas negociações entre as autoridades europeias e americanas.

"A UE precisa concluir rapidamente acordos comerciais com sócios suficientemente grandes e bem conectados com o resto do mundo para incentivar seu crescimento e sustentar suas políticas macroeconômica e fiscal", analisou Schoof em entrevista à BBC Brasil.

"Nesse contexto, sua energia é absorvida pelas negociações com Japão, Taiwan e Estados Unidos, que têm mais probabilidades de dar certo, e se reduz o entusiasmo com respeito ao Mercosul", afirmou, recordando as reticências de Argentina em abrir seus mercados para os europeus.

Maior área de livre comércio do mundo

Um acordo entre a UE e os Estados Unidos - que juntas respondem por 49 por cento do PIB global e 31% dos intercâmbios comerciais - criaria a maior área de livre comércio do mundo e teria um impacto inevitável sobre todos os demais países.

Mais que eliminar as tarifas sobre exportações, as duas maiores potências econômicas internacionais buscam a harmonização ou o reconhecimento mútuo de normas e padrões técnicos e sanitários para todos os produtos que comercializam.

Essa medida por si - que permitirá uma redução de custos e um aumento do fluxo comercial - responderia por 81% do benefício gerado pelo tratado, estimado em 275 bilhões de euros anuais. Os outros 19% viriam da eliminação das tarifas.

Tanto a UE como os Estados Unidos argumentam que a iniciativa também fortaleceria o comércio internacional como um todo, já que ambos são parceiros comerciais de praticamente todos os países do mundo.

Com a harmonização, os países terceiros passariam a ter que adaptar seus produtos a um único conjunto de normas e padrões ao exportar tanto para o bloco europeu como para os americanos, o que reduziria burocracia e custos.

Impacto negativo

No entanto, os analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que para o Brasil esse benefício seria mínimo comparado ao prejuízo causado pelo aumento da concorrência em dois de seus maiores mercados.

Isso porque o maior responsável pelo encarecimento das exportações nacionais para a UE e os Estados Unidos são as tarifas comerciais, em geral mais elevadas que as impostas mutuamente pelos dois gigantes, e não a adaptação a normas e padrões de cada mercado.

Um estudo da Fundação Bertelsmann calcula que as exportações brasileiras diminuiriam 29,72% para os Estados Unidos e 9,4% para a UE, resultando em uma queda de 2,1% no PIB per capta real brasileiro em um prazo de entre 15 e 20 anos.

Caso o tratado comercial entre a UE e os Estados Unidos se limite à eliminação de barreiras tarifárias entre os dois países, sem a harmonização de normas e padrões, a redução das exportações brasileiras seria de apenas 2,24% para os Estados Unidos e de 3,71% para a UE.

No entanto, sob esse cenário, o aumento do fluxo comercial entre os Estados Unidos e a UE poderia levar a uma caída de preços dos produtos nacionais no mercado brasileiro, o que resultaria em um aumento de 0,5% no PIB per capta real para o Brasil, explicou à BBC Brasil Sybille Lehwald, economista da Fundação Bertelsmann.

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Wingate

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Nov 20, 2013 10:59 am
por GustavoB
O contrato antissocial

Antes da crise, em 2007, A Espanha era superavitária em 1,9%. O Brasil tem hoje um resultado fiscal semelhante ao da Espanha então.

por: Saul Leblon

Deve haver algo de profundamente errado com um sistema tributário em que a perspectiva de pagar um piso salarial de modestos R$ 1.860 reais ao magistério, em 2014, dispara as sirenes do colapso sistêmico nas prefeituras e governos estaduais.

Pelo menos é o que diz o colunismo especializado na pauta: ‘de amanhã Brasil não passa’.

O estranho torna-se paradoxal quando se verifica que o mesmo jogral que cobra educação de qualidade, incita ao arrocho e buzina por cortes de impostos o que, em última instancia, rebateria em uma redução estrutural nas transferências municipais.

O descasamento entre uma fórmula de reajuste do magistério que embute ganhos reais e a evolução nominal das receitas explica, em parte, a tensão nas contas locais.

Mas nada disso dissipa a incoerência do objeto de desejo oferecido pelos pré-candidatos do conservadorismo para 2014.

Nas tertúlias com o dinheiro grosso, eles acenam a miragem de um Brasil com produtividade chinesa, civilidade suíça, superávit ‘cheio’ e receita fiscal correspondente a de Burkina Faso, onde o índice de alfabetização não ameaça a barreira dos 25%.

Ademais, a crítica fiscal que anda de mãos dadas com o boicote à constituinte da reforma política, como é o caso, deve ser encarado no mínimo como esperta.

Preservar um sistema arredio à formação das maiorias políticas dá as elites a salvaguarda institucional contra as reformas progressistas e progressivas que o país reclama.

A tributária entre elas.

Sem ampliar a base tributável sobra o quê?

A purga da austeridade; o confinamento da pauta do equilíbrio no campo do arrocho.

Em tese, o sistema tributário deveria ser o oposto disso.

Uma espécie de caixa de compensação do capitalismo, caberia a ele alimentar os fundos públicos com os recursos necessários à equalização das ditas oportunidades republicanas.

O que se depreende do discurso eleitoral do conservadorismo, no entanto, é o propósito de estreitar ainda mais a margem de manobra do Brasil nessa frente.

O modelo só roda na cabeça de quem acredita nas virtudes do Estado mínimo e na eficiência dos mercados autorreguláveis.

Sendo mais complexa que isso, como é, a sociedade trava.

E esse ‘deu pau’ é um acontecimento recorrente na história da América Latina.

A incapacidade dos Estados nacionais realizarem a transferência líquida de fatias da riqueza das elites para os mencionados fundos públicos está na origem desses colapsos.

Eles se transformam em ruptura política, quando a essa rigidez interna se superpõe uma transição desfavorável de ciclo econômico internacional.

A margem de manobra recente, assegurada pela alta liquidez global, está prestes a se esgotar.

Qual será a direção da nova ruptura?

A julgar pela fragilidade fiscal predominante na região não deveria haver dúvida.

A carga tributária média na América Latina e Caribe é inferior a 20% do PIB.

A da União Européia atinge 40%; no Brasil está em torno de 37%.

Não só.

Mais de 50% da arrecadação regional é baseada em impostos indiretos, pagos de forma linear por toda população, com efeito redistributivo nulo ou regressivo.

Na União Europeia, acontece o oposto: mais de 40% da arrecadação provêm de impostos diretos; os 60% restantes dividem-se em fontes indiretas e contribuições à segurança social.

Um país como o Brasil, com 200 milhões de habitantes e enormes carências estruturais, não poderia se contentar com uma carga equivalente a de sociedades dotadas de infraestrutura já madura.

O sistema brasileiro, no entanto, destaca-se pelo pior: é um paradigma da regressividade desaconselhada por qualquer compendio fiscal.

Enquanto o imposto sobre o consumo representa aqui mais de 15% do total arrecadado, a taxação sobre o lucro líquido é dez vezes menor: não chega a 1,5% da receita.

A blindagem em torno dessa matriz benevolente com o capital é, todavia, irredutível.

Por exemplo: o Brasil é um das maiores exportadores de minérios do mundo.

Mas os royalties pagos por toda a indústria mineral brasileira no ano passado somaram minguados R$ 2 bilhões.

O governo quer dobrar a alíquota que passaria de 2% sobre o lucro líquido para 4% sobre o valor bruto.

Ainda assim, algo modesto diante do padrão mundial.

Mas não obtém maioria para ser aprovado no legislativo.

E não se trata de um ponto fora da curva.

O prefeito Fernando Haddad reforçou a progressividade na coleta do IPTU em São Paulo.

O PSDB acaba de entrar na Justiça com uma ação direta de inconstitucionalidade contra o que caracteriza como sendo um imposto ‘de caráter confiscatório’.

Regressividade é isso.

Uma engrenagem política e fiscal feita para recolher proporcionalmente mais dos pobres e proteger os ricos.

Esse contrato antissocial contamina todo o tecido econômico brasileiro, mas os presidenciáveis de estimação do conservadorismo ainda acham pouco.

Quando Marina Silva se confessa a nova namoradinha do tripé, o que ela está dizendo?

Está se oferecendo para lubrificar a natureza antissocial do contrato, devolvendo ainda mais, em espécie, aos endinheirados.

‘Superávit fiscal cheio’ é o nome da mensagem cifrada, vendida como sinônimo de prudência ao eleitor leigo.

Na real, trata-se de um reforço na regressividade fiscal brasileira.

Ela já remete o equivalente a 5,7% do PIB de volta aos cofres da plutocracia, na forma de juros da dívida pública pagos anualmente.

Uma subversão do princípio da solidariedade fiscal pela primazia rentista.

Na educação o Brasil investe menos que isso: 5,3% do PIB; na saúde, 3,9%; em transporte, 1,2%, em políticas assistenciais; 1,8%; em investimentos de infraestrutura, 1% (governo federal).

Quando o jogral que nunca desafina fala em reduzir impostos e cortar ‘a gastança’, o que se preconiza é alargar e não reduzir esse hiato.

Ou seja, injetar vapor na caldeira da supremacia rentista.

Sem espaço político para taxar endinheirados e o seu patrimônio, governos são compelidos cada vez mais a compensar a anemia tributária com endividamento público.

Emprestam e pagam juros por aquilo que deveriam arrecadar. As consequências explodem em exemplos pedagógicos. Caso recente, a Espanha.

Depois de dois anos e seis milhões de desempregados de uma política ortodoxa devastadora, o déficit fiscal do país está em 7,1% do PIB.

Antes da crise, em 2007, o Estado espanhol era superavitário em 1,9% .

O Brasil tem hoje um resultado fiscal semelhante ao da Espanha pré-crise.

Mas o conservadorismo diz que é a bancarrota e quer que o país adote a política econômica que levou a Espanha a um déficit de 7% do PIB.

Por quê?

Bem, hoje, a banca e os rentistas tem o governo espanhol na palma das mãos.

Agora é emprestar e vigiar. Talvez seja esse o objetivo do terrorismo editorial que coloca na boca das agências de risco ameaças que nem elas consideram pertinentes ao Brasil.

O programa acenado nos salões elegantes por Marina, Campos, Aécio e assemelhados é reforçar esse panóptico que vigia os cofres da União, para evitar fugas que comprometam a ‘meta cheia do primário’.

Não importa que os ‘desvios’ destinem-se a financiar desonerações contracíclicas.

Só este ano, o Estado renunciou a R$ 64 bi em impostos para preservar o consumo e o investimento no ambiente pantanoso da crise mundial.

Nada disso conta.

A agenda fiscal brasileira foi sequestrada pelo rentismo. Há muito tempo. Essa captura constrange e restringe o espaço de debate do passo seguinte do desenvolvimento.

A equação fiscal condensa uma correlação de forças, que hoje reflete a supremacia das finanças desreguladas em escala planetária.

Inverter o jogo não se resume, assim, a inverter valores nas rubricas de receita/despesa.

Está em jogo a capacidade da frente progressista brasileira de reunir força e consentimento para contrapor ao projeto conservador um novo contrato social de desenvolvimento.

Não é fácil. Mas é para isso que serve eleição. É para isso deveriam servir as campanhas eleitorais.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sex Nov 22, 2013 9:46 pm
por Bourne
Enquanto isso, a treta continua.
O racha dos heterodoxos (O Estado de São Paulo, 22/11/2013)
22
sexta-feira
nov 2013

Fonte: http://jlcoreiro.wordpress.com/2013/11/ ... -22112013/

Crítica ao governo Dilma Rouseff, novo-desenvolvimentismo
O racha dos heterodoxos
Fernando Dantas

O aparente fracasso da chamada “nova matriz econômica” experimentada no início do governo da presidente Dilma Rousseff está levando a um racha entre os economistas normalmente classificados de desenvolvimentistas e heterodoxos, historicamente mais próximos ao PT. A mudança na política econômica tinha a intenção de acelerar a economia, mas o resultado até agora foi queda do crescimento do PIB e alta a inflação.

Entre os heterodoxos, há, em primeiro lugar, o grupo daqueles que minimizam a importância da mudança tentada na política econômica, ou que até, de forma muito discreta, fazem algumas críticas. A outra corrente também é crítica, mas na direção contrária: para estes, a nova matriz econômica foi uma tentativa canhestra que deu errado por não ter ido muito mais longe na busca de seus objetivos.

De forma simplificada, pode-se dizer que o núcleo da nova matriz foi a tentativa de levar o Brasil a um novo equilíbrio macroeconômico (em relação ao que prevalecia desde pelo menos o plano Real), com um câmbio bem mais desvalorizado e um taxa de juros bem mais baixa. Além disso, houve um aumento do papel do Estado na economia e do protecionismo, incluindo aí as políticas de conteúdo local.

Economistas como Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do ministério da Fazenda no governo Dilma, não negam que aconteceram mudanças na política econômica, mas dizem que elas têm mais a ver com diferentes formas de gerir um mesmo arcabouço do que com guinadas mais radicais.

Assim, quando houve forte tendência à apreciação do câmbio, o governo tentou atuar para dar mais equilíbrio ao mercado – assim como hoje, quando a tendência é a desvalorização, existe uma atuação em sentido contrário. Movimentos, para Barbosa, compatíveis com o câmbio flutuante, assim como a decisão de acumular maciçamente reservas internacionais (ele frisa que essas diferenças de gestão de um mesmo arcabouço podem levar a resultados extremamente diferentes, mas que, ainda assim, não configuram rupturas radicais de modelo).

Já na questão da redução do juro real, o marasmo econômico (e a consequente queda das taxas) no mundo rico, combinado com a desaceleração no Brasil, abriu espaço para acelerar o movimento que já vinha ocorrendo.

Em recente entrevista ao blog de José Dirceu, Barbosa fez observações críticas ao que seria a visão “industrialista” de política econômica, que ele definiu como sendo a corrente que quer “câmbio lá em cima (desvalorizado), juros lá embaixo e salário também lá embaixo”.

José Luiz Oreiro, economista da Universidade de Brasília (UnB) e professor da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), reagiu em seu blog à entrevista de Barbosa. Oreiro é hoje um expoente da corrente desenvolvimentista no Brasil, e um crítico contumaz das políticas econômicas liberais.

É bom ressalvar que, em meio às críticas à declaração de Barbosa sobre o “industrialismo”, o professor da UnB fez fortes elogios ao ex-secretário executivo da Fazenda, que considera “o melhor quadro técnico do PT”.

Para Oreiro, é “um conto de carochinha” a ideia de que o Brasil possa crescer num ritmo satisfatório sem um setor industrial dinâmico, já que a baixa qualidade do capital humano é incompatível com uma economia moderna de serviços. “Ou crescemos com base na indústria ou voltaremos ao passado inglório de país primário-exportador”, ele escreve.

Assim, o economista da UnB tem uma leitura muito mais dramática da estagnação da indústria nos últimos anos, que ele atribui “à combinação perversa de apreciação da taxa real de câmbio e crescimento dos salários acima da produtividade do trabalho”.

Oreiro afirma que a desindustrialização “é, sim, o resultado de uma política macroeconômica equivocada que gerou um aumento irreal e não sustentado do salário real no Brasil”. A prova disso, para ele, é o déficit em conta corrente de “quase 4% do PIB”, que mostra que o País “vive acima de suas possibilidades”.

Oreiro prevê que o próximo governo terá de fazer um forte ajuste do câmbio para reequilibrar as contas externas, e que “negar isso antes das eleições é prática comum no Brasil, vide FHC em 1998”.

Curiosamente, até aqui, o diagnóstico do presidente da AKB aproxima-se do formulado por economistas liberais.

A história muda na prescrição do remédio. Oreiro defende um período de transição entre a taxa de câmbio apreciada e a taxa de câmbio competitiva, em que haja uma flexibilização temporária do regime de metas de inflação. A razão é evitar um quadro muito recessivo pela intensidade do aperto monetário que seria necessário para conter os preços nos parâmetros do atual regime de metas, dada as pressões inflacionárias da desvalorização pretendida.

O economista da UnB afirma também que a queda do salário real inicial com a sua estratégia não é catastrófica. Segundo seus estudos, com Nelson Marconi (FGV-SP), uma desvalorização real de 30% do câmbio acarretaria uma redução real dos salários de no máximo 6,5%.

Oreiro diz ainda que é preciso eliminar a dívida pública indexada à Selic e reduzir gradativamente a indexação da economia brasileira para se obter uma redução permanente das taxas de juros. Na política fiscal, ele defende uma mudança do gasto público, com forte aumento dos investimentos e redução do consumo do governo e do custeio. Aqui, o economista contorna o tema das enormes transferências de renda através do Estado brasileiro, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade política da sua proposta.

Debate político é simplista

De qualquer forma, a visão do economista da UnB é de uma política econômica heterodoxa não populista, em que haja um “crescimento sustentado e robusto do salário real a médio e longo prazo, o que só é possível com a re-industrialização da economia brasileira”. É uma clara crítica à política de crescimento da renda e do consumo no curto prazo patrocinada pelo PT nos últimos dez anos.

É muito pouco provável, contudo, que posições como a de Oreiro ganhem força e prevaleçam na formulação de política econômica no Brasil nos próximos anos, mesmo que a esquerda, isto é, o PT, se mantenha no poder.

O economista pode ter achado a dose de heterodoxia do início do governo Dilma insuficiente e mal administrada, já que se manteve o “populismo salarial” da era Lula. Mas o que parece ser a leitura mais geral, e que inclusive repercute nos primeiros ensaios da campanha eleitoral, é que Dilma resolveu brincar com a heterodoxia e queimou as mãos.

A deterioração econômico-política na Argentina e na Venezuela, que fizeram desvios da ortodoxia muito mais profundos que o brasileiro, também contribui para queimar o filme do desenvolvimentismo. Seria extremamente injusto dizer que as opções de Oreiro são cópias do bolivarianismo e do kirchnerismo, mas, no calor do debate político, é difícil fugir das histórias simplistas. No atual racha entre os heterodoxos, é nítida a desvantagem da corrente que busca mudanças mais profundas da economia brasileira.
Esse Oreiro ainda será um pilar de alguma candidatura anti-governo em 2014. Está muito recalcado depois tentou, tentou e tentou, mas foi preterido pelo governo por outra base técnica e caminhos de outros conselheiros. E notem que afirma que é heterodoxo e clama pelo racha para se diferenciar do governo. Inclusive devido ao BNDES, Ministérios e IPEA ter gente de todo tipo muito bons nas áreas que atuam, nos últimos anos com muitos projetos para trabalhar em coisas não existiam nada a respeito no país.

A ideia dos milagres e grande mudanças não faz mais sucesso no Brasil. É um discurso fácil para problemas difíceis. No discurso são ressaltadas as variáveis macro e grande mudanças. Na real, a mais de uma década oBrasil incorporou que o fundamental são pequenas mudanças que moldam a estrutura e economia com efeitos sentidos no longo prazo. Construído por gente técnica que põe pouco de ideologia por que não espaço para apresentar um estudo viesado em questões mais reais e aplicadas.

Tudo bem que o câmbio está distorcido e valorizado. Porém não é esse fim de mundo e crise cambial iminente que está para acontecer. Abro a janela e não consigo enxergar esse cenário.