#40833
Mensagem
por Marino » Seg Jun 07, 2010 10:47 am
Estado de São Paulo
REPORTAGEM ESPECIAL
AVIÕES VÃO VOAR ATÉ 2021
Tigre renovado é o principal caça da FAB
Embraer completa a modernização de 46 jatos F-5E na unidade de Gavião Peixoto, a fábrica de
aviões de combate
Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
Os dias andam agitados na linha de produção de máquinas de
guerra, a 300 quilômetros de São Paulo. A fábrica da Embraer, em
Gavião Peixoto, está abrigando uma frota de combate: oito
supersônicos F-5E, três caças bombardeiros AMX, e três A-4 Skyhawk,
da Marinha, todos passando por um amplo programa de modernização
tecnológica.
Novos, há dez turboélices de ataque leve, Super Tucanos. Um deles, do lote de 12 unidades
vendido para o Chile, foi entregue na quinta-feira. Outro, com a camuflagem em padrão digital da Força
Aérea do Equador, outro país cliente, aguardava liberação da equipe técnica para o dia seguinte.
Ao lado desse hangar, onde câmeras fotográficas não são bem recebidas e é conveniente que as
pessoas vestindo farda não tenham nome nem rosto, o clima é outro. Dali saem os sofisticados jatos
Phenom executivos. O preço começa em US$ 3 milhões. Quem tiver todo esse dinheiro e puder pagar
agora, só vai conseguir com isso garantir um lugar na fila - para receber o avião apenas em 2013.
Há voos o dia todo, decolando e pousando na pista de cinco quilômetros de extensão, repleta de
sensores e recursos de teste. Nesse ambiente, pouca coisa é capaz de atrair a atenção dos 2,2 mil
técnicos que trabalham na área. Uma delas, talvez a única, rugia as cinco toneladas de força das
turbinas duplas às 10 horas de sexta-feira - o caça F-5EM, a versão modernizada do modelo II/E da
Northrop americana, comprado em sucessivos lotes desde 1974 pela aviação militar, tira o pessoal de
dentro dos pavilhões.
"Há torcedores aqui como em clubes de futebol", conta o engenheiro Juliano Castilho. Em sua
equipe há um funcionário que guarda anotados detalhes de todos os voos, desde o primeiro, em 2003,
dos 38 supersônicos que já passaram por Gavião Peixoto. O caça renovado pela Embraer, associado à
israelense Elbit, superou expectativas e vai voar até 2021, afirma um ex-gestor do programa, avaliado
em US$ 420 milhões.
Para o atual vice-presidente de Mercado de Defesa, Orlando Ferreira Neto, "o principal benefício
para a empresa foi, sem dúvida, desenvolver a capacitação no aperfeiçoamento eletrônico das
aeronaves e a integração de sistemas".
Não, esse não será um novo ramo de negócios para a Embraer, "a menos que surja um cliente
com necessidade bem específica". Na mesma linha, a companhia cuida da revitalização de 53 AMX, da
FAB, e de 12 A-4 Skyhawk, da ala aérea do porta-aviões São Paulo. Significa um faturamento anual da
ordem de US$ 100 milhões até 2016, afirma o vice-presidente.
Em consequência do bom desempenho, o Comando da Aeronáutica mantém o F-5EM, senão em
sigilo, ao menos sob intensa discrição. O principal avião de combate da Força é uma evolução do tipo
original do qual, desde 1964, foram fabricadas 3.806 unidades. Recebeu um novo painel com telas
digitais coloridas de cristal líquido, comando unificado, computadores de última geração, capacidade
para uso de capacete com visualização de sistemas e de lançamento de bombas guiadas por laser, de
mísseis de alcance além do horizonte, armas antirradar e recursos para elevar o índice de acerto no
emprego de bombas "burras".
O principal diferencial incorporado, entretanto, é o novo radar Grifo, multimodo, com alcance de
80 quilômetros. Pode detectar até quatro diferentes alvos ao mesmo tempo, priorizando cada um deles
pelo grau de ameaça.
Na sexta-feira, o piloto de ensaios Carlos Moreira Chester, um ex-caçador militar de 41 anos,
levou o 4827 para os 13 mil metros. O voo, o terceiro antes da entrega para a FAB, só revelou problemas
de rotina. Uma diferença de empuxo entre as duas turbinas e a dificuldade de leitura dos cartões de
dados de navegação. O lado direito do canopy, cobertura transparente da cabine, está embaçado.
"Em combate é que se avalia como isso pode ser importante", comenta Chester. Raro
profissional, seu treinamento, no Comando de Tecnologia Aeroespacial, o CTA, de São José dos
Campos, durou 45 semanas e custou US$ 1 milhão. A avaliação do piloto é a ponta do longo processo
de recebimento pela FAB. Dele participam 15 técnicos da Força e 30 da Embraer.
O caça perdeu um de seus dois canhões de 20 mm originais, abrindo espaço para o radar. As
outras medidas continuam iguais. O F-5EM Tigre, o nome completo, é esguio e mede 14,5 metros. Asas
curtas, de 4 metros. Velocidade máxima de 1.900 km/hora ? a operacional não passa de 1.770 km/h. O
alcance fica em 2,5 mil km, mas o caça pode ser reabastecido no ar. O armamento, além do canhão, é
composto por dois mísseis ar-ar. Leva 3,2 toneladas de cargas de ataque.
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Bastidores...e assim, naquela manhã de junho, o F-5 interceptou o
Vulcan
Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
Tem história o caça mais importante da FAB. Abateu Mirages franceses e ameaçou os F-16
americanos em jogos de guerra. Quando ainda era o F-5E Tiger II, foi protagonista de uma história
emocionante, durante a guerra entre Argentina e Grã-Bretanha pelas Ilhas Falklands/Malvinas. No dia 3
de junho de 1982, dois caças do 1.º Grupo de Aviação da base aérea de Santa Cruz, no Rio, foram
acionados para interceptar um bombardeiro Vulcan, britânico (foto menor, à esquerda).
O enorme jato, projetado para lançar mísseis nucleares, voltava de um longo ataque contra
radares da defesa aérea argentina. Com autonomia de apenas 2,7 mil km, o percurso de 18 mil km, com
margem de segurança, ida e volta à ilha de Ascensão, na linha superior do Atlântico, exigia vários
reabastecimentos no ar por meio de uma frota de aviões-tanque Victor.
O Vulcan teve dois problemas: um de seus mísseis Shrike, antirradar, não se soltou do cabide no
momento do disparo ? e a sonda de transferência de combustível quebrou. Temendo a ação dos caças
inimigos, o comandante inglês decidiu tomar a direção do Rio em silêncio de rádio. O que ele não sabia é
que os serviços de inteligência relatavam a possibilidade de um ataque de advertência contra o Brasil,
que apoiava claramente a posição da Argentina.
Sob esse foco, os F-5E decolaram às 10h50. Romperam a barreira do som quando
ultrapassaram a velocidade de 34o metros por segundo. O estrondo foi ouvido em vários pontos da
cidade. Vidraças quebraram. Prontos para o fogo de abate, os caças se aproximaram do grande
bombardeiro, que reagiu rápido, às 11h04, declarando emergência e pedindo socorro.
Guiado pelos brasileiros até a base aérea do Galeão, o impressionante Vulcan, com sua asa
delta que mede 368 m² de área, pousou às 11h17. O míssil que trazia foi removido e minuciosamente
examinado por especialistas do CTA. Ninguém confirma, mas a versão corrente é de que a arma nunca
foi devolvida e teria servido de base para o desenvolvimento da versão nacional do mesmo tipo de
equipamento.
26 anos depois.
Em novembro de 2008, aconteceu de novo. O caça já era o F-5EM do 1.º Grupo de Aviação de
Caça, da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio. Interceptou um DC-8 comercial ao largo do litoral, na altura
de Cabo Frio. A aeronave, um cargueiro com 20 toneladas a bordo, era fretada pelo governo britânico. O
jato estava armado com mísseis e um canhão de 30 milímetros e, mais uma vez, seguia do arquipélago
das Falklands/Malvinas rumo à Ascensão.
O piloto do cargueiro pretendia pousar em Cabo Frio para reabastecer. Por uma falha na
documentação, ou erro na comunicação, o jato foi classificado como invasor. Passava das 15 horas. O
DC-8 foi interceptado em sete minutos. A tripulação não resistiu à ordem de acompanhar o caça. O DC-8
foi comboiado para o terminal militar do Aeroporto do Galeão.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco