Túlio escreveu:Ainda não consigo compreender inteiramente esse - para mim - estranho conceito de 'defesa contra munições' englobando até bombas burras (gozado, não vi ainda ser aventada a possibilidade/necessidade de se abater salvas de foguetes do tipo SBAT-70 mas deve estar vindo por aí). Enquanto o VETOR permanecer imune, ele pode voltar e lançar mais. E mais e mais e mais. E, dentro de nossa realidade ATUAL, FAB e nada é quase a mesma kôza, não dura um dia, SE durar tudo isso. E num possível - provável, eu diria - contexto FUTURO, com TAMPAX-FIGHTERS ou Rafales/Super Hornets/Gripens/Flankers/PAKs IMPORTADOS - ou mesmo PARCIALMENTE feitos sob licença, duraria pouco igualmente. Então, a AAAe proposta pela grande maioria dos colegas, igualmente IMPORTADA ou feita PARCIALMENTE sob licença, teria de segurar o tranco sozinha e isso AAAe NENHUMA é capaz de fazer. Ainda mais se limitando a abater - ou tentar - primordialmente as MUNIÇÕES lançadas pelo inimigo. Acabam os mísseis IMPORTADOS - total ou parcialmente - e as granadas IMPORTADAS - idem - e sobrarão apenas os sistemas de detecção que, desarmados, poderão no máximo avisar que os caras que vão nos matar vêm do leste a 550 kt e em FL150. E aí é pernas pra que te quero, vamos abater caças e aviões de ataque com FAL e MAG?
Sustento ainda, portanto, que Defesa Aérea se faz com CAÇAS que, para serem enfrentados, implica no descarte das munições pelos atacantes visando sobreviver, o que já é um 'mission kill'. O que eventuaklmente passar, aí sim, está no escopo da AAAe mas esta deve - lógica básica - se concentrar NO VETOR e não em suas munições.
Aliás, munições dignas de atenção são as de alto poder destrutivo e grande precisão, como os modernos mísseis de cruzeiro, lançados de longas distâncias. Temer uma bomba planadora de umas 20/30 nm de alcance mostra uma Aviação de Caça e uma AAAe deficientes, a primeira em efetividade e a segunda em mobilidade/camuflagem. Há contramedidas até contra ARMs, POWS!!!
Montar uma AAAe para abater granada de morteiro, obuseiro e bomba burra, deixando em paz o vetor, é cortejar a derrota por manter a INICIATIVA por todo o conflito nas mãos do inimigo e todo mundo sabe no que dá isso. Deve-se ter em conta que isso, INICIATIVA, na guerra moderna, está nas mãos da Aviação e mísseis de cruzeiro, ou seja, são os primeiros meios de ataque e defesa de um País. No mar há os subs e NAes (neste caso, leia-se aviação de combate), além de fragatas/destróieres/cruzadores, todos capazes de lançar mísseis de cruzeiro, que são a verdadeira capacidade OFENSIVA desses meios, que lhes garante a INICIATIVA e não apenas ficar passivamente defendendo a FT contra a aviação inimiga e seus mísseis AN e os subs inimigos e seus torpedos/mísseis.
INICIATIVA! Quem não a tem já perdeu o combate antes mesmo do primeiro disparo...
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Túlio,
É exatamente para evitar que a iniciativa fique toda com o inimigo que eu SEMPRE coloco que a defesa AAe tem TAMBÉM que contar com mísseis de maior altitude/alcance (vou discutir esta questão das classificações depois, com mais tempo). Mas hoje um avião lançar uma bomba com kit de guiagem GPS, laser ou de TV à partir de 8.000-10.000m e a 30-40 Km do alvo não é mais uma excessão e sim a regra, e aí não há muito o que fazer se você não tiver UMA PANCADA de caças para cobrir todo o TO. Os EUA podem pensar nisso, a China também, mas e resto do mundo? E nós, com um território maior do que toda a Europa para proteger e levando mais de 12 anos para comprar míseras 3 dúzias de caças razoáveis? O grosso da nossa defesa aérea hoje está baseada em F-5

! Quanto teríamos que gastar só para equilibrarmos a balança em termos de caças contra 1 único PA americano, ou dois chineses? E o custo de manter esta força voando, bem adestrada e bem armada (caso contrário seriam só alvos, e também não durariam mais do que um dia!)? E se uma unidade do EB ou nossos FN estiverem fora do Brasil e um inimigo vier com Mig's 29, Mirages F-1 ou F-16 B contra eles, todos aviões hoje já de segunda linha mas bem equipados para usar armas stand-off? Vamos continuar passando vergonha e declinando de agir como aconteceu no caso do Timos Leste por quanto mais tempo?
Ou seja, até o Brasil poder contar com caças para a defesa é coisa para daqui a 50 anos, não devo sequer estar vivo até lá. Mas uma defesa AAe credível pode ser montada em 5 anos, se trabalharmos direito, então é isso que estamos discutindo.
Nestas condições entra a questão da proteção contra armamentos. Como coloquei acima, os principais riscos são as armas stand-off e os mísseis de cruzeiro, ambos lançáveis desde distâncias muito além da capacidade de sistemas SHORAD. Neste caso para hostilizar as aeronaves lançadoras são obrigatórios mísseis de médio/longo alcance, e estes se tornam justamente a prioridade número 1 dos atacantes. Como tais sistemas são caros, complexos e volumosos e para serem efetivos precisam ser distribuídos no cenário a grande distância uns dos outos (dezenas de km), fica relativamente fácil para o atacante concentrar seus ataques em cada bateria de uma vez, saturando a capacidade dos mísseis maiores ou simplesmente esgotando-os em ataques falsos (lembra dos mais de 100 alvos falsos abatidos pelos iraquianos só no primeiro dia na segunda guerra do golfo?).
Mísseis de maior alcance precisam ser usados com uma certa parcimônia, e só devrão ser disparados quando as chances de acerto forem muito elevadas, e não nos limites do alcance. Assim, é de se esperar que em algumas ocasiões um ou outro atacante consiga passar e lançar uma bomba planadora ou um míssil como o MAR-1, cujo alcance estimado por alguns é de até 70 km! E aí, como o avião escapou dos mísseis maiores vai-se simplesmente sentar e esperar que a bomba ou o míssil chegue? Será possível deslocar e ocultar o sistema rapidamente para escapar de qualquer munição, mesmo as guiadas por TV? E se o que se deseja proteger for um alvo estratégico fixo, se as bombas forem sequer lançadas a gente já manda um e-mail para o comandante lamentando a perda sofrida antes mesmo delas chegarem?
Na minha opinião é possível sim ser bem mais ativo do que isso. Por isso levanto tanto esta questão da defesa SHORAD especificamente contra munições, e as características dela já discuti em muitos outros posts anteriores (entre outras coisas tem que ser em ENORME quantidade, o que só é possível produzindo completamente aqui). No limite, a maior ameaça a ser enfrentada neste caso seria a de bombas cluster ou cachos de bombas burras lançadas em modo CCLP/CCIP desde 20-25 km do alvo, mas aí de fato os mísseis de médio/longo alcance já deveriam ter sido capazes de interceptar o avião lançador (e portanto falar em Tor, Pantsir, Crotale, etc... para isso é perda de tempo, nenhum deles tem alcance suficiente, então ou estes mísseis vão ser usados contra as munições ou esqueça deles). Já os ataques que você mecionou com foguetes ou outras coisas assim exigem que a aeronave chegue no mínimo a poucos km do alvo, voando a baixa altitude, e aí o trabalho seria dos MANPAD's. Mas na prática ninguém sério ataca mais assim, mesmo os helis artilhados carregando mísseis AT estão sendo abandonados, não se vê falar mais da ação deles fora apoio contra guerrilheiros favelados.
Acho que assim fica mais claro o meu ponto.
Um abração,
Leandro G. Card