Re: [Edit] F-X-2 agora é OFICIAL, confira a partir da Pg 310!
Enviado: Dom Abr 18, 2010 10:52 am
Foi um texto razoavelmente bem escrito. No entanto, escorregaram logo de cara, ao chamar o processo de licitação internacional, coisa que não é. E mais uma vez, deixaram claro que as outras propostas são, para eles, os sindicatos e empresas, caixas pretas. Ou seja, apoiam o projeto Gripen NG, com base naquilo que a SAAB lhes disse, e sem parâmetro de comparação pois desconhecem as outras propostas. Diria que é, no geral, um texto justo, da perspectiva deles e com a informação de que dispõe.Divino Alves escreveu:Declaração conjunta das representações sindicais metalúrgicas do Brasil e da Suécia sobre a proposta de parceria ente ambos os países para o desenvolvimento, produção e comercialização compartilhada do avião supersônico Gripen
Reunidos no dia 05 de abril de 2010, na cidade de São Bernardo, Estado de São Paulo, Brasil, nós, dirigentes sindicais do ramo metalúrgico de ambos os países – aqui representados pelo presidente do IF Metall (sindicato metalúrgico da Suécia), Stefan Löfven; pelo presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CNM/CUT), Carlos Alberto Grana; e pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre – decidimos pela conveniência desta declaração conjunta a respeito da possível parceria entre Brasil e Suécia em torno da elaboração do projeto, desenvolvimento, fabricação e comercialização do avião supersônico Gripen.
Por meio do Programa F-X2, que é uma licitação internacional que tem como objetivo reequipar o Brasil com aviões supersônicos modernos, o país está prestes a decidir por qual dos projetos de aeronaves deverá optar com vistas a alcançar seus objetivos militares, geopolíticos, operacionais, econômicos e tecnológicos. A escolha é de competência do governo brasileiro, que, por sua vez, será seguramente assessorado por suas instituições ligadas à área da Defesa. Sendo este, porém, tema também relacionado à estratégia de desenvolvimento econômico e social de ambos os países, que pode ter acentuados efeitos sobre a estrutura produtiva, o emprego e as relações de trabalho, entendemos que nos cabe explicitar publicamente nossa posição sobre a questão em tela, de forma que nossa perspectiva seja também levada em conta neste momento da decisão.
O custo de aquisição e de manutenção das aeronaves deve ser levado em conta. A aeronave sueca é a mais competitiva nestes quesitos. Mas, para nós, do movimento sindical sueco e brasileiro, os pontos fortes da proposta de parceria apresentada pela Suécia ao Brasil são: a elaboração e desenvolvimento tecnológico conjunto do projeto; a parceria de longo prazo para a busca de novos mercados de exportação e; a participação de segmentos sociais importantes relacionados ao assunto, como é o caso das instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área da aviação, de outras esferas de governo (governos estaduais e prefeituras), do parlamento, do empresariado, das universidades e dos sindicatos. O mérito da proposta da empresa sueca Saab sobressai ainda mais, quando esta é comparada com as “caixas pretas” que até o momento são os conteúdos dos demais projetos – o Rafale da empresa francesa Dassault e o F-18 Hornet da companhia americana Boeing - no que se refere aos itens mencionados.
Cabe realçar, ainda, que a Saab e o governo sueco se empenharam em envolver as organizações sindicais de ambos os países no diálogo sobre o projeto.
Consideramos que a proposta apresentada pela Suécia ao Brasil, e que nossas entidades puderam conhecer detalhadamente, não se resume a uma evasiva intenção de “transferência tecnológica”. Em primeiro lugar, a proposta assegura a efetiva transferência de segmentos da cadeia produtiva, resultando que o Brasil produza peças, subconjuntos e conjuntos que irão compor a aeronave. Ela também aponta para a oportunidade de desenvolvimento conjunto de uma nova geração de aeronaves, que envolverá, em uma primeira etapa, o treinamento de pilotos, técnicos e engenheiros brasileiros, por intermédio de intercâmbios com suas contrapartes na Suécia. Em seguida, o desenvolvimento compartilhado passará pela construção da aeronave com a participação, lado a lado, de trabalhadores suecos e brasileiros no processo produtivo (learning by doing) que ocorrerá na Suécia e no Brasil. Como resultado, caso o Brasil opte pelo acordo com a Suécia, o país será o sexto país do mundo a estar apto a produzir seu próprio avião supersônico.
Igualmente importante, para que este desenvolvimento conjunto aconteça na prática, é o compromisso do apoio por parte do governo e do setor não-governamental sueco para a constituição no Brasil de novos clusters de produção de equipamentos de defesa, bem como de novos parques tecnológicos centrados na temática da defesa, articulados à expansão daqueles atualmente já existentes. Por fim, verificamos que o desenvolvimento tecnológico conjunto é assegurado na própria forma como está programado o processo de fabricação: a aeronave Gripen somente poderá ser completada nas linhas de montagens da Suécia e do Brasil com a incorporação de determinadas partes e componentes produzidos exclusivamente no país parceiro.
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Destacamos também que a tecnologia adquirida pela engenharia brasileira na área militar deverá se transbordar para a área da aviação civil. A nosso ver, este é um item que pode ser aprofundado nas negociações desenvolvidas entre Brasil e Suécia.
Este cenário de parceria no que tange à elaboração, produção e comercialização de produto de alto valor agregado, como é o caso de aeronaves supersônicas, garante perspectivas otimistas no curto, médio e longo prazo, em termos da geração de empregos e qualificação profissional. No Brasil, estima-se que poderão ser criados imediatamente cerca de 6.000 postos de trabalhos na cadeia produtora e 22.000, na área de tecnologia. Na Suécia, a geração de empregos deverá ocorrer, sobretudo, no médio e no longo prazo.
Tão importante quanto o surgimento de novos postos de trabalho será a qualidade destes empregos, já que este setor exige escolarização, capacitação e treinamento profissional. A formação profissional requisitada para atender o projeto abrange pelo menos três áreas de engenharia: produção, produto e aviônica (radares, telemetria, sistemas GPS e outros). Certamente, no caso brasileiro, haverá a necessidade da participação das universidades e das escolas técnicas, para que esta demanda de pessoal seja satisfatoriamente atendida.
Acrescente-se ainda que a escolha do projeto sueco abre a possibilidade de potencialização da parceria entre os países em outras áreas estratégicas, como o desenvolvimento de novas fontes de energia sustentável.
Queremos registrar que, paralelamente as negociações em nível dos Estados Nacionais quanto à escolha do avião supersônico sueco pelo Brasil, nós, as entidades sindicais dos dois países, cobraremos das empresas envolvidas com o projeto Gripen a negociação em torno de um acordo marco global (International Framework Agreement) nas relações de trabalho, seja no âmbito das empresas signatárias (filiais e subsidiárias) seja no que se refere à cadeia fornecedora dessas empresas, tanto na Suécia quanto no Brasil. Este acordo poderá servir de nova referência mundial no que diz respeito ao compromisso com a implementação da Agenda do Trabalho Decente conforme as normas propugnadas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) – normas estas que se alicerçam em três pilares: igualdade, liberdade e segurança no trabalho.
Ressalve-se, por fim, que entendemos que a parceria proposta entre Suécia e Brasil para o desenvolvimento, fabricação e comercialização de aviões de caça supersônicos não é fator de acirramento da corrida armamentista. A questão da produção de armamentos militares deve ser encarada realisticamente a partir dos interesses de ambos os Estados Nacionais em face da suas respectivas estratégias geopolíticas de defesa e proteção. Neste sentido, a proposta de parceria uma vez mais se fortalece na medida em que os dois países se caracterizam pelo não alinhamento e pelas boas relações diplomáticas com o resto do mundo.
Este documento conta com o apoio do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT
Carlos Alberto Grana
IF Metall
Stefav Löfven
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Sérgio Nobre
Prefeito de São Bernardo
Luiz Marinho
Allan