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Mensagem
por Marino » Dom Mar 07, 2010 12:06 pm
Os laços de Chávez com o terrorismo internacional
Álvaro Vargas Llosa, The Washington Post
Uma investigação desencadeada por material contido em arquivos de computadores capturados num assalto a um campo de guerrilha no Equador sugere que existe um elo venezuelano entre a organização terrorista ETA, na Espanha, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
A decisão do Tribunal Nacional da Espanha, acusando formalmente 13 espanhóis e colombianos, como resultado da investigação, deve envergonhar aqueles, que à época do assalto, questionaram a autenticidade dos arquivos.
Entre os acusados estão Arturo Cubillas Fontán, membro da ETA e funcionário do ministério da Agricultura da Venezuela, casado com Goizeber Odriozola. Cubillas, chefe de gabinete do presidente venezuelano, Hugo Chávez, seria o principal contato entre as Farc e a ETA. Ele foi acusado de coordenar e treinar membros da ETA em práticas de guerrilha urbana. De acordo com a acusação, as Farc solicitaram apoio logístico da ETA em Madri a propósito de um suposto complô para assassinar o presidente colombiano, Álvaro Uribe.
A investigação na Espanha foi levada a cabo graças às provas obtidas pela Colômbia no assalto ao campo guerrilheiro controlado por Raúl Reyes, o número 2 das Farc. Na ocasião, as tropas colombianas descobriram 17 mil arquivos e 37 mil documentos em 3 computadores, 2 discos rígidos e 3 cartões de memória.
Quando o serviço secreto colombiano, Dipol, analisou o conteúdo, convocou a Interpol para verificar a autenticidade dos arquivos e confirmar se a Colômbia não os tinha alterado. A Colômbia, em seguida, discretamente compartilhou partes importantes do conteúdo com países nomeados nos arquivos.
O revelado na mídia foi apenas parte de uma mina de ouro de informações sobre a estrutura, o financiamento e as conexões internacionais dos terroristas colombianos.
A Venezuela imediatamente iniciou uma campanha para colocar em descrédito a própria existência dos computadores ou, no caso de existirem de fato, levantou dúvidas quanto a se eles continham provas incriminatórias. Aliados do regime venezuelano, incluindo governos, líderes políticos, intelectuais, organizações não-governamentais e algumas agências de mídia, foram recrutados para alimentar essa campanha.
A história de que os arquivos não foram destruídos pelos ataques de caças Super Tucano e os helicópteros Black Hawk foi ridicularizada. A afirmação de que contatos mantidos entre o representante das Farc Ivan Márquez e Chávez, tinham sido registrados por escrito, também objeto de chacota. Como a Venezuela poderia dar US$ 300 milhões para as Farc, servir de canal para a guerrilha colombiana abastecer-se de armas importadas da Rússia, e deixar a prova dessa operação triangular num laptop? A Organização dos Estados Americanos (OEA) não moveu um dedo diante de tal flagrante violação da Convenção Interamericana contra o Terrorismo, de 2002.
Contudo, as provas eram avassaladoras. Bertrand de la Grange, respeitado jornalista investigativo e uma autoridade na área, foi um dos que tiveram acesso aos arquivos, que sobreviveram ao ataque porque estavam armazenados em valises metálicas. As primeiras matérias de Bertrand de la Grange sobre o assunto foram publicadas no Letras Libres, do México, e mais tarde levadas para todo o mundo. De acordo com o jornalista, a estrutura das Farc é composta de "5 braços", incluindo o "braço 3", que operava fora da Venezuela com ajuda de Chávez, e o "braço 5", que estendeu seus tentáculos para 15 países, entre eles a Espanha. Segundo ele, havia uma "rede de cúmplices internacionais de dimensões surpreendentes".
Perguntei a Bertrand de la Grange o quão decisiva foi a informação contida nos arquivos dos computadores para a investigação determinada pelo Tribunal Nacional da Espanha. "Foi a principal prova", respondeu. "Esses arquivos já levaram à prisão de Remedios García, por colaboração com as Farc na Espanha, e colaborou para desmantelar diversas redes de apoio à guerrilha colombiana na Europa."
Os vínculos da Venezuela com as Farc são antigos. Em dezembro de 2004, a Colômbia prendeu Rodrigo Granda, chefe de relações internacionais da guerrilha, que depois foi capturado por caçadores de recompensa na Venezuela e levado para a fronteira. Segundo Julio Montoya, do partido MAS, da Venezuela, 500 membros das Farc obtiveram cidadania venezuelana e operavam no corredor de Zulia-Táchira, ao longo da fronteira entre os dois países.
Os elos de Chávez com o terrorismo vão além das Farc e da ETA. Há alguns meses, o procurador-geral de Nova York, Robert Morgenthau, acusou a Venezuela de ajudar o Irã a contornar as sanções internacionais. De acordo com Robert Morgenthau, Ghazi Nasr al-Din, um venezuelano impedido pelo Tesouro americano de realizar negócios nos EUA por suas ligações terroristas, trabalha sob nome falso na embaixada venezuelana no Líbano.
O significado político da decisão do Tribunal Nacional da Espanha não deve ser subestimado. O governo de esquerda da Espanha é amigo de Cuba e da Venezuela; chegou até a vender armas para Chávez anos atrás. Diante de provas tão robustas como estas, como o governo espanhol conseguirá sustentar sua política sem pagar um preço devastador nas urnas?
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Álvaro Vargas Llosa é escritor e analista político peruano
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco