21/03/2018 - 11:53
Negócio entre Boeing e Embraer demanda estrutura complexa de acordos
Expectativas para a apresentação de uma estrutura para a união entre fabricantes foram retomadas após período de esfriamento
Por Gabriela Freire Valente
Formato em pauta prevê criação de nova empresa com controle entre 80% e 90% da Boeing -Divulgação/Boeing
As expectativas pela apresentação de um modelo de negócio entre Boeing e Embraer foram retomadas, depois de as tratativas entre as companhias terem esfriado. Fontes próximas às negociações relataram ao Lexis 360 que a estrutura em que a fabricante americana controla entre 80% e 90% de uma nova empresa, criada para concentrar a área comercial da brasileira, ainda está sobre a mesa. Apesar de o formato preservar o controle do governo brasileiro sobre o braço de defesa da companhia, o negócio demanda a elaboração de uma série de contratos de cooperação e compartilhamento.
O ponto de maior sensibilidade em debate é a transferência de tecnologia de origem militar e o trabalho de equipes que circulam entre os dois segmentos de operação da Embraer. Em paralelo aos cuidados para não comprometer interesses estratégicos do Estado, o governo federal também se preocupa com a sustentabilidade a longo prazo dos negócios de defesa da companhia.
O braço de projetos militares representa uma margem pequena do faturamento da fabricante e depende de sinergias resultantes do fato de fazer parte da mesma empresa que opera no segmento comercial. Para viabilizar uma operação que atenda o interesse das três partes envolvidas na negociação, uma série de amarrações contratuais será necessária.
Fontes consultadas pelo Lexis 360 afirmaram que detalhes sobre o compartilhamento de serviços de infraestrutura e desenvolvimento de projetos, proteção e licença de marcas e de patentes e até a transferência de engenheiros de uma empresa para a outra, quando necessário, serão determinados.
LEIA MAIS: Drop down é uma das opções no caminho para uma parceria entre Embraer e Boeing.
https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/ ... r/?pa=news
Segundo informações obtidas pelo jornal Valor Econômico, as equipes das duas fabricantes trabalham para levar ao governo brasileiro uma estrutura detalhada para a junção de operações até a próxima semana.
A movimentação surge depois de as negociações entre Boeing e Embraer desacelerarem em meio ao posicionamento contundente do governo federal sobre a proteção de interesses estratégicos e à intervenção federal no Rio de Janeiro. A troca de comando no Ministério da Defesa — Raul Jungmann era titular da pasta até assumir o Ministério da Segurança Pública, sendo substituído interinamente pelo general do Exército Joaquim Silva e Luna — afetou o andamento das conversas.
Apesar do esfriamento, reuniões continuaram a ocorrer. No início de março, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se encontrou com executivos da Boeing em Nova York e foi após a viagem que as negociações teriam retomado fôlego.
A estrutura que está sendo desenhada comtempla a criação de uma empresa que concentrará as operações comerciais da Embraer, sob o controle da Boeing. A fabricante brasileira ainda teria entre 10% e 20% de participação no negócio e o segmento de projetos militares continuaria sob o guarda-chuva dos atuais acionistas da Embraer.
Parte dos recursos obtidos com a venda do braço civil seria distribuída aos acionistas, via dividendos, e parte ficaria disponível para investimentos na divisão de defesa. Observadores de mercado consideram que é interessante para a Embraer continuar na nova empresa para continuar a receber dividendos. Não realizar a união com a Boeing para se manter no controle integral do negócio, porém, é visto como uma estratégia arriscada.
SAIBA MAIS: Acordo de acionistas.
https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/ ... A7%C3%B5es
Além da união entre Bombardier e Airbus representar uma ameaça direta ao nicho de jatos para voos de curta distância, especialidade da Embraer, o mercado de aviação impõe desafios ligados à alta competitividade e contratos com prazos longos para fabricação e entrega de aeronaves. “A Embraer não tem nenhum sócio que banque tecnologia necessária para se posicionar”, comentou uma fonte familiarizada com o setor.
Atualmente, cerca de 65% do capital social da fabricante brasileira está pulverizado no mercado. A companhia tem ações negociadas na B3 e no mercado de Nova York (NYSE). Entre os acionistas com participação relevante estão as companhias Brandes (14%,4), Mondrian (10,1%), BNDESPar (5,4%) e Blackrock (5%).
https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/ ... trutura-c/
abs.
arcanjo