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Mensagem
por Clermont » Ter Mai 03, 2016 4:08 pm
A RÚSSIA SE RESSENTE DE NÓS - E COM BOAS RAZÕES.
Patrick J. Buchanan, 3 de maio de 2016.
Sexta-feira, um SU-27 russo executou uma manobra sobre um RC-135 americano, acima do Báltico, a segunda vez em duas semanas.
Também em abril, o destróier americano Donald Cook, ao largo do enclave russo no Báltico de Kaliningrado, foi sobrevoado, duas vezes, por aviões russos.
A mensagem de Vladimir Putin: mantenham seus aviões-espiões e navios a uma respeitável distância nossa. Aparentemente, não recebemos ela.
Sexta-feira, o secretário-adjunto de defesa, Robert Work, anunciou que 4 mil soldados, incluíndo dois batalhões americanos, serão movimentados para a Polônia e os estados bálticos, bem na fronteira da Rússia.
"Os russos tem realizado um bocado de exercícios vigorosos bem na fronteira, com um bocado de soldados," disse Work, que chamou isto de "comportamento extraordinariamente provocativo."
Mas como soldados russos desdobrados dentro da Rússia é "provocativo" enquanto soldados americanos na porta da frente da Rússia, não é? E antes que entremos no elevador rumo a um choque, seria melhor examinar as cartas do nosso baralho.
A Alemanha deve fornecer um dos quatro batalhões a serem enviados ao Báltico.
Mas uma pesquisa da Fundação Bertelsmann, semana passada, descobriu que apenas 31 porcento dos alemães são favoráveis ao envio de suas tropas para resistir a um movimento russo nos estados bálticos ou na Polônia, enquanto 57 porcento se opõe, embora o tratado da OTAN obrigue a isto.
Ano passado, uma pesquisa da Pew descobriu maiorias na Itália e França também se opondo a ação militar contra a Rússia se esta se movimentar rumo à Lituânia, Letônia, Estônia ou Polônia. Se ocorrer guerra no Báltico, nossos aliados europeus preferem que nós, americanos, lutemos nela.
Indagado por ocasião de sua reforma como chefe do estado-maior do Exército sobre qual era a maior ameaça estratégica aos Estados Unidos, o general Ray Odierno ecoou o general fuzileiro naval Joseph Dunford, "acredito que é a Rússia."
Ele mencionou ameaças à Estônia, Letônia, Lituânia e Ucrânia.
Porém, quando o general Odierno começou sua carreira militar, todas as quatro eram parte da União Soviética, e nenhum presidente da Guerra Fria jamais pensou que qualquer delas valessem uma guerra.
A independência dos estados bálticos foi um dos grandes dividendos da paz depois da guerra fria. Mas quando foi que isto tornou-se um interesse tão vital dos Estados Unidos para que fôssemos à guerra com a Rússia para garanti-lo?
Putin pode encabeçar a lista de inimigos do establishment, mas deveríamos tentar ver o mundo do ponto de vista dele.
Quando Ronald Reagan encontrou Mikhail Gorbachev em Reykjavik, em 1986, Putin estava com 30 e poucos anos, e o império soviético estendia-se do Elba ao Estreito de Behring e do Ártico ao Afeganistão.
Os russos estavam por toda a África e haviam penetrado no Caribe e América Central. A União Soviética era uma superpotência global que obtivera paridade estratégica com os Estados Unidos.
Agora considere como o mundo mudou para Putin e a Rússia.
Na época em que Putin completou 40 anos, o Exército Vermelho começara sua retirada napoleônica da Europa, e seu país fragmentara-se em quinze nações.
Na época em que ele chegou ao poder, a URSS havia perdido um terço de seu território e metade de sua população. Casaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Geórgia, Armênia e Azerbaijão se foram.
O Mar Negro, outrora um lago soviético, agora tinha em sua costa norte uma Ucrânia pró-ocidental, em sua costa oriental uma Geórgia hostil e em sua costa ocidental duas ex-aliadas do Pacto de Varsóvia, Bulgária e Romênia, sendo admitidas na OTAN.
Para os navios de guerra russos, a viagem até o Atlântico agora significava cruzar a linha costeira de oito nações da OTAN: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Alemanha, Dinamarca, Noruega e Grã-Bretanha.
Putin assistiu a OTAN - apesar de solenes garantias dos Estados Unidos dadas a Gorbachev - incorporar toda a Europa oriental que a Rússia vagara, e três ex-repúblicas da própria União Soviética.
Ele agora escuta um clamor dos falcões americanos para trazer mais três antigas repúblicas soviéticas - Moldávia, Geórgia e Ucrânia - para uma aliança com a OTAN dirigida contra a Rússia.
Após persuadir Kiev a juntar-se a uma união econômica liderada por Moscou, Putin assistiu ao governo pró-russo da Ucrânia ser derrubado por um golpe apoiado pelos Estados Unidos.
Ele assistiu as revoluções "coloridas" bancadas pelos EUA tentarem derrubar regimes amigos por toda sua fronteira.
"A Rússia não aceitou a mão da parceria," disse o comandante da OTAN, general Philip Breedlove, "mas escolheu o caminho da beligerância."
Mas por que Putin deveria ver a inexorável marcha rumo ao leste da OTAN como uma "mão da parceria" estendida?
Tivéssemos nós perdido a Guerra Fria e aviões-espiões russos começassem a patrulhar ao largo de Pensacola, Norfolk e San Diego, como reagiriam os pilotos de F-16 americanos? Se acordássemos com o México, Canadá, Cuba e a maioria da América do Sul aliados contra nós, dando boas-vindas à bases e soldados russos, consideraríamos isto como "a mão da parceria"?
Estamos colhendo a compreensível ira e ressentimento do povo russo pela forma como exploramos a retirada de Moscou de seu império.
Nós mesmos não afastamos com um tapa a mão de amizade russa, quando ofertada, quando escolhemos abraçar nosso "momento unipolar", para disputar o "grande jogo" de império e buscar a "hegemonia global benevolente"?
Se acontecer uma segunda Guerra Fria, foi mesmo a Rússia quem a iniciou?