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Primeiras brasileiras em missão no Haiti
Christina Nascimento
RIO - Coque por baixo do capacete azul, brilho discreto nos lábios e esmalte nas mãos armadas com fuzil anunciam as mudanças na tropa. Pela primeira vez, o Exército vai enviar mulheres para atuar na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah).
Duas tenentes médicas e uma outra, dentista, integram o 6º Contingente, que embarca no mês que vem em Campo Grande (MS).
No país mais pobre das Américas, a tarefa será árdua: dar atendimento, sob o risco iminente de ataque de milícias, a uma população que desconhece condições básicas de higiene.
“Sei que as condições do país são muito ruins, com mais da metade da população abaixo da linha da pobreza, mas recebi a notícia como um presente”, comentou a tenente-médica Ana Beatriz Teixeira Viana, 37 anos, do 4º Batalhão de Infantaria Leve, em Osasco (SP). Das três oficiais, ela é a que tentava há mais tempo participar da missão — desde 2004, quando partiram os primeiros militares rumo ao Haiti.
As três vão ficar durante seis meses no maior dos quatro acampamentos do Exército, em Porto Príncipe, e não terão regalias por serem mulheres. O tempo de permanência pode ser estendido para até um ano. “Ficar longe da família será o mais difícil. O jeito é usar a Internet para matar a saudade”, conforma-se a segundo-tenente Michelle Michel, 27.
Quem são:
MICHELLE MICHEL - Com 27 anos e formada em Odontologia, ela é a única mulher na 2ª Companhia de Infantaria, em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, onde ocupa o posto de segundo-tenente. Vaidosa, admite que vai levar maquiagem suficiente para passar os seis meses. “O desafio é colocar tudo o que preciso numa mochila que só pode pesar 50 quilos”, brinca.
SILVANA CALAIS - Especializada em cirurgia geral, a primeiro-tenente da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados, Mato Grosso do Sul, é natural de Muriaé, Minas Gerais. A médica de 33 anos não se mostra assustada com o cenário de violência no Haiti. “Não vamos estar direto no conflito. O uso da arma, no meu caso, é somente em situação extrema”.
ANA BEATRIZ TEIXEIRA - O sorriso ao falar sobre o Haiti não nega que a primeiro-tenente, de 37 anos, está realizando seu maior sonho. Medo, somente da saudade do filho de 15 anos. Nascida em Campos, no Norte Fluminense, a gastroenterologista sabe que poderá atuar em outras especialidades. “Ninguém esquece como se faz um parto. Se precisar, eu farei”.