Li, há alguns anos, que lhe havia sido doado, agora que faleceu - mais um herói que se vai - talvez os herdeiros o estejam vendendo, sei lá. De qualquer modo, se for o T6 dele, é indubitavelmente um peça de imenso valor histórico para nós, Brasileiros que amam sua Pátria e seus Heróis.
É isso mesmo. Muito tri!
Aeronaves de Caça da FAB: Como começou o seu interesse pela aviação?
Coronel Braga: Do mesmo modo como em qualquer criança ou jovem; quando passa por sobre suas cabeças um avião mais baixo, a atenção é logo atraída e a admiração cresce pelo fato de ser, o avião, um meio de transporte que tem essa capacidade de atrair de fascinar.
A idéia me veio quando ainda era estudante do 2o grau, lá em Botafogo, quando junto com um colega prestei exame para a Força Aérea Brasileira conseguindo aprovação. Segui carreira e consegui chegar a Oficial aqui mesmo no Campo dos Afonsos, pois na época a Escola de Aeronáutica era aqui. Hoje a Escola de formação de pilotos é em Pirassununga, S. Paulo, a A.F.A. (Academia da Força Aérea).
Aqui no Campo dos Afonsos eu fiz o curso de Cadete, seguindo até me formar Oficial Aviador; depois fui para Natal onde fiz o curso de bombardeiro de B.25, retornando posteriormente ao Rio de Janeiro, de volta ao Campo dos Afonsos, para ser Instrutor de Vôo. Permaneci nessa função durante sete anos.
Acontece que, desde que eu era cadete, a Esquadrilha da Fumaça já começava a se transformar em fato, iniciando suas atividades em 1952. A primeira demonstração da "Fumaça" foi aqui no Campo dos Afonsos no dia 14 de maio de 1952, alias um lembrete, ano que vem ela completa 50 anos de atividades ininterruptas. Houve pausas para troca de aeronaves que compuseram a Esquadrilha, mas ela jamais deixou de operar. E voltando ao assunto uma coisa entrelaça a outra e não foi de admirar que eu acabasse como membro da Esquadrilha do que tenho o maior orgulho, pois permaneci nela durante 17 anos chegando até o seu comando.
ACF: O que a Esquadrilha da Fumaça representa para o Senhor?
Cel Braga: Representa tudo para mim, uma carreira profissional, minha vida. O período que permaneci na Esquadrilha, 17 anos, foi um marco inigualável pois no tempo em que pertenci a Esquadrilha da Fumaça ainda não vigoravam as regras de permanência limitadas a 3 anos, e no caso de chegar a comandante estender-se até 5 anos, como acontece com o piloto da "Fumaça" atualmente. Houve um outro aviador que também se destacou em tempo de permanência na Esquadrilha, foi o Cel. Ribeiro Junior que atuou na "Fumaça" durante nove anos. Ele acompanhou a transição da Esquadrilha dos T.6 aos Fouga Magister e deu início a era dos Tucanos que a equipa hoje; portanto o Cel. Ribeiro seria o 2o aviador com maior no de demonstrações pela Esquadrilha da Fumaça. Nos 17 anos de atuação que tive fiz mais de mil demonstrações.
( "Dificuldades propriamente não existem..." )
ACF: Qual o significado do T-6 em sua vida?
Cel. Braga: "É somente vocês darem uma olhada aqui na minha sala e terão a resposta de sua pergunta. Só se vêem T-6 por todos os lados". Acontece que o T-6 fez parte de toda minha carreira de aviador. Eu aprendi a voar inicialmente no Fairchild, mas somente durante um ano, depois passei para o T-6, continuei como Instrutor de T-6, ingressei na Esquadrilha da Fumaça voando durante 17 anos o T-6, após este período a Força Aérea e um grupo de amigos da Comercial se cotizaram para adquirir um T.6 que me foi doado e está comigo aqui nos Afonsos até hoje. Nele faço demonstrações para a Força Aérea, para Aeroclubes e para Prefeituras. Em resumo, é o avião da minha vida, ou melhor, é minha própria vida.
( "O T-6 é a minha própria vida...")
ACF: O que o Senhor tem a dizer para quem está iniciando agora na aviação?
Cel. Braga: Eu particularmente tenho o maior orgulho em dizer ter pertencido à Esquadrilha da Fumaça, pois é um grande incentivo aos jovens que querem seguir a carreira da aviação, afinal esta é a finalidade deste Esquadrão de Demonstrações. Cada vez que o Esquadrão se exibe algo já é dito a esse público jovem que tem as mesmas aspirações que moveram os homens que hoje estão no interior dessas aeronaves. Conheço muitas pessoas que me procuram, são pilotos da Comercial e até mesmo da Força Aérea que me dizem ter ingressado na aviação movidas pela vibração provocada pela "Fumaça". Isto também me incentiva e a todos os companheiros da "Fumaça".
Todas as vezes que a Esquadrilha vai se apresentar em alguma cidade, é comum primeiro se fazer uma palestra em uma Escola ou outro lugar onde haja público, e no dia seguinte fazer a apresentação.Isto acaba marcando, fica na cabeça da criança, do jovem que mais tarde acaba se tornando aviador. Em resumo, isto nos traz grande orgulho quando encontramos pilotos que ingressaram na carreira levados pelo incentivo dado pelos "Fumaceiros" , afinal é uma carreira bonita.
ACF: Quais as maiores dificuldades encontradas pelos pilotos, em fazer as manobras?
Cel. Braga: Dificuldades propriamente não existem, é todo um trabalho exaustivo de treinamento. Geralmente o pessoal que ingressa na "Fumaça" já foi instrutor de vôo; e o que acontece? De tanto corrigir os alunos você vai pegando os macetes e quando, então, você ingressa na "Fumaça" está quase preparado para fazer as manobras. Mas o principal não são as manobras isoladas, e sim as manobras em conjunto, isto é, as manobras em formação, e aí entra a experiência dos pilotos instrutores ou os pilotos de caça que estão acostumados a voar como alas, ou seja, em formação. É necessário ter um numero de horas de vôo elevado para adquirir experiência.
O grau de dificuldade, de uma manobra para outra, não é tão grande assim; por exemplo, um desfolhado não é uma manobra com um grau de dificuldade elevado, é mais o efeito visual. Já num looping ou um turneau em formação, o grau de dificuldade é um pouco maior, porém facilitado pela potência que as aeronaves atuais desenvolvem. Este é um fator muito importante, quanto maior a potência que a aeronave desenvolve mais é facilitado o trabalho de manobras em formação, exatamente pelo recurso do motor. Exemplificando: atualmente é mais fácil manter um jato ou um Tucano em formação em qualquer manobra do que anos atrás fazer o mesmo com um Fairchild ou um T.6 que não dispunham da potência que os motores desenvolvem atualmente. Já existiu aqui nos Afonsos uma Esquadrilha que fazia acrobacias com os PT.19, mas o grau de dificuldades era muito maior pela ausência de grande potência nos seus motores.
ACF: Qual a experiência que mais o marcou dentro da "Esquadrilha da Fumaça"?
Cel. Braga: Se eu contar, as demonstrações, de modo geral, eram quase rotina do meu trabalho, portanto não foram as experiências mais marcantes da minha carreira, no entanto me lembro de uma viagem que fizemos à Bolívia e tivemos que atravessar de Cochabamba até La Paz. Tínhamos que fazer esta travessia a 18000 pés, mas acontece que acima de 10000 pés é necessário o uso de oxigênio e nós não tínhamos. O T.6 pode subir a essa altitude mas os pilotos teriam que fazer uso do oxigênio porque os aviões não são pressurizados como os comerciais. Nós tivemos que fazer toda a travessia sem oxigênio,e isso me marcou porque a apreensão foi grande. Outra que me marcou mas pela distância percorrida foi à Guatemala, na América Central; essa viagem durou quase um mês porque a medida que nos deslocávamos íamos fazendo apresentações nos lugares onde chegávamos. Foi bastante interessante.
ACF: Faça uma comparação entre os aviões mais antigos, como o T.6 e os mais modernos como o Tucano?
Cel. Braga: A tecnologia trouxe muitos avanços à Aeronáutica, e hoje os aviões possuem além de maior potência do motor, como já havia falado, outros recursos mais sofisticados o que os torna um pouquinho mais fáceis de manobrar. Porém mesmo assim ainda há diferenças, porque essas novas tecnologias permitem manobras nos aviões atuais que eram praticamente impossíveis nos antigos e que são manobras de difícil execução. Um exemplo é o vôo de dorso. Os Tucanos podem voar invertido indefinidamente o que não é o caso do T.6 que não voa mais de 30s. senão o motor para. No caso dos "espelhos" que a Esquadrilha executa com todos os componentes, são manobras dificílimas que exigem um grau de habilidade e experiência do piloto muito grandes.
A vantagem que o T.6 leva sobre os aviões mais potentes e velozes é a possibilidade dele fazer sua exibição mais próxima, o que o trás para mais perto do público causando um impacto maior. Em resumo, o importante é que as Esquadrilhas de exibição existem por todo o mundo, seja na China, seja na América, particulares ou das Forças Aéreas, como é o caso da França e da Inglaterra que são maravilhosas, e continuarão a fascinar crianças, jovens e também adultos sendo sempre o elo de ligação, o cartão de visitas que levarão os jovens as fileiras da Força Aérea.
Na boa, véio Talha, tenho que discordar de ti. Falamos do avião de um HERÓI BRASILEIRO! Que Deus o tenha!