gomugomu escreveu:Janio de Freitas: ‘não há indícios de que a decisão esteja próxima’
Leitura apressada, mas...
Amanhã se completa o mais recente, sexto na série e nem por isso último, prazo informado pelo ministro Nelson Jobim para a decisão do governo entre os aviões de caça francês, americano e sueco que disputam a multibilionária compra brasileira.
Tá! E...
Não há indício algum, hoje, de que a decisão entre os três possíveis fornecedores esteja ao menos próxima. Apesar de completados, quando em 19 de fevereiro Nelson Jobim avisou que em 20 dias sairia a decisão, já um ano e duas semanas da advertência do comandante da Aeronáutica de que a compra precisava ser fechada em 2009, sendo 2010 ano de eleição presidencial. E ainda se completavam nada menos do que dois anos da notícia dada ao país, por Lula, de haver “negociações muito adiantadas para a compra do caça francês” Rafale, do qual o presidente Sarkozy se fez agente de venda.
Não há indícios ou o autor não soube percebê-los? É o velho papo do "teto", quando o mesmo é baixo (ou quando só se é possível "olhar pra baixo"), então não consegue-se ver mais adiante mesmo. Afirmo (com permissão do autor): existem fortes indícios para que o anúncio seja mais breve do que se pensa. Porém, insisto, há indícios, daí ter anúncio, são outros quinhentos. A demora, penso, deve-se a determinação do momento oportuno para se anunciar tamanha e polêmica compra militar, sem melindrar "muitos".
Nelson Jobim não conseguiu demover a FAB das conclusões a que chegou a análise, extensa e minuciosa, das conveniências de cada avião e das respectivas propostas para os seus planos de modernização e autonomia industrial.
Como o NJ não conseguiu demover a FAB de suas conclusões e análises? O autor parte da premissa que o vazamento do relatório da FAB e anunciado pela Cantanhede é verdadeira. Sim, não houve desmentido, mas não houve confirmação; isto é chamado de benefício da dúvida, algo intencional e que faz muito "sucesso" nestes momentos. Dar o benefício da dúvida é criar oportunidades ímpares para se obter muita coisa, inclusive redução de preços, maiores TdTs, etc.
Além do mais, diga-se de passagem, recentemente o ministro NJ e o Cmd. Saito declararam, em momentos distintos, algumas informações claras sobre o FX-2, deixando claro que os discursos estão afinados, que o relatório do MD apontará um caça e que seguirá o relatório da FAB. Os dois disseram isso!!! E mais, os dois textos (distintos, para cada um dos dois) foram postados aqui e na íntegra. Portanto não tem este papo de demover alguma coisa, a posição do MD será a mesma da FAB. Insisto, isto foi postado aqui e neste mesmo tópico.
O argumento brandido pelo Ministério das Relações Exteriores, supõe-se que baseado em conhecimentos aeronáuticos e financeiros nunca pressentidos, de que “às vezes o barato sai caro”, não se limitou ao autor dessa percepção extraordinária, ministro Celso Amorim. Foi adotado contra a FAB e a opinião crítica.
Um indivíduo perde a razão quando opta por sarcasmos em seus textos quando o momento não pede o uso deste "tom". Não há o que comentar as falas do autor sobre o MRE, simplesmente, lamentável. Existem maneiras melhores de argumentar para se dirigir críticas. Observem, não estou dizendo que não existem problemas, a forma usada é que não foi adequada; comentar agressividade é entrar em briga boba.
É, porém, nesse mesmo quesito financeiro, embora considerado em outra de suas incidências, que está uma das importantes constatações da FAB que os associados ao projeto Rafale não conseguem derrubar.
De onde o autor tirou esta informação? Não existe uma só linha de informação oficial oriunda da FAB afirmando qualquer tipo de preocupação sobre questões orçamentárias. Se ele (autor) ouviu opiniões de membros da FAB, tudo bem, porém não se pode dizer que "foi a FAB que disse tal coisa", diga que "um militar assim, assim, assado, que não quis revelar sua identidade, disse que..."
Por outro lado, entendo, a FAB tem a obrigação de demonstrar suas preocupações com as questões orçamentárias. Mas é bom lembrar que, seja qual for o caça escolhido entre os três finalistas, haverá um grande impacto orçamentário na Força. Insisto, seja qual for. Porém é razoável que um tenha custos mais ou menos elevados em relação aos demais, o que é muito natural pra mim, visto serem caças de categorias distintas.
Seja qual for a redução de preço oferecida pelo fabricante Dassault e pelo governo francês, o Rafale continua sendo, de longe, mais caro do que o americano F-18E e o sueco Gripen NG. Mas não é aí que está a mais forte restrição financeira ao caça francês. É que, mesmo vindo o seu preço a tornar-se milagrosamente inferior aos outros dois, o custo de sua hora de voo continuará a mesma. E exigirá da FAB gasto de três vezes e meia a hora de voo do Gripen, o indicado pelas conclusões da análise tripla.
Aqui o autor se mostra o mais leigo dos leigos, poderia tocar no assunto de maneira brilhante, levantar questões que até agora não surgiu na imprensa, mas optou pelas besteiras de sempre.
Claramente o Rafale é caro de se comprar e de se manter, assim como o F-18 é mais caro de se comprar e de se manter do que o Gripen, por exemplo. O motivo, inicialmente, é que se trata de caças de categorias diferentes. Em segundo lugar vem um ponto sutil e que vários aqui, talvez, não se deram conta, mas que foi objeto de um post do Roberto (em outro fórum) e que me convenceu por completo: os custos de manutenção precisam ser comparados através de algum parâmetro e não na base dos números crus. Por exemplo, dá para comparar alcance de um caça A completamente vazio com o alcance de um caça B completamente armado? Pois bem, é preciso comparar o custo de manutenção de alguma forma, uma delas (@ Roberto) é através da "carga-paga", ou seja, quanto fica a manutenção para o Rafale (por exemplo) levar X ton. de armamentos em uma distância pré-fixada, e quanto fica a manutenção de Gripen NG e F-18 com a mesma quantidade de armamentos e à mesma distância. Assim fixa-se as variáveis, compara-se o valor de manutenção (que são vários) para se concluir algo. Outra forma é ver o custo de manutenção/logística de cada um e medir o alcance com certas "cargas" padrões, depois ver quem leva mais, criando-se assim um "índice" de comparação real (insisto, real!!!!).
Agora, é claro, é preciso diferenciar um caça que tem maior "carga-paga" e com maior alcance de caças com menor carga-paga e menor alcance. Se é pra pensar que o caça voará "quase-sempre" vazio e praticamente em treinamento padrão, de tempo de paz, aí sim, comprar caças de alto desempenho é colocar muita grana em jogo. Mas daí, pergunto: o Brasil quer comprar um caça pra treinar e supor que nunca entrará em guerra de fato, ou realmente pensa em um caça para se defender e usá-lo ao máximo em caso de necessidade real?
Claro, todos (os três) estão aptos pra guerra, sem dúvida, porém só para uso em tempos de paz é que faz algum sentido pensar em custos de manutenção e operação, pois caças mais caros de voar, se não usados de fato para combates, obviamente geram um impacto muito maior na folha de custos. O que se busca então? Bem, para uma força aérea que nunca foi pra guerra (moderna, tirando a 2ªWW) fica difícil romper com este tabu, daí... E neste caso, seria razoável que o autor do texto, um leigo, ao que parece, compreender estas sutis e importantes diferenças? Dificilmente...
Ou seja, com o gasto de uma hora de exercício em um Rafale o piloto da FAB pode fazer três horas e meia com o Gripen. Além de querer seus pilotos capacitando-se o máximo possível, a FAB tem ciência de que o seu orçamento não será jamais, em todo o futuro antevisto, um presente dos deuses.
Vejam vem o que escrevi antes e vejam o que o autor escreveu neste parágrafo: Exercício!!!! Insisto, o Brasil está comprando caça pra efetivamente ser usado em combate real, caso seja necessário (isto é defesa propriamente dito) ou está comprando caças para realizar exercícios? Parece que o autor ainda não entendeu o objetivo destas compras militares, muito menos a atual política do MD, muito menos o que representa um caça de verdade.
A par de questões como o fornecimento de peças, sobre o qual a FAB não teve experiência satisfatória com a Dassault para os seus Mirage, e a transferência de tecnologia, a preferência de Lula e de Jobim pelos franceses encontrou mais obstáculos resistentes. E, como previu o comandante Juniti Saito, o ano de campanha para eleição de presidente não é apropriado para negócios bilionários. Ainda mais tratando-se de uma insistência pelo que é mais bilionário e, apesar de tentativas variadas, não se explica de maneira convincente. Muito pelo contrário.
Outro ponto delicado: "a FAB não teve experiência satisfatória com a Dassault". Mito ou realidade? Soube recentemente de cada coisa que me assustaram, a mais simples disseram-me, é que não eram repassados recursos (pela própria Força; talvez por priorizar orçamentos apertados) para manter os M-III, segundo que nem pedidos chegavam à França. Verdade ou mentirá, não sei, apenas digo que há várias versões, basta procurar por aí e confrontar o que existe, o que é preferência, o que é verdade ou mentira, não vou julgar.
Fora este ponto questionável, o autor opta, em seu parágrafo final, por voltar com o papo de colocar a FAB contra o governo e vice-versa, sem falar que claramente escreveu de forma a se opôr ao governo (sem problema, mas isto não é informação, é política; ok, aceito, gostando ou não).
FONTE: Folha de São Paulo, via Notimp