Mantega prevê duração de dois anos de crise
Publicado em 10 de agosto de 2011
Mantega: Brasil possui um dinamismo que outros países não têm e está preparado para enfrentar a crise
São Paulo. Em sua fala no plenário da Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a piora da classificação de risco dos títulos de dívida dos Estados Unidos fará com que a economia global tenha problemas pelos próximos dois anos.
De acordo com o ministro, o País está preparado para enfrentar a crise, pois "tem um dinamismo que outros países não têm". Para minimizar os efeitos da crise econômica-financeira internacional no Brasil, o Planalto espera que os partidos aliados ajudem a conter as insatisfações de deputados e de senadores no Congresso, incomodados por causa da retenção do dinheiro de suas emendas ao Orçamento neste ano -nada foi liberado.
Preocupação
Uma das principais preocupações do Planalto é a aprovação até dezembro de uma emenda constitucional para prorrogar a DRU (Desvinculação de Recursos da União) até 31 de dezembro de 2015. A DRU em vigor no momento só vale até 31 de dezembro deste ano. Trata-se de um dos mais importantes instrumentos de gestão orçamentária do governo federal, pois permite ao Planalto usar como quiser até 20% da arrecadação de todos os tributos existentes.
Como se trata de uma emenda constitucional, a DRU precisa ser aprovada por três quintos da Câmara e do Senado, com duas votações em cada uma das Casas. O Planalto teme que o momento político seja um obstáculo para obter apoio ao projeto em apenas quatro meses.
Valorização do real
O ministro defendeu ontem as medidas tomadas pelo governo para deter a valorização do real, como a cobrança de taxas no mercado de dólar futuro. Mantega disse que as medidas foram eficazes e continuarão a ser tomadas se necessário.
O ministro disse ainda que o governo trabalha para proteger a economia brasileira da competição desleal de outros países e das guerras cambial e comercial. Segundo o ministro, isso poderá se agravar nos próximos anos com a continuidade da crise econômica, que levaria a uma redução nos mercados consumidores e o aumento de estratégias comerciais por parte dos países. "Temos tomado medidas para impedir que haja um abuso que prejudicaria a conjunção brasileira", completou.
"Estamos preparados"
A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o Brasil está preparado para enfrentar a crise internacional. "Estamos preparados para enfrentar esse aspecto mais financeiro, mas o grande enfrentamento da crise é a afirmação do nosso mercado interno, das oportunidades que nós mesmos somos capazes de criar aqui no Brasil", afirmou durante cerimônia de celebração de acordo entre a Frente Parlamentar Mista das Micro e Pequenas Empresas e o governo federal, referente ao aperfeiçoamento da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. As medidas ainda precisam passar pelo Congresso.
De acordo com a presidente, o País conta fundamentalmente com as próprias forças, mas não despreza o mercado externo. "Somos uma economia capaz de se posicionar no mercado internacional", avaliou. Ela salientou que a turbulência que afeta os mercados internacionais hoje decorre da crise de 2008. Essa crise, de acordo ela, não foi bem solucionada nos países desenvolvidos.
ORIENTAÇÃO
Fugir de dívidas reduz impactos ao consumidor
São Paulo. Em meio a quedas nas negociações das principais Bolsas de Valores do mundo, registradas desde a semana passada, a orientação para os consumidores é não contratar novas dívidas e reduzir ou zerar os débitos atuais a fim de evitar impactos da atual crise.
Mais repiques deste pessimismo especulativo devem contaminar as Bolsas esta semana, diz Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste. O estopim foram os Estados Unidos, além da dificuldade financeira de Grécia e Portugal.
Barbas de molho
Segundo ela, políticos republicanos e democratas norte-americanos trocaram os pés pelas mãos na hora de definir um novo teto para o endividamento do país. "Não devemos, obviamente, sucumbir ao negativismo nem sofrer por antecedência. Crises financeiras são forjadas por especuladores que até agora continuam impunes ao perpetrar suas maldades. Não há como evitar as crises, mas podemos pôr as barbas de molho. No caso, reduzir ou zerar nossas dívidas e ter muita cautela ao comprometer nossa renda com compras e novos empréstimos. Não dever é a melhor forma de reduzir eventuais impactos de uma crise. Torçamos para que não se concretize. Mas, se chegar, temos de estar preparados", comenta Dolci.
MUNDO
Preços de matérias -primas tendem a cair
São Paulo. Os preços das matérias-primas comercializadas em larga escala no mercado mundial estão em queda, diante dos sinais de desaceleração da economia mundial, mas os especialistas preferem aguardar antes de arriscar novas projeções em relação ao tamanho do impacto no saldo comercial do Brasil. A única certeza é a de que não haverá recuperação tão cedo.
De acordo com o consultor Fábio Silveira, da RC Consultores, os preços começaram a ´derreter´ após a agência Standard & Poor´s rebaixar a nota dos EUA. "A queda foi pequena diante da dimensão da crise na Europa e nos Estados Unidos e das enormes dúvidas sobre o que pode acontecer com a demanda do mercado chinês", afirma Silveira. Ele destaca que o dilema atual é mais grave do que em 2008, quando os bancos centrais das principais economias trabalharam de forma coordenada, o que não ocorre agora. "O mercado está diante de um grande ponto de interrogação sobre a recuperação", diz.
Homero Guizzo, da LCA consultores, também prefere esperar sinais mais claros das principais economias mundiais diante das iniciativas de política monetária que devem ser tomadas em relação à crise. "Só dá para saber que os preços vão cair e derrubar a inflação, mas é impossível saber se demanda menor da China vai prevalecer".
CLASSIFICADORAS DE RISCO
Brasil quer ser menos dependente de agências
Rio. Enquanto o mundo discute a credibilidade das agências classificadoras de risco após o rebaixamento da nota dos títulos norte-americanos, o Brasil revê suas regras no setor A área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está redigindo a primeira regulamentação para essas agências no País e deve apresentá-la nos próximos meses ao colegiado.
O Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização deve concluir até o fim do ano como reduzir e, em alguns casos, eliminar as exigências de uso dos ratings nas normas usadas em seus órgãos. Isso significa restringir exigências ligadas à classificação de riscos de ativos financeiros nas normas da CVM, Banco Central, Superintendência de Seguros Privados e Superintendência Nacional de Previdência Complementar do Ministério da Previdência.
As duas medidas, que correm em paralelo, têm como objetivo regular o trabalho feito pelas agências e reduzir a dependência delas dentro do País, estimulando que as instituições façam suas próprias análises de risco. "Não condenamos as classificações das agências. São boas fontes de consulta. Mas, acredita-se que não deve haver uma confiança cega nelas. É preciso ter uma gama de opções para fazer a decisão de investimento", diz a superintendente de Desenvolvimento de Mercado da CVM, Flavia Mouta.
A CVM vai exigir, por exemplo, que as agências se registrem e prestem informações periódicas - obrigações que não existem hoje.
http://diariodonordeste.globo.com/mater ... go=1024175