PM de Goiás testa “escorpião de aço”
.
Durante 10 dias veículo é submetido a testes na Companhia de Operações Especiais. Viatura é a mesma usada no México na guerra contra narcotráfico
.

.
Frederico Vitor
.
A Polícia Militar de Goiás (PM-GO) poderá em breve ter um “caveirão” em seu inventário. Isto, caso a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) bata o martelo e feche negócio com a empresa paulista Centigon Blindagens do Brasil Ltda, a fabricante do blindado tático Alacran — escorpião, em espanhol —, atualmente usado em serviço por forças policiais do México. Em avaliação na Companhia Independente de Operações Especiais (COE), localizado no Batalhão Anhanguera, no Setor Marista, em Goiânia, desde o dia 22 deste mês, a viatura passará por rigorosos testes até a próxima terça-feira, dia 2 de abril. Trata-se de um tipo de equipamento policial até então nunca usado nas forças policiais de Goiás.
Tanto a PM quanto a Polícia Civil goiana possuem viaturas blindadas, mas são carros usados em transporte de valores adaptados para o uso policial, com desempenho e blindagem inferiores ao Alacran e demais blindados modernos hoje disponíveis no mercado. O veículo da Centigon nasceu concebido para ser um genuíno blindado tático, ou seja, com tração nas quatro rodas e blindagem capaz de resistir a tiros de fuzis 7.62 milímetros e estilhaços de granadas. O carro atende às necessidades COE, que desde muito tempo busca um transportador blindado moderno, ágil e com maior manobrabilidade em ambientes urbanos e rurais.
Para a realidade de Goiás — Estado relativamente tranquilo, onde não há ações mais efetivas do crime organizado, como no Rio de Janeiro e São Paulo — a PM necessitaria, de fato, de veículos blindados? Surgiu uma nova modalidade criminosa, que vem desafiando a polícia principalmente nos Estados do Centro-Oeste, no interior de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará, denominado “novo cangaço”. São quadrilhas numerosas, bem equipadas e armadas com fuzis e metralhadoras, que se dedicam a assaltar bancos, estabelecimentos comerciais e industriais e às vezes até cidades inteiras.
Em ações bem planejadas, esse novos cangaceiros se aproveitam de um quantitativo numérico superior e de poder de fogo que, em certos casos, até excede ao dos criminosos do Rio de Janeiro e São Paulo. A posição geográfica de Goiás, no centro do País, e a facilidade de fuga, por fazer divisa com vários Estados, são atrativos para a atuação destas quadrilhas em terras goianas.
Em fevereiro de 2012, em São Domingos, a 599 quilômetros de Goiânia, um bando desses novos cangaceiros submeteu como reféns funcionários e clientes de um banco, causando terror e pânico em toda cidade. Ao chegar ao local a PM foi recebida a tiros de fuzis e escopetas e até a unidade tática da corporação foi alvejada pelos criminosos. Numa ação como esta, um blindado como o Alacran colocaria os policiais em superioridade. Mesmo numa provável perseguição, os militares estariam em vantagem, haja vista que este tipo de viatura possui motorização potente, podendo alcançar até 160 km/h em estrada pavimentada. As unidades de polícia do interior, na maioria das vezes dotadas de pistolas, espingardas calibre 12, carabinas e quando muito, fuzis de repetição, não têm como se opor a um poder de fogo nitidamente superior. Diversos policiais já morreram no enfrentamento desses grupos.
Dissuasão
Para confrontar tais quadrilhas e desestimulá-las a efetuar ações criminosas no Estado, um veículo blindado tático juntamente com uma tropa bem equipada podem constituir um recurso de dissuasão. Além do novo cangaço, o blindado poderia servir como equipamento de proteção coletiva (EPC), resguardando os policiais de rajadas de fuzis e metralhadoras, além de colocar a guarnição em vantagem de repelir as agressões destes criminosos, que são caracterizados por portar armamento pesado e pela ousadia em travar duros combates contra forças policiais.
O Alacran não é um blindado policial antidistúrbio. Seu uso não serviria para atuar em desocupação de terrenos como o ocorrido em fevereiro de 2005, em Goiânia, na retirada de famílias por ordem judicial do Parque Oeste Industrial, uma das maiores operações de desocupação de área urbanas já realizadas no País. À área invadida foram mobilizados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) um total de 1.863 PMs, resultando em confronto que deixou um saldo de duas mortes, 14 feridos — sendo um oficial da PM — e 800 presos.
Para aquela eventualidade o ideal seria um veículo blindado de controle de distúrbio civil (CDC), de blindagem leve e dotada de canhões de jatos d’água para dispersão de tumulto. A PM do Distrito Federal adquiriu recentemente da Centingo, duas viaturas CDC por R$ 1,6 milhão cada, que irão dotar o Batalhão de Choque.
Blindagem retém tiro de fuzil calibre 7.62
O Alacran é um veículo blindado de transporte de tropa para até 14 tripulantes — o que está em Goiânia é configurado para 8 — construído sobre um chassi da Ford F550 (norte-americano) de tração 4x4 projetado e fabricado no Brasil. O motor é um imponente V8 de 315 HP com câmbio automático. As dimensões externas são de 6,1 metros de comprimento por 2,6 de altura. Sua blindagem tem capacidade de reter projéteis perfurantes (nível B6+), de disparos de fuzil calibre 7.62 milímetros, com a possibilidade de ser elevada a proteção contra calibre maiores como projéteis .50 — controlada pelo Exército Brasileiro.
A autonomia do blindado é de aproximadamente 800 quilômetros, sendo capaz, por exemplo, de sair de Goiânia em diligência até Porangatu (406 quilômetros da capital), no Norte Goiano, e voltar sem reabastecimento. A velocidade máxima de cruzeiro é acima de 130 km/h, e pode atingir até 160 km/h em estrada em boas condições. O projeto é do engenheiro brasileiro Riccardo Furlan, diretor técnico da Centigon, que participou no final da década de 80 no desenvolvimento do carro de combate Osório, considerado a grande joia da indústria bélica nacional da extinta empresa Engenheiros Especializados S/A (Engesa).
O veículo conta com uma escotilha giratória que protege a retaguarda do atirador. Dotado de oito seteiras — fendas para que os tripulantes possam introduzir armas e efetuar disparos externos — sendo quatro nas laterais, duas na porta traseira e duas nas portas dianteiras. Para o conforto dos tripulantes há um potente ar-condicionado e sistema de som. Segundo Ricardo Mesquita de Abeci, representante da Centigon em Brasília, o Alacran é um veículo voltado para as necessidades policiais do país. “É um blindado desenvolvido para situações corriqueiras de emprego policial no Brasil, por ser 4x4 pode ser utilizado em todas as situações necessárias.”
Antes de ser mandado a Goiânia, o Alacran foi testado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM de Mato Grosso. De acordo com o major Édson Ferreira Moura, comandante do COE, os teste serão totalizados em dez dias, tempo que julga ideal para concluir a aplicabilidade na unidade de elite da PM goiana. O próprio major foi à capital mato-grossense fazer o translado do veículo a Goiânia, e as impressões do desempenho do blindado na estrada foram positivas na avaliação do oficial. “O desempenho na estrada é muito bom. Vamos agora submetê-lo a testes em ambientes acidentados em zona rural e estradas de terras.”
Sobre a necessidade e perspectiva da PM goiana dispor de um veículo blindado tático como o Alacran, Moura explica que em Goiás, diferentemente de outros Estados, o crime organizado não está estabelecido e que a única área crítica consiste no Entorno do Distrito Federal, mas que caso venha ser adquirido pela corporação seria um divisor de águas no quesito equipamento para ações específicas. “Não posso dizer que hoje, neste momento, nós precisamos de um veículo desses. Mas o considero um antídoto. Temos que nos precaver, estarmos sempre à frente. Acho necessário ter o equipamento, se um dia precisarmos utilizá-lo, usaremos da melhor maneira.”
O teste do Alacran no COE não sinaliza que a SSP vai fechar negócio com a Centigon. Até porque para aquisição de veículos desta natureza é necessário processo licitatório aberto para outras empresas. Há informações de especialistas de que o veículo custa em torno de R$ 1,350 milhão, de acordo com a configuração de equipamentos que o comprador exigir. Após as baterias de testes em Goiás, o Alacran seguirá para Brasília.
.
link:
http://www.jornalopcao.com.br/posts/rep ... iao-de-aco