delmar escreveu:
Não há democracia perfeita. Todos estados democráticos, digamos assim, sempre foram esculhambados (menos a Suiça). A Grécia, no chamado período de ouro, era quase uma anarquia. O mesmo ocorreu em Roma na época da república. Se formos ver a Itália, Florença, o berço do renascimento, era uma zorra total. Porém foi neste período que surgiram as grande obras do pensamento e da arte da humanidade. O cidadão era livre para viver, pensar e criar. E isto é o importante realmente, o cidadão.
Estou ciente disso. Só queria chamar a atenção para a explicação de defesa do Uribe: A primeira coisa comentada foi que a Colômbia era uma democracia, ressaltando as diferenças entre a vizinha-rival Venezuela.
Mas não é porque se auto-entitula democracia que as atividades ilícitas do atual Governo não sejam escancaradas ou menos nocivas que as políticas insanas do Chávez, que o uso de paramilitares que compartilham muitas das atividades ilícitas das FARC seja correto.
Como foi comentado há pouco, os EUA estão na Colômbia supostamente para combater o narcotráfico, mas o próprio Governo atual utiliza isso como meio de fortalecimento.
Não é minha intenção tentar convencê-lo a olhar este modelo democrático com outros olhos, até porque não temos opção melhor hoje, mas perceba como sua mente já se enquadrou completamente no "padrão ético democrático": Todas as evidências apontam para as atividades ilegais de Uribe e seus aliados: Envolvidos com o narcotráfico até o pescoço, com paramilitares quase tão nocivos quanto as FARC, seu primo e grande aliado sempre envolvido em encrenca (e protegido pelo Uribe), mas como na democracia ocidental a gente tem que pegar o cara
cagando, com dinheiro na cueca - desculpe a força de expressão - pra ser considerado culpado, mesmo que seus envolvimentos sujos sejam mais óbvios que somar dois mais dois, você pode dizer o que disse, que
não há provas sobre o envolvimento do Uribe nessa sujeirada toda. A gente consegue afirmar isso com a maior naturalidade, sem nenhum peso na consciência.
Assim como não há provas capazes de negar que o "Lula não sabia de nada" ou que "a assinatura do Maluf não é realmente dele", desculpe ter fugido um pouco do assunto.
Você citou um monte de coisa boa do Uribe, certo, em nenhum momento disse que ele não fez nada disso, mas da maneira que você citou foi como se isso fosse defesa pra ele, ou pra afirmar idoneidade ou como se as coisas boas justificassem as ruins, numa espécie de "rouba, mas faz versão colombiana".
Falo que a democracia muitas vezes é falsa quando cito casos como o americano, onde os eleitores têm, dentre as centenas de milhões de pessoas aptas a se candidatarem, apenas duas opções. Sempre duas. Opções estas geralmente muito semelhantes entre si, pra piorar ainda mais.
Todos sabem que as "duas opções" já foram pré-selecionadas por quem realmente comanda o país (donos das grandes empresas, líderes das organizações mais importantes). É uma democracia de fachada, bastante limitada, não acha?
Ou no nosso caso, no Brasil, onde temos ao menos a vantagem de ter mais opções (e principalmente mais diferenciadas), mas nosso sistema político-democrático consegue se assemelhar ainda mais à corte dos tempos da monarquia, com milhares de pessoas influentes brigando apenas por direitos, poder e luxo, ano após ano, com a única diferença que os membros da nova corte não são permanentes.
Ou no caso da Colômbia, com Uribe combatendo as FARC, mas ao mesmo tempo usando este combate para perpetuar seu poder (fingindo que a alternância de poderes não vai contra a democracia, uma das coisas que mais diferencia, ou deveria diferenciar, a sua política da política do Chávez), para eliminar a força opositora na região, associando toda ela ao "inimigo", ainda que no fundo seu governo compartilhe de muitas das atividades horríveis que as FARC fazem.