GEOPOLÍTICA

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: GEOPOLÍTICA

#3166 Mensagem por Quiron » Qui Dez 02, 2010 1:19 pm

Uma coisa interessante de se notar nos textos vazados sobre o Brasil é que nenhum deles menciona as facadas que já nos deram pelas costas em questões de transferência tecnológica ou os vetos posteriores sobre materiais adquiridos sequer como fator a ser considerado em uma nova relação entre nossos países.

Apesar de o Jobim já ter falado abertamente sobre a "jurisprudência" nesse quesito, percebe-se a total falta de arrependimento ou um mínimo de reflexão por parte dos embaixadores ao tratar do assunto, mesmo quando mencionam as novas oportunidades na defesa com nosso país. No meu ponto de vista isso demonstra que não enxergam os vetos anteriores como algo problemático ou culposo da parte deles, e crêem fortemente que apenas a palavra deles é suficiente para remendar qualquer situação futura. Não deixa de ser cômico.

Acredito que mesmo seus embaixadores não percebem o quanto sua imagem está manchada com o nosso país, e pior, o quanto é ofensivo nos dizer o que podemos ou não ter, se é viável ou não. A miopia americana causada por uma visão generosa acerca de si mesmos é tragicamente engraçada.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3167 Mensagem por Francoorp » Qui Dez 02, 2010 1:51 pm

Quiron escreveu:Uma coisa interessante de se notar nos textos vazados sobre o Brasil é que nenhum deles menciona as facadas que já nos deram pelas costas em questões de transferência tecnológica ou os vetos posteriores sobre materiais adquiridos sequer como fator a ser considerado em uma nova relação entre nossos países.

Apesar de o Jobim já ter falado abertamente sobre a "jurisprudência" nesse quesito, percebe-se a total falta de arrependimento ou um mínimo de reflexão por parte dos embaixadores ao tratar do assunto, mesmo quando mencionam as novas oportunidades na defesa com nosso país. No meu ponto de vista isso demonstra que não enxergam os vetos anteriores como algo problemático ou culposo da parte deles, e crêem fortemente que apenas a palavra deles é suficiente para remendar qualquer situação futura. Não deixa de ser cômico.

Acredito que mesmo seus embaixadores não percebem o quanto sua imagem está manchada com o nosso país, e pior, o quanto é ofensivo nos dizer o que podemos ou não ter, se é viável ou não. A miopia americana causada por uma visão generosa acerca de si mesmos é tragicamente engraçada.
[009] [009]

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Re: GEOPOLÍTICA

#3168 Mensagem por Rock n Roll » Qui Dez 02, 2010 10:36 pm

pafuncio escreveu:
Rock n Roll escreveu:
Mas se você quer mesmo pirar na batatinha, ataque sem dó 1493 páginas do único ocidental que entrevistou Bin Laden 2 vezes, a última no Afeganistão e o convite para se converter ao Islã, e, saiu vivo sem se converter....
Falem bem ou mal mas falem de Robert Fisk e seu " A Grande Guerra Pela Civilização e a Conquista do Oriente Médio".
O melhor relato sobre a evolução da geoplítica no Oriente Médio até hoje. Vi o título em promoção nestes dias na FNAC do Rio.
Mais de um quilo de livro, com as informações mais dissecadas que já vi da região. Inclusive as "limpezas étnicas" que os turcos fizeram na Armênia e em outras regiões que pautaram recentemente conversas entre os EUA eTurquia.
ISBN 978-85-7665-284-7


Debater é Preciso.
[005] [005] [005]
Eu tenho este livro. A tradução tem suas falhas, mas acho que ele é um dos grandes correspondentes de guerra do mundo. Morando em Beirute há mais de 20 anos, cobriu a guerra Irã/Iraque. A narrativa do oriente médio parte daí, abrangendo uma miríade de fatos, inclusive a invasão soviética ao Afeganistão (o tópico chama-se, se não me engano, "eles matam russos").

É altamente crítico com as potências ocidentais, deplora as posições israelenses, muitas vezes transparece seu envolvimento pessoal com algumas figuras, como a do "pequeno e valente reizinho da Jordânia", falecido faz poucos anos. Lembra um pouco o Eric Hobsbawm, já ancião, escrevendo enfim acerca do séx. XX: "escrevo como autor, mas também como testemunha,afinal jovem, no interior da bavária, vi um certo cabo austríaco discursando".

No geral , leitura agradável e complexa, paradoxalmente desgastante, porque baseada em depoimentos de épocas várias, que escapam ao senso atual. Há de ser boa memória e capacidade de correlação. Estou lendo o livro com calma, faz mais de 02 meses.

Na realidade, já gostava muito do Fisk, visto que muitos dos seus artigos eram publicados na Folha de São Paulo. Admiro-o ainda mais, hoje ...

Pequeno detalhe: ele é inglês, filho único, quando nasceu seu pai já era velho, veterano da WWI (sim, a Primeira Guerra). Pai durão, distante e insensível, imbuído de rancores e preconceitos coloniais kiplingnianos (ironia ser filho ser o mais reconhecido dos correspondes no Oriente Médio). Saindo dos relatos jornalísticos e históricos, o livro tem pequenas pérolas pessoais e amarguras do filho enjeitado. Mas ele parece realmente emocionado, quando se lembra que o velho chamava-o, vejam só, de "fella". (nota pessoal - deve ser a doença do meu velho, mas sempre me emociono com esta difícil relação pai/filho).

Recomendo.

amplexos.


Grato pelos amplexos, prezado. Você encontra Fisk na sua coluna semanal do The Independent. www.independent.co.uk
Está lá em commentators, as colunas anteriores e a última.
Bom proveito.
Redobro os amplexos.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3169 Mensagem por Rock n Roll » Qui Dez 02, 2010 10:46 pm

Francoorp escreveu:
Quiron escreveu:Uma coisa interessante de se notar nos textos vazados sobre o Brasil é que nenhum deles menciona as facadas que já nos deram pelas costas em questões de transferência tecnológica ou os vetos posteriores sobre materiais adquiridos sequer como fator a ser considerado em uma nova relação entre nossos países.

Apesar de o Jobim já ter falado abertamente sobre a "jurisprudência" nesse quesito, percebe-se a total falta de arrependimento ou um mínimo de reflexão por parte dos embaixadores ao tratar do assunto, mesmo quando mencionam as novas oportunidades na defesa com nosso país. No meu ponto de vista isso demonstra que não enxergam os vetos anteriores como algo problemático ou culposo da parte deles, e crêem fortemente que apenas a palavra deles é suficiente para remendar qualquer situação futura. Não deixa de ser cômico.

Acredito que mesmo seus embaixadores não percebem o quanto sua imagem está manchada com o nosso país, e pior, o quanto é ofensivo nos dizer o que podemos ou não ter, se é viável ou não. A miopia americana causada por uma visão generosa acerca de si mesmos é tragicamente engraçada.
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A política externa americana é um carro com um p... parachoque e sem espelho retrovisor.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3170 Mensagem por Francoorp » Qui Dez 02, 2010 10:54 pm

Inclusive as "limpezas étnicas" que os turcos fizeram na Armênia e em outras regiões que pautaram recentemente conversas entre os EUA eTurquia.

Esse assunto ai é antigo demais, vi um trabalho a respeito em 1989 muito bom, e era espanhol... incrível que até hoje não tem justiça ou descrições do caso. Mas com o Holocausto que convém tem né...
No geral , leitura agradável e complexa, paradoxalmente desgastante, porque baseada em depoimentos de épocas várias, que escapam ao senso atual.

Achei essa parte muito informativa e profundamente correlata, mas para alguém que perde o fio da meada facilmente melhor ter mais atenção... mas traz muitas referencias históricas regionais e até mesmo de fora do Oriente Médio para se ter uma maior interpretação sobre o "porque" das coisas serem como são hoje na região. Certamente para um correspondente jornalístico e não um letrado em literatura, essa capacidade de correlação dos fatos até que é bem realizada... mas nota-se que o teor de "pesquisa" em arquivos e dados parece estar incompleta, o que é normal para um escritor que baseia muito sobre o lado pessoal.

Bom livro.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3171 Mensagem por Francoorp » Sex Dez 03, 2010 8:29 am

Amorin na Al Jazeera, em Inglês(Argh!):





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Re: GEOPOLÍTICA

#3172 Mensagem por suntsé » Sex Dez 03, 2010 10:21 am

Francoorp escreveu: Esse assunto ai é antigo demais, vi um trabalho a respeito em 1989 muito bom, e era espanhol... incrível que até hoje não tem justiça ou descrições do caso. Mas com o Holocausto que convém tem né...
Pelo que eu sei, no ano passado os EUA reconheceram oficialmente, que o que os Turcos fizeram na turquia foi genocídio. Os Turcos até fizeram biquinho...mais como eles tem rabo prezo com o ocidente....




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Re: GEOPOLÍTICA

#3173 Mensagem por Francoorp » Sex Dez 03, 2010 10:32 am

suntsé escreveu:
Francoorp escreveu: Esse assunto ai é antigo demais, vi um trabalho a respeito em 1989 muito bom, e era espanhol... incrível que até hoje não tem justiça ou descrições do caso. Mas com o Holocausto que convém tem né...
Pelo que eu sei, no ano passado os EUA reconheceram oficialmente, que o que os Turcos fizeram na turquia foi genocídio. Os Turcos até fizeram biquinho...mais como eles tem rabo prezo com o ocidente....
OS EUA são somente mais um país do mundo, se tiver peito mesmo propõem à ONU o reconhecimento deste Genocídio, assim como foi para os judeus.

Mas não farão isso, iria contra os próprios interesses, no fim a Turquia faz parte da OTAN. Vai dar em nada.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3174 Mensagem por Marino » Sex Dez 03, 2010 2:44 pm

Brasil reconhece Estado palestino

Publicada em 03/12/2010 às 14h14m
Roberto Maltchik

BRASÍLIA - O Brasil reconheceu o Estado palestino, considerando as fronteiras de 1967, o que significa identificar todos os territórios ocupados na Cisjordânia (Jerusalém Oriental e arredores) como parte da nação palestina. A decisão, comunicada no início da tarde desta sexta-feira pelo Palácio do Itamaraty, atende a um pedido formalizado em carta enviada pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 24 de novembro.

Os territórios ora reconhecidos pelo governo brasileiro como parte do Estado palestino foram ocupados por Israel em junho de 1967, ao final da Guerra dos Seis Dias, conflito que opôs Israel aos vizinhos árabes (Egito, Síria e Jordânia).

De acordo com a chancelaria brasileira, a decisão "não implica abandonar a convicção de que são imprescindíveis negociações entre Israel e Palestina, a fim de que se alcancem concessões mútuas sobre as questões centrais do conflito".

"A iniciativa é coerente com a disposição histórica do Brasil de contribuir para o processo de paz entre Israel e Palestina, cujas negociações diretas estão neste momento interrompidas, e está em consonância com as resoluções da ONU, que exigem o fim da ocupação dos territórios palestinos e a construção de um Estado independente dentro das fronteiras de 4 de junho de 1967", afirma a nota do Itamaraty.

O governo Lula ainda argumenta que mais de cem países reconhecem o Estado Palestino, entre eles todos os principais parceiros do Brasil em negociações multilaterais, como Índia, China, Rússia e África do Sul. E destaca que todos são países que "mantêm relações fluidas com Israel".

"Paralelamente, nunca foram tão robustas as relações bilaterais com Israel. Os laços entre os dois países têm-se fortalecido ao longo dos anos, em paralelo e sem prejuízo das iniciativas de aproximação com o mundo árabe e muçulmano", informa a chancelaria.

Na nota, o Ministério de Relações Exteriores ainda diz que o reconhecimento do Estado palestino reafirma "sua tradicional posição de favorecer um Estado palestino democrático, geograficamente coeso e economicamente viável (...) Apenas uma Palestina democrática, livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios israelenses por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional".

O Itamaraty também explica que o Brasil reconhece a Organização para Libertação da Palestina (OLP) desde 1975, entidade extinta e que deu lugar à Autoridade Palestina. Em 1993, o Brasil autorizou a abertura de Delegação Especial Palestina, com status diplomático semelhante às representações das Organizações Internacionais. Em 1998, o tratamento concedido à Delegação foi equiparado ao de uma embaixada.




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: GEOPOLÍTICA

#3175 Mensagem por PQD » Sex Dez 03, 2010 4:05 pm

Marino escreveu:Brasil reconhece Estado palestino

Publicada em 03/12/2010 às 14h14m
Roberto Maltchik

BRASÍLIA - O Brasil reconheceu o Estado palestino, considerando as fronteiras de 1967, o que significa identificar todos os territórios ocupados na Cisjordânia (Jerusalém Oriental e arredores) como parte da nação palestina. A decisão, comunicada no início da tarde desta sexta-feira pelo Palácio do Itamaraty, atende a um pedido formalizado em carta enviada pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 24 de novembro.

Os territórios ora reconhecidos pelo governo brasileiro como parte do Estado palestino foram ocupados por Israel em junho de 1967, ao final da Guerra dos Seis Dias, conflito que opôs Israel aos vizinhos árabes (Egito, Síria e Jordânia).

De acordo com a chancelaria brasileira, a decisão "não implica abandonar a convicção de que são imprescindíveis negociações entre Israel e Palestina, a fim de que se alcancem concessões mútuas sobre as questões centrais do conflito".

"A iniciativa é coerente com a disposição histórica do Brasil de contribuir para o processo de paz entre Israel e Palestina, cujas negociações diretas estão neste momento interrompidas, e está em consonância com as resoluções da ONU, que exigem o fim da ocupação dos territórios palestinos e a construção de um Estado independente dentro das fronteiras de 4 de junho de 1967", afirma a nota do Itamaraty.

O governo Lula ainda argumenta que mais de cem países reconhecem o Estado Palestino, entre eles todos os principais parceiros do Brasil em negociações multilaterais, como Índia, China, Rússia e África do Sul. E destaca que todos são países que "mantêm relações fluidas com Israel".

"Paralelamente, nunca foram tão robustas as relações bilaterais com Israel. Os laços entre os dois países têm-se fortalecido ao longo dos anos, em paralelo e sem prejuízo das iniciativas de aproximação com o mundo árabe e muçulmano", informa a chancelaria.

Na nota, o Ministério de Relações Exteriores ainda diz que o reconhecimento do Estado palestino reafirma "sua tradicional posição de favorecer um Estado palestino democrático, geograficamente coeso e economicamente viável (...) Apenas uma Palestina democrática, livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios israelenses por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional".

O Itamaraty também explica que o Brasil reconhece a Organização para Libertação da Palestina (OLP) desde 1975, entidade extinta e que deu lugar à Autoridade Palestina. Em 1993, o Brasil autorizou a abertura de Delegação Especial Palestina, com status diplomático semelhante às representações das Organizações Internacionais. Em 1998, o tratamento concedido à Delegação foi equiparado ao de uma embaixada.

quero ver a repercução disso




Cabeça dos outros é terra que ninguem anda... terras ermas...
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Re: GEOPOLÍTICA

#3176 Mensagem por joao fernando » Sex Dez 03, 2010 4:40 pm

Até que enfim heim?

Quanto ao massacre Armenio, em São paulo, existe uma estação do Metro, chama Estação Armenia. Lá, na placa de inauguração, consta o massacre promovido pelos turcos. Pelo menos, alguma referencia do massacre

Mas todo mundo sabe qual o genocidio que dá ibope. O negocio é cgutar cachorro morto




Obrigado Lulinha por melar o Gripen-NG
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Re: GEOPOLÍTICA

#3177 Mensagem por Penguin » Dom Dez 05, 2010 1:18 am

Cable sobre las alianzas y estrategias en la Cumbre sobre el Clima
Europa y EEUU estudian cómo hacer frente a la alianza China-India-Brasil y buscan fórmulas para aislar a Venezuela, Bolivia y Cuba de la negociación

http://www.elpais.com/articulo/internac ... int_33/Tes




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: GEOPOLÍTICA

#3178 Mensagem por marcelo l. » Dom Dez 05, 2010 11:42 am

Como escrito a muito tempo atrás sobre a Colombia 8-]

Colômbia se distancia dos EUA

05/12/2010

Andres Oppenheimer, Miami Herald
Internacional

Santos adota medidas para afastar-se das políticas de Uribe e busca outros aliados para atender às necessidades do país

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de centro-direita, pode ter brincado quando disse recentemente que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, esquerdista radical, é seu "novo melhor amigo". Mas, em Washington, poucos estão rindo.

Cresce na capital americana - principalmente no Congresso - a sensação de que Santos está se aproximando de Chávez e afastando a Colômbia da estreita aliança mantida com os Estados Unidos ao longo dos últimos oito anos.

Desde sua posse, em agosto, Santos adotou numerosas medidas para afastar-se das políticas do ex-presidente Álvaro Uribe. É importante reparar nos seguintes pontos:

A primeira visita oficial de Santos enquanto presidente teve como destino o Brasil. Desde então, ele viajou a vários países latino-americanos, mas ainda não pôs os pés em Washington.

Santos reuniu-se muitas vezes com Chávez, e os dois prometeram melhorias dramáticas nas relações entre Colômbia e Venezuela. Durante o governo de Uribe os dois países eram abertamente hostis um ao outro, em parte porque o ex-presidente denunciava repetidas vezes o apoio clandestino da Venezuela aos guerrilheiros colombianos das Farc.

Atendendo aos desejos de Chávez, o presidente colombiano anunciou recentemente que vai extraditar para a Venezuela - e não para os EUA - o suspeito Walid Makled, venezuelano acusado de ser um barão das drogas. Tanto a Venezuela quanto os EUA solicitaram a a extradição de Makled, cujo depoimento afirmava que representantes do alto escalão do governo venezuelano estariam protegendo suas operações de tráfico de drogas. Chávez quer Makled em seu país natal, seja para mantê-lo calado ou para pressioná-lo a alterar seu depoimento.

O governo Santos não tem planos imediatos de submeter ao Congresso colombiano uma nova proposta de lei autorizando a presença de soldados americanos em numerosas bases do Exército da Colômbia, dizem representantes colombianos. Um acordo militar entre EUA e Colômbia estabelecido em 2009 com esta finalidade, e alvo de muitas atenções, foi recentemente invalidado por um tribunal colombiano.

Santos deve iniciar negociações de livre comércio com o Canadá e a União Europeia nos próximos meses. O acordo de livre comércio entre Colômbia e EUA, estabelecido em 2004, ainda precisa ser ratificado pelo Congresso americano.

Carl Meacham, um dos principais assessores de Richard Lugar, o número 2 na Comissão de Relações Exteriores do Senado, diz que a demora dos EUA em ratificar o acordo comercial "levou a Colômbia a analisar outras opções. Eles estão se afastando, sem dúvida: não se mostram mais tão orientados pela referência americana quanto antes".

O deputado republicano Connie Mack, conservador que deve se tornar presidente da subcomissão da Câmara para o Hemisfério Ocidental no ano que vem, admitiu para mim que "é grande a preocupação" com a Colômbia no Congresso, mas acrescentou: "Não estou pronto para dizer que Santos está se afastando dos EUA."

Curioso a respeito do que Santos estaria pensando, conversei com vários colombianos bastante próximos do novo presidente.

A maioria deles me disse que, de fato, existe uma mudança deliberada na política externa colombiana. Ela foi motivada pelo não cumprimento do acordo comercial por parte dos EUA - apesar da grande disposição diplomática da Colômbia.

Favores unilaterais. Nos últimos anos, a Colômbia aceitou a presença de soldados americanos nas bases do Exército colombiano, enviou ao Afeganistão policiais e agentes do combate às drogas para auxiliar as tropas americanas e votou com os EUA na maioria das questões decididas nas Nações Unidas.

Apesar de gestos como estes e tantos outros, não houve resposta positiva quanto ao acordo de livre comércio por parte de Washington. Os laços de proximidade do presidente Barack Obama com sindicatos americanos contrários ao livre comércio o impediram de pressionar pela ratificação do acordo comercial de modo mais agressivo, disseram eles.

"Os colombianos estão um pouco desiludidos com os EUA", diz Enrique Santos Calderón, colunista do El Tiempo e até pouco tempo chefe de redação deste que é o mais influente jornal colombiano, e também irmão do ex-presidente. "Há a sensação de que precisamos tomar certa distância e parar de fazer favores unilaterais para os quais não há recíproca."

Minha opinião: o novo presidente colombiano está se aproximando mais de Chávez principalmente por motivos econômicos. A Venezuela é um dos maiores mercados para as exportações colombianas, e tensões anteriores entre os dois países prejudicaram muito o desempenho destas exportações.

Além disso, Santos está usando sua lua de mel temporária com Chávez como estratégia para levar Washington a ratificar o acordo comercial. Como a política anterior não funcionou, ele está tentando uma nova abordagem.

Conheço Santos há anos, e sempre tive em mente que um de seus passatempos favoritos é jogar pôquer. Como o bom jogador de pôquer que é, Santos está escondendo suas verdadeiras intenções de todos, e também de seus amigos na capital americana. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

É COLUNISTA E GANHADOR DO PULITZER




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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Re: GEOPOLÍTICA

#3179 Mensagem por Marino » Dom Dez 05, 2010 1:53 pm

Por entre elementos vazados

Brasilianista americano cruza a estridência do WikiLeaks ao analisar as relações Brasil-EUA

Carolina Rossetti

A leva de 250 mil documentos confidenciais vazados pelo site WikiLeaks revelou intimidades da diplomacia americana, disseminando um misto de constrangimento e preocupação em Washington. Particularmente no gabinete da secretária de Estado, Hillary Clinton, que, segundo tais despachos, mandou investigar funcionários das Nações Unidas, inclusive o secretário-geral Ban Ki Moon. Nesse mar de informações, foi possível pescar avaliações da saúde mental da presidente argentina Cristina Kirchner, alertas sobre um tumor maligno do boliviano Evo Morales e criativas análises sobre como Nicolas Sarkozy usa sua bela Carla Bruni para angariar popularidade no Brasil. "Os documentos mostram que tem muita gente falando sobre o que não deve, para quem não pode", pondera o cientista político americano Riordan Roett.

Especialista em América Latina e autor de The New Brazil, lançado neste ano pela Brookings Institution Press, Roett minimiza o comentário (também vazado) de Clifford Sobel, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, de que o País seria "antiamericano". Roett não vê azedume anti-Washington na política externa brasileira, mas sugere que simplesmente houve mudança na balança de poder que media as relações entre os dois países. Brasilianista da Escola de Estudos Internacionais da Johns Hopkins University, em Washington, Roett desenvolve nesta entrevista a ideia de como o Brasil foi deixando para trás a posição de obediência silenciosa em relação aos EUA para assumir o próprio peso nas negociações internacionais. "Europa e China já entenderam isso. Mas os EUA ainda não percebem que o Brasil não é mais ator periférico, mas global", diz no mesmo dia em que circulou o nome do ex-embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, para a pasta das Relações Exteriores. E como será o relacionamento Obama-Dilma? "Uma continuidade", prevê Roett, calculando porém que Dilma não será tão afeita quanto Lula aos holofotes das cúpulas presidenciais.

Em um dos documentos vazados pelo WikiLeaks, o ex-embaixador americano Clifford Sobel fala de ‘antiamericanismo’ na política externa brasileira. Já o chanceler Celso Amorim disse que o Itamaraty sempre foi ‘considerado antiamericano’. Tais afirmações podem impactar os laços entre Brasil e EUA?
O ex-embaixador Clifford Sobel foi uma indicação política para o cargo, não sabia falar português, ficou no Brasil dois anos e não conheceu o País. Tenho vindo ao Brasil desde 1962 e desde então me deparo com antiamericanismos, seja em nível pessoal ou ideológico, mas isso não chega a ser uma grande ocorrência na política externa brasileira. Apenas que os EUA são hoje menos importantes para o Brasil, que persegue uma diplomacia Sul-Sul - compromisso reforçado na sexta-feira pelo Itamaraty com o reconhecimento do Estado palestino. Os EUA ainda não entendem que o Brasil é um ator global cada vez mais forte e não vai mais seguir a liderança americana da maneira que fazia nos governos de Getúlio Vargas (1930-1945) ou de Castello Branco (1964-1967). Lá atrás havia uma relação assimétrica. Esses dias passaram e o meu país deve entender que o mundo está diferente. Estamos em declínio, enquanto o Brasil, ao lado de Índia e China, está ascendendo. China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil, seguido da Argentina, e só então vêm os EUA. Washington terá que se adaptar.

O seu livro China’s Expansion into the Western Hemisphere trata justamente do crescente interesse chinês pela América Latina. Essa inflexão também gera tensões com os EUA?
A relação bilateral China-EUA é a mais importante do século 21, mas é também muito difícil e complicada em certos momentos. Os chineses têm sido cautelosos ao lidar com o triângulo EUA-Brasil-China. Pelo que percebo, não querem, de forma alguma, que sua relação comercial e diplomática com o Brasil tenha nenhum impacto na relação com os EUA. Se um dia tiverem que fazer uma escolha, certamente optarão pelo elo com os americanos. A China praticamente nos sustenta, além de deter a maior parte das ações do tesouro americano. Além disso, os EUA precisam desesperadamente da China para lidar com o Irã e a Coreia do Norte. Não temos outra escolha senão jogar o jogo deles.

Na sua avaliação, esses documentos revelaram algo inédito sobre o Brasil?
Pelo que vi, as revelações mais sérias do WikiLeaks referem-se ao Afeganistão, à Rússia e à França. Os comentários em relação ao Brasil são menores e não creio que haja muito a ser revelado. Mas existe uma preocupação sobre relações mais amistosas entre o Brasil e a França, no que foi chamado de um "caso de amor" pelo embaixador americano em Paris. A França persegue uma estratégia com o Brasil diferente daquela dos EUA, pois combina diplomacia com relações comerciais. As visitas de Sarkozy ao Brasil foram entrelaçadas com negociações de compra de aviões. E o Brasil é visto como um país muito mais importante pela Europa e China do que é pelos EUA.

Com a saída de Bush e a eleição de Obama, mudou o diálogo Brasília-Washington?
Comparado aos embaixadores de Bush, todos homens de negócio e politicamente escolhidos para o cargo, o atual embaixador, Thomas Shannon, é bem mais preparado, fala português e é conhecido do Itamaraty. Mas existe um descontentamento com o fato de Obama nunca ter arranjado tempo para vir ao Brasil. Esse foi um sério erro de seus dois primeiros anos na Casa Branca. Por outro lado, o presidente estava atolado com a crise financeira, as guerras no Iraque e no Afeganistão e depois com o vazamento de óleo no Golfo do México. Mas o problema é que em Washington não há ninguém acima do secretário assistente que saiba o que é o Brasil. Há especialistas em Arábia Saudita, Rússia, União Europeia, África do Sul, mas não em Brasil, um país de 190 milhões de habitantes, com uma economia competitiva. Washington não entende que, além de China, haja novos atores emergindo e o Brasil não seja mais um ator periférico, mas uma potência global permanente.

O Brasil é visto pelos EUA como um interlocutor com a América Latina?
Para o governo americano, seja ele republicano ou democrata, todos os países abaixo do México são incompreensíveis. Pensam que o Chile deve ser igual ao Brasil e Paraguai e Uruguai sejam a mesma coisa. "Onde fica a Argentina mesmo?" Infelizmente, Washington gostaria que o Brasil fosse um guarda de trânsito para facilitar suas relações com a América Latina. Alguém que sinalizasse como agir e controlasse as coisas para os americanos. O Brasil nunca fará isso. Tem interesses próprios na região e já mostrou claramente que respeita a soberania dos vizinhos. A posição brasileira de fortalecer a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) é uma tentativa de manter Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa numa mesma tenda, onde o diálogo seja possível. O que o Brasil não quer é conflito. Lembro-me de quando houve um problema com a Bolívia, e o presidente Evo Morales nacionalizou o petróleo. Lula ligou para Evo, convidou-o a ir a Brasília e resolveram a questão. Quando houve atrito em Itaipu, o presidente paraguaio, Fernando Lugo, também foi chamado e fez-se um acerto. É assim que o Brasil opera.

Mas a mediação brasileira não foi assim tão efetiva numa crise como a do governo Zelaya, em Honduras.
Honduras foi uma infelicidade. Todo mundo errou: EUA, Brasil e Honduras. Não tenho como comprovar, mas imagino que os EUA provavelmente sabiam que os militares hondurenhos iam se manifestar e, nessa situação, deveriam ter dito que não apoiariam um golpe, mesmo sendo Zelaya um presidente antiamericano. Ora, se lidamos com Chávez, Morales, Ortega, Lugo, deveríamos ter lidado também com Zelaya.

Afinal, como o senhor avalia a política externa brasileira sob o governo Lula?
Lula consolidou a posição do país entre os Brics e mostrou que o Brasil já consegue arcar com o próprio peso nas negociações internacionais, sem precisar ser guiado. O país foi ativo no G-20, com críticas aos EUA e à UE. É impossível pensar numa reunião do G-20, ou num encontro sobre mudanças climáticas, sem a presença do Brasil - isso devido à Amazônia e também porque o país é um grande exportador agrícola. Com o pré-sal e o etanol logo vai se tornar um importante exportador de energia. E, como Lula gosta de dizer, o país foi mesmo "o último a entrar na crise e o primeiro a sair". O sistema bancário brasileiro está bastante saudável se comparamos ao da Europa, que tem crises diárias, e ao nosso, bem enfraquecido. Nessa área, o Brasil tem uma história para contar.

Em sua opinião, a política externa de Dilma seguirá na mesma direção?
Antonio Patriota, cotado para ser o próximo chanceler, é um ótimo comunicador e deve continuar a política externa do presidente Lula, de perfil realista, com diversificação dos parceiros comerciais e manutenção de relações amigáveis com EUA, Inglaterra e França, mas também com China e África do Sul, e dos laços Sul-Sul que o Brasil tem cuidadosamente tecido nestes últimos 12 anos. Não acho que Dilma venha a ser forte nas relações exteriores, mas Lula nos surpreendeu e ela poderá fazer o mesmo. Penso que ela terá outro perfil. Seu foco serão os assuntos internos. Ela tem uma agenda bem mais complicada que a de seu antecessor. Terá que lidar com gargalos na infraestrutura e com o pré-sal.

Dilma não é uma figura popular como Lula.Isso muda a imagem do Brasil lá fora?
Perdi a conta das tantas vezes que abri um jornal americano para ler que "a nova presidente do Brasil é uma ex-guerrilheira". Nunca li isso em Paris. Os europeus simplesmente não se referem a Dilma nesses termos. Recebi de um grupo direitista americano a ficha de Dilma quando foi presa pela ditadura militar. Quão ridículo é isso? Nós todos éramos diferentes na década de 60. Infelizmente, os conservadores do Congresso americano, agora mais poderosos depois das eleições, compraram a ideia de que o Brasil seja agora uma nova Venezuela. Mas a Casa Branca não pensa assim. E uma embaixada brasileira competente poderá evitar a construção dessa falsa imagem do país.

Sobre a Amazônia, o embaixador Sobel teria caracterizado a preocupação brasileira de "paranoica". Qual é o peso dessa revelação?
Eu não diria que é paranoica, mas li o Plano Nacional de Defesa inteiro, assim que saiu - devo ter sido um dos poucos - e, de fato, há uma preocupação grande com a segurança da Amazônia. Mas isso tem explicação histórica. Nos últimos 400 anos, seja sob o Império ou a República, o governo brasileiro sempre se preocupou com isso, não é novidade. A Amazônia, chamada de "pulmão do mundo", sempre foi difícil de controlar, tendo em vista a mineração, o desmatamento e o crescente avanço da fronteira agrícola. Além disso, por ter fronteiras com vários países torna-se via de contrabando de drogas. Por isso, há reforço militar na região. Dilma terá que focar esforços na questão de segurança das fronteira. E manter o ministro jobim na Defesa foi correto porque ele tem boas relações com Washington.

Pois o ministro Jobim surgiu como um personagem central dos despachos do WikiLeaks. A revelação de que ele teria comentado sobre um tumor de Evo Morales, além de ter dito que o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, "odeia os Estados Unidos", causou desconforto. O senhor calcula que esses vazamentos venham a ter relevância?
O problema é que eles demonstraram que tem muita gente falando sobre o que não deve para quem não pode. E que as pessoas deveriam ter mais cuidado quando veiculam suas opiniões. A diplomacia, de modo geral, terá que mudar. Particularmente embaixadores politicamente apontados, ou seja, os que não são funcionários de carreira como no Itamaraty, terão que ser cuidadosamente orientados sobre o que não podem falar. Por exemplo, não podem relatar rumores, apenas fatos. E fatos baseados em política, não em personalidade. Muitos desses despachos se concentram na personalidades dos líderes, como aconteceu com documentos enviados da Argentina, tratando do quadro de ansiedade de Cristina Kirchner e levantando hipóteses sobre sua saúde mental. Isso é coisa que um diplomata brasileiro, de carreira, sabe que não pode pôr no papel. Diplomatas americanos falam demais. Suspeito que muitos assinem relatórios escritos por funcionários juniores sem lê-los e sem entender as implicações de seus atos.

Na semana passada, o Exército e a Marinha foram acionados para combater o tráfico nos morros do Rio. Não houve menção a pedir ajuda aos EUA para resolver a questão como fizeram a Colômbia com as Farc e o México com os cartéis. Existe maior resistência do Brasil em relação à ingerência dos EUA na questão da segurança interna?
A situação da Colômbia é complicada por conta da Venezuela, com quem os EUA têm péssimas relações. Entre México e EUA existe uma fronteira de 2 mil quilômetros, e a situação ali é trágica, o que, é claro, também preocupa os americanos. Agora, o Brasil parece estar muito mais confortável para lidar com os seus problemas internos sem se voltar a atores estrangeiros. A convocação do Exército para ocupar o Complexo do Alemão foi muito importante. O governo parece estar finalmente se concentrando na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Confesso que estava um tanto preocupado com isso.

Qual era sua preocupação?
A Copa de 2014 é particularmente importante para o brasileiros. Vocês tentarão se recuperar do desempenho que tiveram na África do Sul. O desafio maior não é o dinheiro. Há 20 anos, o mundo teria se preocupado com a possibilidade de o Brasil não ter como financiar esses eventos. Hoje, não. A questão é se vocês conseguirão entregar os aeroportos, as estradas e a rede hoteleira necessária para receber os visitantes. O Brasil se saiu bem nos Jogos Pan-Americanos, mas por pouco. E, em 2014 e 2016, o trabalho exigido será bem maior.

O interesse do Brasil por um assento no Conselho de Segurança foi citado como ‘obsessão’ pelo representante da missão americana aqui. Em visita à Índia, Obama disse apoiar aspirações semelhantes daquele país. Deveria fazer o mesmo com o Brasil?
A relação dos EUA com a Índia é estratégica por causa da situação instável no Paquistão, Afeganistão e China. Por isso, a atitude de Obama. Na América Latina, são poucas as situações de fato preocupantes para a Casa Branca. É difícil para os brasileiros entenderem que, por bem ou por mal, o Brasil não é ameaça para ninguém.

Em janeiro, um documento da embaixada americana em Paris chamou o Brasil de ‘ingênuo’ por tentar negociar com o Irã. Já Celso Amorim disse que o acordo ‘entrará para a história como a inauguração de um mundo multipolar’ e ele ‘não vai cobrar direito autoral’. Até que ponto a posição do Brasil em relação ao Irã pode ter sido prejudicial para a relação com os EUA?
Falando com um ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil, cujo nome não vou revelar, ele me disse que Obama mandou uma carta a Lula, que foi interpretada pelo governo brasileiro como sinal verde para prosseguir nas negociações com o Irã. E a mesma carta foi entendida por Washington como sinal amarelo: "Cuidado, Brasil, não faça nada sem nos consultar". Foi uma má interpretação da parte de ambos os países. O que me surpreende é que a Turquia não tenha sido repreendida pelos EUA, enquanto o Brasil foi. E a Turquia é um parceiro estratégico, faz fronteira com o Iraque, é membro da Otan e pleiteia uma cadeira na UE. Essas rusgas podem se tornar mesquinhas. A secretária de Estado Hillary Clinton, por sua vez, fez um discurso no mês passado no Conselho de Relações Exteriores em que falou das importantes alianças e citou Rússia, Índia e China, três membros do Bric. Não mencionou o Brasil. Esse é o tipo de coisa que Washington não deveria fazer. A demora de dez meses para instalar no Brasil o embaixador Shannon foi também uma atitude ridícula. O Brasil nunca deixa sua embaixada em Washington vazia mais do que duas semanas.

O WikiLeaks revelou que o governo Obama está preocupado com a comunidade islâmica no Brasil. Outros documentos responsabilizavam Dilma Rousseff, na época chefe da Casa Civil, por derrubar, por razões ‘ideológicas’, projeto de lei de 2007 que reforçaria o combate ao terrorismo no País. Como o senhor avalia a atitude americana?
Não entendo por que os EUA acham que o Brasil precise de uma política para o terrorismo. Não há nenhuma ameaça terrorista na América Latina. Washington não entende que o Brasil não seja um país ideológico. É um país para onde todo mundo migra. Em muitos aspectos, o Brasil é mais um caldeirão racial do que os EUA, que gostam de se pensar como o grande caldeirão do mundo, o que de fato fomos, há cem anos.

O que seria o ‘novo Brasil’ ao qual o senhor se refere no título de seu novo livro?

Primeiro precisamos entender o que era o "velho Brasil": incompetente, sempre em déficit e em crise econômica. Mas, a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal e do controle da inflação começou a emergir um novo país. Lula teve sorte. Recebeu uma economia em estado decente, não soberba, mas decente. E herdou a era de boom das commodities. O Brasil viveu bons anos ultimamente. Conseguiu aumentar reservas, subir o índice de investimento e teve decisões acertadas, como a de colocar, e manter, Henrique Meirelles no comando do Banco Central. Fora isso, pela primeira vez desde a chegada de Pedro Álvares Cabral vocês estão reduzindo a pobreza e estão aí os efeitos do Bolsa-Família no governo Lula. Enfim, o Brasil está no mapa.




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Re: GEOPOLÍTICA

#3180 Mensagem por Penguin » Dom Dez 05, 2010 9:07 pm

FSP, 5/12/2010 - 16h51
EUA expandiram espionagem direta, revelam telegramas vazados pelo WikiLeaks
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ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

A avalanche incessante de informações vinda à tona com o vazamento de documentos dos EUA no site WikiLeaks expôs ao menos uma evolução importante das práticas da diplomacia americana: a expansão das tarefas de espionagem direta.

Diplomatas foram orientados a coletar dados biométricos, números de cartões de crédito e até DNA de autoridades estrangeiras.

Os pedidos foram requisitados a diplomatas alocados em diversos países, e chegaram até à ONU (Organização das Nações Unidas), onde a prática é expressamente proibida por convenções.

As ordens foram feitas em nome da secretária de Estado, Hillary Clinton, e da embaixadora do país na ONU, Susan Rice.

As revelações estão no seio dos cerca de 250 mil despachos diplomáticos sigilosos dos EUA que estão sendo publicados gradualmente no WikiLeaks há uma semana.

Não surpreende que diplomatas façam coleta de dados --é parte intrínseca do trabalho--, mas ficou claro que os limites entre diplomacia e espionagem estão em uma zona cada vez mais cinzenta.

"Posso dizer que nunca recebi nem ouvi falar de um pedido desse tipo em meus 36 anos no Departamento de Estado", disse à Folha o diplomata americano aposentado Howard Schaffer, 81, atual conselheiro do Instituto para Estudo da Diplomacia da Universidade Georgetown.

"Claro que pediam informações, mas não esses dados. Me parece algo novo", afirmou.

Para alguns analistas, o esforço dos EUA em grampear amigos e inimigos é uma resposta à perda gradual de poder e influência.

Seumas Milne, colunista e editor do jornal britânico "The Guardian", afirma que as ações "mostram como o império americano começou a perder o rumo quando o momento do mundo unipolar pós-Guerra Fria passou, Estados antigamente dependentes como a Turquia resolveram andar sozinhos e poderes regionais como a China começaram a fazer sua presença global mais sentida".

Fred Burton, ex-membro dos serviços de segurança diplomáticos e atual analista da empresa de inteligência Stratfor, diz que a avaliação tem limites. "Varia de acordo com as relações diplomáticas com cada país."

O Departamento de Estado dos EUA tentou minimizar o impacto das revelações. "Nossos diplomatas não são ativos de inteligência", disse o porta-voz P.J. Crowley. "Eles coletam algumas informações, como fazem diplomatas de todos os países."

Há quem argumente que o caso apenas escancarou uma prática antiga. "As linhas entre a diplomacia e a espionagem sempre foram tênues", disse James Lindsay, vice-presidente sênior do Council on Foreign Relations (CFR). "Alguns tipos de dados não eram possíveis de ser coletados no passado, a diferença está aí", complementa.

Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos EUA, diz que sempre falou ao telefone e fez comunicações em Washington "partindo do princípio de que estava tudo grampeado".

Segundo ele, é "notório que os EUA são particularmente ativos em espionagem internacional".
O fato de que espionam aliados também seria normal. Para Burton, "não existe processo de inteligência amigável". "Nessas horas, não existem aliados."




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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