Estou a falar das favelas Portuguesas que estão em vias de extinção. E mesmo essas são mais um modo de vida do que sinal de pobreza. O que distingue muitas casas dessas das outras é não terem projecto e o terreno onde foram construídas não ser originalmente de quem construiu.
Eu morava perto de uma dessas favelas. Para já não era perigosos para a vizinhança. Muitas das pessoas que moravam lá, trabalhavam. Eu lembro-me de ver algumas que tinham antenas parabólicas e bons acabamentos interiores que eu passava pelo meio de bicicleta e conseguia-se ver o interior das casas. Não sei se aí no Brasil os nomes são os mesmos, mas estou a falar em acabamentos interiores em estuque e painéis de azulejo nas paredes, o chamado lambrim. Antes que perguntem, como eu morava ali perto e andei com alguns dos moradores na escola, podia passar lá à vontade.
Muitas das pessoas que moravam ali, tinham dinheiro para comprar uma casa mas tinham-se habituado aquele modo de vida. Electricidade roubada do poste (de vez em quando morria um na tentativa) e água que era transportada em bidons de 200 litros do chafariz mais próximo, de carro obviamente.
Hoje em dia, essas favelas foram substituídas por bairros sociais, esses sim são perigosos porque concentram as pessoas em prédios, que são trazidas de vários locais, não formando uma verdadeira comunidade. Depois é ver os gangs a nascer e crescer.
Hoje em dia, essas pessoas, muitas legitimamente e outras nem tanto, tem as necessidades básicas cobertas. Está a aparecer outro tipo de pobreza que é muito grave. São as pessoas que tem emprego, casa e carro mas com a crise tem o rendimento reduzido com as contas a aumentarem. Quase todos dias é uma coisa nova. (Acabei de ver à minutos que vou pagar mais uma taxa de ocupação do solo, que é cobrada à companhia de gás que decidiu repassar essa despesa para o consumidor.)
Muitas pessoas estão com os salários estagnados e tem os juros a subir, além de agravamentos de impostos, aumento das despesas com os filhos, etc. Muitos estão num ponto que para não perderem a casa, cortam na comida ou simplesmente não aguentam e vão à falência. Para esses a ajuda do estado é zero, apesar de pagarem uma boa dose de impostos.
Os trabalhadores independentes então estão muito mal. Todos os que prestavam serviços à classe média ou empresas que podem ser suprimidos, são. Desde entregas de pão a casa, design, massagens e "qualquercoisoterapias" tem cada vez menos clientes e os que tem, estão cada vez menos dispostos a pagar bem.
Túlio, eu sei da realidade desses favelados felizes aqui. Se tu tiveres uma torneira estragada ou pagas a alguém ou compras uma e substituis. Já os "favelados" vão à câmara municipal e exigem que se lhes substitua a torneira pela sétima vez este mês e não adianta dizer que não podem pôr o pé a apoiar-se nela quando colocam coisas em cima do armário da cozinha. Os 30 euros de renda que pagam (mesmo que tenham 3 meses em atraso) dão-lhe esse direito.
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