Túlio escreveu: Cupincha, não é o que estou vendo ao meu redor (Litoral Norte do RS) nem é coerente com o que pesquisei ano passado (4º semestre), nem de longe. Tive a ideia, durante um dos constantes apagões que assolam a região, de me livrar dessa josta de CEEE. Fim de conta de luz, fim de apagão. E fui pesquisar, não só na internet mas com gente que conheço e trabalha com eletricidade e construção; até minha filhoca, que se forma em Engenharia Civil no fim deste ano, não escapou dos interrogatórios. Bueno, o que tenho visto/ouvido/lido?
Primeiro, não é tão simples e barato como pareces pensar, só botar uns painéis (caros pra burro, aliás) no lugar do telhado ou mesmo em cima dele. Segundo a extremamente burocratizada legislação que temos, é puro INFERNO! Tem que mudar um monte na instalação elétrica (quase tudo, na verdade), até o relógio é de outro modelo. Tem uma central também, da qual falo a seguir.
Realmente não sei como as tecnologias estão agora com relação ao custo inicial, manutenção e eficiência, mas ano passado mesmo estive em uma feira no interior de Minas Gerais e havia não apenas uma mas 3 empresas diferentes oferecendo soluções que incluíam (e combinavam) coletores solares para aquecimento, células fotovoltaicas e geradores eólicos para uso doméstico. Segundo eles a ideia seria empregá-los em chácaras, sítios ou pequenas fazendas, e os custos não eram nada proibitivos. Considerando uma potência média de 2000W (mais do que o suficiente para alimentar uma residência comum) um sistema inteiro instalado (com um catavento e painéis solares) ficava em torno de R$8 mil.
Não é barato, mas também não é nada completamente absurdo. Com meu consumo em casa eu pagaria o investimento em menos de 5 anos, e a garantia oferecida para todos os componentes era de 10 anos.
Segundo, para se livrar do apagão ainda tem que comprar e mandar instalar um troço feito com baterias em série (que, pelo tamanho, me parecem de caminhão), as quais estocam a energia não aproveitada. A acima referida central controla o fluxo, ou seja, a energia desce dos painéis, passa por um tipo de transformador, vai para as baterias, daí a central percebe que estão carregadas e passa a transferir para a rede externa tudo o que não for usado na residência. O tale de novo relógio controla a diferença entre o que eu eventualmente receber da rua e o que eu enviar. Se der apagão a central desconecta a minha transmissão para proteger os técnicos que trabalham nos reparos.
Acho que é aqui que você está se embaralhando.
Não se imagina mais um sistema assim totalmente independente, sem depender da rede e usando energia armazenada em baterias, pois só os conversores e as baterias já custariam sozinhos mais que o dobro do restante do sistema! E as baterias tem vida bem mais curta do que o sistema de geração e controle. Aí sim a coisa fica inviável.
Todos os sistemas que eu vi, e também o que meu conhecido comercializa, trabalham com geração local integrada à rede comercial. Todo o excesso que for gerado (por exemplo, a energia gerada pelas células foto-voltaicas quando não há ninguém em casa, ou a do catavento gerada à noite, quando quase tudo está desligado) é imediatamente transmitida para a linha comercial, por um custo/Kwh equivalente ao cobrado pelas próprias distribuidoras. Isso vai gerando créditos para o produtor local de energia. E quando você precisar de mais energia do que o seu sistema pode gerar (por exemplo quando minha mulher e eu ligarmos ao mesmo tempo o ferro de passar, chuveiro elétrico e a serra tico-tico), aí o controle capta da rede pelo preço padrão o excesso de potência que o seu sistema de geração local não pode fornecer. No final do mês é feito um balanço do que entrou e do que saiu, e você paga a diferença à favor da distribuidora, se houver. Se a diferença for ao seu favor, fica acumulada como crédito para o mês seguinte (pelo que entendi fica acumulada por até três meses). Isso é automático, o próprio relógio inteligente que vem com o sistema faz a conta e a companhia te manda o boleto informando quanto precisa pagar naquele mês ou qual é o seu crédito acumulado, o que for o caso.
Assim sequer é preciso ter a capacidade de gerar toda a potência que você pode precisar utilizar em um dado instante específico, mas apenas uma média que seja ligeiramente superior ao seu consumo médio mensal para a sua conta de luz no final do mês já vir zerada. E isso derruba enormemente o custo inicial da instalação, já que o consumo médio em geral é de apenas 1/5 a 1/3 do de pico. É claro que se a distribuidora falhar e houver um apagão você só poderá contar com a própria energia que produzir, e não será possível ligar tudo o que você quiser ao mesmo tempo. Mas sua geladeira, ar condicionado e televisão, por exemplo, poderão continuar a operar sem problemas enquanto houver algum sol e/ou algum vento (ou se você tiver uma pequena queda d'água na propriedade e colocar uma turbina hidráulica).
Em terceiro, volto à legislação: tentes entender aquilo! Se eu tiver vendido energia à CEEE, achas que eles automaticamente me creditam na conta, tipo uma conta de luz às avessas? Necas, é uma papelada dos infernos, com prazos e formatos, anexos e comprovantes, é de ficar DOIDO!
Abandonei a ideia. Foi daí que saí perguntando aos Colegas sobre investimentos...
A legislação já prevê tudo isso, e os equipamentos necessários para ligar a produção local à rede comercial já estão disponíveis e à venda sem problemas. Não está previsto que você recebe retorno em espécie, para isso é necessário se cadastrar não como consumidor e sim como produtor, e aí a burocracia é praticamente a mesma que a de uma empresa comercial de qualquer ramo (ou seja, muita mesmo
).
Mas a ideia não é ficar rico vendendo energia, e sim zerar a conta e ter um certo nível de segurança em caso de apagão geral. E para isso a coisa já é perfeitamente viável hoje.
Leandro G. Card