Ziba escreveu:Eu não penso nem em um programa de satélites para ser competitivo, mas para nos manter no jogo, para uso próprio mesmo. O fato é que grande parte dos lançamentos já são Russos. Com a entrada da SpaceX no mercado as coisas tendem a diminuir ainda mais. Se a ideia fosse desenvolver, em conjunto, capacidade para ICBMs eu até entenderia, mas como o pensamento é de se manter uma nação sem artefato nuclear, também não vejo motivos para desenvolver tal coisa.
Desenvolver tecnologia para ICBM`s é o motivo número 1 para um país iniciar um programa espacial, e este foi o objetivo que levou o Brasil a entrar nessa. Mas depois do abandono da ideia de podermos um dia desenvolver um arsenal nuclear após o final do governo militar este objetivo foi abandonado, e depois disso nosso programa de foguetes realmente perdeu totalmente o rumo.
Logo, um programa focado apenas em satélites, tendem a direcionar os esforços em apenas um ponto em vez de pulverizá-lo em diversos esforços mal gerenciados como temos atualmente.
Se o Brasil fosse um país sério, acho que o ideal seria um programa simples, como o Shavit/Ofeq Israelense. Deveríamos jogar tudo que fizemos até agora pela janela, criar um lançador simples e pequeno e uma família de satélites também simples... o próximo passo fica para depois
Como eu já disse, acho que um programa apenas de satélites, sem capacidade de lançamento autônoma, é um programa capenga, que tem possibilidade de cumprir apenas parte dos objetivos de um verdadeiro programa espacial. E cria também problemas em termos de justificativas, afinal, se vamos gastar centenas de milhões comprando lançamentos lá fora para nossos satélites meia-boca porque não comprar logo os satélites prontos que quem sabe fazê-los melhor e mais baratos? Estamos fazendo isso com o SGB, porque não com todos os demais satélites que precisarmos?
Por outro lado, o programa do jeito que está não vai a lugar nenhum. Gastamos dinheiro com bobagens como a ACS e o VLS-1 e mantemos centros puramente acadêmicos como o INPE e o IAE sem nem sequer acharmos estranho quando projetos são adiados por décadas à fio sem mostrar nenhum resultado ou quando perdemos capacidades que eram ditas imprescindíveis e nada acontece. Não temos nenhum planejamento consistente para o futuro, e nem sequer uma "lista de desejos" séria do que gostaríamos que nosso programa espacial fosse capaz. O único programa que pode vir a ter algum futuro (e que aliás é algo no bem no sentido que você sugere) é o VLM, o qual só existe por iniciativa de uma agência de pesquisas alemã
. A herança que temos hoje do que foi um dia nosso programa espacial (o VLS, Alcântara, os programas de satélites experimentais como o Sara e a PMM, etc...) e as pessoas envolvidas com eles ao invés de servirem como base para avançarmos para a frente hoje funcionam apenas como âncoras nos prendendo a um passado que nunca chegou a se realizar, e ficam como uma barreira de sombras à nossa frente sem nos deixar vislumbrar nenhum futuro.
Nestas condições nosso programa espacial como um todo é uma absoluta inutilidade e pior, um empecilho para que se pense de forma realmente séria no futuro do país no espaço. Por isso é minha opinião (que já expressei antes mais de uma vez) que ele deveria ser SUMARIAMENTE ENCERRADO, com o desmonte ou fechamento de todas as instalações dedicadas a ele (inclusive a base de Alcântara), a transferência de técnicos e cientistas para universidades e centros de pesquisa quaisquer que os pudessem receber e a desativação da Agência Espacial Brasileira. Todas as necessidades de serviços espaciais que tivermos deveriam ser adquiridas de fornecedores internacionais através de concorrências abertas que garantissem o melhor custo-benefício, e os planos de se obter alguns recursos que gostaríamos de possuir e que provavelmente não poderiam ser atendidos por terceiros (como reconhecimento militar e comunicações sigilosas seguras) deveriam ser abandonados e substituídos por outras formas de se obter resultados equivalentes por meios não espaciais.
E daqui a 10 ou 20 anos, quando a poeira estivesse assentada e não houvesse mais nenhum resquício das nossas malfadadas iniciativas no setor espacial para distorcer nossa percepção e desviar nossos recursos, então sim, poderíamos se fosse o caso começar novamente a montar do zero um programa espacial totalmente novo, focando nos objetivos corretos que um programa deste tipo deve buscar e na realidade tecnológica, industrial e geopolítica do Brasil no momento, ao invés de numa série de relíquias de coisas que gostaríamos de ter feito funcionar décadas atrás mas que como nunca chegaram a ser realidade nos assombram até hoje. E que enquanto existirem continuarão impedindo que possamos vislumbrar qualquer futuro sólido para o Brasil no espaço.
Leandro G. Card