Clermont escreveu:Realmente, já li por alto que Stalin favorecia um governo de coalizão nacional, chefiado por Chiang Kai-Shek. Pelo menos, na teoria. Afinal, o mundo estava em guerra e, em nome da aliança com os anglo-americanos, suponho que não pegaria bem a União Soviética apoiar um movimento subversivo contra o governo reconhecido da China, apoiado por esses mesmos anglo-americanos.
Isto não é verdade porque o Governo Americano reconhecia o movimento comunista e por diversas vezes tentou fazer com que Chiang Kai-Shek parasse de atacar os comunistas e atacasse as forças japonesas e era somente para isto que os americanos enviaram armamentos e não para a caça as bruxas comunistas.
Na teoria, os nacionalistas deveriam dar parte do material bélico aos comunistas para combater os japoneses, mas isto nunca ocorreu. Apesar disto, os comunistas reuniram muitos equipamentos bélicos que os nacionalistas abandonavam após breves combates contra as númericamente inferiores tropas comunistas. De fato, somente os comunistas combateram as forças japonesas, Chiang raramente atacava-os poupando recursos para mais uma de suas malfadadas "Campanhas de Extermínio".
Clermont escreveu:Além do mais, Stalin não acreditava na competência dos comunistas chineses - típica sensação de superioridade ocidental - para derrotar o governo nacionalista.
Stalin de fato nunca botou fé em Mao Tsé Tung e o tratou como um mero camponês quando o viu pela primeira vez. Este talvez foi um dos grandes motivos da animosidade entre os dois líderes comunistas.
Clermont escreveu:Porém, o que se viu na prática foi um pouquinho diferente. Antes do fim de 1945, os soviéticos, ao invés de entregar ao legítimo governo chinês as regiões da Manchúria ocupadas por seus exércitos, as entregou ao controle das forças comunistas de Mao-Tse-Tung.
A situação não era bem essa. Chiang pediu várias vezes que os soviéticos postergassem sua saída da Manchúria, algo que eles adoraram pois estavam pilhando todo o maquinário das indústrias deixadas pelos japoneses. Chiang tinha mais de 300 mil homens(três exércitos) a postos para serem enviados a Manchúria só que não tinha meios para tal e estes estavam há mais de 2000 quilômetros de distância. Pediu ajuda aos americanos que através do comandante da 10ª Força Aérea, General Stratemeys, disponibilizou 235 C-47 para a empreitada mas começam a aparecer problemas, o que inviabilizou o uso dos aviões foi o fato de não haver aeroportos utilizavéis na região. O uso de vias férreas deixará de ser uma opção porque os comunistas haviam destruído todas as que iam para a Manchúria. Os nacionalistas resolveram usar os portos na região, e novamente pediram ajuda aos americanos e o Almirante Barbey foi encarregado do serviço só que os soviéticos não permitiram que estes navios aportassem porque no Tratado Sino-Soviético de 14 de Agosto de 1945, artigo 516, somente embarcações chinesas (ou soviéticas) podiam usar estes portos. Os nacionalistas pensaram em utilizar os pequenos portos pesqueiros na Baía de Liao-Tung, mas os soviéticos já os haviam abandonado e os comunistas tomaram conta de todos eles e dificilmente os deixariam. Os nacionalistas conseguiram realizar alguns desembarque ao longo na costa norte da China, mas nada que afetasse o equílibrio de poder.
Só havia um meio de alcançar a Manchúria, por terra. Isto significava lançar suas tropas pelas montanhas infestadas por comunistas ou na região costeira, um local chamado corredor Liao-King. Em 16 de Novembro de 1945, as forças blindadas nacionalistas conseguiram destruir a oposição no Liao-King e lentamente deslocam-se para a via férrea Beijing-Mukden. Em 24 de Novembro, os nacionalistas entram no porto de Hu-Lu-Tao que está dominado por forças comunistas que atrasaram o avanço nacionalista. Em 27 de Novembro, Chiang assina um acordo com a União Soviética no qual as forças do Marechal Malinovsky permaneceriam por mais tempo na região.
Clermont escreveu:E o que é mais vital: com isso, os comunistas botaram as mãos em todos os estoques de armamentos dos exércitos japoneses que ocuparam a região.
As forças comunistas capturaram vários depósitos de armas dos japoneses por conta própria.
Mao perguntou ao General Chu-Té sobre os soviéticos e este disse;
"Sempre os mesmos. Não levantam um dedo a nosso favor ou contra nós."
Os soviéticos só deram as armas japonesas para os comunistas quando as forças de Chiang já estavam derrotadas.
Em fotos, dificilmente você encontra armamento soviético nas fileiras comunistas. Armamento japonês é visto com certa frequência, mas o armamento americano predominou até 1949, porque este era capturado das forças que desertavam.
Clermont escreveu:Eu não sei sobre o fornecimento de armas legitimamente soviéticas, mas o fato de que as armas e equipamentos de quase um milhão de soldados japoneses terem caído nas mãos dos guerrilheiros de Mao deve ter feito uma grande diferença na guerra civil que se seguiu.
Eu já acho que as armas americanas capturadas em maior quantidade na fase final da guerra civil ajudaram a selar o destino dos nacionalistas.
Clermont escreveu:Além do mais, imaginemos: tendo a possibilidade de escolher entre uma China sob controle de um governante amigo dos americanos ou uma China sob controle de um governante comunista que ele pudesse controlar, o que teria feito Stalin mais feliz?.
Por incrível que pareça, Stalin achava que o avanço do comunismo na China estaria mais consolidado com Chang do que com Mao. Stalin era um cara estranho. Stalin nunca acreditou que a revolução de camponeses de Mao daria certo.
Clermont escreveu:Tudo bem: talvez Mao-Tse-Tung não tenha dado mole e se deixado "controlar" por Stalin, mas isso é outra história...
Dá uma história e tanto o conflito de ego entre Stalin e Mao.