Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
O mundo não quer Wolf, eles é que cavaram a cova, entraram nela e puxaram a terra sobre eles mesmos.
Ainda bem que não seguimos a linha FHC de seguir unidos umbilicalmente aos EUA. Tomara que, cada vez mais, diversifiquemos nossas relações.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Estou comentando esse texto, vão a página 2 que vocês acham, foi postado pelo véio, Túlio. Não vou postar aqui por que é muito longo.
1 - Os EUA são a locometiva do mundo a mais de 60 anos. Porém, estão perdendo proporcionalmente o status de locomotiva e centro da economia mundial, especialmente após a década de 1970. Hoje em dia, o mundo é muito mais diversificado do que era no passado próximo, países emergentes como China, Índia, Rússia, países do Leste Asiático e, mais recentemente, da América Latina (sobretudo Brasil) estão se tornando grandes mercados e produtores. Isso decorre da própria adequação a rede de poder norte-americana, de uma forma ou outra, eles conseguiram. Tal como proferiu o grande especulador George Soros, não vai provovar uma crise sem precedentes, mas, sim, impulsionar a maior integração entre as economias emergentes. E, desse modo, acelerar o processo de diversificação da economia mundial e dos centros de poder, em detrimento aos EUA.
2 - O Brasil e outros países mantém reservas em dólares para conquistar a confiabilidade dos investidores internacionais e, assim, atrair investimentos externos e reduzir os custos de financiamento. Agora, por que a maioria das reservas é constituida de dólares? Por que a maioria da maioria do comércio e fluxo de capitais no mundo ainda ser feito em dólares. Por outro lado, enquanto países emergentes do Sudeste Asiático (inclusive a China) e, mais recentemente, da América Latina (especialmente Brasil) e outros emergentes (por exemplo, Rússia), ajudam a manter o dólar como a base do sistema monetário internacional e, consequentemente, a posição central dos EUA e seus déficits extenos e públicos. Nesse arranjo todos estão ganhando, por isso que se sustenta. E, lembrem, os países que possuem reservas em dólares, normalmente tem grandes monentantes investidos em títulos da dívida de outros países, especialmente os EUA. E, assim, representa um fator extra de segurança ao investidores.
3 - O mercado interno brasileiro está ganhando musculatura, e não é algo necessariamente ruim ter déficits com o exterior. O que interessa é manter as exportações e importações num nível semelhante, assim, mesmo que apresente déficits, numa crise as importações se reduzem e começa a ter superávists comerciais. Além do que a atração de capitais mais que compensa os déficits. No fundo todos estão ganhando. A fuga de capitais se refere basicamente aos especulativos (hot money) pode impactar no curto prazo, mas não serão tão duros e catastróficos.
4 - Essa afirmação é interessante: "à desregulamentação e à liberdade de ação do mercado financeiro nos últimos anos, quando atuou de maneira não muito previsível ou clara". Isso é lógico. Se o mercado existe liberdade de fluxo de capitais e desregulamentação financeira, os agentes vão atrás de maiores ganhos e vão provocar flutuações. Entretanto, os países que apresentam solidez financeira, econômica e institucional tendem a sofrer menos e ter beneficios maiores, em relação aos que não têm.
O cara tem doutorado pela Unicamp, isso é selo de qualidade. Entretanto, vamos desconstruir o texto e contra-argumentarTúlio escreveu:Mas um texto, desta vez sobre o possível impacto no Brasil. Discordo em alguns pontos menores, mas em linhas gerais dá uma buena idéia do que está por vir...
Crise americana terá impacto pesado sobre países emergentes, analisa professor
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticia ... 44297/view
1 - Os EUA são a locometiva do mundo a mais de 60 anos. Porém, estão perdendo proporcionalmente o status de locomotiva e centro da economia mundial, especialmente após a década de 1970. Hoje em dia, o mundo é muito mais diversificado do que era no passado próximo, países emergentes como China, Índia, Rússia, países do Leste Asiático e, mais recentemente, da América Latina (sobretudo Brasil) estão se tornando grandes mercados e produtores. Isso decorre da própria adequação a rede de poder norte-americana, de uma forma ou outra, eles conseguiram. Tal como proferiu o grande especulador George Soros, não vai provovar uma crise sem precedentes, mas, sim, impulsionar a maior integração entre as economias emergentes. E, desse modo, acelerar o processo de diversificação da economia mundial e dos centros de poder, em detrimento aos EUA.
2 - O Brasil e outros países mantém reservas em dólares para conquistar a confiabilidade dos investidores internacionais e, assim, atrair investimentos externos e reduzir os custos de financiamento. Agora, por que a maioria das reservas é constituida de dólares? Por que a maioria da maioria do comércio e fluxo de capitais no mundo ainda ser feito em dólares. Por outro lado, enquanto países emergentes do Sudeste Asiático (inclusive a China) e, mais recentemente, da América Latina (especialmente Brasil) e outros emergentes (por exemplo, Rússia), ajudam a manter o dólar como a base do sistema monetário internacional e, consequentemente, a posição central dos EUA e seus déficits extenos e públicos. Nesse arranjo todos estão ganhando, por isso que se sustenta. E, lembrem, os países que possuem reservas em dólares, normalmente tem grandes monentantes investidos em títulos da dívida de outros países, especialmente os EUA. E, assim, representa um fator extra de segurança ao investidores.
3 - O mercado interno brasileiro está ganhando musculatura, e não é algo necessariamente ruim ter déficits com o exterior. O que interessa é manter as exportações e importações num nível semelhante, assim, mesmo que apresente déficits, numa crise as importações se reduzem e começa a ter superávists comerciais. Além do que a atração de capitais mais que compensa os déficits. No fundo todos estão ganhando. A fuga de capitais se refere basicamente aos especulativos (hot money) pode impactar no curto prazo, mas não serão tão duros e catastróficos.
4 - Essa afirmação é interessante: "à desregulamentação e à liberdade de ação do mercado financeiro nos últimos anos, quando atuou de maneira não muito previsível ou clara". Isso é lógico. Se o mercado existe liberdade de fluxo de capitais e desregulamentação financeira, os agentes vão atrás de maiores ganhos e vão provocar flutuações. Entretanto, os países que apresentam solidez financeira, econômica e institucional tendem a sofrer menos e ter beneficios maiores, em relação aos que não têm.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Agora vai pegar fogo...
Aliás, é por isso que um número crescente de investidores começa a voltar os seus olhares para um refúgio que ao longo de muitos séculos demonstrou a sua solidez: o ouro que, sintomaticamente, não pára de subir, sinal de que está sendo ininterruptamente comprado, aliás, gostaria de saber o quanto dos investimentos do Sr. Soros está migrando nesta direção, ao mesmo tempo em que tranquiliza a concorrência...
É o que penso, mas ainda tenho muito o que pesquisar. De qualquer modo, estou adorando o debate, muito bueno mesmo...
A única superpotência, os Estados Unidos, está acossada pelas dívidas e pelos déficits e afundada numa aventura militar no OM. Seu poder declina mas não aparecem à vista potências realmente capazes de substituí-la. A trama mundial de interesses, chamada globalização, encadeia à avariada (naufragante?) nave norte-americana os supostos pretendentes ao trono. A previsível decadência do dólar afeta estrategicamente o euro e o ien porque as economias que os respaldam encontram-se profundamente interrelacionadas com a ianque. Tampouco estão em melhor posição os países emergentes da periferia (Brasil, Rússia, China, Índia), todos eles fortemente dependentes dos mercados ocidentais. Para mim, o afundamento ianque leva ao fundo - ou ao menos para perto dele - os demais...born escreveu:
1 - Os EUA são a locometiva do mundo a mais de 60 anos. Porém, estão perdendo proporcionalmente o status de locomotiva e centro da economia mundial, especialmente após a década de 1970. Hoje em dia, o mundo é muito mais diversificado do que era no passado próximo, países emergentes como China, Índia, Rússia, países do Leste Asiático e, mais recentemente, da América Latina (sobretudo Brasil) estão se tornando grandes mercados e produtores. Isso decorre da própria adequação a rede de poder norte-americana, de uma forma ou outra, eles conseguiram. Tal como proferiu o grande especulador George Soros, não vai provovar uma crise sem precedentes, mas, sim, impulsionar a maior integração entre as economias emergentes. E, desse modo, acelerar o processo de diversificação da economia mundial e dos centros de poder, em detrimento aos EUA.
Aliás, é por isso que um número crescente de investidores começa a voltar os seus olhares para um refúgio que ao longo de muitos séculos demonstrou a sua solidez: o ouro que, sintomaticamente, não pára de subir, sinal de que está sendo ininterruptamente comprado, aliás, gostaria de saber o quanto dos investimentos do Sr. Soros está migrando nesta direção, ao mesmo tempo em que tranquiliza a concorrência...
Nem tanto a Deus, nem tanto ao diabo. Este ciclo de 'todos ganham' já dá sinais claros de esgotamento, o que esqueceste de dizer foi que o montante de dólares na economia mundial é muito maior do que o montante realmente existente desta moeda: segundo o Banco da Basiléia, só em 'derivados', ou seja, papéis, há cerca de seiscentos TRILHÕES de dólares (!!!) em circulação pelo mundo, aproximadamente uma dúzia de vezes o PIB mundial que, por sua vez, é o montante aproximado da dívida total dos EUA (pública e privada, interna e externa). Mas uma recessão como a que sem sombra de dúvida recairá sobre os EUA levará à lona o dólar, numa queda livre apavorante. E aí foi-se a segurança de quem os tinha (tem). Todo mundo cai junto...born escreveu: 2 - O Brasil e outros países mantém reservas em dólares para conquistar a confiabilidade dos investidores internacionais e, assim, atrair investimentos externos e reduzir os custos de financiamento. Agora, por que a maioria das reservas é constituida de dólares? Por que a maioria da maioria do comércio e fluxo de capitais no mundo ainda ser feito em dólares. Por outro lado, enquanto países emergentes do Sudeste Asiático (inclusive a China) e, mais recentemente, da América Latina (especialmente Brasil) e outros emergentes (por exemplo, Rússia), ajudam a manter o dólar como a base do sistema monetário internacional e, consequentemente, a posição central dos EUA e seus déficits extenos e públicos. Nesse arranjo todos estão ganhando, por isso que se sustenta. E, lembrem, os países que possuem reservas em dólares, normalmente tem grandes monentantes investidos em títulos da dívida de outros países, especialmente os EUA. E, assim, representa um fator extra de segurança ao investidores.
Aí sim, tocaste no ponto principal de minha própria discordância - que mencionei - sobre o artigo. O complicado vai ser equilibrar a balança com o dólar cotado a centavos de real - não, não é nada impossível, é até provável...born escreveu: 3 - O mercado interno brasileiro está ganhando musculatura, e não é algo necessariamente ruim ter déficits com o exterior. O que interessa é manter as exportações e importações num nível semelhante, assim, mesmo que apresente déficits, numa crise as importações se reduzem e começa a ter superávists comerciais. Além do que a atração de capitais mais que compensa os déficits. No fundo todos estão ganhando. A fuga de capitais se refere basicamente aos especulativos (hot money) pode impactar no curto prazo, mas não serão tão duros e catastróficos.
O problema é que essa solidez financeira e econômica (às quais se vincula estreitamente a solidez institucional) está estreitamente vinculada ao dólar. QED, há mais papéis do que dólares reais no mundo, um agravamento da crise de confiança nesta moeda trará o caos.born escreveu: 4 - Essa afirmação é interessante: "à desregulamentação e à liberdade de ação do mercado financeiro nos últimos anos, quando atuou de maneira não muito previsível ou clara". Isso é lógico. Se o mercado existe liberdade de fluxo de capitais e desregulamentação financeira, os agentes vão atrás de maiores ganhos e vão provocar flutuações. Entretanto, os países que apresentam solidez financeira, econômica e institucional tendem a sofrer menos e ter beneficios maiores, em relação aos que não têm.
É o que penso, mas ainda tenho muito o que pesquisar. De qualquer modo, estou adorando o debate, muito bueno mesmo...
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Texto interessantíssimo de...George Soros, para o Financial Times. Sinto, mas não encontrei em Português e sou preguiçoso demais para traduzir por escrito, ficando o texto, portanto, restrito aos colegas que, como eu, dominam ao menos razoavelmente o idioma de Shakespeare. Sorry...
Em linhas gerais, ele parece concordar um pouco comigo e um pouco contigo, Born véio...The worst market crisis in 60 years
By George Soros
Published: January 22 2008 19:57 | Last updated: January 22 2008 19:57
The current financial crisis was precipitated by a bubble in the US housing market. In some ways it resembles other crises that have occurred since the end of the second world war at intervals ranging from four to 10 years.
However, there is a profound difference: the current crisis marks the end of an era of credit expansion based on the dollar as the international reserve currency. The periodic crises were part of a larger boom-bust process. The current crisis is the culmination of a super-boom that has lasted for more than 60 years.
Boom-bust processes usually revolve around credit and always involve a bias or misconception. This is usually a failure to recognise a reflexive, circular connection between the willingness to lend and the value of the collateral. Ease of credit generates demand that pushes up the value of property, which in turn increases the amount of credit available. A bubble starts when people buy houses in the expectation that they can refinance their mortgages at a profit. The recent US housing boom is a case in point. The 60-year super-boom is a more complicated case.
Video: George Soros at Davos
The financier speaks to Chrystia Freeland, the FT’s US managing editor
Every time the credit expansion ran into trouble the financial authorities intervened, injecting liquidity and finding other ways to stimulate the economy. That created a system of asymmetric incentives also known as moral hazard, which encouraged ever greater credit expansion. The system was so successful that people came to believe in what former US president Ronald Reagan called the magic of the marketplace and I call market fundamentalism. Fundamentalists believe that markets tend towards equilibrium and the common interest is best served by allowing participants to pursue their self-interest. It is an obvious misconception, because it was the intervention of the authorities that prevented financial markets from breaking down, not the markets themselves. Nevertheless, market fundamentalism emerged as the dominant ideology in the 1980s, when financial markets started to become globalised and the US started to run a current account deficit.
Globalisation allowed the US to suck up the savings of the rest of the world and consume more than it produced. The US current account deficit reached 6.2 per cent of gross national product in 2006. The financial markets encouraged consumers to borrow by introducing ever more sophisticated instruments and more generous terms. The authorities aided and abetted the process by intervening whenever the global financial system was at risk. Since 1980, regulations have been progressively relaxed until they have practically disappeared.
The super-boom got out of hand when the new products became so complicated that the authorities could no longer calculate the risks and started relying on the risk management methods of the banks themselves. Similarly, the rating agencies relied on the information provided by the originators of synthetic products. It was a shocking abdication of responsibility.
Everything that could go wrong did. What started with subprime mortgages spread to all collateralised debt obligations, endangered municipal and mortgage insurance and reinsurance companies and threatened to unravel the multi-trillion-dollar credit default swap market. Investment banks’ commitments to leveraged buyouts became liabilities. Market-neutral hedge funds turned out not to be market-neutral and had to be unwound. The asset-backed commercial paper market came to a standstill and the special investment vehicles set up by banks to get mortgages off their balance sheets could no longer get outside financing. The final blow came when interbank lending, which is at the heart of the financial system, was disrupted because banks had to husband their resources and could not trust their counterparties. The central banks had to inject an unprecedented amount of money and extend credit on an unprecedented range of securities to a broader range of institutions than ever before. That made the crisis more severe than any since the second world war.
Credit expansion must now be followed by a period of contraction, because some of the new credit instruments and practices are unsound and unsustainable. The ability of the financial authorities to stimulate the economy is constrained by the unwillingness of the rest of the world to accumulate additional dollar reserves. Until recently, investors were hoping that the US Federal Reserve would do whatever it takes to avoid a recession, because that is what it did on previous occasions. Now they will have to realise that the Fed may no longer be in a position to do so. With oil, food and other commodities firm, and the renminbi appreciating somewhat faster, the Fed also has to worry about inflation. If federal funds were lowered beyond a certain point, the dollar would come under renewed pressure and long-term bonds would actually go up in yield. Where that point is, is impossible to determine. When it is reached, the ability of the Fed to stimulate the economy comes to an end.
Although a recession in the developed world is now more or less inevitable, China, India and some of the oil-producing countries are in a very strong countertrend. So, the current financial crisis is less likely to cause a global recession than a radical realignment of the global economy, with a relative decline of the US and the rise of China and other countries in the developing world.
The danger is that the resulting political tensions, including US protectionism, may disrupt the global economy and plunge the world into recession or worse.
The writer is chairman of Soros Fund Management
http://www.ft.com/cms/s/0/24f73610-c91e ... ck_check=1
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
pra mim entender um poco melhor. se a moeda americana realmente despencar assim o mundo não pode simplesmente igora-los mudando a moeda deles para outra tipo o Euro?
e nas reservas nacionais não pode mudar de dolar para ouro já que ele é, digamos, estável?
e nas reservas nacionais não pode mudar de dolar para ouro já que ele é, digamos, estável?
- soultrain
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
bruno mt,
Se isso acontecer, quando toda a gente estiver a trocar, o dolár vai cair fundo e no processo muitos países e empresas perderão muito. Por isso o dólar tem-se mantido à tona, porque é interesse de todo o mundo (sobretudo da China que tem reservas imensas), caso contrário já tinha despencado. Mas existe uma grande falta de liquidez no mercado global, faltam vários triliões de $.
Dois administradores de bancos Portugueses e vários políticos, confidenciaram-me que vem ai a crise por pelo menos 10 anos, a Europa vai começar a sentir em força em 2009 e os países emergentes um pouco depois, veremos.
[[]]'s
Se isso acontecer, quando toda a gente estiver a trocar, o dolár vai cair fundo e no processo muitos países e empresas perderão muito. Por isso o dólar tem-se mantido à tona, porque é interesse de todo o mundo (sobretudo da China que tem reservas imensas), caso contrário já tinha despencado. Mas existe uma grande falta de liquidez no mercado global, faltam vários triliões de $.
Dois administradores de bancos Portugueses e vários políticos, confidenciaram-me que vem ai a crise por pelo menos 10 anos, a Europa vai começar a sentir em força em 2009 e os países emergentes um pouco depois, veremos.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
O Born deixou isso claro, Bruno: o mundo todo tem suas reservas predominantemente em dólares, e eu acrescento que o primeiro dos grandes depositários da dívida ianque a converter ostensiva e maciçamente seus ativos em outra moeda ou ouro precipitará a crise e a alavancará a níveis jamais vistos, dado o estreito interrelacionamento entre as economias do mundo todo causado pela globalização.
Ademais, não existe ouro no mundo para trocar por todos os dólares existentes, reais e virtuais...
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Véio, túlio, seu pensamento sobre o futuro do dólar é semelhante a um cara chamado Ben Bernake, atualmente presidente do Federal Reserve. O caro senhor Bernanke é um acadêmico da Universidade de Berkeley, fez fama ao explicar o "por que" da Grande Depressão (1929-1933) junto com vários manos como o Barry Eichengreen, Peter Temin e outros, numa visão alternativa a tradicional mais clássica.
O Bernanke é um cara que sabe das coisas, muito mais de que comenta suas ações e não consegue compreender as suas justificativas. A suas prioridades são: (i) evitar uma crise bancária e quabradeira geral; (ii) combater a inflação e, assim, fortalecer o dólar; (iii) evitar uma recessão.
A prioridade (ii) de fortalecer o dólar significa que os EUA podem se manter como centro do sistema monetário internacional e manter suas extraodinárias vantagens. Segundo o camarada Eichengreen, as extraodinárias vantagens significam que os norte-americanos podem manter elevados níveis de consumo e endividamento. O maior consumo é explicado pela facilidade de crédito e de acesso a produtos e insumos (barateiam os produtos montados nos EUA) extrangeiros, a economia norte-americana se "calibrou" para trabalhar com um dólar forte. A facilidade de endividamento deriva do fato do dólar ser mundialmente aceito para transações internacionais, e nunca faltarão dólares para os EUA pagarem suas dívidas. Por isso, o risco de se emprestar para os EUA é zero, mas esse é um risco virtual. O resultado é que os EUA conseguem conviver com um enorme déficit externo e endividamento. Entretanto, no caso norte-americano atual, o que importa é a confinaça nos EUA e no dólar, na qual o principal fator é a condução das contas públicas, se estás são deficitárias crônicas, os investidores vão começar a desconfiar dos EUA e o dólar vai se desvalorizar.
Na visão de Eichengreen e outros, que contradiz a visão dos economistas neoclássicos (inclusive meu orientador de monitoria ) e da maioria dos comentaristas econômicos. Por que os neoclássicos (principalmente os piceretas que se escondem atrás dos estudos descritivos de equações matemática-estatisticas, que não tem base e são de soma zero), dizem que os EUA querem desvalorizar o dólar para equilibrar suas contas externas. Mas, de acordo com a visão de Eichengreen, isso é um absurdo. Por que o dólar desvalorizado vai levar a inflação, redução do crédito ao consumidor (impactando no bem-estar da população norte-americana) e ao governo (tanto para custear seus gastos quanto suas ações no exterior), e impulsionando a perda da posição central do dólar e dos EUA no sistema monetário internacional. Além do que a economia norte-americana se calibrou para trabalhar com um dólar forte, se o dólar se desvalorizar, não vai reduzir o déficit norte-americano com o exteiror, mas, sim, gerar inflação e recessão.
Trocar o dólar por outras moedas não é uma coisa fácil, por que ainda boa parte do comércio e fluxo de capitais é feito em dólares. Entretanto, com a diversificação do comércio internacional, outras moedas podem ser preferiveis tanto a nível regional quanto global. Por exemplo, no Mercosul pode se tornar interessante fechar os negócio em reais em vez de dólares. Ou, outro exemplo, o caso da Rússia, que pode manter boas reservas em euros por ser um grande fornecedor de petróleo e gás a Europa. Mas como amaioria do comércio mundial continua a ser fechado em dólares, os países são obrigados a manter grande reservas de dólares.
A diversificação do uso de moedas nas transações internacionais é esperada, tal como ocorreu no fim do século XIX, quando o franco francês e o marco alemão começaram a tomar espaço da libra britânica. Aliás, a diversificação do uso de moedas nas transações internacionais é um reflexo do aumento de poder, no sentido geral, de outros países em relação a potência hegemônica.
A globalização é uma invenção britânica, implementada no século XIX, para forar sua rede de poder mundial e integrar as cadeias produtivas de vários países. Depois de Duas Guerras mundiais, queda da Grã-Bretanha e ascensão dos EUA como potência hegemônica, a globalização volta a tona só que numa outra roupagem.
Túlio, tú tá argumentanto muito bem. Tá me dando mais trabalho que os malditos economista neoclássicos
O Bernanke é um cara que sabe das coisas, muito mais de que comenta suas ações e não consegue compreender as suas justificativas. A suas prioridades são: (i) evitar uma crise bancária e quabradeira geral; (ii) combater a inflação e, assim, fortalecer o dólar; (iii) evitar uma recessão.
A prioridade (ii) de fortalecer o dólar significa que os EUA podem se manter como centro do sistema monetário internacional e manter suas extraodinárias vantagens. Segundo o camarada Eichengreen, as extraodinárias vantagens significam que os norte-americanos podem manter elevados níveis de consumo e endividamento. O maior consumo é explicado pela facilidade de crédito e de acesso a produtos e insumos (barateiam os produtos montados nos EUA) extrangeiros, a economia norte-americana se "calibrou" para trabalhar com um dólar forte. A facilidade de endividamento deriva do fato do dólar ser mundialmente aceito para transações internacionais, e nunca faltarão dólares para os EUA pagarem suas dívidas. Por isso, o risco de se emprestar para os EUA é zero, mas esse é um risco virtual. O resultado é que os EUA conseguem conviver com um enorme déficit externo e endividamento. Entretanto, no caso norte-americano atual, o que importa é a confinaça nos EUA e no dólar, na qual o principal fator é a condução das contas públicas, se estás são deficitárias crônicas, os investidores vão começar a desconfiar dos EUA e o dólar vai se desvalorizar.
Na visão de Eichengreen e outros, que contradiz a visão dos economistas neoclássicos (inclusive meu orientador de monitoria ) e da maioria dos comentaristas econômicos. Por que os neoclássicos (principalmente os piceretas que se escondem atrás dos estudos descritivos de equações matemática-estatisticas, que não tem base e são de soma zero), dizem que os EUA querem desvalorizar o dólar para equilibrar suas contas externas. Mas, de acordo com a visão de Eichengreen, isso é um absurdo. Por que o dólar desvalorizado vai levar a inflação, redução do crédito ao consumidor (impactando no bem-estar da população norte-americana) e ao governo (tanto para custear seus gastos quanto suas ações no exterior), e impulsionando a perda da posição central do dólar e dos EUA no sistema monetário internacional. Além do que a economia norte-americana se calibrou para trabalhar com um dólar forte, se o dólar se desvalorizar, não vai reduzir o déficit norte-americano com o exteiror, mas, sim, gerar inflação e recessão.
Trocar o dólar por outras moedas não é uma coisa fácil, por que ainda boa parte do comércio e fluxo de capitais é feito em dólares. Entretanto, com a diversificação do comércio internacional, outras moedas podem ser preferiveis tanto a nível regional quanto global. Por exemplo, no Mercosul pode se tornar interessante fechar os negócio em reais em vez de dólares. Ou, outro exemplo, o caso da Rússia, que pode manter boas reservas em euros por ser um grande fornecedor de petróleo e gás a Europa. Mas como amaioria do comércio mundial continua a ser fechado em dólares, os países são obrigados a manter grande reservas de dólares.
A diversificação do uso de moedas nas transações internacionais é esperada, tal como ocorreu no fim do século XIX, quando o franco francês e o marco alemão começaram a tomar espaço da libra britânica. Aliás, a diversificação do uso de moedas nas transações internacionais é um reflexo do aumento de poder, no sentido geral, de outros países em relação a potência hegemônica.
A globalização é uma invenção britânica, implementada no século XIX, para forar sua rede de poder mundial e integrar as cadeias produtivas de vários países. Depois de Duas Guerras mundiais, queda da Grã-Bretanha e ascensão dos EUA como potência hegemônica, a globalização volta a tona só que numa outra roupagem.
Túlio, tú tá argumentanto muito bem. Tá me dando mais trabalho que os malditos economista neoclássicos
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
No caso do Sr. Bernake, sua linha de ação é que me incomoda: está diminuindo os juros ainda mais, o que leva MAIS PARA BAIXO o dólar, dada a fuga dos investidores para ativos mais rentáveis; num quadro recessivo com inflação (estagflação) como o que vivencia a sociedade norte-americana, isso me parece suicida, os combustíveis e alimentos não páram de subir, os salários estão estagnados e o desemprego em ascensão, baixar os juros só pode beneficiar aos banqueiros, que já estão sacando no balcão do FED - inacreditável, até não-banqueiros (como casas de corretagem) o estão fazendo, tal a liberalidade que se vê neste momento - para emprestar a juros maiores e ganharem no 'spread' ou, como também já está acontecendo, estão investindo em euros e ouro. Os ianques! Especulando contra sua própria moeda!!!
A meu ver, os bancos centrais internacionais (principalmente China e Japão, mas também Brasil), que são quem tradicionalmente sustenta os constantes déficits ianques (inclusive os - no mínimo - TRÊS TRILHÕES que já foram dispendidos na aventura no OM) comprando bônus e mais bônus, estão perto do esgotamento de sua capacidade de continuar a fazê-lo, além da perda constante de credibilidade do tesouro americano. Isso tudo vai empurrando o dólar ainda mais para baixo, como ficam os balanços de quem vê suas reservas se erodindo ao sabor da queda constante do valor internacional da moeda-lastro? Perdem credibilidade também, oras...
Para mim, cedo ou tarde o FED vai ter que se acostumar à idéia de tomar o amargo remédio que o FMI vem receitando tradicionalmente às economias do 'terceiro mundo' e isso vai trazer a pior recessão já vista, lá e no resto do planeta, dado o interrelacionamento econômico vigente. Será o fim do que conhecemos como 'American Way of Life', no meu pouco abalizado ponto de vista, afinal, não passo de um 'aprendiz de feiticeiro', e amador, ainda por cima...
Aliás, torno a citar um pedaço de um texto do GEAB - Global Europe Anticipation Bulletin - que postei acima:
A meu ver, os bancos centrais internacionais (principalmente China e Japão, mas também Brasil), que são quem tradicionalmente sustenta os constantes déficits ianques (inclusive os - no mínimo - TRÊS TRILHÕES que já foram dispendidos na aventura no OM) comprando bônus e mais bônus, estão perto do esgotamento de sua capacidade de continuar a fazê-lo, além da perda constante de credibilidade do tesouro americano. Isso tudo vai empurrando o dólar ainda mais para baixo, como ficam os balanços de quem vê suas reservas se erodindo ao sabor da queda constante do valor internacional da moeda-lastro? Perdem credibilidade também, oras...
Para mim, cedo ou tarde o FED vai ter que se acostumar à idéia de tomar o amargo remédio que o FMI vem receitando tradicionalmente às economias do 'terceiro mundo' e isso vai trazer a pior recessão já vista, lá e no resto do planeta, dado o interrelacionamento econômico vigente. Será o fim do que conhecemos como 'American Way of Life', no meu pouco abalizado ponto de vista, afinal, não passo de um 'aprendiz de feiticeiro', e amador, ainda por cima...
Aliás, torno a citar um pedaço de um texto do GEAB - Global Europe Anticipation Bulletin - que postei acima:
(...)Aliás, se porventura Washington tivesse realmente a intenção de tentar estabilizar o Dólar ou, mais ambicioso, de fazê-lo subir outra vez face às principais moedas mundiais, não haveria senão um único método, compreendendo dois aspectos: uma forte alta das taxas de juro do Fed e uma baixa drástica da criação monetária. Se as autoridades americanas decidissem executar esta política, a economia americana (real e financeira) pararia nas semanas que se seguissem: o mercado imobiliário cairia a zero sem créditos abordáveis e devido a uma explosão dos juros sobre as famílias endividadas a taxas variáveis, o consumo americano tornar-se-ia negativo (ou seja, recuaria mês após mês), as falências de empresas multiplicar-se-iam de maneira exponencial, Wall Street entraria em colapso sob o peso das suas dívidas múltiplas e sucumbiria à implosão imediata do mercado do CDS devido aos incumprimentos generalizados dos co-contratantes...
Estes acontecimentos, absolutamente certo no caso de uma ação voluntarista de Washingtn em favor do Dólar forte, são sem dúvida inaceitáveis para as autoridades americanas. Portanto, além de falar, e de se desacreditar ainda mais, elas nada farão. O método tradicional destas últimas décadas não é mais encarável: ninguém mais aceitará comprar Dólares maciçamente para salvar a divisa americana sem uma ação muito voluntarista (aquela descrita anteriormente) por parte de Washington. Como este não intervirá, o resto do mundo tirará as conclusões necessárias: cada um por si doravante. E não se pode esquecer em meados de Agosto de 2008, Pequim estará aliviada do constrangimento de fazer a todo o custo com que os Jogos Olímpicos tenham êxito. Portanto um grande número de opções "brutais", postas em fila de espera até os Jogos Olímpicos, vão retornar à superfície.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
O quê eu ia dizendo mesmo?
Um choque para a psique colectiva
Más notícias e corridas bancárias
por Mike Whitney [*]
A administração Bush vai enviar mais cheques de "estímulo" no futuro próximo. Simplesmente não há meio de contornar isto. O Fed está em apuros e não pode reduzir taxas de juros por medo de que os preços dos alimentos e da energia disparem para a estratosfera. Ao mesmo tempo, a economia está a encolher mais depressa do que alguém julgaria possível e sem sinais de retomada. Isto deixa os cheques de estímulo como o único meio de "premir a bomba" e manter o consumidor a continuar a gastar. Do contrário a actividade dos negócios ficaerá de rastos e a economia afundará. Não há outra opção.
A barragem diária de más notícias começa realmente a atingir os nervos das pessoas; isto é óbvio em todo o lado que se olhe. A maior parte das tagarelices da TV já eliminou a previsões bem humoradas sobre o mercado de acções e ninguém mais está a louvar o "impressionante poder do mercado livre". Eles sabem que as coisas estão más, realmente más. Eis porque o noticiário de negócios já não é apresentado como uma despreocupada produção artística de Bollywood com mulheres ondulantes e música exótica. Agora é mais como um filme de horror da classe B onde toda a gente acaba morta no fim.
Um difuso sentimento de melancolia ronda os estúdios de televisão assim como as bolsas de valores e os luxuosos apartamentos de cobertura no West End de Manhattan. É palpável. Este mesmo pressentimento agourento está a subir como uma nuvem nociva em todas as cidades do país. Toda a gente está a cortar o não essencial e a aparar a gordura do orçamento familiar. Os dias dos extravagantes gastos por impulso nos centros comerciais estão ultrapassados. Assim como as compras de grandes bilhetes aéreos e as viagens à Europa. A confiança do consumidor está numa baixa histórica, o rendimento disponível é uma coisa do passado, e os cartões de crédito estão no seu limite.
Nos últimos três meses o crédito bancário encolheu de forma mais rápida do que em qualquer momento desde 1948. Os bancos não estão a conceder empréstimos e as pessoas não estão a tomar emprestado. Isto é uma combinação letal. Quando a criação de crédito enfraquece, a economia claudica, o desemprego ascende e o índice de miséria sobe. Eis porque Bush despachará uma nova fornada de cheques de estímulo quer queira quer não. Está de costas contra a parede.
Na sexta-feira, depois de o mercado ter encerrado, o FDIC fechou mais dois bancos, o First Heritage Bank e o First National Bank. Duas semanas antes, os reguladores haviam tomado o controle do Indymac Bancorp a seguir a uma corrida de depositantes. O FDIC agora opera como uma unidade paramilitar invisível, posicionando suas tropas de choque nos fins de semana para fazer o seu trabalho sujo fora das vistas do público e em momentos que afectem em menor grau o mercado de acções. As razões para isto são óbvias; só há uma coisa que o governo odeia mais do que ver caixões mortuários com a bandeira estrelada nos noticiários da noite: é ver longas filas de pessoas desvairadas a esperarem impacientemente a fim de obter o que resta das suas poupanças no seu banco agora defunto. Filas nos bancos indicam quebra do sistema.
Corridas bancárias constituem um choque para a psique colectiva. Quando depositantes vêm uma corrida a um banco percebem que o seu dinheiro não está seguro. As pessoas não são loucas; elas podem suspeitar de trapaças. Quando a sua confiança se desvanece, isto estende-se a todo o sistema. Subitamente elas começam a questionar tudo o que outrora davam por garantido. Tornam-se cépticas quanto a instituições que, apenas uns poucos dias antes, pareciam rocha sólida.
Corridas bancárias são um impacto directo aos fundamentos do sistema de mercado livre. Não controlados, os tremores podem estender-se através de toda a sociedade e desencadear violentos levantamentos políticos, mesmo a revolução. O público pode não apreender o seu pleno significado, mas toda a gente em Washington está a prestar atenção. Eles consideram isto seriamente, muito seriamente.
Um artigo no San Francisco Business Times disse que a FDIC está preocupada acerca da divulgação de informação nos blogs da Internet. Eles prefeririam manter fora dos noticiários a informação acerca das perturbações no sistema bancário. Sheila Bar, presidente da Federal Deposit Insurance Corp., após a corrida ao Indymac resumiu as coisas assim:
"Os blogs estavam um bocado fora de controle. Estamos muito atentos à cobertura dos media e dos blogs no controle da desinformação. Tudo o que posso dizer é que vamos continuar à frente disto. A desinformação que veio à tona no fim de semana alimentou um bocado de medos entre os depositantes".
Será isto uma ameaça? A cura para um sistema bancário fracassado é capital adequado e supervisão prudente, não ameaças a críticos imparciais do sistema. Isso é asneira. A comissária Blair aparentemente acredita que os bloggers deveriam ser tratados do mesmo modo que os jornalistas no Iraque, os quais, se se desviarem mesmo ligeiramente do roteiro que diz "o incremento (surge) é um grande triunfo"m do Pentágono, encontrará a ponta enfumarada de um M-16 em algum não identificado posto de controle fora de Baquba.
Domingo passado, o secretário do Tesouro Henry Paulson tentou tranquilizar o público dizendo que o sistema bancário é saudável, enquanto prevenia o povo de mais perturbações pela frente:
"Penso que isto se prolongará por meses e que estamos a trabalhar a nossa saída ao longo deste período – claramente de meses. Mas, mais uma vez, é um sistema bancário seguro, um sistema bancário saudável. Nossos reguladores estão em cima disto. Trata-se de uma situação muito administrável".
Paulson está errado; o sistema bancário não é saudável nem está bem capitalizado.
Se a taxa de encerramentos de bancos continuar ao ritmo actual, em meados de 2009 haverá restrições a retiradas [de depósitos]. Pode-se apostar nisto.
Assim, enquanto o seu banco ainda tem dinheiro e pode processar os seus cheques, pode ser altura de liquidar dívidas, pagar impostos trimestrais e prestações de hipotecas em avanço, e pensar em ter dinheiro fora dos bancos (ouro, divisas estrangeiras), etc, antes que o seu dinheiro fique inacessível ou mesmo que se evapore! Não pense que todos os seus investimentos fora dos bancos estão imunes a esta tempestade. Exemplo: o dinheiro nos mercados de fundos mútuos, onde os americanos investiram US$3 milhões de milhões, não está coberto pelo seguro FDIC (entretanto, contas no mercado monetário oferecidas pelos bancos estão cobertas). Perdas recentes em alguns destes fundos mútuos do mercado monetário levam algumas companhias a apressar-se a arrolhar as perdas. Exemplo: a Legg Mason Inc. e o SunTrust Banks Inc., recentemente bombearam US$1,4 mil milhões cada um para dentro dos seus fundos de mercado monetário. O Bank of America Corp. injectou US$600 milhões.
Quanto às suas contas à ordem e a prazo, perceba que pode ter cinco contas diferentes no mesmo banco, mas o FDIC segura apenas indivíduos, não cada uma das contas, até US$100 mil. Colocar o seu dinheiro em diferentes contas no mesmo banco não proporciona necessariamente melhor garantia para os seus depósitos.
28/Julho/2008
[*] Economista, fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney07282008.html
Nota do Túlio: alguém acha que o orçamento militar ianque vai escapar disso?
Um choque para a psique colectiva
Más notícias e corridas bancárias
por Mike Whitney [*]
A administração Bush vai enviar mais cheques de "estímulo" no futuro próximo. Simplesmente não há meio de contornar isto. O Fed está em apuros e não pode reduzir taxas de juros por medo de que os preços dos alimentos e da energia disparem para a estratosfera. Ao mesmo tempo, a economia está a encolher mais depressa do que alguém julgaria possível e sem sinais de retomada. Isto deixa os cheques de estímulo como o único meio de "premir a bomba" e manter o consumidor a continuar a gastar. Do contrário a actividade dos negócios ficaerá de rastos e a economia afundará. Não há outra opção.
A barragem diária de más notícias começa realmente a atingir os nervos das pessoas; isto é óbvio em todo o lado que se olhe. A maior parte das tagarelices da TV já eliminou a previsões bem humoradas sobre o mercado de acções e ninguém mais está a louvar o "impressionante poder do mercado livre". Eles sabem que as coisas estão más, realmente más. Eis porque o noticiário de negócios já não é apresentado como uma despreocupada produção artística de Bollywood com mulheres ondulantes e música exótica. Agora é mais como um filme de horror da classe B onde toda a gente acaba morta no fim.
Um difuso sentimento de melancolia ronda os estúdios de televisão assim como as bolsas de valores e os luxuosos apartamentos de cobertura no West End de Manhattan. É palpável. Este mesmo pressentimento agourento está a subir como uma nuvem nociva em todas as cidades do país. Toda a gente está a cortar o não essencial e a aparar a gordura do orçamento familiar. Os dias dos extravagantes gastos por impulso nos centros comerciais estão ultrapassados. Assim como as compras de grandes bilhetes aéreos e as viagens à Europa. A confiança do consumidor está numa baixa histórica, o rendimento disponível é uma coisa do passado, e os cartões de crédito estão no seu limite.
Nos últimos três meses o crédito bancário encolheu de forma mais rápida do que em qualquer momento desde 1948. Os bancos não estão a conceder empréstimos e as pessoas não estão a tomar emprestado. Isto é uma combinação letal. Quando a criação de crédito enfraquece, a economia claudica, o desemprego ascende e o índice de miséria sobe. Eis porque Bush despachará uma nova fornada de cheques de estímulo quer queira quer não. Está de costas contra a parede.
Na sexta-feira, depois de o mercado ter encerrado, o FDIC fechou mais dois bancos, o First Heritage Bank e o First National Bank. Duas semanas antes, os reguladores haviam tomado o controle do Indymac Bancorp a seguir a uma corrida de depositantes. O FDIC agora opera como uma unidade paramilitar invisível, posicionando suas tropas de choque nos fins de semana para fazer o seu trabalho sujo fora das vistas do público e em momentos que afectem em menor grau o mercado de acções. As razões para isto são óbvias; só há uma coisa que o governo odeia mais do que ver caixões mortuários com a bandeira estrelada nos noticiários da noite: é ver longas filas de pessoas desvairadas a esperarem impacientemente a fim de obter o que resta das suas poupanças no seu banco agora defunto. Filas nos bancos indicam quebra do sistema.
Corridas bancárias constituem um choque para a psique colectiva. Quando depositantes vêm uma corrida a um banco percebem que o seu dinheiro não está seguro. As pessoas não são loucas; elas podem suspeitar de trapaças. Quando a sua confiança se desvanece, isto estende-se a todo o sistema. Subitamente elas começam a questionar tudo o que outrora davam por garantido. Tornam-se cépticas quanto a instituições que, apenas uns poucos dias antes, pareciam rocha sólida.
Corridas bancárias são um impacto directo aos fundamentos do sistema de mercado livre. Não controlados, os tremores podem estender-se através de toda a sociedade e desencadear violentos levantamentos políticos, mesmo a revolução. O público pode não apreender o seu pleno significado, mas toda a gente em Washington está a prestar atenção. Eles consideram isto seriamente, muito seriamente.
Um artigo no San Francisco Business Times disse que a FDIC está preocupada acerca da divulgação de informação nos blogs da Internet. Eles prefeririam manter fora dos noticiários a informação acerca das perturbações no sistema bancário. Sheila Bar, presidente da Federal Deposit Insurance Corp., após a corrida ao Indymac resumiu as coisas assim:
"Os blogs estavam um bocado fora de controle. Estamos muito atentos à cobertura dos media e dos blogs no controle da desinformação. Tudo o que posso dizer é que vamos continuar à frente disto. A desinformação que veio à tona no fim de semana alimentou um bocado de medos entre os depositantes".
Será isto uma ameaça? A cura para um sistema bancário fracassado é capital adequado e supervisão prudente, não ameaças a críticos imparciais do sistema. Isso é asneira. A comissária Blair aparentemente acredita que os bloggers deveriam ser tratados do mesmo modo que os jornalistas no Iraque, os quais, se se desviarem mesmo ligeiramente do roteiro que diz "o incremento (surge) é um grande triunfo"m do Pentágono, encontrará a ponta enfumarada de um M-16 em algum não identificado posto de controle fora de Baquba.
Domingo passado, o secretário do Tesouro Henry Paulson tentou tranquilizar o público dizendo que o sistema bancário é saudável, enquanto prevenia o povo de mais perturbações pela frente:
"Penso que isto se prolongará por meses e que estamos a trabalhar a nossa saída ao longo deste período – claramente de meses. Mas, mais uma vez, é um sistema bancário seguro, um sistema bancário saudável. Nossos reguladores estão em cima disto. Trata-se de uma situação muito administrável".
Paulson está errado; o sistema bancário não é saudável nem está bem capitalizado.
Se a taxa de encerramentos de bancos continuar ao ritmo actual, em meados de 2009 haverá restrições a retiradas [de depósitos]. Pode-se apostar nisto.
Assim, enquanto o seu banco ainda tem dinheiro e pode processar os seus cheques, pode ser altura de liquidar dívidas, pagar impostos trimestrais e prestações de hipotecas em avanço, e pensar em ter dinheiro fora dos bancos (ouro, divisas estrangeiras), etc, antes que o seu dinheiro fique inacessível ou mesmo que se evapore! Não pense que todos os seus investimentos fora dos bancos estão imunes a esta tempestade. Exemplo: o dinheiro nos mercados de fundos mútuos, onde os americanos investiram US$3 milhões de milhões, não está coberto pelo seguro FDIC (entretanto, contas no mercado monetário oferecidas pelos bancos estão cobertas). Perdas recentes em alguns destes fundos mútuos do mercado monetário levam algumas companhias a apressar-se a arrolhar as perdas. Exemplo: a Legg Mason Inc. e o SunTrust Banks Inc., recentemente bombearam US$1,4 mil milhões cada um para dentro dos seus fundos de mercado monetário. O Bank of America Corp. injectou US$600 milhões.
Quanto às suas contas à ordem e a prazo, perceba que pode ter cinco contas diferentes no mesmo banco, mas o FDIC segura apenas indivíduos, não cada uma das contas, até US$100 mil. Colocar o seu dinheiro em diferentes contas no mesmo banco não proporciona necessariamente melhor garantia para os seus depósitos.
28/Julho/2008
[*] Economista, fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney07282008.html
Nota do Túlio: alguém acha que o orçamento militar ianque vai escapar disso?
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P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Túlio para Min. das Relações Exteriores!
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Tulio,
Há nos EUA uma peculiaridade, o FED, apesar do nome não é bem uma agência publica, aliás é uma agência federal privada, que pertence aos Bancos, ou seja fiscaliza os seus próprios donos.
[[]]'s
Há nos EUA uma peculiaridade, o FED, apesar do nome não é bem uma agência publica, aliás é uma agência federal privada, que pertence aos Bancos, ou seja fiscaliza os seus próprios donos.
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"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Sim, eu sei, o FED é na verdade um conselho de doze bancos privados que age como uma espécie de Banco Central. Eis o porquê de eu sempre diferenciar FED e tesouro dos EUA...
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Pô mas o FED cuida da política monetária e representa todos os "Bancos Centrais" regionais dos EUA. Isso é um reflexo da união monetária norte-americana que aconteceu, efetivamente, após a Guerra Civil (1860-1865).
O Tesouro norte-americano cuida das contas do governo, ou seja, da política fiscal.
Praticamente, todos os países importantes fazem esse diferenciação entre a entidade que cuida da política monetária e a outra que cuida da política fiscal.
O Tesouro norte-americano cuida das contas do governo, ou seja, da política fiscal.
Praticamente, todos os países importantes fazem esse diferenciação entre a entidade que cuida da política monetária e a outra que cuida da política fiscal.
- soultrain
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Born,
Aproveito para agradecer as tuas explicações, pois eu percebo muito pouco de economia, apenas ouço o meu sogro que é economista e se intitula um dos poucos macro-economistas aqui na terrinha e outras individualidades. É no entanto um assunto que me fascina, gostaria de ter tempo de ler os livros que sugere.
Já aqui abordei, levemente, a opinião de alguns políticos proeminentes Portugueses e administradores de Bancos, foi no tópico noticias de Portugal há uns tempos atrás. Fiquei muito admirado pela pessimismo e pela coincidência de opiniões. Defenderam que é necessária uma alteração profunda da economia mundial, alguns uma nova ordem mundial. O processo que começou com a queda do muro de Berlim vai ter um culminar.
O comunismo e o liberalismo, não funcionam assim como a globalização não serve o interesse de todos, só de poucos. Um defendeu um modelo parecido com a União Europeia, estendida ao mundo inteiro, os mesmos regimes laborais, fiscais e leis, acabando com as distorções de concorrência, vai lançar um livro com esta ideia.
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Aproveito para agradecer as tuas explicações, pois eu percebo muito pouco de economia, apenas ouço o meu sogro que é economista e se intitula um dos poucos macro-economistas aqui na terrinha e outras individualidades. É no entanto um assunto que me fascina, gostaria de ter tempo de ler os livros que sugere.
Já aqui abordei, levemente, a opinião de alguns políticos proeminentes Portugueses e administradores de Bancos, foi no tópico noticias de Portugal há uns tempos atrás. Fiquei muito admirado pela pessimismo e pela coincidência de opiniões. Defenderam que é necessária uma alteração profunda da economia mundial, alguns uma nova ordem mundial. O processo que começou com a queda do muro de Berlim vai ter um culminar.
O comunismo e o liberalismo, não funcionam assim como a globalização não serve o interesse de todos, só de poucos. Um defendeu um modelo parecido com a União Europeia, estendida ao mundo inteiro, os mesmos regimes laborais, fiscais e leis, acabando com as distorções de concorrência, vai lançar um livro com esta ideia.
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"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ