GIL escreveu:J.Ricardo escreveu:Vai sair negócio, podem esperar, não vai ser venda propriamente dita, mas a Boeing vai ter participação nela, ou, será feita uma SPE para a americana ter participação na divisão de aviões comerciais.
Isso ja é outra historia.
Mas é a única que tem lógica. Assim, algumas considerações:
Vamos primeiro examinar isso de Golden Share, que é o santo em que todo mundo está se agarrando: lembram da Mectron? Tinha GS e mesmo assim o governo autorizou sua venda. Não vi ninguém fazendo passeata e depredando patrimônio público contra isso. No fim o negócio não saiu porque a controladora era a Odebrecht e, com a Lava Jato, a citada empresa virou numa espécie de leproso medieval, ninguém queria nem chegar perto. E a Mectron quebrou, com seus
assets até hoje envoltos em uma misteriosa "distribuição", na qual entra até a AEL, que nem EED é. Outro exemplo é a Petrobrás que, mesmo sendo "do governo" e com o Pré-Sal já produzindo cerca de metade do petróleo brasileiro, ali pela metade da década, com Libra em atividade, será uma empresa que possuirá menos de 1/3 da produção Brasileira. Ou seja, não adianta ter Golden Share nem ser Estatal, se os caras querem vender, vendem e fim.
Mas nem tudo são trevas, muito pelo contrário, o
bright side é bem interessante: a Boeing está reagindo a um movimento
estratégico da Airbus, sua arqui-rival, que foi, em linhas gerais, comprar a linha de montagem de apenas
uma família de jatos comerciais (CSeries) que ameaça a sua própria de aeronaves menores (A318/319/320) e, com isso, ampliou seu portfólio, ficando temporariamente em vantagem; só que botaram a mão na mais fraca das duas (uns 34% do mercado de aeronaves da classe), talvez reflexo da péssima experiência que os Franceses tiveram quando chegaram a possuir, capitaneados pela Dassault, uns 20% do total da EMBRAER, e isso na década passada. Entraram com o dinheiro e os brazucas com a experiência; ao verem que não apitavam nada, acabaram saindo, ficando a EMBRAER com o dinheiro e eles com a experiência (para não entrar em
outra fria dessas
).
E a Boeing? Ficou acuada, se a situação permanecer como está vai ficar na Segundona, sendo vista pela Airbus apenas pelo retrovisor. Qual o movimento mais lógico? Bueno, assim, como há duas Grandes se digladiando no mercado das aeronaves comerciais (e com a China fazendo o diabo para adentrar no mercado Ocidental, o que inevitavelmente irá acontecer), há outras duas se digladiando pelo mercado imediatamente abaixo. Só que a EMBRAER possui cerca de 46% dele (contra 34% de sua rival), no setor que interessa, a Aviação Regional de maior porte. E chegamos então a algumas interessantes conclusões:
Quem tem mais interesse no negócio? A EMBRAER em vender a linha dos E-Jets ou a Boeing em comprar (nem vou falar em compra DA EMBRAER TODA, o Françuá já viu no que isso dá, não é
bem da Aeroeletrônica, uma empresa em estado falimentar, que estamos falando...)? Bueno, a EMBRAER não perde praticamente nada com a associação entre Airbus e Bombardier, já a Boeing perde
e muito! E todo mundo aqui conhece a lei mais básica do mercado, a da oferta vs demanda. Um sintoma: no que saiu a notícia do interesse da Boeing, as ações da EMBRAER subiram a um pico de 40% acima do normal, estabilizando ainda em +25%, enquanto as da Boeing mal se mexeram. Isso é um baita dum trunfo, porque não há
outra empresa deste porte que a Boeing possa acessar. O consumo de champanha deve der aumentado uma barbaridade em certas mansões, pois foi um
boost totalmente inesperado.
Há comentários sobre a linha de aeronaves executivas (a Bombardier tem sua linha, como a EMBRAER), mas não vi nada de oficial, seja da Airbus, seja da Boeing. Aviação Militar me parece perto de ZERO (talvez com a honrosa exceção do -390, mas aí para dar uma paulada na Lockheed-Martin e seu véio -130, em casa), apesar de algumas notícias em contrário. Assim, brabo de falar em
venda da EMBRAER, mas sim venda ou muito mais provavelmente parceria em uma única linha de aeronaves que complementam o decadente 737 (estando talvez no horizonte uma parceria para o desenvolvimento de um possível substituto para ele e com o nome Boeing ou Boeing-EMBRAER). E mesmo isso é complicado de acreditar, a EMBRAER é tão
benchmark no mercado regional (com clara vocação para o comercial) quanto a Boeing o é no comercial, faria muito mais sentido fazer o avião no Brasil e vender com o nome Boeing-EMBRAER (ou mesmo só EMBRAER, com o logo da Boeing acrescido) do que agir à Francesa e querer tomar conta de tudo - coitada da Bombardier, creio que não sobreviverá ao "negócio da China" que fez, sobrando apenas parte da Divisão de Aviação Executiva & outras menores - e a Airbus vai acabar no prejuízo). Assim, uma simples tomada de controle faz muito menos sentido do que uma
sinergia, uma parceria
win-win.
Há ainda um fator muito relevante a ser analisado: a
comunalidade, nem que seja de peças, partes, fornecedores e empresas de manutenção; enquanto um Airbus emprega massivamente insumos e métodos Europeus, um Bombardier usa mais os da América do Norte! Já tanto Boeing quanto EMBRAER empregam praticamente os mesmos. Ou seja, é/será muito mais fácil usar o argumento da citada comunalidade para vender Boeing + EMBRAER do que Airbus + Bombardier. Outra vez, parceria sinérgica faz muito mais sentido do que simples tomada, por manter ativas duas consagradas
benchmarks e com custos bem menores.
Win-win! Outro fator interessantíssimo é que a Boeing estará pagando por um mercado de 46%, enquanto a Airbus por um de 34%.
Por fim, qual o sentido em assumir custos pra lá de exorbitantes só para levar a linha de montagem e todos os Departamentos de Projetos ligados ao E-Jet para os EUA quando já existe tudo pronto aqui e com mão de obra mais barata? O quanto isso se refletirá no preço final da aeronave (lembrar, E-Jet vende tanto por conta do custo-benefício)? Não, a Boeing não ficou do tamanho que é fazendo
PATRIOTADA!
Assim,
nestes termos me parece um excelente negócio, que dará um baita dum
boost nas duas empresas e, se bobear, o golpe de misericórdia nas rivais, sobrando o campo livre para a disputa final com a China, que vai ter que rebolar em dobro para enfrentar uma dupla Boeing-EMBRAER pra lá de anabolizada.
É o que penso.