Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
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- Bourne
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Paisano,o que me causa expanto é a MB ter que ir atrás de financiamento para viabilizar a compra. Por que o esperado e comum é que o vendedor dê o financimanto em condições muito vantajosas. Isso vale mesmo para empresas privadas que fazem compras de equipamentos de valores consideráveis.
- Paisano
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Bourne, foi por esse motivo que eu escrevi que vejo com muita desconfiança o conteúdo dessa "reportagem".
Afinal, essa informação sobre o financiamento do SBR está em descordo com o que ocorre normalmente nesse tipo de negócio.
Por outro lado, devo lembrar que o Estadão, a FSP, O GLOBO, etc. são movidos a ideologice e 2010 já está batendo na porta.
Afinal, essa informação sobre o financiamento do SBR está em descordo com o que ocorre normalmente nesse tipo de negócio.
Por outro lado, devo lembrar que o Estadão, a FSP, O GLOBO, etc. são movidos a ideologice e 2010 já está batendo na porta.
Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Ideologia....eu quero uma pra viver.....
Eu ja havia levantado esta lebre la no topico da Embraer.........mas creo que no caso deste acordo de governo a governo, isto é conversa pra boi dormir.

Eu ja havia levantado esta lebre la no topico da Embraer.........mas creo que no caso deste acordo de governo a governo, isto é conversa pra boi dormir.
- Marino
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Eu estou fora até sábado e não vou poder me conectar de novo.
O Lord Nauta já escreveu: factóide.
O acordo entre o Brasil e a França é entre ESTADOS, e os ESTADOS financiarão os programas assinados por seus presidentes.
Ponto.
O Lord Nauta já escreveu: factóide.
O acordo entre o Brasil e a França é entre ESTADOS, e os ESTADOS financiarão os programas assinados por seus presidentes.
Ponto.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Então devemos esperar para breve um comunicado da MB ou MD sobre esse assunto, certo Marino ?Marino escreveu:Eu estou fora até sábado e não vou poder me conectar de novo.
O Lord Nauta já escreveu: factóide.
O acordo entre o Brasil e a França é entre ESTADOS, e os ESTADOS financiarão os programas assinados por seus presidentes.
Ponto.
Afinal foi o jornal "Folha de São Paulo" que noticiou esse FACTÓIDE e não um jornaléco qualquer.
- caixeiro
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Nao e so aquiSantiago escreveu:Muito esclarecedor...
FSP, 26-02
Marinha precisa de R$ 8,5 bi para fazer os 5 submarinos
Militares recorrem a bancos estrangeiros para bancar programa negociado com a França
Negócio, ameaçado por crise econômica, ainda é insuficiente para compensar o atraso
tecnológico da indústria bélica nacional
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para tirar do papel o programa de desenvolvimento de submarinos (PDS) negociado com a
França em dezembro, a Marinha brasileira tenta alavancar cerca de R$ 8,5 bilhões, valor para os quatro
convencionais e um de propulsão nuclear. Mas a operação no mercado financeiro internacional, que
compreende uma linha de financiamento a juros baixos e prazo de até 25 anos, corre risco por causa da
elevação do custo do crédito e da cautela dos bancos.
Segundo a Folha apurou, a Marinha decidiu recorrer a outras instituições financeiras, que não as
francesas, para melhorar as chances de financiamento. Candidatos naturais, os franceses BNP e Societè
Generale, concorrem agora com bancos como Santander (Espanha) e Citibank (EUA). Nenhum deles
escapou à crise atual. A incerteza sobre a capacidade de solvência de um empréstimo bilionário também
aflige o Planalto, que terá a palavra final no caso.
A Marinha está otimista e diz que, se for aprovado, o contrato de financiamento será assinado em
7 de setembro, na visita do presidente Nicolas Sarkozy.
Limites
Mesmo que consiga o financiamento, a empreitada militar terá efeito limitado na reestruturação
da indústria bélica nacional, como quer o governo.
Detalhes do projeto revelam que o planejamento para a troca de informações estratégicas
ajudará, mas não resolverá o atual gargalo tecnológico. Sistemas sensíveis e de altíssima sofisticação
como sonares, periscópios, tubos de torpedo e componentes de instalação da turbina a vapor,
continuarão sendo desenvolvidos em território francês por absoluta falta de viabilidade econômica no
Brasil. Até o aço do casco do submarino, uma liga especial de alta resistência, será fornecido pela
França.
"Seria necessária uma produção em escala capaz de compensar os elevados investimentos
requeridos para seu desenvolvimento e produção", afirma a Marinha, argumentando que o submarino
terá 17% de nacionalização -tomando linearmente os mais de 200 mil itens que o compõe.
Em linhas gerais, a parceria elevará a capacidade de defesa e dissuasão, mas o país seguirá
dependente por um bom tempo. Essa condição se estende ao pacote de armamentos. A Marinha acertou
a compra de torpedos multifunção "Black Shark", um dos mais avançados do mercado, além do míssil
antinavio SMM-39, espécie de versão submarina dos mísseis Exocet. O Brasil tem alguns projetos e
técnicos farão estágio com fabricantes franceses.
"São coisas que gostaríamos de fazer aqui, mas são caras e difíceis", diz o almirante reformado
Mario Cesar Flores. Ex-ministro da Marinha (1990-1992) e de Assuntos Estratégicos (1992-1994), Flores
acredita que "não há solução a médio prazo". Carlos Frederico de Aguiar, presidente da Abimde
(Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança), defende o negócio. "As
baterias do submarino e as válvulas de casco serão produzidas nacionalmente, pela Saturnia e a Cia
Dox", afirma.
Para Aguiar, o índice de nacionalização dos submarinos é coerente com a realidade. "Os aviões
militares da Embraer têm 15% de nacionalização e os comerciais, 20%", diz. De acordo com a Marinha,
30 empresas nacionais vão produzir componentes para o projeto.
Paralelamente, Odebrecht (50%), DCNS (49%) e Marinha (1%, com golden share) formarão uma
Sociedade com Propósito Específico para operação do estaleiro em que serão construídos os
submarinos. Pedro Paulo Rezende, analista da revista britânica "Janes Defence Weekly", avalia que a
questão de escala seria amenizada se a Marinha fabricasse o dobro de submarinos previstos.
"Ter o equipamento de última geração é importante, mas não resolve. De maneira geral, as
limitações que os franceses nos impuseram são as mesmas que alemães e americanos nos imporiam",
diz. Para Rezende, a questão mais sensível "é o não repasse da planta de vapor do submarino nuclear".
"Sem isso, é uma caixa preta", diz.
Colaborou SAMY ADGHIRNI , da Reportagem Local
.Financial crisis delays submarine company sale
Posted Thu Feb 26, 2009 5:30pm AEDT
Updated Thu Feb 26, 2009 5:29pm AEDT
The Federal Government has postponed the sale of the Australian Submarine Corporation because of uncertainty in global financial markets.
The Government also notes the corporation is building the Navy's air warfare destroyers and would be considered as a builder of the next generation of submarines.
It says selling it now could complicate those projects.
Finance Minister Lindsay Tanner says it is unfortunate the economic climate presents significant risks to a successful sale.
But he says the work that has been done so far will be useful for a future attempt to sell the corporation
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- Marino
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Não sei. Vc vê normalmente desmentidos sobre as verdadeiras pérolas escritas nos nossos jornais? O Godoy, do ESP, é desmentido?Jin Jones escreveu:Então devemos esperar para breve um comunicado da MB ou MD sobre esse assunto, certo Marino ?Marino escreveu:Eu estou fora até sábado e não vou poder me conectar de novo.
O Lord Nauta já escreveu: factóide.
O acordo entre o Brasil e a França é entre ESTADOS, e os ESTADOS financiarão os programas assinados por seus presidentes.
Ponto.
Afinal foi o jornal "Folha de São Paulo" que noticiou esse FACTÓIDE e não um jornaléco qualquer.
Para MIM, deveria ser, mas...
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Barão do Rio Branco
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
O sistema de erratas e de obsdman são coisas raras, e é tanta besteira escrita, diariamente, que as pessoas acabam por se acostumar, o problema é grave para os leigos, os iniciados ou técnicos nas diversas áreas conhecem bem as pérolas, porém, tenho pena do público leigo, coitados, estão perdidos e soterrados de tanta porcaria.Marino escreveu:Não sei. Vc vê normalmente desmentidos sobre as verdadeiras pérolas escritas nos nossos jornais? O Godoy, do ESP, é desmentido?Jin Jones escreveu: Então devemos esperar para breve um comunicado da MB ou MD sobre esse assunto, certo Marino ?
Afinal foi o jornal "Folha de São Paulo" que noticiou esse FACTÓIDE e não um jornaléco qualquer.
Para MIM, deveria ser, mas...
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Tempos atrás defendia uma mudança no ensino de jornalismo, deveria ser uma espécie de pós, o cara se formava em direito, história, sociologia, economia, e depois se especializava em jornalismo, isso poderia fazer com o nível subisse.
[]´s
- Edu Lopes
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Será que algum assinante da Folha ou do UOL poderia postar a matéria completa? Parece muito boa.Acordo Brasil-França marca expectativa de ser "potência", diz estudioso
da Folha Online
Hoje na Folha O acordo que será assinado amanhã com a França é o mais importante na área militar desde o fim da Guerra Fria. A avaliação é do especialista em história e estratégia militares João Roberto Martins Filho, em entrevista a Claudia Antunes publicada neste domingo na Folha (íntegra somente para assinantes do jornal ou do UOL).
Martins Filho, que coordena o Arquivo de Política Militar Ana Lagôa, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), diz na entrevista que o acordo marca a retomada da expectativa do Brasil ser uma potência mundial nas próximas décadas.
Na avaliação do especialista, o acordo área militar com a França demonstra o interesse do Brasil de afirmar uma política sem hegemonia americana.
"Ele [o acordo] vai contrariar não só interesses estratégicos americanos como interesses das indústrias naval e aeronáutica americanas", disse Martins Filho à Folha.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bras ... 0140.shtml


- Marino
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
http://www.defesabrasil.com/forum/viewt ... start=2250Edu Lopes escreveu:Será que algum assinante da Folha ou do UOL poderia postar a matéria completa? Parece muito boa.Acordo Brasil-França marca expectativa de ser "potência", diz estudioso
da Folha Online
Hoje na Folha O acordo que será assinado amanhã com a França é o mais importante na área militar desde o fim da Guerra Fria. A avaliação é do especialista em história e estratégia militares João Roberto Martins Filho, em entrevista a Claudia Antunes publicada neste domingo na Folha (íntegra somente para assinantes do jornal ou do UOL).
Martins Filho, que coordena o Arquivo de Política Militar Ana Lagôa, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), diz na entrevista que o acordo marca a retomada da expectativa do Brasil ser uma potência mundial nas próximas décadas.
Na avaliação do especialista, o acordo área militar com a França demonstra o interesse do Brasil de afirmar uma política sem hegemonia americana.
"Ele [o acordo] vai contrariar não só interesses estratégicos americanos como interesses das indústrias naval e aeronáutica americanas", disse Martins Filho à Folha.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bras ... 0140.shtml
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- Edu Lopes
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Re: Aliança Militar e Estratégica Brasil-França
Presidente da França diz que G-8 vai se abrir para incluir o Brasil e mais cinco emergentes
Publicada em 05/09/2009 às 19h30m
Deborah Berlinck
PARIS - A morte do G-8 - o grupo de 7 países ricos, mais a Rússia, que durante anos ditou sozinho soluções para os problemas do mundo - tem data marcada: 2011. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, por e-mail, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que chega hoje ao Brasil, confirmou que no ano em que a França assumirá a presidência rotativa do G-8, ele mesmo vai selar a morte, ao consolidar um grupo maior: o G-14, que inclui Brasil, China, Índia, México, África do Sul e Egito. Fim da exclusividade dos ricos. Só não disse se seus companheiros do G-8, como os EUA ou o Japão (que se opõe), vão concordar. Sarkozy, que os diplomatas brasileiros descrevem como o presidente de país rico que mais defende as ambições brasileiras, diz que vai insistir na reunião do G-20 (países ricos e emergentes) em Pittsburgh, nos EUA, no final deste mês, na necessidade de agilizar a reforma da governança global, "que deve abrir mais espaço aos grandes países emergentes, a começar pelo Brasil". Os banqueiros que se cuidem: o presidente francês vai insistir no aperto ao cerco aos bancos e pedir, na reunião do G-20, para que outros países sigam a França, que acaba de anunciar medidas para para reduzir os bônus dos traders. "Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes", alerta Sarkozy, "estará redondamente enganado".
Um ano após o início da crise "subprimes" nos Estados Unidos, como o Senhor avalia a crise?
NICOLAS SARKOZY: Ainda é cedo demais para fazer um balanço definitivo desta crise, da qual, aliás, ainda não saímos. Mas uma coisa é certa: ela promoveu uma tomada de consciência. Quando o mundo se viu à beira do precipício, um certo número de idéias que o Presidente Lula e eu - juntamente com outras pessoas - defendíamos há muito tempo adquiriram força, graças à realidade dos fatos: era preciso pôr fim aos excessos de um sistema sem regras nem moral e recolocar o sistema financeiro a serviço da economia real e do desenvolvimento, ou seja, a serviço das pessoas.
O movimento de reforma que empreendemos desde as reuniões do G20 em Washington, em novembro último, e em Londres, em abril, é simplesmente sem precedentes. Desejamos reconstruir um capitalismo regulado, no qual os bancos cumpram a sua missão, ou seja, financiar o desenvolvimento econômico e não a especulação; um capitalismo no qual nenhuma das instituições que o constituem e nenhum mercado financeiro escape aos controles; no qual a opacidade dê lugar à transparência; no qual as formas de remuneração não conduzam as pessoas a correrem riscos cada vez maiores; no qual mais ninguém possa se servir do sigilo bancário para sonegar impostos; por fim, um capitalismo no qual aqueles que colocam em risco o dinheiro dos investidores sejam punidos. Naturalmente, ainda não chegamos ao fim do caminho e é por isso que, com nossos parceiros do G20, vamos nos reunir novamente em Pittsburgh dentro de alguns dias. Mas, sinceramente, quem teria imaginado, há um ano, que teríamos chegado aonde estamos hoje?
Promessas de mudanças nas regras bancárias, fim dos paraísos fiscais. O que o senhor conseguiu na batalha para "reedificar o capitalismo"? O que espera da reunião do G20 em Pittsburgh?
SARKOZY: O caminho percorrido neste último ano é imenso. Todos os protagonistas do mercado serão controlados; esse controle já está sendo exercido sobre as agências de classificação de risco e será aplicado aos fundos de hedge. Houve também um grande progresso na questão dos paraísos fiscais. No G20 de Londres, em abril passado, publicamos a lista dos países que devem cumprir as exigências de transparência definidas pela comunidade financeira internacional. Além disso, houve unanimidade quanto à necessidade de sancionar quem não se conformasse às regras. E os resultados já podem ser constatados: as ilhas anglo-normandas, Luxemburgo, Liechtenstein e Suíça são alguns dos países que já concordaram em assinar as convenções relativas às trocas de informações, o que até então se recusavam a fazer. No mundo todo, a utilização do sigilo bancário como estratégia de evasão fiscal vem diminuindo. Essas vitórias são suficientes? Não, é claro. Precisamos ir mais longe. Devemos, agora, definir juntos as sanções que serão aplicadas aos mercados financeiros que se recusarem a aplicar as regras de transparência. Devemos também ir mais longe em relação à questão das remunerações, em particular os bônus concedidos aos traders, campo em que a França elaborou propostas extremamente audaciosas. Gostaria também que avançássemos em relação à redefinição das normas contábeis, para que as regras aplicáveis sirvam para prevenir e amortecer os choques, ao invés de agravá-los. Precisamos também agilizar a reforma da governança econômica mundial, que deve abrir mais espaço aos grandes países emergentes, a começar pelo Brasil. Esses são os temas sobre os quais deveremos trabalhar em Pittsburgh.
Em 2007, o senhor defendia a "ruptura" em relação ao modelo social francês, considerado como a causa do "atraso" da França. Muitos acreditavam que fosse um admirador incondicional do modelo americano. Hoje, o senhor denuncia o modelo anglosaxão, que "intensifica as desigualdades", e desacelera o ritmo das reformas. A crise mudou o seu ponto de vista?
SARKOZY: Não é verdade que reduzimos a velocidade das reformas com a crise. Aliás, é justamente o contrário: aceleramos o ritmo. A crise, tenho certeza, não coloca em causa a necessidade das reformas: ela apenas as torna mais urgentes. Aos cidadãos franceses, declarei que usar a situação como pretexto para interromper as reformas seria um grave erro. Acredito, ao contrário, que a crise oferece uma oportunidade extraordinária para implementarmos mudanças que, mais do que nunca, se fazem necessárias. Isso é verdade no plano internacional, com a profunda renovação do sistema financeiro que empreendemos, e é verdade também em nossos respectivos países. Não posso também deixar de dizer que aqueles que me descreveram como um "admirador incondicional do modelo americano" estavam enganados. O "modelo americano" ao qual se refere tem como base, majoritariamente, os seguros privados. Nunca desejei que esse tipo de sistema fosse adotado na França, pois ele deixa um grande número de pessoas sem proteção. Ao contrário, sempre considerei que o sistema francês, que oferece a todos os cidadãos, mesmo os mais desfavorecidos, um alto nível de proteção social, constituía um tesouro que deveria ser preservado a todo custo. E é justamente para preservar nosso modelo social que precisamos modernizá-lo, a fim de adaptá-lo às novas realidades e aos novos desafios. Neste aspecto, meu ponto de vista nunca mudou.
SARKOZY: Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes, estará redondamente enganado. Isto ninguém poderá aceitar e nós não permitiremos que aconteça. Quanto aos bônus dos traders, por exemplo, será uma questão central em Pittsburgh, pois os nossos compatriotas estão exasperados - e com razão - de constatar que as lições tiradas da crise foram logo esquecidas. Sobre esta questão, a França decidiu dar o exemplo. Há dez dias, anunciei uma série de novas regras extremamente rigorosas. Agora, na França, os bônus deverão ser sistematicamente parcelados em pelo menos três anos. E nós criamos um "málus", o que significa que se os resultados não estiverem à altura das expectativas, a parte diferida do bônus não será paga. Terminou a era do "é só ganho". Também decidimos que agora uma parte substancial desses bônus será distribuída sob a forma de títulos e que esses títulos não poderão ser vendidos durante pelos menos dois anos. E eu disse com toda a clareza que nós deixaremos de dar mandato aos bancos que não respeitarem as regras que fixamos. Nenhum outro país no mundo foi tão longe no âmbito desta questão dos bônus. Assim, perante os nossos parceiros do G20 em Pittsburgh, nós poderemos dizer, não "aqui está o que tencionamos fazer", mas sim "aqui está o que nós decidimos". É fundamental. Não aceito o raciocínio que consiste em dizer "nós estamos esperando que os outros avancem, para então avançarmos". Se for assim, arriscamos ter de esperar muito, pois ninguém avança. Os nossos amigos alemães e britânicos já aderiram à nossa iniciativa. Com Angela Merkel e Gordon Brown, nós assinamos, na quarta-feira passada, uma carta em comum para que a Europa chegue a Pittsburgh unida e com o mais alto nível de ambição, como foi o caso em Washington e Londres. Nesta carta, a questão da regulamentação dos bônus está claramente formulada. Desejo que o conjunto dos nossos parceiros do G20 se unam a nós no âmbito dessas proposições ambiciosas.
Os países emergentes, como o Brasil, parecem ter saído reforçados da Cúpula do G20 em Londres. Por que se insiste no formato G8, ainda que ampliado, ao invés de simplesmente adotar o G20?
SARKOZY: Uma coisa é certa: é que o G8 não é mais suficiente. Se quisermos que seja eficaz, se quisermos que permaneça legítimo, não temos escolha: somos obrigados a ampliá-lo aos grandes países emergentes, sem os quais não poderemos enfrentar os desafios globais com os quais se defronta o nosso mundo. Esses países são, por exemplo, a China, a Índia e, naturalmente, o Brasil. Reconheço perfeitamente que o G20 se mostrou particularmente eficaz para enfrentar a crise. O G20 representa 85% da riqueza mundial e tem, por conseguinte, uma verdadeira legitimidade quanto às questões econômicas e financeiras e principalmente quanto à reforma da governança econômica mundial. É o caso da reforma do FMI, por exemplo, que também tem de refletir melhor os novos equilíbrios mundiais e sobretudo a emergência de novos gigantes, como o Brasil. Para todas as outras questões globais, o presidente Lula e eu solicitamos que o G8 se transforme em G14, estendendo-se aos 6 grandes países emergentes que são o Brasil, é claro, mas também a China, a Índia, o México, a África do Sul e o Egito. Veja bem: não se trata apenas de dar um papel mais importante a esses 6 grandes países; o que nós queremos é a completa transformação do G8 em G14, porque não é possível termos, de um lado, o G8 e, de outro, o G6, de um lado o Norte e de outro o Sul. Na Cúpula de Áquila, demos um passo decisivo neste sentido, tendo mais da metade da reunião se realizado em formato ampliado.
Espero que a presidência canadense organize, este ano, a maior parte da próxima cúpula em formato G14. E, é claro, tenciono concluir esta transformação sob a presidência francesa em 2011.
SARKOZY: Os diplomatas brasileiros falam de um estreitamento excepcional dos laços entre o Brasil e a França durante o seu governo. O que o Senhor vê no futuro do Brasil que os seus predecessores não viram? Não tenho a pretensão, evidentemente, de ser o primeiro a ter compreendido que no século XXI simplesmente não se pode mais prescindir de um país como o Brasil para solucionar os grandes problemas do mundo. Mas a verdade é que o Presidente Lula e eu decidimos dar à parceria entre os nossos dois países uma nova dimensão e sobretudo um conteúdo muito mais concreto. Tínhamos de passar das palavras aos atos e foi o que fizemos. O Presidente Lula gosta de ver resultados; tanto melhor, porque eu também. Em todas as grandes questões, a concertação entre os nossos dois países nunca foi tão intensa. Com o Presidente Lula, nós nos comunicamos antes de cada grande encontro internacional. Juntos, defendemos esta idéia de que a reforma da governança mundial é não apenas necessária, mas urgente. E pensamos que é chegada a hora de darmos um maior realce à dimensão social da globalização. É justamente o objetivo da Aliança para a Mudança, que lançamos no último mês de julho, antes da reunião de cúpula de Áquila. Constatamos também esta nova dimensão da parceria franco-brasileira no plano económico, em que a cooperação entre os nossos dois países jamais foi tão densa, ou ainda no setor cultural, com o êxito do Ano da França no Brasil.
Na parceria estratégica assinada com o Brasil, a França defende abertamente as ambições brasileiras: entre outras, uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e uma maior participação do país no cenário internacional. Ao mesmo tempo, a França obteve contratos militares rendosos, com outras possibilidades promissoras. O que o Senhor responde aos que falam de uma "barganha entre amigos"?
SARKOZY: Respondo que eles não entenderam bem o sentido desta parceria estratégica e sobretudo que não avaliaram o que o Brasil e a França podem realizar juntos, um para o outro, naturalmente, mas também para o mundo. Sim, temos interesses e é bem verdade que os defendemos. É perfeitamente normal e ninguém está tentando negar. Mas, a parceria que nos liga é muito mais profunda: no alicerce da nossa amizade há, em primeiro lugar, o apego a valores em comum: a democracia, a liberdade e os Direitos Humanos. Com o Brasil, compartilhamos também a mesma visão do mundo e do que está em jogo no plano mundial. Juntos, somos portadores da idéia de uma nova ordem mundial mais justa e mais solidária. E se a França defende a idéia de que o Brasil deve ser membro permanente do Conselho de Segurança, é simplesmente porque pensamos que o Brasil se tornou um país incontornável, um gigante de que o mundo não pode prescindir para enfrentar os desafios que o espreitam. Aliás, certamente ninguém ignora o fato que nós não reclamamos uma cadeira permanente na ONU para todos os países nos quais temos interesses econômicos. E quanto aos contratos, pois bem, entre o Brasil e a França, não se trata de uma relação de fornecedor a cliente, mas de uma parceria. Todas as nossas cooperações industriais, em matéria civil como de defesa, se baseiam em transferências de tecnologia e em co-produções muito extensas. Até mesmo diria sem precedentes. Não se trata de vender. Trata-de de agir em conjunto. E queremos agir em conjunto porque compartilhamos os mesmos valores e uma mesma visão das grandes metas internacionais.
Em 2008, foram grupos franceses, como o Grupo Doux, líder mundial na exportação de aves (62,8 milhões de euros), que obtiveram as maiores subvenções agrícolas européias, segundo uma reportagem do International Herald Tribune. Por que o Senhor insiste em defender, em nome dos pequenos agricultores franceses, um sistema de subvenção que provoca tamanhas distorções e que acarreta concorrência desleal com produtores e exportadores agrícolas de países pobres?
SARKOZY: Evitemos as confusões: estes auxílios são ajudas para a exportação outorgados a um grupo industrial. A imensa maioria das ajudas da PAC são auxílios aos agricultores, destinados a compensar os sobrecustos que lhes são impostos em virtude de padrões extremamente elevados (sociais, ambientais e sanitários). As aludidas subvenções para a exportação representam, na verdade, apenas uma parcela marginal, da ordem de 5%. Foram divididas por 10 em menos de 15 anos. E a Europa assumiu o compromisso de futuramente eliminá-las por inteiro. Mas isto só tem sentido se todos fizerem como nós. A Europa não pode ser a única a fazer esforços! Ora, há outros países que também utilizam ajudas para a exportação e que não estão dispostos a abandoná-las. É, por exemplo, o caso dos Estados Unidos, da Nova Zelândia, mas também do Brasil. Hoje, o que realmente está em jogo é a colocação da produção agrícola no centro das políticas de todos os países. É justamente porque os problemas são complexos que milito com o Presidente Lula em prol de uma parceria mundial para a alimentação e a agricultura. Para combater a insegurança alimentar e auxiliar os países mais pobres, é preciso implementar verdadeiros instrumentos de regulação dos mercados mundiais, permitindo a esses países que desenvolvam os seus setores agrícolas e, se necessário, protegendo-os do movimento aleatório dos preços mundiais.
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/ ... 480151.asp
Publicada em 05/09/2009 às 19h30m
Deborah Berlinck
PARIS - A morte do G-8 - o grupo de 7 países ricos, mais a Rússia, que durante anos ditou sozinho soluções para os problemas do mundo - tem data marcada: 2011. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, por e-mail, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que chega hoje ao Brasil, confirmou que no ano em que a França assumirá a presidência rotativa do G-8, ele mesmo vai selar a morte, ao consolidar um grupo maior: o G-14, que inclui Brasil, China, Índia, México, África do Sul e Egito. Fim da exclusividade dos ricos. Só não disse se seus companheiros do G-8, como os EUA ou o Japão (que se opõe), vão concordar. Sarkozy, que os diplomatas brasileiros descrevem como o presidente de país rico que mais defende as ambições brasileiras, diz que vai insistir na reunião do G-20 (países ricos e emergentes) em Pittsburgh, nos EUA, no final deste mês, na necessidade de agilizar a reforma da governança global, "que deve abrir mais espaço aos grandes países emergentes, a começar pelo Brasil". Os banqueiros que se cuidem: o presidente francês vai insistir no aperto ao cerco aos bancos e pedir, na reunião do G-20, para que outros países sigam a França, que acaba de anunciar medidas para para reduzir os bônus dos traders. "Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes", alerta Sarkozy, "estará redondamente enganado".
Um ano após o início da crise "subprimes" nos Estados Unidos, como o Senhor avalia a crise?
NICOLAS SARKOZY: Ainda é cedo demais para fazer um balanço definitivo desta crise, da qual, aliás, ainda não saímos. Mas uma coisa é certa: ela promoveu uma tomada de consciência. Quando o mundo se viu à beira do precipício, um certo número de idéias que o Presidente Lula e eu - juntamente com outras pessoas - defendíamos há muito tempo adquiriram força, graças à realidade dos fatos: era preciso pôr fim aos excessos de um sistema sem regras nem moral e recolocar o sistema financeiro a serviço da economia real e do desenvolvimento, ou seja, a serviço das pessoas.
O movimento de reforma que empreendemos desde as reuniões do G20 em Washington, em novembro último, e em Londres, em abril, é simplesmente sem precedentes. Desejamos reconstruir um capitalismo regulado, no qual os bancos cumpram a sua missão, ou seja, financiar o desenvolvimento econômico e não a especulação; um capitalismo no qual nenhuma das instituições que o constituem e nenhum mercado financeiro escape aos controles; no qual a opacidade dê lugar à transparência; no qual as formas de remuneração não conduzam as pessoas a correrem riscos cada vez maiores; no qual mais ninguém possa se servir do sigilo bancário para sonegar impostos; por fim, um capitalismo no qual aqueles que colocam em risco o dinheiro dos investidores sejam punidos. Naturalmente, ainda não chegamos ao fim do caminho e é por isso que, com nossos parceiros do G20, vamos nos reunir novamente em Pittsburgh dentro de alguns dias. Mas, sinceramente, quem teria imaginado, há um ano, que teríamos chegado aonde estamos hoje?
Promessas de mudanças nas regras bancárias, fim dos paraísos fiscais. O que o senhor conseguiu na batalha para "reedificar o capitalismo"? O que espera da reunião do G20 em Pittsburgh?
SARKOZY: O caminho percorrido neste último ano é imenso. Todos os protagonistas do mercado serão controlados; esse controle já está sendo exercido sobre as agências de classificação de risco e será aplicado aos fundos de hedge. Houve também um grande progresso na questão dos paraísos fiscais. No G20 de Londres, em abril passado, publicamos a lista dos países que devem cumprir as exigências de transparência definidas pela comunidade financeira internacional. Além disso, houve unanimidade quanto à necessidade de sancionar quem não se conformasse às regras. E os resultados já podem ser constatados: as ilhas anglo-normandas, Luxemburgo, Liechtenstein e Suíça são alguns dos países que já concordaram em assinar as convenções relativas às trocas de informações, o que até então se recusavam a fazer. No mundo todo, a utilização do sigilo bancário como estratégia de evasão fiscal vem diminuindo. Essas vitórias são suficientes? Não, é claro. Precisamos ir mais longe. Devemos, agora, definir juntos as sanções que serão aplicadas aos mercados financeiros que se recusarem a aplicar as regras de transparência. Devemos também ir mais longe em relação à questão das remunerações, em particular os bônus concedidos aos traders, campo em que a França elaborou propostas extremamente audaciosas. Gostaria também que avançássemos em relação à redefinição das normas contábeis, para que as regras aplicáveis sirvam para prevenir e amortecer os choques, ao invés de agravá-los. Precisamos também agilizar a reforma da governança econômica mundial, que deve abrir mais espaço aos grandes países emergentes, a começar pelo Brasil. Esses são os temas sobre os quais deveremos trabalhar em Pittsburgh.
Em 2007, o senhor defendia a "ruptura" em relação ao modelo social francês, considerado como a causa do "atraso" da França. Muitos acreditavam que fosse um admirador incondicional do modelo americano. Hoje, o senhor denuncia o modelo anglosaxão, que "intensifica as desigualdades", e desacelera o ritmo das reformas. A crise mudou o seu ponto de vista?
SARKOZY: Não é verdade que reduzimos a velocidade das reformas com a crise. Aliás, é justamente o contrário: aceleramos o ritmo. A crise, tenho certeza, não coloca em causa a necessidade das reformas: ela apenas as torna mais urgentes. Aos cidadãos franceses, declarei que usar a situação como pretexto para interromper as reformas seria um grave erro. Acredito, ao contrário, que a crise oferece uma oportunidade extraordinária para implementarmos mudanças que, mais do que nunca, se fazem necessárias. Isso é verdade no plano internacional, com a profunda renovação do sistema financeiro que empreendemos, e é verdade também em nossos respectivos países. Não posso também deixar de dizer que aqueles que me descreveram como um "admirador incondicional do modelo americano" estavam enganados. O "modelo americano" ao qual se refere tem como base, majoritariamente, os seguros privados. Nunca desejei que esse tipo de sistema fosse adotado na França, pois ele deixa um grande número de pessoas sem proteção. Ao contrário, sempre considerei que o sistema francês, que oferece a todos os cidadãos, mesmo os mais desfavorecidos, um alto nível de proteção social, constituía um tesouro que deveria ser preservado a todo custo. E é justamente para preservar nosso modelo social que precisamos modernizá-lo, a fim de adaptá-lo às novas realidades e aos novos desafios. Neste aspecto, meu ponto de vista nunca mudou.
SARKOZY: Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes, estará redondamente enganado. Isto ninguém poderá aceitar e nós não permitiremos que aconteça. Quanto aos bônus dos traders, por exemplo, será uma questão central em Pittsburgh, pois os nossos compatriotas estão exasperados - e com razão - de constatar que as lições tiradas da crise foram logo esquecidas. Sobre esta questão, a França decidiu dar o exemplo. Há dez dias, anunciei uma série de novas regras extremamente rigorosas. Agora, na França, os bônus deverão ser sistematicamente parcelados em pelo menos três anos. E nós criamos um "málus", o que significa que se os resultados não estiverem à altura das expectativas, a parte diferida do bônus não será paga. Terminou a era do "é só ganho". Também decidimos que agora uma parte substancial desses bônus será distribuída sob a forma de títulos e que esses títulos não poderão ser vendidos durante pelos menos dois anos. E eu disse com toda a clareza que nós deixaremos de dar mandato aos bancos que não respeitarem as regras que fixamos. Nenhum outro país no mundo foi tão longe no âmbito desta questão dos bônus. Assim, perante os nossos parceiros do G20 em Pittsburgh, nós poderemos dizer, não "aqui está o que tencionamos fazer", mas sim "aqui está o que nós decidimos". É fundamental. Não aceito o raciocínio que consiste em dizer "nós estamos esperando que os outros avancem, para então avançarmos". Se for assim, arriscamos ter de esperar muito, pois ninguém avança. Os nossos amigos alemães e britânicos já aderiram à nossa iniciativa. Com Angela Merkel e Gordon Brown, nós assinamos, na quarta-feira passada, uma carta em comum para que a Europa chegue a Pittsburgh unida e com o mais alto nível de ambição, como foi o caso em Washington e Londres. Nesta carta, a questão da regulamentação dos bônus está claramente formulada. Desejo que o conjunto dos nossos parceiros do G20 se unam a nós no âmbito dessas proposições ambiciosas.
Os países emergentes, como o Brasil, parecem ter saído reforçados da Cúpula do G20 em Londres. Por que se insiste no formato G8, ainda que ampliado, ao invés de simplesmente adotar o G20?
SARKOZY: Uma coisa é certa: é que o G8 não é mais suficiente. Se quisermos que seja eficaz, se quisermos que permaneça legítimo, não temos escolha: somos obrigados a ampliá-lo aos grandes países emergentes, sem os quais não poderemos enfrentar os desafios globais com os quais se defronta o nosso mundo. Esses países são, por exemplo, a China, a Índia e, naturalmente, o Brasil. Reconheço perfeitamente que o G20 se mostrou particularmente eficaz para enfrentar a crise. O G20 representa 85% da riqueza mundial e tem, por conseguinte, uma verdadeira legitimidade quanto às questões econômicas e financeiras e principalmente quanto à reforma da governança econômica mundial. É o caso da reforma do FMI, por exemplo, que também tem de refletir melhor os novos equilíbrios mundiais e sobretudo a emergência de novos gigantes, como o Brasil. Para todas as outras questões globais, o presidente Lula e eu solicitamos que o G8 se transforme em G14, estendendo-se aos 6 grandes países emergentes que são o Brasil, é claro, mas também a China, a Índia, o México, a África do Sul e o Egito. Veja bem: não se trata apenas de dar um papel mais importante a esses 6 grandes países; o que nós queremos é a completa transformação do G8 em G14, porque não é possível termos, de um lado, o G8 e, de outro, o G6, de um lado o Norte e de outro o Sul. Na Cúpula de Áquila, demos um passo decisivo neste sentido, tendo mais da metade da reunião se realizado em formato ampliado.
Espero que a presidência canadense organize, este ano, a maior parte da próxima cúpula em formato G14. E, é claro, tenciono concluir esta transformação sob a presidência francesa em 2011.
SARKOZY: Os diplomatas brasileiros falam de um estreitamento excepcional dos laços entre o Brasil e a França durante o seu governo. O que o Senhor vê no futuro do Brasil que os seus predecessores não viram? Não tenho a pretensão, evidentemente, de ser o primeiro a ter compreendido que no século XXI simplesmente não se pode mais prescindir de um país como o Brasil para solucionar os grandes problemas do mundo. Mas a verdade é que o Presidente Lula e eu decidimos dar à parceria entre os nossos dois países uma nova dimensão e sobretudo um conteúdo muito mais concreto. Tínhamos de passar das palavras aos atos e foi o que fizemos. O Presidente Lula gosta de ver resultados; tanto melhor, porque eu também. Em todas as grandes questões, a concertação entre os nossos dois países nunca foi tão intensa. Com o Presidente Lula, nós nos comunicamos antes de cada grande encontro internacional. Juntos, defendemos esta idéia de que a reforma da governança mundial é não apenas necessária, mas urgente. E pensamos que é chegada a hora de darmos um maior realce à dimensão social da globalização. É justamente o objetivo da Aliança para a Mudança, que lançamos no último mês de julho, antes da reunião de cúpula de Áquila. Constatamos também esta nova dimensão da parceria franco-brasileira no plano económico, em que a cooperação entre os nossos dois países jamais foi tão densa, ou ainda no setor cultural, com o êxito do Ano da França no Brasil.
Na parceria estratégica assinada com o Brasil, a França defende abertamente as ambições brasileiras: entre outras, uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e uma maior participação do país no cenário internacional. Ao mesmo tempo, a França obteve contratos militares rendosos, com outras possibilidades promissoras. O que o Senhor responde aos que falam de uma "barganha entre amigos"?
SARKOZY: Respondo que eles não entenderam bem o sentido desta parceria estratégica e sobretudo que não avaliaram o que o Brasil e a França podem realizar juntos, um para o outro, naturalmente, mas também para o mundo. Sim, temos interesses e é bem verdade que os defendemos. É perfeitamente normal e ninguém está tentando negar. Mas, a parceria que nos liga é muito mais profunda: no alicerce da nossa amizade há, em primeiro lugar, o apego a valores em comum: a democracia, a liberdade e os Direitos Humanos. Com o Brasil, compartilhamos também a mesma visão do mundo e do que está em jogo no plano mundial. Juntos, somos portadores da idéia de uma nova ordem mundial mais justa e mais solidária. E se a França defende a idéia de que o Brasil deve ser membro permanente do Conselho de Segurança, é simplesmente porque pensamos que o Brasil se tornou um país incontornável, um gigante de que o mundo não pode prescindir para enfrentar os desafios que o espreitam. Aliás, certamente ninguém ignora o fato que nós não reclamamos uma cadeira permanente na ONU para todos os países nos quais temos interesses econômicos. E quanto aos contratos, pois bem, entre o Brasil e a França, não se trata de uma relação de fornecedor a cliente, mas de uma parceria. Todas as nossas cooperações industriais, em matéria civil como de defesa, se baseiam em transferências de tecnologia e em co-produções muito extensas. Até mesmo diria sem precedentes. Não se trata de vender. Trata-de de agir em conjunto. E queremos agir em conjunto porque compartilhamos os mesmos valores e uma mesma visão das grandes metas internacionais.
Em 2008, foram grupos franceses, como o Grupo Doux, líder mundial na exportação de aves (62,8 milhões de euros), que obtiveram as maiores subvenções agrícolas européias, segundo uma reportagem do International Herald Tribune. Por que o Senhor insiste em defender, em nome dos pequenos agricultores franceses, um sistema de subvenção que provoca tamanhas distorções e que acarreta concorrência desleal com produtores e exportadores agrícolas de países pobres?
SARKOZY: Evitemos as confusões: estes auxílios são ajudas para a exportação outorgados a um grupo industrial. A imensa maioria das ajudas da PAC são auxílios aos agricultores, destinados a compensar os sobrecustos que lhes são impostos em virtude de padrões extremamente elevados (sociais, ambientais e sanitários). As aludidas subvenções para a exportação representam, na verdade, apenas uma parcela marginal, da ordem de 5%. Foram divididas por 10 em menos de 15 anos. E a Europa assumiu o compromisso de futuramente eliminá-las por inteiro. Mas isto só tem sentido se todos fizerem como nós. A Europa não pode ser a única a fazer esforços! Ora, há outros países que também utilizam ajudas para a exportação e que não estão dispostos a abandoná-las. É, por exemplo, o caso dos Estados Unidos, da Nova Zelândia, mas também do Brasil. Hoje, o que realmente está em jogo é a colocação da produção agrícola no centro das políticas de todos os países. É justamente porque os problemas são complexos que milito com o Presidente Lula em prol de uma parceria mundial para a alimentação e a agricultura. Para combater a insegurança alimentar e auxiliar os países mais pobres, é preciso implementar verdadeiros instrumentos de regulação dos mercados mundiais, permitindo a esses países que desenvolvam os seus setores agrícolas e, se necessário, protegendo-os do movimento aleatório dos preços mundiais.
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/ ... 480151.asp

