Acho que as diferenças de opiniões quanto a essas compras se deve a diferença de cultura entre as forças armadas brasileiras e as forças armadas do Oriente Médio, mais fundamentadas e experientes no que realmente importa e o que não importa para uma força e sua indústria de defesa ser eficiente.
Explico:
O brasileiro, seja militar ou civil entusiasta, olha uma compra que inclui cerca de 20.000 munições Ar-Terra e pensa logo em como isso vai ser estocado, revitalizado, manutenido. Ou que a outra explicação "óbvia" é um conflito de grandes proporções sendo arquitetado. (Não digo que não seja o caso, vai saber...)
Mas uma Força Aérea, Exército ou Marinha mais experiente que a nossa, que vivem em conflito, e quando não estão em conflito estão sendo ameaçados por todas as fronteiras, talvez entenda que 20.000 munições Ar-Terra sejam adequadas para uma doutrina de disparos reais mesmo que em treinamento com uma frequência satisfatória para manter a qualidade e prontidão de seus militares e equipamentos.
Aqui o disparo de um míssil Ar-Terra (qual?
) é um evento, e um piloto que tenha disparado um desses em voo reto-nivelado sobre um alvo estático dentro de seu próprio país sem nenhuma anti-aérea por perto, é tratado quase como um veterano de guerra, como um cara que tem mais experiência que o cara que até hoje só deu tiro de canhão em uma faixa. Com essa característica, um estoque de 20.000 munições Ar-Terra seria algo suficiente para décadas de "prontidão", e se resumiria a uma trabalheira danada só pra manter isso tudo "utilizável".
Quem sofre com isso? A qualidade das forças armadas do país, que possui muito poucos oficiais que sabem como é de verdade disparar uma arma complexa (incluo aí um Exocet e um Astros, só pra não virem com a infantilidade de que meu discurso é "anti FAB"
). A indústria de defesa também sofre, por que gasta MUITO em dinheiro e em tempo de engenharia para desenvolver uma arma, onde as forças armadas do próprio país compram um ou dois lotes e pronto. A empresa sabe que daquele mato não sai mais coelho algum, por que aqueles dois lotes vão ser guardados como se fossem os últimos biscoitos do pacote, e os disparos serão raros ao extremo.
De quem é a culpa? Acredito que a maior parte seja do baixíssimo orçamento que não permite a décadas que tenhamos um estoque de prontidão mais um estoque para treinamento, então a "tradição" é: Comprou? Foi entregue? Então agradeça que temos isso e guarde como ouro!
Lá as 20.000 munições Ar-Terra saem na urina, e saem mais rápido ainda se tiver um conflito.
É o que penso.