Post do forista Gilberto Resende, publicado na Alide:
Caros,
Ontem dia 2 de março, assisti uma palestra aqui em Rio Grande/RS do o coordenador do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (Prosub), almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli. O Almirante Fragelli foi comandante aqui do 5º Distrito Naval de 1996 a 1998 e está começando a empreender uma série de palestras por todo Brasil para dar conhecimento a sociedade brasileira do projeto nuclear da Marinha e resolveu começar por aqui.
Faço um apanhado do que foi falado de mais interessante na minha opinião...
Primeiro, o Tópico tem de ser mudado, o PLANO da Marinha do Brasil é construir 6(SEIS) submarinos nucleares. Três áreas de patrulha oceânicas e cada uma de responsabilidade de dois submarinos.
O Almirante confirmou a finalização da USEXA (usina de conversão de gás de urânio) em junho e o fechamento do ciclo nuclear completo em nível industrial.
O LABGENE que é a planta do reator nuclear piloto em terra está em andamento e será encerrada em 2014. Destacou que este passo é essencial para que o Brasil não repita os insucessos da França e da Índia que partiram diretamente para o seu primeiro submarino nuclear sem fazer o reator piloto em terra.
Segundo ele a Índia ano passado foi simplesmente incapaz de montar seu reator no interior do casco do seu submarino e a França (quando da construção do seu primeiro submarino nuclear) teve problemas tão graves de projeto que acabou por abandona-lo com apenas um ano e meio de vida operacional e a França teve que suportar o prejuízo total de seu primeiro projeto de submarino nuclear... E partir para a segunda tentativa...
Este reator do LABGENE servirá de base tanto para projetar os 6 reatores para os submarinos como para os 3 primeiros reatores civis na faixa de 600 a 800 MW (Angra I tem 1.000 MW) e serão construídos, pelo planejamento da Nuclebrás, após a conclusão de Angra III. O plano é que no futuro as novas plantas nucleares civis brasileiras sejam de projeto brasileiro apenas, sem mais aquisições de usinas no exterior.
Foi informado na palestra que as duas atuais usinas civis brasileiras usam urânio enriquecido de 3,2 a 4% e que o reator do submarino atômico brasileiro usará urânio enriquecido a 7% e que deverá ter a necessidade cíclica operacional de ter seus elementos combustíveis nucleares totalmente substituídos de quatro em quatro anos.
As imagens e planos exibidos na palestra mostraram dois diques TOTALMENTE COBERTOS para atender a duas embarcações submarinas nucleares ao mesmo tempo na chamada ILHA NUCLEAR onde os futuros submarinos nucleares serão construídos, receberão manutenção e onde se processará a troca do elemento combustível do reator quando necessário. Ela deverá ser construida num recorte da encosta e será instalada sobre leito firme de rocha ao contrário do resto do complexo que será feito sobre aterro e plataformas sobre o mar.
Foi explicado que o projeto da base e estaleiro de Itaguaí teve um processo EXTREMAMENTE COMPLEXO de licenciamento ambiental e licenciamento nuclear na CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e as múltiplas exigências fizeram que o projeto tivesse 24 variações de lay-out até a aprovação final e mesmo com as primeiras obras do estaleiro/base de Itaguaí tendo sido iniciadas em fevereiro (sem cerimônia oficial ainda) a parte da chamada ILHA NUCLEAR, que é o coração do projeto, ainda não teve a licença final da CNEN deferida. O que deve ocorrer ainda neste primeiro semestre de 2010.
O Estaleiro/Base ficará a cerca de 4 Km da Nuclep que é responsável pela construção das grandes seções cilindricas do casco submarino e uma unidade de integração de unidades metálicas ficará na área da Nuclep onde uma substancial parte de itens do submarino serão incorporadas as seções feitas ali mesmo na Nuclep e seguirão por uma via reforçada até ao túnel de acesso do Estaleiro/Base que será grande o suficiente para possibilitar o acesso seguro das seções de submarino ao complexo.
Face ao período muito curto de troca dos elementos combustíveis nucleares nos modelos brasileiros, comparativamente em relação aos modelos americanos, ingleses e franceses, uma boa parte do esforço de engenharia do projeto do reator naval brasileiro estará se dando no sentido de permitir a troca dos elementos combustíveis num tempo bem mais curto que o normalmente é conseguido nos modelos de outras origens. A realização bem sucedida desta característica do projeto será essencial para permitir a maior operacionalidade possível da frota submarina nuclear que o Brasil pretende construir. Foi dito que quando a base estiver operacional tanto os submarinos convencionais como a própria força de submarinos da marinha sairão da Base de Mocanguê em Niteroi e passarão para Itaguaí... Como mostrado nos modelos tridimensionais do projeto onde uma das TAGs apontava um prédio como COMANDO DA FORÇA DE SUBMARINOS.
Outra imagem mostrou que o projeto brasileiro será de um hélice propulsionado por dois motores elétricos de propulsão. Portanto a energia nuclear será usada para mover uma turbina que movimentará um gerador elétrico para gerar força aos motores elétricos de propulsão.
Outras informações relevantes:
Sobre as ultracentrífugas brasileiras foi destacado que, sem qualquer ufanismo, elas são o melhor equipamento disponível a nível mundial e o maior segredo tecnológico militar-civil do Brasil. Sem obviamente detalhar seu funcionamento foi explicado que duas características básicas as tornam tão superiores ao modelos de outras nações:
1) seu motor eletromagnético de base que sustenta, alinha e ao mesmo tempo rotaciona o cilindro interno da centrífuga que é o verdadeiro "ovo de colombo" do sistema.
2) o próprio cilindro interno da centrífuga nacional que ao contrário do modelo original estrangeiro sobre que a Marinha se baseou no seu projeto que era de alumínio e pesava 7 Kg, nosso modelo nacional é feito de fibra de carbono e pesa apenas 700g!!!
Código:
Talvez o grande segredo seja o que não foi falado, como se faz para rotacionar magneticamente um cilindro de fibra de carbono que supostamente é amagnético..
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Destas características decorre que seu funcionamento, sem qualquer atrito mecânico significativo, torna virtualmente desnecesária a sua substituição operacional em tempo previsível. Isto significa que foi dito que a primeira centrífuga 100% operacional está em serviço CONTÍNUO a 20 anos em Aramar sem queda observável do seu desempenho original. O cilindro de fibra de carbono por ser 10 vezes mais leve que o similar metálico (e no mínimo tão resistente estruturalmente) demanda muito menos energia para seu acionamento e no caso improvável de falha durante o regime de plena rotação, a menor massa do cilindro interno em relação ao cilindro externo resulta que um acidente neste tipo de construção não tem o mesmo efeito catrastófico de uma falha de uma centrífuga mecânica onde a parte que é cineticamente girada pesa 10 vezes mais. Foi declarado que em geral as ultracentrífugas mecânicas usados por outros países rotacionam na faixa de 30/35 mil RPM (rotações por minuto) e a última geração das centrífugas brasileiras estariam atinguindo cerca de 66 mil RPM.
Citação:
Observação minha, as ultracentrifugas brasileiras por sua durabilidade/estabilidade virtualmente plena fariam assim ser praticamente desnecessárias as constantes paradas para substituição de mancais/centrífugas dos modelos mecânicos e PRINCIPALMENTE o tenso controle contínuo de desempenho de cada elemento individual exigido na operação das cascatas mecânicas (para evitar-se acidentes que levem a um colapso catastrófico em série) seja incomparavelmente menos crítico nas cascatas de ultracentrífugas por levitação magnética de projeto brasileiro.
Em cascatas de 3 a 4 mil ultracentrífugas como, por exemplo, as atuais da usina iraniana de NATANZ que já chegou a possuir no passado até 8.700 centrífugas, o lixo atômico gerado pelas ultragentrífugas que tem de ser substituídas e o custo econômico de substituí-las para manter o nível operacional da intalação torna o custo de operação industrial extremamente elevado e o fluxo de produção industrial intermitente.
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=69092
Quanto ao trabalhos de engenharia o Almirante Fragelli relatou que a Marinha apartir de agosto de 2010 mandará 4 turmas de 20 engenheiros (uma a cada 6 meses) e cada turma ficará em na França por 18 meses fazendo cursos sobre construção de submarinos e sistemas de submarinos nucleares (exceto propulsão). Um gráfico apresentado de emprego de engenheiros navais no projeto prevê um pico de mais de mais de 400 engenheiros navais empregados no programa PROSUB em 2016. Mas relatou que o gráfico refere-se unicamente a primeira unidade a ser produzida a ser entregue em 2020/21, assim que seja decidido a construção das demais unidades este numero poderá ser estabilizado próximo a este nível por um grande período.
Outra informação MUITO INTERESSANTE foi que atualmente a Engepron só pode contratar engenheiros navais para remuneração de 1.900 reais por mês... O que obviamente colide com o objetivo de contratar excelentes profissionais para se construir um submarino nuclear...
Por isso ainda este semestre a MB e o GF madarão uma lei para o congresso uma lei para criação de uma empresa estatal que se chamará AMAZUL (AMAZônia AZUL) que ficará responsável pela contratação dos engenheiros navais com salários a preço de mercado para trabalhar para o PROSUB, sobre este ponto o Almirante Fragelli dirigiu-se (após a palestra) aos jovens que compõe este ano a primeira turma do curso de Engenharia Naval que a FURG passa a oferecer (universidade federal local) que foram assistiar a palestra para que estudem com afinco pois a necessidade da MB é tão grande que a USP e UFRJ (os dois tradicionais cursos brasileiros) não terão capacidade de, sozinhas, fornecer a quantidade de engenheiros navais que serão necessárias a MB (e não só ao programa PROSUB) e que ele está trabalhando para que estas vagas sejam disponibilizadas para uma atividade de ponta e bem remunerada.
Não foi dada nenhuma informação sobre os armamentos do submarino e foi citado que a marinha, a princípio, desistiu da construção de estações de VLF para envio de mensagens aos submarinos nucleares pelo custo elevado, por ser unidirecional (o navio não pode responder em VLF), estar em via de desuso pelos EUA e França e porque possivelmente depois de 2020 (quando a primeira unidade ficar pronta) o país deverá já dispor de um sistema orgânico de comunicação satélite militar.
Além da própria construção do submarino foi declarado que ainda está em estudo preliminar de que forma será modelada a carreira dos militares que servirão nestas unidades, requisitos, cursos e por que tempo. Que terá que ser diferenciada e ter estímulos específicos. Mas encontra severas restrições nas leis que regem a remuneração militar geral que teram de ser vencidas ou contornadas.