Re: Marinha de Portugal
Enviado: Sáb Mar 14, 2009 10:01 pm
Posto pelo nosso companheiro Luis Silva no FD:
Comentário acerca do tema no blogue de Luis Miguel Correia, que transcrevo com a devida vénia:
Comentário acerca do tema no blogue de Luis Miguel Correia, que transcrevo com a devida vénia:
http://lmcshipsandthesea.blogspot.com/
O navio de passageiros ATLÂNTIDA foi hoje tema de notícia do jornal Expresso, de Lisboa, e de outos orgãos de comunicação ligados ao grupo Impresa, de Pinto Balsemão.
O ATLÂNTIDA encontra-se em fase final de construção nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo por encomenda da empresa AÇORLINE para fazer a ligação inter-ilhas na Região Autónoma dos Açores, já a partir de Maio de 2009.
A peça noticiosa centra-se em alegados problemas técnicos surgidos com a construção do navio, sugerindo que este é "uma sucata".
A SIC Notícias numa manifestação oral de analfabetismo marítimo refere que quando seguir de Viana do Castelo para os Açores, os tripulantes do ATLÂNTIDA "estarão em risco" pelo facto de o navio se destinar a operar na navegação costeira nacional com meios de salvamento não adequados para operações de longo curso. Tudo isto e outras questões suscitadas são delirantes e até parece que o artigo está construído possívelmente inspirado por alguma agência de comunicação sensível à retórica do PSD dos Açores, que sempre atacou a política de ligações inter-ilhas com navios de passageiros promovida pelos governos socialistas do Dr. Carlos César. Claro que todos estes riscos são meramente teóricos para além de que o ATLÂNTIDA fará a viagem posicional do Continente para os Açores sem passageiros.
Só quem tiver má fé ou desconhecer as características insulares da Região dos Açores pode pôr em causa a política de transportes marítimos inter-ilhas na sua base. É uma necessidade e tem-se revelado um exito. Pode é discutir-se se os pressupostos políticos que determinaram a opção que levou a deliniar os serviços nos moldes actuais são os mais avisados, mas aí há aspectos de política local a ter em conta, nomeadamente a protecção dos pequenos operadores de carga marítima a operar nos vários grupos de ilhas.
Portugal tem vindo a sofrer uma política generalizada de desmaritimização que nenhum político assume mas todos os responsáveis com decisão na matéria nas últimas décadas vão cumprindo. Desmantelou-se a Marinha de Comércio, a Marinha de Pesca, a Indústria de Construção Naval. Procedeu-se à demolição de escolas-modelo, como a da Marinha de Comércio e Pescas em Pedrouços, sem que a imprensa reflectisse sobre semelhantes casos. Perdeu-se autonomia em matéria de transportes face ao estrangeiro e ninguém faz contas ao montande dispendido no pagamento de fretes e no afretamento de navios ao exterior. A própria Marinha de Guerra não é tratada desde há muito com a dignidade que lhe é inerente, o reequipamento da Armada é sempre adiado e ou cumprido com níveis mínimos próximos do limite. A par de tudo isto e como corolário, regista-se em Portugal uma profunda ignorância acerca dos assuntos do mar, da economia aos planos estratégicos, políticos, de soberania e cultura.
O ATLÂNTIDA é um navio novo, cujo projecto é um protótipo feito à medida para responder a pressupostos de uma futura operação cheia de especificidades. É perfeitamente natural que haja alguns problemas técnicos nesta fase final de aprestamento do navio. Os Estaleiros de Viana do Castelo são actualmente o nosso melhor estaleiro de construção naval, com larga experiência decorrente de mais de 200 navios já entregues, muitos dos quais com características de grande especialização. A qualidade do estaleiro é desde há muito reconhecida por uma importante clientela estrangeira, pois a maior parte dos navios de Viana destinam-se à exportação. A situação económica e financeira do estaleiro não é melhor em resultado da actual conjuntura desfavorável e por pretencer ao Estado e esta entidade não ser própriamente exemplar na gestão e optimização dos nossos recursos. A grande mais valia dos estaleiros de Viana são os seus quadros e mão de obra que precisam de ser mais bem aproveitados e incentivados, sendo para isso importante que as administrações impostas pela Tutela (Empordef - Ministério da Defesa) tenham qualidade e condições de estabilidade a longo prazo, o que não é corolário do sistema.
Especular com os navios novos da AtlânticoLine parece-me uma forma pobre de fazer informação, bom seria que se dedicasse mais atenção aos Assuntos do Mar na sua generalidade e em particular aos subsectores ligados directamente à economia. A nossa imprensa delicia-se com as falhas mas nunca divulga o muito que os estaleiros de Viana têm construído de positivo. Será que este estado de coisas não muda no actual quadro de mediocridade nacional?