Argentina faz propaganda que ameaça intervenção no Grupo Clarín
DE SÃO PAULO, 24/09/2012 - 11h35
O governo da Argentina revelou neste fim de semana um vídeo que insinua uma ameaça de retirar as concessões do Grupo Clarín, maior empresa de comunicação do país e única que se opõe diretamente à presidente Cristina Kirchner.
O anúncio faz referência ao dia 7 de dezembro, em que o grupo terá que retirar os investimentos para se adequar à Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, conhecida como Lei de Meios, aprovada em 2009.
As imagens foram exibidas desde sábado nos canais de TV afins ao governo e durante os jogos da rodada deste fim de semana do Campeonato Argentino, cujos direitos de transmissão foram comprados pelo Estado.
A propaganda provocou reações fortes do grupo de imprensa, responsável pela edição dos jornais "Clarín" e "Olé" e das emissoras Canal 13, o maior canal aberto argentino, e TN, o mais importante canal de notícias do país.
No domingo (23), foi lançado um anúncio em resposta, dizendo que não aconteceria nada ao grupo no dia 7 de dezembro e insinuando que a presidente Cristina Fernández de Kirchner poderia fazer alguma medida por decreto, o que seria considerado ilegal.
O Grupo Clarín ainda possui uma liminar que não o obriga a fazer a retirada até 7 de dezembro e enquanto a Justiça argentina não emitir uma decisão definitiva, mas
A companhia afirmou que pretende recorrer à decisão da retirada dos investimentos apresentados, que é encarada pela empresa como inconstitucional.
INTERVENÇÃO
No entanto, os anúncios dão um sinal de que o governo poderá tomar outras medidas quando chegue o prazo.
Na edição desta segunda-feira, o jornal "La Nación" informa que o governo planeja intervir nas licenças do Clarín antes do dia 7 de dezembro para que sejam do Estado.
O principal alvo é a operadora de TV por assinatura Cablevisión, que tem 60% dos contratos de assinatura do país e é o principal negócio do grupo.
Em caso de intervenção, o Estado poderia mudar a grade de canais e retirar emissoras como a TN e o Canal 13, que ainda se mantêm independentes ao governo.
A situação revertiria a situação de oposição a favor de Cristina Kirchner, já que seu marido, Néstor, autorizou a fusão da empresa com a Multicanal em 2007, o que criou o oligopólio responsável pela oposição ao governo.
Um dos principais jornalistas do grupo e do país, Jorge Lanata, abriu seu programa de domingo no Canal 13 acusando o governo de querer criar uma dimensão única de meios de comunicação.
Ele ainda mencionou o caso da RCTV, emissora venezuelana líder de audiência que foi fechada em 2007 por fazer oposição ao governo de Hugo Chávez.
VISÃO ÚNICA
Caso haja o processo de retirada de investimentos do Grupo Clarín, o governo de Cristina Kirchner conseguiria desfazer os únicos canais de televisão que fazem oposição direta a sua administração.
Desde 2009, com a Lei de Meios, diversos canais passaram a se aproximar ao governo para conseguir mais recursos da receita publicitária do Estado. Dentre eles, a rede de televisão América, a terceira maior do país.
Ao mesmo tempo, empresários que possuem relações com o governo compraram empresas de comunicação, o que aumentou o espectro de influência de Cristina. O caso mais recente foi do canal C5N, que foi vendido ao empresário Cristóbal López, em abril.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1158 ... arin.shtml